3. A Revista Scena chega ao número 21
mantendo o privilégio de oferecer a seus
leitores a palavra do artista.
Na entrevista Eu nunca ensaio, Laura Lima
entrelaça tempos e lugares numa conversa franca
e intensa, verdadeiro presente para os estudiosos
da arte. Nossos agradecimentos à artista.
A estrutura das diversas seções é preservada
nesta edição. Todavia, é novo o projeto gráfico,
de autoria de Claudia Mendes, anseio da equipe
EDITORIALeditorial que merece nossas felicitações.
A pesquisa realizada por nossos pós-
graduados está presente na seção Artigos:
o trabalho fotográfico e os lugares em que
se cruzam memória e ficção (Luiza Baldan);
a palavra-imagem no processo de criação
artística contemporânea (Julie Pires); a
discussão sobre a função do figurino teatral
e suas potencialidades (Desirée Bastos);
a obra plural de Calmon Barreto (Gisele
Rocha) sinalizam uma latitude de interesses.
Inserindo-se no tema “Ficções”, em foco
neste número, escrevem dois professores
do Programa: Rogério Medeiros aborda as
transformações provocadas no cinema francês
pelo documentário de Jean Rouch, referência
para o cinema brasileiro da década de 1960.
No âmbito da história da arte, Ana Cavalcanti
reflete sobre o caráter ficcional presente na
obra de Eliseu Visconti e nos textos críticos
sobre o pintor.
Na seção Colaborações, pesquisadores
de outras universidades contribuem para o
4. debate. Leila Danziger problematiza a prática
dos monumentos e a construção da memória
a partir da produção de Jochen Gerz; Tatiana
Martins se interessa pela desintegração das
linguagens em Robert Smithson; Renata Santini
analisa o processo artístico de Carlos Vergara
em suas monotipias e deslocamentos. Por
fim, Leandro Junqueira tece considerações a
respeito da crítica, “modo de ver/ler o mundo”.
O Dossiê, que neste número é também
Reedição, traz Navilouca, parte da revista
lançada em 1972 por Waly Salomão e
Torquato Neto. Suas proposições poético-
visuais revelam a atitude anticonvencional dos
protagonistas da contracultura nos anos 70. A
prática experimental, marca daquela década,
fundamenta as múltiplas possibilidades na
arte de Hélio Oiticica, Caetano Veloso, Miguel
Rio Branco, Décio Pignatari, entre outros.
O tema “Ficções” retorna em outras
abordagens na seção Temáticas. As relações
entre arte, política, percepção sensorial,
memória e cinema experimental são
discutidas por Jacinto Lageira, Randolph
Jordan, Jacques Rancière e Hollis Frampton,
que generosamente nos permitiram traduzir e
publicar seus artigos.
Cristina Salgado, artista e doutora
pelo PPGAV, assume a Página Dupla, nela
imprimindo sua poética: singularidade
na figuração do corpo, fresta aberta para
pensar o gênero, a sexualidade e o humano.
Muito agradecemos sua participação. Por
fim, a seção Resenhas completa esta edição,
tratando de livros e exposições.
Somos gratas à equipe editorial, cujo
entusiasmo faz de Arte & Ensaios uma revista
de relevância no meio artístico e no âmbito
das pós-graduações em artes. Estamos
certas de que este trabalho contribuiu para
o excelente conceito do PPGAV na última
avaliação trienal da Capes.
5. TheJournalScenacomestonumber21whilemaintaining
theprivilegetoofferitsreadersthewordartist.
In the interview I never test, Laura Lima
interweaves time and place in a free and intense
conversation, true gift for students of art. Our
thanks to the artist.
The structure of the various sections is
preserved in this issue. However, it is new graphic
design, authored by Claudia Mendes, the editorial
board wishes that deserves our congratulations.
The research carried out by our postgraduates
is present in the Articles section: the photographic
work and the places that cross memory and
fiction (Luiza Baldan); the word-image in the
contemporary artistic creation process (Julie Pires);
the discussion on the role of theatrical costumes
and their potential (Desirée Bastos); the plural work
of Calmon Barreto (Gisele Rock) signal a latitude
of interest. Entering on the theme “Fictions”,
the focus of this number, write two Programme
teachers: Rogério Medeiros addresses the changes
wrought by French cinema documentary by Jean
Rouch, reference to Brazilian cinema of the 1960s
In the history of art, Ana Cavalcanti reflects on the
fictional character present in the work of Eliseu
Visconti and critical texts about the painter.
In Collaborations section, other university
researchers contribute to the debate. Leila Danziger
questions the practice of monuments and the
construction of memory from the production
Jochen Gerz; Tatiana Martins is concerned with the
disintegration of languages in Robert Smithson;
Renata Santini analyzes the artistic process of
Carlos Vergara in his monotypes and displacements.
Finally, Leandro Junqueira makes comments about
the criticism, “so to see / read the world”.
The Dossier, that this number is also
Reissue, brings Navilouca, part of the magazine
launched in 1972 by Waly Salomão and Torquato
Neto. His poetic-visual propositions reveal the
unconventional attitude of the counterculture
protagonists in the 70 Experimental practice brand
that decade, founded the multiple possibilities in
the art of Hélio Oiticica, Caetano Veloso, Miguel Rio
Branco, Decius Pignatari, among others.
The theme “Fictions” returns in other
approaches in Issue section. The relationship
between art, politics, perception, memory and
experimental cinema are discussed by Jacinto
Lageira, Randolph Jordan, Jacques Rancière and
Hollis Frampton, who generously allowed us to
translate and publish your articles.
Cristina Salgado, artist and doctor by PPGAV, takes
the Dual Page, printing it his poetic: uniqueness in the
figuration of the body, open the crack to think about
gender, sexuality and the human. Very appreciate your
participation. Finally, the complete Reviews section this
issue, trying to books and exhibitions.
We are grateful to the editorial staff, whose
enthusiasm makes Art & Testing a relevance
magazine in the arts and in the context of post-
graduate in arts. We are certain that this work
contributed to the excellent concept PPGAV the last
triennial review of Capes.
6. COLABORADORES
Cristovão Fernandes Duarte
Denise B. Pinheiro Machado
Eliane da Silva Bessa
Flavio de Oliveira Ferreira
Ivete Mello Calil Farah
José Barki
Lúcia Maria Sá Antunes Costa
Luciana da Silva Andrade
Margareth da Silva Pereira
Maria Cristina Nascentes Cabral
Naylor Barbosa Vilas Boas
Oscar Daniel Corbella
Pablo Cesar Benetti
Rachel Coutinho Marques da Silva
Raquel Hemerly Tardin Coelho
Rodrigo Cury Paraizo
UFRJ | Universidade Federal do Rio de Janeiro
Reitor | Carlos Antônio Levi da Conceição
Decano do Centro de Letras e Artes | Flora De Paoli Faria
Mestrado Profissional em Arquitetura Paisagística
Lucia Maria Sá Antunes Costa (coordenadora)
Cristóvão Fernandes Duarte (vice-coordenador)
Editores Responsáveis
Lucia Maria Sá Antunes Costa
Cristóvão Fernandes Duarte
Conselho editorial
Adriana Sansão Fontes
Rosangela Lunardelli Cavallazzi
Sergio Ferraz Magalhães
Sônia Azevedo Le Cocq d’Oliveira
Victor Andrade
Revisão
Maria Helena Torres
Abstracts
Elvyn Marshall
Programação Visual
Cora Ottoni
Diagramação
Cora Ottoni
Capa
Cora Ottoni
Fotografia
Cora Ottoni
7. SUMÁRIO
Trabalhos Acadêmicos
07 Mobilidade alternativa e tratamento pais-
agístico proposta para o Bairro da Ferradura,
Armação dos Búzios por: Amana Romano Vilhena
13 AexpansãodoJardimBotânicodoRiode
Janeiro.SubsídiosparaumMasterplandaáreado
antigohortoflorestaldaGávea por:ElenaGeppetti
21Riosurbanosepaisagensmultifuncionais:opro-
jetopaisagísticocomoistrumentoderequalificação
urbanaeambiental por:IanicBigatiLourenço
Entrevista
27 Entrevista com José Julio Lima
Projeto Paisagístico
33Ministério da Educação e Saúde. Um ícone
urbano da modernidade carioca
Artigos
41 O Passeio Público do Rio de Janeiro
44 O teatro do Museu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro
49 Patrimônio, ambiente e sociedade: novos
desafios espaciais
Notícias 55
Academic | Student Works
07 alternative mobility and landscaping proposal
for the Horseshoe Neighborhood, Armacao dos
Buzios by: Amana Roman Vilhena
13 The expansion of the Rio de Janeiro Botanical
Garden. Subsidies for a Masterplan of the old tree
nursery Gavea area by: Elena Geppetti
21 City Rivers and multifunctional landscapes:
the landscape design as istrumento of urban and
environmental renewal by: Ianic Bigati Lawrence
Interview
27 Interview with José Julio Lima
Landscape Design
33 Ministry of Education and Health. An urban icon
of Rio modernity
Articles
41 The Public Promenade in Rio de Janeiro
44 The Theatre Museum of Modern Art in Rio de
Janeiro
49 Heritage, Environment and Society: new spatial
challenges
News 55
8. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 8
O presente trabalho tem como tema principal a mobilidade alternativa
em Armação dos Búzios, estado do Rio de Janeiro, com a aplicação do
estudo de caso referência no Bairro da Ferradura.
A pesquisa apresenta uma proposta de mobilidade alternativa
para o Bairro da Ferradura, Armação dos Búzios, em que a sua via
principal, a Avenida Parque,recebe tratamento paisagístico em
termos de adequação para a circulação voltada a pedestres e ciclistas
e composição paisagística por meio da arborização do percurso.
Mediante a produção dos diversos sentidos dos conceitos mobilidade
e paisagem, foi possível alcançar o entendimento da mobilidade
alternativa como meio eficaz de integrar os diferentes modaisa uma
rede de percursos em que pedestres e ciclistas são os atores principais.
A priorização da circulação não motorizada e a criação de espaços
de permanência ao longo do percurso estimulam a atração das pessoas
para as ruas e induzem a apropriação desses espaços, estabelecendo
uma relação da mobilidade com a vitalidade urbana. Nesse sentido, a
conservação da paisagem urbana pode ser reforçada pela presença dos
próprios usuários que se apropriam dos espaços pelo movimentoou
ACADÊMICOMOBILIDADE ALTERNATIVA E TRATAMENTO PAISAGÍSTICO
PROPOSTA PARA O BAIRRO DA FERRADURA, ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
9. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 9
permanência e acabam criando uma relação de transitividade e
hospitalidade com o lugar. Como um ciclo, essa dinâmica contribui para
o surgimento de novos serviços voltados ao público, promovendo a
interação e a diversidade social nesses espaços. Os pontos principais
deste estudo são os espaços coletivos de circulação e de permanência
que conectam o Centro, a Lagoa da Ferradura e a Praia da Ferradura de
modo a estimular passeios no espelho d’água e nas trilhas do entorno.
A adequação dos caminhos e trilhas do caso referência tende a reforçar
a circulação alternativa e o passeio fora das vias de movimento intenso
como a Avenida Parque e a Estrada da Usina. Desse modo, a mobilidade
alternativa se expande do percurso proposto para os meios de
circulação alternativos que a paisagem do entorno oferece, buscando
estabelecer uma estrutura integrada entre os espaços livres de uso
coletivo e entre os diferentes modais.
Primeira linha de ônibus
Cabo Frio-Búzios.
10. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 10
No campo metodológico foi adotado o
caso referência permitindo compreender
situações específicas e a demonstração de
adequação das propostas paisagísticas.
Na fase de pesquisa em campo foram
dotados os métodos de White (1980),
onde se observaram os usos, as atividades
desenvolvidas, o comportamento e os
fluxos dos usuários. Os conceitos adotados
por Cullen (1971), como a visão serial,
também fizeram parte dessa primeira fase
da pesquisa.
Amana Romano Vilhena
11. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 11
This dissertation focuses on alternative mobility in
Armação dos Búzios, in Rio de Janeiro state, with a
reference case in Ferradura neighborhood.
The research presents a proposal for alternative
mobility in which Parque Avenue, Ferradura’s main
road, receives landscaping treatment adjusted to
pedestrians and bicycles and with the inclusion of
landscaping composition and tree planting. The
production of different meanings for the concepts
mobility and landscape lead to the understanding
of alternative mobility as an efficient way to
integrate transport vehicles and systems into a
resource net and to the creation of conviviality
spaces along the road that attract people to the
streets and invite them to take hold of these spaces,
whereby a relation between mobility and urban
vitality is established.
The preservation of the urban landscape can be
improved by the presence of users who get hold of
the spaces where they move about or remain. This
dynamic of space appropriation through movement
leads to the emergence of new services to the public
and promotes integration and social diversity. The
main aspects of the study are collective spaces for
circulation and permanence that link the center of
town, the Ferradura lagoon and Ferradura beach,
aiming to promote rides on boats, kayaks and sail
boats and strolls along the treks that surround
them. The treatment of the existing paths and
tracks promotes traffic alternative to the main
roads, such as Parque Avenue and Usina Road. In
this way, the proposed road mobility is extended
to the alternative traffic offered by the landscape,
trying to establish an integrated structure among
free spaces of collective use and the diferente
means of transportation.
The methodology adopted the reference case
that helps to understand specific conditions and
to demonstrate the suitability of the landscaping
proposals. In the field research phase White’s
(1980) methods were adopted to observe uses,
activities, behavior and the flux of users. The serial
vision, method adopted by Cullen (1971), was also
applied to this first phase of the research.
Amana Romano Vilhena
12. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 12
ENTREVISTAJosé Júlio Lima
José Júlio Lima possui graduação em
Arquitetura pela Universidade Federal do
Pará (1986), mestrado em Arquitetura – Fukui
University (1991), mestrado em Desenho
Urbano – Oxford Brookes University (1994) e
doutorado em Arquitetura – Oxford Brookes
University (2000). Atualmente é professor
associado I da Universidade Federal do Pará
e pesquisador da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Tem experiência na área de
Planejamento e Gestão Urbana e Regional,
com ênfase em Técnicas de Planejamento
e Projeto Urbanos e Regionais, atuando
principalmente nos seguintes temas:
planejamento urbano, desenho urbano,
desenvolvimento sustentável, habitação
popular e política de saneamento.
A pós-graduação é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa.
Os alunos durante a graduação crescentemente estão se interessando
por bolsas de iniciação científica, o que é muito bom. Os cursos de
especialização são o primeiro passo para um aprofundamento de
estudos que não existe na graduação. Em arquitetura, a formação é
muito generalista, não considero um problema, porém, para a pesquisa
é necessário um foco maior em uma área de trabalho mais específica.
Os cursos de mestrado e doutorado, especificamente em arquitetura
teriam dois grandes focos, um mais acadêmico e outro profissional.
Acredito que tanto para um como para outro é muito importante a
experiência depois de formado. Até mesmo a crítica e a história de
arquitetura necessitam que o arquiteto passe por um período de
amadurecimento. Se antes era necessário ser depois de formado, agora
já durante a graduação é possível desenvolver pesquisa e começar
logo a refletir, ler autores mais aprofundados, ou seja, “fazer a cabeça”
mesmo antes de formado.
Como um grande pesquisador que você é e
tendo um trabalho de amplo reconhecimento
ao longo de sua carreira profissional e
acadêmica. Conte-nos sobre a importância
das especializações e pós-graduações na
formação do profissional que deseja atuar na
área da pesquisa.
13. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 13
Tratando-se do Urbanismo, grandes países,
como o Japão, enfrentaram graves dificuldades
estruturais durante o seu processo de
desenvolvimento econômico e conseguiram
solucionar os problemas espaciais através
de inteligentes soluções que envolviam uma
arquitetura moderna e arrojados projetos de
engenharia. Como você avaliaria os problemas
urbanos das cidades brasileiras e quais seriam
as melhores formas para solucioná-los?
A questão é fundamentalmente o entendimento
de que o desenvolvimento econômico e a
ocupação espacial passam por uma discussão
que não é apenas resolvida por meio de um
projeto de engenharia ou de arquitetura. A
arquitetura e a engenharia são atividades
que podem e devem ser encaradas como
viabilizadoras de um planejamento de
desenvolvimento. Há de se considerar que o
crescimento econômico do período em que o
Japão se desenvolveu mais na década de 1980
ainda vivia-se em um mundo em que o capital
não era globalizado, que as cidades ainda não
tinham assumido um papel tão importante na
circulação de capital, explicando, os problemas
urbanos são de várias escalas, é importante
que saibamos que há alguns atribuídos ao
nível de desenvolvimento econômico e de
dependência dos cidadãos de um mercado
de trabalho não sustentável na medida em
que há poucas oportunidades de formar uma
economia mais consolidada. Outros problemas,
como a localização de favelas por um lado e
de um mercado imobiliário agressivo em outro
necessitam ser tratados por políticas públicas
redistributivas. As cidades são espaços onde
essa possibilidade é uma realidade. Não se trata
de uma solução física apenas, há de se integrar
os vários interesses, que são basicamente
econômicos e políticos, para investir e conseguir
manter os serviços urbanos em um nível de
equilíbrio que possa garantir que o mercado não
comprometa possíveis ações do poder público
e da iniciativa privada para resolver os maiores
problemas urbanos com transporte, moradia,
saúde e segurança.
14. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 14
Acredito que a cidade de Belém vive um período
de crise de gestão urbanística. Há um grande
boom imobiliário sem que o arcabouço legal de
controle urbanístico dê conta desse processo. As
dificuldades são fundamentalmente da falta de
articulação entre as políticas públicas e a gestão
urbana. Acredito que há recursos disponíveis, o
que por si já se constitui em solução, o problema
é que os projetos não conversam entre si. Apesar
de Belém estar crescendo por meio de novos
investimentos para moradia de diversos padrões
econômicos, não há uma articulação entre eles
e os serviços públicos. Temos que fazer valer
instrumentos urbanísticos como a cobrança pelo
Solo Criado, Zonas especiais de interesse social e
deixar de pensar a cidade aos “soluços”.
Uma de suas dissertações de mestrado, intitulada “A Neighbourhood
plan for upgrading a bairro of Belém” e sua tese de doutorado
“Regulatory instruments and urban form: searching for social equity
in Belém, Brazil”, analisam situações recorrentes a cidade de Belém
do Pará. Em suma, quais resultados foram obtidos com tais estudos?
Assim sendo, a cidade de Belém, fazendo
parte da Amazônia Legal, possui grandes
riquezas naturais com fortes tendências
econômicas, sendo reconhecida como a
“Metrópole da Amazônia”. Dessa forma,
quais as principais dificuldades que a cidade
enfrenta atualmente no que se refere ao
seu planejamento urbano e o que seria mais
aconselhável para amenizar tais problemas?
No caso da dissertação de mestrado havia uma preocupação grande
com um aspecto do Plano Diretor de Belém que era a formulação
do que seria um plano de bairro, na dissertação traduzido como
Neighbourhood plan. Na época vivia-se um momento crucial para as
cidades, logo após a Constituição de 1988, discutia-se a possibilidade
de implementar instrumentos para ampliar a regularização fundiária,
aumentar as políticas de urbanização de favelas. Assim, busquei
relacionar o campo de estudo do Urban Design com as diretrizes
constantes no plano diretor. Para isso escolhi o bairro do Guamá para
servir como caso de estudo para refletir sobre qualidades de desenho
ao mesmo tempo em que articulava os princípios da redemocratização
da cidade. Estou convencido que a dissertação ajudou na discussão
por exemplo da relação entre saneamento e urbanização, inclusive
hoje trabalho em uma pesquisa financiada pelo CNPq que estuda as
bacias de drenagem de Belém, incluindo o bairro do Guamá. Já a tese,
pela própria exigência do nível do doutorado, exigia-se um estudo
que propusesse uma metodologia própria e um problema também
original. Desenvolvi uma metodologia de pesquisa onde a forma
urbana é capaz de ser mensurada quanto a sua condição de promover
maior acessibilidade e contribuir para diminuição da segregação
sócio-espacial, ao mesmo tempo que o conceito de equidade social,
também resultado da Constituição de 1988, era analisado ao longo dos
diversos planos diretores feitos para Belém. Como resultado, tive a
oportunidade de participar da revisão do plano diretor de Belém e na
elaboração de outras cidades do Pará. Em todos foi possível trabalhar
com a metodologia iniciada no doutorado.
15. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 15
Acredito que os programas habitacionais
integrados são caminhos para as soluções, como
propus acima de forma integrada. A casa nova
em área saneada precisa ter transporte, saúde,
educação e criar oportunidades para acesso
ao emprego. Não acredito que seja querer
muito, afinal é para isso que as cidades foram
criadas pela humanidade. O padrão de moradia
adequado não é apenas no que se refere a
unidade habitacional, o entorno saneado e com
acesso garantido necessitam ser considerados.
Os projetos de arquitetura ao trabalharem com
padrões mínimos precisam ser articulados
com ações da prefeitura, estado e União para
promover o desenvolvimento dos moradores.
Vocêtendoorientadováriasdissertaçõesde
mestradoaolongodosanosesendoprofessor
doprogramadepós-graduaçãodaUniversidade
FederaldoPará,comovêaspesquisasqueestão
sendodesenvolvidaspelosnovosmestrese
comoavaliaaimportânciadomestradoparao
desenvolvimentourbanodacidade?
As pesquisas que oriento e as dissertações que
já foram concluídas com a minha orientação
são caracterizadas pela articulação entre as
questões de gestão urbana, planejamento e
sempre a aplicação de uma metodologia que
trate da forma urbana como um componente
fundamental. Apesar de nem todas terem sido
no curso de arquitetura, oriento na engenharia
civil na interface entre a forma urbana e as
ações de saneamento, na geografia buscando
investigar os conceitos da disciplina com a
aplicação de situações voltadas a gestão do
espaço, inclusive avançando para o espaço
rural. No programa de pós-graduação em
arquitetura da UFPa iniciado em 2010 oriento
dissertações que tratam da morfologia urbana
diante das novas modificações nos padrões
de financiamento da provisão de habitação,
na questão da centralidade da forma e em
temas que dizem respeito a políticas públicas
na cidade, com ênfase na política de habitação
em seus vários aspectos. Procuro fazer com
que os trabalhos sejam capazes de avançar
tanto empiricamente como conceitualmente.
Apesar de muitos trabalhos serem baseados na
história, é importante avançar conceitualmente
e poder incluir aspectos que são trabalhados
no dia a dia da gestão.
Outro grave problema que as cidades atuais
enfrentam é referente ao déficit habitacional.
Programas como “Minha Casa, Minha Vida”
auxiliam as famílias carentes através de uma
habitação, ainda assim longe dos padrões
que uma boa moradia proporciona. Outros
programas como o PROSAMIM em Manaus e o
Vila da Barca em Belém, já são caracterizados
por levarem em conta uma serie de questões
importantes, como os costumes dos moradores
e trabalhos de ressocialização. Neste sentido,
quais soluções você indicaria para os problemas
habitações que as grandes cidades enfrentam?
16. Para finalizar, aqueles que estão interessados
em dar continuidade aos estudos, quais
informações você aconselha ao aluno na hora de
escolher uma especialização?
Não se trata de aconselhar, mas acredito que seja
importante estar conectado nas várias “sub áreas”
da arquitetura e do urbanismo para encontrar o
que mais interessa. Outra sugestão é ler sobre
metodologia de pesquisa. Há uma pressão dos
órgãos de fomento da pesquisa nacionais e
internacionais pelo aumento da qualidade de
pesquisa por meio de um padrão comparável
com outras áreas de conhecimento. Lembrar que
Arquitetura é uma ciência social aplicada apesar
de ter um forte conteúdo tecnológico.
Ateliê de arquitetura e
urbanismo da Universidade
Federal do Pará.
17. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 17
José Júlio Lima graduated in Architecture from
the Federal University of Pará (1986), Master of
Architecture - Fukui University (1991), Master
of Urban Design - Oxford Brookes University
(1994) and a PhD in Architecture - Oxford Brookes
University (2000). He is currently associate
professor I of the Federal University of Pará
and researcher at the Federal University of Rio
de Janeiro. He has experience in Planning and
Management Urban and Regional, with emphasis
on Technical Planning and Urban and Regional
Project, acting on the following topics: urban
planning, urban design, sustainable development,
public housing and sanitation policy.
As a great researcher who you are and having
a work wide recognition throughout his
professional and academic career. Tell us about
the importance of specialization and post-
graduate training of professionals who want to
work in the field of research.
The graduate is fundamental to the development of
research. Students during graduation increasingly
are becoming interested by research fellowships,
which is very good. The specialization courses are
the first step for further studies that there is no
graduation. In architecture, the training is very
general, do not consider a problem, however, to
search a greater focus on a more specific work area
is required. The master’s and doctoral courses,
specifically in architecture have two large pockets,
a more academic and other professional. I believe
that both one as to the other is very important
experience once formed. Even the critics and the
architectural history require the architect to go
through a maturation period. If before it was
necessary to be after graduation, now during
graduation is possible to develop research and just
start to think, read deeper authors, ie “make the
head” even before graduating.
In the case of Urban, large countries, such as Japan,
faced serious structural problems during the
process of economic development and managed
to solve spatial problems through intelligent
solutions involving a modern and bold architecture
engineering projects. How would you rate the urban
problems of Brazilian cities and what are the best
ways to solve them?
The question is fundamentally the understanding that
economic development and the spatial occupation
go through a discussion that is not only solved by an
engineering design or architecture. The architecture
and engineering are activities that can and should
be seen as enablers of a development planning. One
has to consider that economic growth in the period
in which Japan has developed more in the 1980s still
lived in a world in which capital was not globalized,
that cities had not assumed such an important
role in the circulation of capital, explaining, urban
problems are of various scales, it is important to
know that there are some attributed to the level of
economic development and dependence of citizens
of unsustainable labor market in that there are few
opportunities to form a more consolidated economy
. Other problems such as the location of slums on the
one hand and an aggressive real estate market in other
need to be treated for redistributive policies. Cities are
places where this possibility is a reality. This is not just
a physical solution, one has to integrate the various
interests, which are basically economic and political,
to invest and be able to maintain urban services in an
equilibrium level that can ensure that the market does
not jeopardize possible actions of government and the
private sector to solve the biggest problems with urban
transportation, housing, health and safety.
One of his dissertations on “The Neighbourhood
plan for upgrading the neighborhood of
Bethlehem” and his doctoral thesis “Regulatory
instruments and urban form: searching for
social equity in Belém, Brazil”, analyze recurring
situations the city of Belém do Pará . In short,
what results were obtained with these studies?
In the case of the dissertation was a major concern
to one aspect of the Master Plan of Bethlehem
which was the formulation of what would be a
neighborhood plan, the dissertation translated
as Neighbourhood plan. At the time we lived
in a crucial time for the cities, just after the
1988 Constitution, discussed the possibility
of implementing instruments to enlarge land
tenure, increasing slum upgrading policies.
So, I tried to relate the field of study of the
Urban Design with the guidelines contained
in the master plan. For this I chose the Guamá
neighborhood to serve as a case study to reflect
on drawing qualities while that articulated
the principle town of democratization. I am
convinced that the dissertation helped in the
discussion for example of the relationship
between sanitation and urbanization, including
today’s work in a research funded by CNPq
that studies the Bethlehem drainage basins,
including the Guamá neighborhood. Have the
thesis, by the requirement of the PhD level,
required a study to propose a methodology and
also original problem. I developed a research
methodology where the urban form can be
measured as their condition to promote greater
accessibility and contribute to decrease the
socio-spatial segregation, while the concept
of social equity, also the result of the 1988
Constitution, was analyzed over several master
plans made to Bethlehem. As a result, I had the
opportunity to participate in the review of the
master plan of Bethlehem and the development
of other cities of Pará. in all it was possible
to work with the methodology began in the
doctorate.
18. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 18
Therefore, the city of Bethlehem, part of the
Amazon, has large natural resources with
strong economic trends, being recognized as
the “metropolis of the Amazon.” Thus, the main
difficulties that the city currently faces with
respect to its urban planning and it would be
advisable to minimize such problems?
I believe that the city of Bethlehem is experiencing
a period of urban management crisis. There is a
large housing boom without the legal framework
of urban control take account of this process. The
difficulties are mainly the lack of coordination
between public policies and urban management.
I believe that there are resources available, which
in itself is already a solution, the problem is that
the projects do not talk to each other. Although
Bethlehem is growing through new investments
for housing various economic standards, there is
a link between them and the public services. We
have to enforce urban planning instruments such
as charging for Solo Created, Special areas of social
interest and stop thinking the city to “hiccups”.
Another serious problem that today’s cities face
is related to the housing shortage. Programs
like “My House, My Life” assist needy families
through housing, still behind the standards that
a good housing provides. Other programs such
as PROSAMIM in Manaus and the Barca Village
in Bethlehem, are already characterized for
considering a number of important issues such as
the customs of the locals and rehabilitation work.
In this sense, what solutions would you indicate to
the problems dwellings that large cities face?
I believe that integrated housing programs are
paths to solutions, as proposed above in an
integrated manner. The new home in sanitized
area need to have transport, health, education and
create opportunities for access to employment.
I do not think that is too much to ask, after all
that’s what the cities were created by mankind.
The housing pattern is suitable not only as regards
the housing unit, and sanitized with guaranteed
access environment need to be considered. The
architectural projects to work with minimum
standards need to be articulated with city
hall’s shares, state and Union to promote the
development of the residents.
You have walked several master’s theses over the
years and being teacher’s graduate program of the
Federal University of Pará, you see the research
being undertaken by new teachers and how do
you evaluate the importance of the master for the
urban development of the city ?
The research that I guide and dissertations that
have been completed with my guidance are
characterized by the link between the issues
of urban management, planning and always
applying a methodology that addresses the
urban form as a key component. While not all
have been in the course of architecture, oriento
civil engineering at the interface between urban
form and sanitation actions, geography order to
investigate the concepts of the discipline with the
application of situations facing the management
of space, including advancing to the countryside.
In the post-graduate program in architecture UFPa
started in 2010 oriento dissertations dealing
with urban morphology on the new changes in
financing patterns of housing provision in question
the centrality of form and themes that relate to
public policy in the city with an emphasis on
housing policy in its various aspects. I make sure
that the work is able to move both empirically
and conceptually. Although many jobs are
based in history, it is important to move forward
conceptually and may include aspects that are
worked in day to day management.
Finally, those who are interested in continuing
their studies, what information do you advise the
student in choosing a specialization?
This is not advice, but I believe it is important to be
connected in various “sub areas” of architecture and
urbanism to find what interests you most. Another
suggestion is to read about research methodology.
There is a pressure from development agencies of
national and international research by improving
the quality of research by means of a comparable
standard to other areas of knowledge. Remember
that architecture is an applied social science despite
having a strong technological content.
19. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 19
ARTIGOOPAISAGISMOMODERNOBRASILEIRO–ALÉMDEBURLEMARX
Dr. Silvio Soares Macedo
Arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP, na qual é Professor Titular de
Paisagismo, Editor da revista Paisagem e Ambiente:
Ensaios, Coordenador do Laboratório da
Paisagem e da pesquisa Quadro do Paisagismo no
Brasil. Desenvolve, desde 1976, pesquisas na área de
paisagismo, tendo publicado quatro livros.
Resumo
Os anos 1930 e 1940 foram anos de rupturas na arquitetura, no
urbanismo e, naturalmente, no paisagismo. A negação do passado
recente era objetivo das vanguardas. Esta se refletiu no tratamento do
espaço livre urbano, público e privado. A princípio as novas concepções
e programas se restringiram à obra de Roberto Burle Marx e uns poucos
autores. Dos anos 1950 em diante, em São Paulo e Rio de Janeiro, com
o aumento da urbanização, da população de classe média e alta, a
condições para o surgimento de novos autores e obras estavam feitas.
Autores como Roberto Coelho Cardozo e Valdemar Cordeiro criaram
bases para o surgimento de inúmeros outros projetistas que, em
escritórios ou junto à órgãos públicos, consolidaram preceitos formais
e programáticos do paisagismo moderno nacional. Nos anos 1970 e
1980, o aumento do mercado para os paisagistas, associado à expansão
do mercado para arquitetura, consolida-se seu o trabalho e sua identidade.
20. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 20
Por muito tempo, para nós brasileiros, a figura
de Roberto Burle Marx foi sinônimo de
Paisagismo. Ele com suas diversas equipes, foi
responsável (por cerca de 50 anos) pelos
mais importantes projetos paisagísticos do país
concebidos e executados, para o Estado
e para as elites de então. A qualidade do
arquiteto paisagista Burle Marx é inegável e
uma grande quantidade de suas criações são
consideradas obras-primas da arquitetura
paisagística mundial do século XX, ao lado de
nomes como Garret Eckbo, Lawrence
Halprin, Thomas Church, Dan Kiley, Peter
Walker, Bernand Tschumi e outros poucos mais.
Burle Marx foi um dos pioneiros do
“design” moderno no paisagismo moderno
mundial, cuja origem está na década de
1930, período de intenso nacionalismo e
transformações sociais, tendo participado no
Brasil do projeto do Ministério da Educação e
Saúde (1937) – marco da arquitetura nacional.
Neste, aproveitando-se da nova concepção
arquitetônica-urbanística do edifício-quadra,
desenha um jardim-praça estruturado por
canteiros de formas rocambólicas, utilizando-
se do movimento e da cor no desenho dos
pisos, executados no tradicional mosaico
português e plantas tropicais.
Este foi o primeiro de uma coleção de
projetos de alto nível e qualidade formal
indiscutível que, extremamente visíveis,
bem mantidos e divulgados, transformaram
Roberto no paisagista brasileiro e mundial
do século XX. O rol de sua obra abriga
projetos como os Parques do Flamengo (RJ)
e Mangabeiras (BH), as Praças Salgado Filho
(RE e RJ), parques particulares nas serras
fluminenses, o Largo da Carioca (RJ), dezenas
de jardins particulares de casas e prédios de
apartamentos, os parques dos palácios de
Brasília e muitos outros.
Por outro lado, desde os primeiros tempos
do modernismo e, em especial, após os
anos 1950, delineia-se pelo país o trabalho
não tão conhecido, ou divulgado, de muitos
profissionais, em grande parte arquitetos de
formação, que foram responsáveis, de fato,
pela consolidação da arquitetura paisagística
moderna brasileira.
Arquitetura Paisagística – um
processo de criação e/ou readequação
intencional e formal de um espaço livre
urbano, que se direciona para a formalização
de praças, pátios, jardins, calçadas, calçadões,
parques e áreas de conservação, em especial.
Cada época ou momento histórico tem
características específicas de tratamento do
espaço livre urbano, da antigüidade clássica,
quando os jardins palacianos e das casas
patricias eram cuidadosamente elaborados e
dos fóruns, grandes praças-secas, decoradas
por colunatas, fontes e pisos e de intenso
uso social; do período barroco, com os
jardins palacianos estruturados por eixos
ou as promenades arborizadas das cidades
européias da época.
A arquitetura paisagística, como a
conhecemos hoje, tem sua formalização na
Europa (França e Inglaterra, em especial) e
nos Estados Unidos no século XIX. Foi um
tempo de grandes mudanças sociais e urbanas
e o crescimento populacional urbano induz,
então, a novas demandas e entre elas a da
projetação dos espaços livres urbanos.
Foi um período de grande efervescência
cultural, de abertura e criação para as
massas, de espaços de recreação e lazer e da
“urbanização” da vegetação. A arborização
das ruas e praças se consolida neste século e o
parque público, o jardim privado de pequeno
porte e o boulevard (criações dos Oitocentos),
sendo desde então figuras comuns da
gramática urbana.
Formalmente, o espaço público
moderno do século XIX é tratado sob o
ponto de vista de exposição de pessoas
e objetos, destinado ao flanar das classes
emergentes, novas parceiras da elite e
para o divertimento das massas.
A imagem genérica dos espaços
urbanos ocidentais do final dos oitocentos
e dos primeiros anos dos novecentos
é tipicamente cênica, romântica, uma
colagem de informações e formas,
descobertas, criadas e recriadas e advinda
das informações sintetizadas pela Europa
Ocidental no período em questão.
A qualidade do arquiteto
paisagista Burle Marx é inegável
e uma grande quantidade de suas
criações são consideradas obras-
primas da arquitetura paisagística
mundial do século XX, ao lado
de nomes como Garret Eckbo,
Lawrence Halprin, Thomas Church,
Dan Kiley, Peter Walker, Bernand
Tschumi e outros poucos mais.
21. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 21
O século XX, no pós Primeira Guerra, marca o
início do rompimento ocidental com velhas
ordens sociais e formais e nos anos 1930 (talvez
de um modo um tanto tardio), os
rompimentos surgem no Brasil, se consolidando
na ordem cultural-nacional – na música,
escultura, pintura, arquitetura e no paisagismo.
Arquitetura Paisagística
Moderna – pauta-se basicamente pelo
atendimento de novas formas de uso e,
portanto, de organização morfológica do
espaço livre urbano, no qual é introduzida
uma nova figura – o automóvel, que exige uma
reordenação dos tecidos urbanos existentes
e a criação de outros especialmente tratados
para a convivência veículo-pedestre. Ao
espaço livre para a circulação de pedestre –
calçadas e passeios e para lazer, são atribuídas
novas configurações, agora de acordo com os
padrões urbanístico-sociais em voga.
A arquitetura paisagística se torna,
então, funcionalista, com a determinação de
áreas equipadas especialmente para o lazer,
recreativo ou esportivo, nacionalista com o
abandono do uso de vegetação, anódina e com
ênfase na tropicalidade do país: simples, com
a “proibição” do uso de elementos decorativos
do passado – pitorescos e temáticos – sendo
execradas as cenarizações, as topiárias e
qualquer lembrança do Ecletismo recente:
geométrica – com o uso e abuso das formas
geométricas livres, inspiradas nas temáticas
da pintura da época, no qual Burle Marx foi o
mestre inspirador nacional – e colorida – com a
introdução do uso intenso de pisos multicores.
Etapas
O Paisagismo Moderno Brasileiro é regido por
duas influências nítidas, a primeira – a obra
isolada de Burle Marx e associados, com seu
nacionalismo, representações geométricas
e uso da vegetação nativa; a segunda –
internacional, diretamente referenciada
às obras da vanguarda paisagística norte-
americana da costa Oeste, que sintetizadas
pelos diversos profissionais resultam em obras
de caráter extremamente particular, típicas
da produção paisagística nacional da segunda
metade do séc. XX.
Pode-se dividir o processo de formação
da arquitetura paisagística brasileira moderna
em três etapas distintas, que recobrem
um período de 53 anos, do surgimento do
projeto marco de Burle Marx – no Ministério
da Educação e Saúde, até a construção da
Praça Itália em Porto Alegre (1990), projeto de
cunho fortemente cenográfico e que consolida
a ruptura com a linha projetual paisagística
então vigente (autor Carlos Fayett).
Etapa 01 (primórdios) – 1937-1950 – O
projeto moderno paisagístico é pouco a
pouco difundido junto às obras de arquitetura
moderna, ou modernista, cujos espaços livres
adjacentes e/ou complementares são por
vezes objeto de um tratamento paisagístico de
vanguarda-funcional, simples e tropicalista.
Nesta época o destaque principal pode
ser atribuído à obra de Roberto Burle Marx,
em Pampulha (BH), e Otávio Teixeira
Mendes, entre outros, sendo comum que o
próprio arquiteto de edifícios fornecesse o
desenho para os pátios e jardins dos seus
projetos arquitetônicos (caso de Rino Levi).
A característica principal dos novos
projetos paisagísticos residenciais está
baseada na transparência e visibilidade a
ser dada à residência e a formalização do
pátio ou jardim de estar da família, muitas
vezes decorado por painéis azulejados,
fontes de formas geométricas ou orgânicas
e esculturas de autores do período. Poucos
são os projetos públicos modernos de
grande porte e estes, em sua maioria, são
da autoria de Roberto Burle Marx. Por outro
lado, os projetos privados são muitos e
divulgados em revistas de época, criando
referenciais para sua popularização e
surgimento de novos autores.
Etapa 02 – 1950-1960 – Expansão
com o crescimento e modernização
urbana e arquitetônica do período, com o
expraiamento da verticalização (agora os
prédios são isolados no lote), o aumento
da demanda de projetos paisagísticos
modernos é um fato.
Nesta etapa, em São Paulo inicia seus
trabalhos, o paisagista Roberto Coelho
Cardozo que, como professor da FAUUSP e
projetista, produz uma série de trabalhos
junto aos arquitetos em evidência no período.
Sua obra é nitidamente influenciada
pelo traçado de pisos e canteiros dos
paisagistas americanos Halprin e Eckbo (com
22. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 22
quem trabalhou ao final dos anos 1940) e pela
tropicalidade no plantio de Burle Marx, com
quem também trabalhou posteriormente, em
sua estada nos Estados Unidos.
Este é o período do surgimento do
primeiro parque urbano modernista do país –
o Parque do Ibirapuera, em São Paulo (1954),
que teve executado o projeto paisagístico
de Otávio Teixeira Mendes (um outro,
bastante divulgado, de caráter extremamente
geométrico, foi feito por Burle Marx e equipe).
O projeto de Teixeira Mendes, é bastante
conservador, mas despojado de cenarizações e
elementos pitorescos, sendo quase um híbrido
formal entre a visão bucólica do passado e a
simplicidade modernista.
Formam-se nesta década uma série de
jovens arquitetos – Miranda Magnoli, Ayako
Nishikawa, Rosa Kliass e outros, em São Paulo
e Fernando Chacel, no Rio de Janeiro, que
começam a conceber jardins para residências
e prédios de apartamentos dentro dos
princípios modernistas vigentes que são por
eles reprocessados e fortalecidos.
Paralelamente, ainda em São Paulo,
Valdemar Cordeiro (artista plástico de origem,
como Burle Marx) dedica-se a projetar jardins
modernos, que publicados em revistas de
época acabam sendo também referenciais
de projeto do período. Sua obra de alta
qualidade, apresenta uma visão tridimensional
articulada, promovendo uma simbiose entre
os planos vegetais arbóreos e arbustivos e um
desenho de piso bastante geometrizado.
Etapa 03 (consolidação) – 1960-1989 – O
projeto paisagístico eclético de caráter europeu
é banido definitivamente do foco de atenções,
tanto nas obras públicas como privadas. Neste
período a atividade recreativa passa ser ponto
focal na produção dos novos espaços, tanto
nos pátios particulares residenciais de classe
média alta, onde a piscina se torna o ponto
de referência, como nos pátios de edifícios
residenciais, a princípio totalmente ajardinados
e paulatinamente tendo introduzidos
playgrounds, quadras e piscinas, e nos espaços
públicos, nos quais os equipamentos de lazer
também são introduzidos.
Estes são foco de mudanças drásticas, como
pode ser observado na obra das primeiras
gerações de arquitetos paisagísticas do DEPAVE
– Departamento de Parques e Áreas Verdes
da Prefeitura Municipal de São Paulo, como
Elionora Seligmann, Lucia Porto, Célia Kawaí,
Vladimir Bartalini e outros, no trabalho da
Fundação Parques e Jardins do Rio de Janeiro e
do Instituto de Planejamento de Curitiba.
Ao final da década de 1980 são poucas as
municipalidade das grandes cidades que não
possuem divisões especializadas no projeto
e gestão de espaços públicos. Paralelamente
o trabalho de um sem número de outros
profissionais-paisagistas espalha-se pelo
país, alguns diretamente inspirados na obra
de Roberto Coelho Cardoso, como Benedito
Abbud, outros tantos como José Tabacow,
advindos do escritório de Burle Marx.
Sua obra de alta qualidade, apresenta
uma visão tridimensional articulada,
promovendo uma simbiose entre os
planos vegetais arbóreos e arbustivos
e um desenho de piso bastante
geometrizado.
23. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 23
Dr. Silvio Soares Macedo
Architect graduated from the Faculty of Architecture
and Urbanism of USP, where is Professor of
Landscaping, Editor of Landscape and Environment:
Essays, from the Laboratory Coordinator
Landscape and research Framework Landscaping
in Brazil. Develops, since 1976, research in the
landscaping area, having published four books.
Abstract
The 1930s and 1940s were years of breaks
in architecture, urbanism and of course in
landscaping. The recent past denial was goal of
the vanguards. This was reflected in the treatment
of urban space, public and private. At first the new
concepts and programs are restricted to the work
of Roberto Burle Marx and a few authors. 1950s
onwards, in São Paulo and Rio de Janeiro, with
increasing urbanization, middle and upper class
population, the conditions for the emergence of
new authors and works were made.
Authors such as Roberto Coelho Cardozo
and Valdemar Lamb have underpinned the
emergence of numerous other designers who, in
offices or by the public agencies, consolidated
formal and programmatic precepts of national
modern landscaping. In the 1970s and 1980s, the
increase in the market for landscape associated
with the expansion of the market for architecture,
consolidates your work and your identity.
For a long time, for us Brazilians, the figure
of Roberto Burle Marx was synonymous with
Landscaping. He with its various teams, was
responsible (for 50 years) by most important
country of landscape projects designed and
implemented for the Stateand for the elites of the
time. The quality of the landscape architect Burle
Marx is undeniable and a lot of his creations are
considered masterpieces of architecture world
landscape of the twentieth century, alongside
names like Garret Eckbo, Lawrence Halprin, Thomas
Church, Dan Kiley, Peter Walker, Bernard Tschumi
and a few more.
Burle Marx was one of the pioneers of the
modern “design” in the modern world landscaping,
whose origin is in the 1930s, intense nationalism
period and social changes, participating in Brazil’s
Ministry of Education and Health Project (1937)
- landmark national architecture. In this, taking
advantage of the new architectural-urban design of
the building-block, draw a garden-square structured
by beds of rocambólicas forms, using movement and
color in the design of floors, running on traditional
Portuguese mosaic and tropical plants.
This was the first of a collection of high-value
projects and unquestionable formal quality, highly
visible, well maintained and disclosed, Roberto
turned in Brazilian and global landscape of the
twentieth century. The list of his work home projects
like the Flamengo Park (RJ) and Mangabeiras (BH),
the Salgado Filho centers (RE and RJ), private parks
in Rio de Janeiro saws, Largo da Carioca (Rio de
Janeiro), dozens of private gardens houses and
apartment buildings, the parks of the palaces of
Brasilia and many others.
Moreover, since the early days of modernism
and, especially after the 1950s, outlined by the
country work not as well known or disclosed, many
professionals, largely training of architects who were
responsible, in indeed, the consolidation of Brazilian
modern landscape architecture.
Landscape Architecture - a process of
creating and / or intentional readjustment and
formal urban space, which moves to formalize
squares, courtyards, gardens, driveways, sidewalks,
parks and conservation areas in particular.
Each historical era or time has specific features
of treatment of urban space, of classical antiquity,
when the palace gardens and patricias houses
were carefully designed and forums, large squares-
dried, decorated with columns, fountains and floors
and heavy use social; the Baroque period, with
the palace gardens structured by axles or wooded
promenades of European cities of the time.
The landscape architecture as we know it today,
has its formalization in Europe (France and England
in particular) and the United States in the nineteenth
century. It was a time of great social and urban
change and urban population growth induces, then
the new demands and between the projecting of
urban open spaces.
It was a period of great cultural effervescence,
openness and creation to the masses, recreation
and leisure spaces and the “urbanization” of
vegetation. The afforestation of streets and squares
is consolidated in this century and the public park,
private garden small and the boulevard (creations of
the nineteenth century), and since common figures of
urban grammar.
Formally, the modern public space of the
nineteenth century is treated from the point of
view of exposure of humans and objects, for the
strolling emerging classes, new partner of the
elite and the masses for fun.
The generic image of Western urban spaces
the end of eight hundred and first year of nine is
typically scenic, romantic, a collage of information
and forms, discoveries, created and recreated and
arising out of the information summarized in
Western Europe in the period in question.
The twentieth century, in the post World
War, marks the beginning of Western break with
old social and formal orders and in the 1930s
(perhaps in a way a late both), the disruptions
arise in Brazil, consolidating the cultural-
national order - in music, sculpture, painting,
architecture and landscaping.
Modern Landscape Architecture - is
guided primarily by addressing new forms of
use and therefore morphological organization
of urban space in which is introduced a new
figure - the automobile, which requires a
reorganization of the existing urban fabric
and the creation of other specially treated
to vehicle-pedestrian interaction. To clear
for pedestrian circulation - driveways and
sidewalks and leisure, received new settings,
now according to the urban and social
standards in vogue.
The landscape architecture becomes, then,
functionalist, with the determination of areas
especially equipped for leisure, recreation or
sports nationalist with the abandonment of
24. Revista do mestrado profissional
em arquitetura paisagistica | 2015.1 24
the use of vegetation, anodyne and with emphasis
on the country tropicality: simple, with the “ban”
the use of decorative elements of the past - scenic
and theme - being execrated the cenarizações,
the topiaries and any recent Eclecticism souvenir:
Geometric - with the use and abuse of the free
geometric shapes, inspired by the themes of the
time painting, in which Burle Marx was the national
motivational master - and colorful - with the
introduction of intensive multicolored floors.
Steps
The Brazilian Modern Landscaping is governed by
two clear influences, the first - the isolated work
of Burle Marx and associated with nationalism,
geometric representations and use of native
vegetation; the second - international, directly
referenced the works of American landscape
forefront of the west coast, which synthesized by
various professionals result in extremely particular
character works, typical of the national landscape
production of the second half of the century. XX.
You can divide the process of formation of
modern Brazilian landscape architecture in three
distinct stages, which cover a period of 53 years, the
emergence of the landmark project of Burle Marx - the
Ministry of Education and Health, to the construction
of the Plaza Italia in Porto Alegre (1990), strongly
scenic nature of the project and consolidating the
break with the then current landscape architectural
design line (author Carlos Fayette).
Step 01 (early) - 1937-1950 - The landscaped
modern design is little by little spread to works of
modern architecture, or modernist, whose adjacent
and / or additional clearances are sometimes the
subject of a landscaping vanguard-functional,
simple and tropicalista.
At this time the main focus can be attributed
to the work of Roberto Burle Marx, in Pampulha
(BH), and Otavio Teixeira Mendes, among others, it
is common that the very buildings architect provide
the design for the courtyards and gardens of his
projects (case of Rino Levi).
The main feature of the new residential
landscape projects is based on transparency and
visibility to be given to the residence and the
formalization of the patio or garden being of the
family, often decorated with tiled panels, sources
of geometric or organic forms and sculptures
authors of the period . Few modern public projects
large and these mostly are by Roberto Burle Marx.
On the other hand, private projects are many
and published in magazines of the time, creating
benchmarks for its popularization and development
of new authors.
Step 02 - 1950 to 1960 - Expansion to the growth
and modernization of urban and architectural period,
with expraiamento the vertical (now the buildings
are isolated in the batch), the increase in demand of
modern landscape design is a fact.
At this stage in Sao Paulo begins its work, the
landscape architect Roberto Coelho Cardozo that,
as a teacher of FAU and designer, producing a series
of works with architects in evidence in the period.
His work is clearly influenced by the design of
floors and beds landscapers American Halprin and
Eckbo (who worked the late 1940s) and tropicality
in planting Burle Marx, with whom he also worked
later in his stay in the United States.
This is the period of the emergence of the
first modernist urban park in the country - the
Ibirapuera Park in Sao Paulo (1954), which had
run the landscape design Otavio Teixeira Mendes
(another, well-publicized, extremely geometric
character, was made by Burle Marx and staff).
Teixeira Mendes project, is quite conservative, but
stripped of cenarizações and picturesque elements,
almost a formal hybrid between the bucolic view of
the past and the modernist simplicity.
Are formed in this decade a number of young
architects - Miranda Magnoli, Ayako Nishikawa,
Pink Kliass and others, in Sao Paulo and Fernando
Chacel, in Rio de Janeiro, which start designing
gardens for homes and apartment buildings
within agreed modernist principles that they are
reprocessed and strengthened.
At the same time, still in São Paulo, Valdemar
Lamb (artist of origin, as Burle Marx) is dedicated
to designing modern gardens that time published
in magazines end up being too referential period
of the project. Its high quality work, has a pivotal
three-dimensional vision, promoting a symbiosis
between the arboreal and shrub plant plans and a
very geometrized tread design.
Step 03 (consolidation) - 1960-1989 - The
eclectic landscape design European character
is definitely banned from the focus of attention,
both in public works and private. In this period
the recreational activity shall be focal point in
the production of new spaces, both in private
residential courtyards upper middle class,
where the pool becomes the reference point, as
in the courtyards of residential buildings, fully
landscaped principle, having gradually introduced
playgrounds, courts and swimming pools, and in
public spaces, where the leisure facilities are
also introduced.
These are the focus of drastic changes, as
can be seen in the work of the first generations
of landscape architects DEPAVE - Department of
Parks and Green Areas of the City of São Paulo,
as Elionora Seligmann, Lucia Porto, Celia Kawai,
Vladimir Bartalini and others, the work of the
Foundation Parks and Gardens of Rio de Janeiro
and Curitiba Planning Institute.
At the end of the 1980s are few
municipality of big cities that do not have
specialized divisions in the design and
management of public spaces. Alongside
the work of a number of other professional-
landscape spreads across the country, some
directly inspired by the work of Roberto Coelho
Cardoso, as Benedito Abbud, as many as Joseph
Tabacow, arising from Burle Marx office.