Unidade 1
História do vestuário e da moda
Esta unidade apresenta:
1) Os primeiros vestuários surgidos na Pré-história, feitos de folhas, fibras e peles para proteção.
2) O desenvolvimento da agricultura e cultivo do linho, que influenciou a modificação de costumes incluindo o vestuário.
3) As finalidades originais do vestuário: proteção contra intempéries, ligação com o sobrenatural e marcação de status social.
4. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Geraldo Alckmin
Governador
SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Rodrigo Garcia
Secretário
Nelson Baeta Neves Filho
Secretário-Adjunto
Maria Cristina Lopes Victorino
Chefe de Gabinete
Ernesto Masselani Neto
Coordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante
5. Concepção do programa e elaboração de conteúdos
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia
Coordenação do Projeto Equipe Técnica
Juan Carlos Dans Sanchez Cibele Rodrigues Silva e João Mota Jr.
Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap
Gestão do processo de produção editorial
Fundação Carlos Alberto Vanzolini
CTP, Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Geraldo Biasoto Jr.
Diretor Executivo
Lais Cristina da Costa Manso Nabuco de Araújo
Superintendente de Relações Institucionais e Projetos Especiais
Coordenação Executiva do Projeto
José Lucas Cordeiro
Equipe Técnica
Ana Paula Alves de Lavos, Emily Hozokawa Dias e
Laís Schalch
Textos de Referência
Selma Venco, Maria Helena de Castro Lima, Clélia La Laina,
Paula Marcia Ciacco da Silva Dias e Vagner Carvalheiro
Antonio Rafael Namur Muscat
Presidente da Diretoria Executiva
Hugo Tsugunobu Yoshida Yoshizaki
Vice-presidente da Diretoria Executiva
Gestão de Tecnologias aplicadas à Educação
Direção da Área
Guilherme Ary Plonski
Coordenação Executiva do Projeto
Angela Sprenger e Beatriz Scavazza
Gestão do Portal
Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e
Wilder Rogério de Oliveira
Gestão de Comunicação
Ane do Valle
Gestão Editorial
Denise Blanes
Equipe de Produção
Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira
Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas de Araújo,
Beatriz Chaves, Camila De Pieri Fernandes, Carla Fernanda
Nascimento, Célia Maria Cassis, Cláudia Letícia Vendrame
Santos, Gisele Gonçalves, Hugo Otávio Cruz Reis, Lívia
Andersen França, Lucas Puntel Carrasco, Mainã Greeb Vicente,
Patrícia Maciel Bomfim, Patrícia Pinheiro de Sant’Ana, Paulo
Mendes e Tatiana Pavanelli Valsi
Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco,
Beatriz Blay, Olívia Vieira da Silva Villa de Lima,
Priscila Garofalo, Rita De Luca e Roberto Polacov
Apoio à produção: Luiz Roberto Vital Pinto,
Maria Regina Xavier de Brito, Valéria Aranha e
Vanessa Leite Rios
Diagramação e arte: Jairo Souza Design Gráfico
Agradecemos aos seguintes profissionais e instituições que colaboraram na produção deste material:
Denise Pollini, Gabryelle T. Feresin, José Luis Hernández Alonso, Luís André do Prado,
Maria Isabel Branco Ribeiro e SENAC São Paulo
6. Caro(a) Trabalhador(a)
Estamos bastante felizes com a sua participação em um dos nossos cursos do Programa
Via Rápida Emprego. Sabemos o quanto é importante a capacitação profissional
para quem busca uma oportunidade de trabalho ou pretende abrir o seu próprio
negócio.
Hoje, a falta de qualificação é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo
desempregado.
Até os que estão trabalhando precisam de capacitação para se manter atualizados ou
quem sabe exercer novas profissões com salários mais atraentes.
Foi pensando em você que o Governo do Estado criou o Via Rápida Emprego.
O Programa é coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência
e Tecnologia, em parceria com instituições conceituadas na área da educação profis-
sional.
Os nossos cursos contam com um material didático especialmente criado para
facilitar o aprendizado de maneira rápida e eficiente. Com a ajuda de educadores
experientes, pretendemos formar bons profissionais para o mercado de trabalho
e excelentes cidadãos para a sociedade.
Temos certeza de que iremos lhe proporcionar muito mais que uma formação
profissional de qualidade. O curso, sem dúvida, será o seu passaporte para a
realização de sonhos ainda maiores.
Boa sorte e um ótimo curso!
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico,
Ciência e Tecnologia
7. Caro(a) Trabalhador(a)
Hoje, com o Programa Via Rápida Emprego, você iniciará sua trajetória rumo a
novos conhecimentos sobre a área de vestuário.
Você sabe que dominar técnicas específicas da ocupação é muito importante para
ingressar no mundo do trabalho, mas, nos dias atuais, isso não é suficiente. Existem
vários outros aspectos que vão além do conhecimento prático da ocupação e que
são igualmente importantes para seu futuro profissional. São esses detalhes, por-
tanto, que este curso lhe proporcionará.
Partindo do princípio de que você já possui diversos conhecimentos e vivências
sobre vestuário e moda, durante esse período juntos procuraremos não só valorizá-
-los, mas também potencializá-los e ampliá-los, para que, ao final do curso, você se
sinta confiante e capacitado a enfrentar novos desafios.
A Unidade 1 deste Caderno trata da história do vestuário e da moda, discorrendo
sobre sua trajetória ao longo do tempo. Em alguns momentos, os estilos são com-
parados com modelos atuais, pois, como você já deve ter ouvido falar, a moda é
cíclica – os estilos renascem de tempos em tempos, guardando semelhanças entre
si, embora apresentem sempre algo novo, uma marca de sua época.
Na Unidade 2, que tem como assunto a moda no século XX (20), continuam a ser
apresentados os estilos que marcaram as diversas décadas.
A Unidade 3 traça um panorama do mercado de trabalho nessa área, analisando
brevemente tanto os serviços autônomos possíveis nesse ramo como ocupações
existentes na indústria do vestuário para os profissionais da moda. Descreve, ainda,
cada uma das funções exercidas pelos especialistas da moda na construção das
roupas, discutindo também aspectos da legislação trabalhista, para depois se con-
centrar especificamente na atividade profissional do costureiro.
A Unidade 4 aborda questões importantes para a preservação da saúde do trabalha-
dor, bem como os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) mais utilizados na
indústria do vestuário.
O curso terá continuidade com o Caderno 2, que tratará de assuntos mais especí-
ficos da ocupação de costureiro.
Esperamos que você esteja animado para continuar esse caminho. Bom curso!
8. Sumário
Unidade 1
9
História do vestuário e da moda
Unidade 2
47
A moda no século XX (20)
Unidade 3
85
Mercado de trabalho
Unidade 4
105
Saúde e trabalho
9. FICHA CATALOGRÁFICA
Tatiane Silva Massucato Arias - CRB-8/7262
São Paulo (Estado). Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência eTecnologia. Via
Rápida Emprego: vestuário: costureiro, v.1. São Paulo: SDECT, 2013.
il. - - (Série Arco Ocupacional Vestuário)
ISBN: 978-85-65278-72-0 (Impresso)
978-85-65278-80-5 (Digital)
1. Ensino profissionalizante 2. Vestuário - Qualificação técnica 3. Costureiro - Roupa:
Confecção I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência eTecnologia II.Título III.
Série.
CDD: 371.425
646.4
11. 10 Arco Ocupacional Vestuário Costureiro 1
Moda é uma palavra comum em nossa vida, pois se re-
laciona a vários assuntos.
Algum de vocês se lembra da gíria bokomoko? É possível que
quem tenha vivido os anos 1970 reconheça esse termo, que
foi bastante usado naquele período e era um adjetivo para
os que estavam “fora de moda” sob diversos aspectos.
O que é moda para você?
Leia com atenção alguns significados da palavra moda
que constam no dicionário:
Adjetivo: Palavra que dá
uma qualidade ao substanti-
vo. Por exemplo: vestido
bonito; tecido macio; cor
berrante.
Moda
1. Maneira, estilo de viver, vestir, comportar-se,
escrever etc. predominante numa determinada
época ou lugar (gíria fora de moda); voga.
2. Restr. Arte e técnica do vestuário (moda fe-
minina).
3. A indústria e/ou o comércio dessa arte: Gos-
taria de trabalhar com moda.
4. Modo, maneira: Preparou a massa à moda
italiana.
5. Gosto, maneira ou modo distinto e pecu-
liar, ger. habitual, de cada um: Trabalha à
sua moda.
15. 14 Arco Ocupacional Vestuário Costureiro 1
• demonstração de poder: há estudos indicando que, desde a Pré-história, os homens
já usavam trajes diferentes para marcar os níveis de poder. Quando um caçador ob-
tinha sucesso na captura da presa, usava a pele desse animal como vestimenta. Podia
também selecionar o seu maior canino para colocar no pescoço, como uma espécie
de colar, e ainda usar os chifres para adornar o corpo ou criar adereços. Ao fazer isso,
o homem pré-histórico acreditava atrair para si energias mágicas da natureza ou as
qualidades do animal caçado, como força, agilidade, destreza, esperteza etc.;
• diferenciação social: na Mesopotâmia – uma das civilizações mais antigas de que se
tem conhecimento (cerca de 1700 a.C. [antes de Cristo]) e considerada o berço das ci-
vilizações –, verifica-se que os trajes usados por homens e mulheres não se diferenciavam
muito no modelo – eram quase sempre túnicas soltas, presas com cintos. No entanto,
quanto mais detalhes e enfeites possuíam, maior era o status social de quem as usava.
Para marcar as diferentes etapas do desenvolvimento da humanidade e facilitar o estudo da história,
pesquisadores dividiram-na em grandes períodos:
• Pré-história ou sociedades sem Estado: da origem do homem até 3500 a.C. (antes de Cristo) – quando
surgiu a escrita.
• Antiguidade ou Idade Antiga: de 3500 a.C. (antes de Cristo) até 476 d.C. (depois de Cristo) – do surgi-
mento da escrita à queda do Império Romano.
• Idade Média: de 476 d.C. (depois de Cristo) até 1453 – da queda do Império Romano à Tomada de
Constantinopla pelos turcos otomanos.
• Idade Moderna: de 1453 até 1789 – da Tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos até a
Revolução Francesa.
• Idade Contemporânea: da Revolução Francesa aos dias atuais.
Constantinopla é como se chamava antigamente a cidade de Istambul, na época a “entrada” do Ociden-
te para o Oriente. Denomina-se Tomada de Constantinopla o momento da história que marca o fim
da dominação romana sobre os povos do Oriente.
Revolução Francesa é o nome que se dá a um período da história da França no qual a monarquia (os
reis), a nobreza e a Igreja perderam poder para dar lugar a uma nova forma de governo – a república.
Nessa época também uma nova forma de produção começou a se consolidar: o capitalismo industrial.
A Revolução Francesa é um marco nas mudanças políticas, econômicas e sociais que aconteceram na
Europa na segunda metade do século XVIII (18), cuja influência se estendeu para quase todo o mundo.
Diferentes tipos de roupa
Em cada período histórico e em cada lugar, a roupa foi confeccionada de maneira
diferente, evidenciando, ora mais, ora menos, as formas do corpo das pessoas.
É possível pensar em roupas como uma espécie de preservação da vida: trata-se de
uma proteção contra o frio ou o calor. Mas o que era e ainda é uma necessidade
vital passou a se transformar, com o tempo, em um tipo de identidade pessoal – os
ornamentos, muitas vezes, passam a ser mais valorizados que a própria vestimenta.
17. 16 Arco Ocupacional Vestuário Costureiro 1
Atividade 1
O que é moda?
1. Em sua opinião, o que é moda? Escreva, resumidamente, nas linhas a seguir,
cinco coisas que lhe vêm à mente quando você ouve a palavra moda:
a)
b)
c)
d)
e)
2. Troque o que escreveu com um colega. O que há de semelhante e de diferente
entre sua resposta e a dele? Anote o que encontrou de comum entre elas.
3. Forme uma dupla e escrevam um parágrafo a partir da frase:
Moda é...
4. As definições dadas pelo dicionário (p. 10-11) se aproximam das que vocês ela-
boraram? Reescrevam a definição da dupla com base na leitura. Como o texto
que fizeram pode ser aperfeiçoado?
18. Costureiro 1 Arco Ocupacional Vestuário 17
História da moda no Ocidente
O Brasil faz parte do Hemisfério Ocidental (Ociden-
te), o que torna nossos costumes e hábitos semelhantes
aos de outros países do mesmo hemisfério, apesar de
diferenças específicas que distinguem um país do ou-
tro. Para você ter uma ideia melhor, pense em como
nossos costumes são diferentes dos da China ou do
Japão – esses países estão localizados no Hemisfério
Oriental (Oriente).
Para nós, a moda está em contínua mudança – ela se
transforma o tempo todo.
Evolução da moda
Você verá agora como o vestuário foi se transformando
ao longo da história.
Cada período foi organizado com uma foto antiga e
outra recente. A ideia é que você procure observar as
características das vestimentas em cada período e como
foram reinterpretadas na atualidade. O que permane-
ce? O que se alterou? Como as tendências vão e voltam
no mundo da moda?
Antigo Egito e Império Romano
No Antigo Egito (em torno de 4000 a.C. [antes de Cris-
to]), as roupas utilizadas pelos nobres eram fabricadas
com fibras de linho.
Durante o Império Romano (entre 27 a.C. [antes de
Cristo] e 395 d.C. [depois de Cristo]), as vestimen-
tas ganharam simplicidade e praticidade e se asse-
melharam a retângulos de tecido envolvidos ao
corpo (veja a ilustração na p. 19).
No laboratório de informática, acesse
o link do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE),
disponível em: http://www.ibge.gov.
br/paisesat/main.php. Acesso em:
8 jan. 2013.
Nele, você poderá obter informações
de todos os países (bandeira,
população, extensão territorial,
economia etc.), apenas arrastando o
mouse pelo mapa-múndi.
25. 24 Arco Ocupacional Vestuário Costureiro 1
Entre pesquisa histórica, desenvolvimento de materiais, testes
com teares e a trabalhosa aplicação de joias e bordados, cada
roupa demora de quatro a cinco anos para ficar pronta. São fei-
tas até trinta provas de tecidos por traje, para chegar ao material
mais parecido possível com o original. Um dos mais trabalhosos,
o vestido da duquesa Eleonora de Toledo, demorou seis anos
para ficar pronto: dois na pesquisa, dois no desenvolvimento do
tecido e mais dois no bordado (só uma, das dez bordadeiras
convocadas, levou o desafio adiante). Outro destaque é a roupa
da marquesa de Mântua, Isabella d´Este Gonzaga. Importante
figura política e patrocinadora das artes, ela própria era uma
lançadora de tendências, sempre criando seus trajes e perucas.
O vestido em exposição compõe-se de duas peças sobrepostas:
a de baixo, de tecido dourado com desenhos róseos, serve para
destacar a suntuosa parte de cima, em veludo preto recortado e
bordado em ouro.
Na exposição, a maioria dos trajes está acompanhada de uma
reprodução da pintura em que eles aparecem. O retrato de Eleo-
nora de Toledo foi feito pelo mestre Bronzino. Junto com o ves-
tido, com original e intrincada padronagem em medalhões, vem
ainda uma boneca de porcelana vestida com uma miniatura da
roupa. “Essas bonecas viajavam de corte em corte e funcionavam
como uma espécie de revista de moda do Renascimento. Era
com elas que uma princesa da França, por exemplo, tomava
conhecimento do que se usava na corte italiana”, conta Forna-
sari. Há ainda a reprodução de uma cena de banquete e dois
trajes que são a interpretação de vários quadros. Um deles, em
tecido vermelho, traz 3.000 pérolas e 200 pedras preciosas bor-
dadas – imitações, na reconstituição. “Os trajes eram vistos como
um investimento. Quando aparecia em cerimônia pública, o no-
bre fazia questão de mostrar com a roupa o tamanho de sua ri-
queza”, diz Fornasari. O conforto certamente não era uma prio-
ridade. A quantidade de tecidos, bordados, pedrarias, peles e
golas criava roupas sufocantes e pesadas. Mas em qualquer
época em que fossem vistas, hoje ou quinhentos anos atrás, não
deixavam dúvidas: eram roupas dignas de reis.
27. 26 Arco Ocupacional Vestuário Costureiro 1
O surgimento do mercado da moda no
século XVII (17)
A produção de roupas sofreu alterações e acompanhou
o movimento da sociedade. De acordo com a autora
Joan DeJean (2011), a indústria da moda teve data e
local de nascimento: surgiu em Paris, na França, nos
anos 1670. Porém as vestimentas eram caras, e apenas
a nobreza tinha acesso à confecção sob medida feita
por alfaiates e modistas. O luxo era tamanho e o valor
das roupas tão elevado que estas chegavam a ser dei-
xadas de herança a familiares – embora grande parte
da população contasse apenas com a roupa que vestia,
feita de forma artesanal, cumprindo tão somente a
função de cobrir e proteger o corpo contra alterações
climáticas.
O vestuário passou a ser uma verdadeira disputa entre
os nobres, que se perguntavam quem seria aquele que
se apresentaria com tecidos e modelos mais inovadores.
Esse modo de pensar começou a modificar a moda. A
dificuldade de transportar ampla variedade de tecidos
até onde os nobres estavam levou à criação de lojas de
tecidos e armarinhos, bem como de confecções de
roupas.
Não foram apenas as ocupações de alfaiate, costureira
e comerciante que cresceram com o desenvolvimento
da moda. A produção de tecidos, as ocupações de bor-
dadeira, modelista e desenhista, a criação de figurinos
e mesmo o jornalismo ganharam espaço com o desen-
volvimento dessa indústria.
Influência da 1ª Revolução Industrial no
vestuário
A produção do vestuário sofreu alterações importan-
tes com a 1a
Revolução Industrial, que começou na
Inglaterra (na Europa), no século XVIII (18). Mas
como era a vida antes dela?
Você sabia?
De acordo com a autora
Joan DeJean (2011), na épo-
ca em que a moda começou
a surgir, as mulheres eram
autorizadas a fazer apenas
ajustes nas roupas. Foi ne-
cessária muita luta para que
obtivessem o direito de
desenhá-las e costurá-las,
condição, até 1675, reserva-
da aos homens. As costu-
reiras eram conhecidas em
Paris como “mãozinhas”,
pois confeccionavam “ves-
tidos de sonhos”. As mulhe-
res rapidamente criaram
uma forma de inserção no
mercado e passaram a co-
mercializar acessórios, fi-
cando conhecidas como
mercadoras da moda. Tam-
bém enfeitavam roupas
com fitas e outros detalhes
decorativos, em uma técni-
ca que hoje é denominada
customização.
Você assistiu à abertura da Olimpíada
de 2012? Os jogos foram realizados
em Londres, capital da Inglaterra, e
na cerimônia de abertura foi retratada
a história do país.
No laboratório de informática, faça
uma busca e assista ao vídeo de
abertura. Nele você verá uma parte
da história aqui relatada.
40. Costureiro 1 Arco Ocupacional Vestuário 39
a exigências quanto a sua localização: estar entre as ave-
nidas Champs Elysées, Montaigne e Georges V, três das
mais importantes de Paris, e ter, pelo menos, cinco an-
dares, um deles com espaço suficiente para realização dos
desfiles de roupas.
Enquanto a alta-costura se desenvolvia, com as roupas
modeladas diretamente no corpo daqueles que as enco-
mendavam e a preços que poucos podiam pagar, começou
também a ser fortalecida a produção de roupas prêt-à-
-porter (fala-se “prétaportê”), ou seja, “prontas para vestir”.
Na Unidade 2, você verá esse assunto com mais detalhes.
Máquinas voltadas para a produção de vestuário passaram
a ser criadas na metade do século XVIII (18) – início da
Revolução Industrial. Em 1767, foi criada a máquina de
fiar; em 1769, o bastidor hidráulico; e, dez anos depois,
a máquina de fiar híbrida, composta por máquina de fiar
e bastidor hidráulico.
Atividade 3
Alta-costura versus prêt-à-porter
1. Em trio, leiam a matéria publicada em maio de 2005.
Você sabia?
O prêt-à-porter pode ser
considerado uma verdadei-
ra revolução na história do
vestuário, pois foi com ele
que se passou a confeccio-
nar roupas em escala indus-
trial, sem perda da quali-
dade, mas com redução
considerável do custo, quan-
do comparado ao da produ-
ção de alta-costura.
Vitrine global da fantasia
A criatividade e o impacto da alta-costura servem
para chamar a atenção do mundo e legitimar os pre-
ços do mercado do luxo
Flávia Varella, de Paris
Os avanços tecnológicos na moda
iniciaram-se com o advento da
1ª Revolução Industrial. A partir daí,
houve maior produtividade no setor
com outras invenções importantes:
• a máquina de casear, em 1862;
• as máquinas de pregar botões e de
corte, em 1875.
42. Costureiro 1 Arco Ocupacional Vestuário 41
Os desfiles de alta-costura são o ápice da criativi-
dade, a vitrine global e o momento máximo de au-
tocelebração do mundo da moda. As grandes grifes
costumam apresentar entre seis e nove coleções
femininas por ano. Mas apenas as duas de alta-
-costura, mostradas sempre em Paris, têm repercus-
são planetária garantida. Só nelas a habilidade de
fazer uma roupa artesanalmente – o que os franceses
chamam de savoir-faire – é levada ao extremo e pode
ser admirada da ponta do chapéu ao bico do sapato,
no corte e no caimento, no acabamento, no bordado,
nos laços, nas plumas. As coleções de prêt-à-porter,
que depois das passarelas são replicadas em escala
industrial e distribuídas nas lojas por todo o mundo,
podem fazer sucesso, vender bem ou mesmo passar
despercebidas, sem grandes consequências. Não as
de alta-costura. É por isso que as maisons chegam
a gastar o equivalente a 3,5 milhões de reais em um
desfile de vinte minutos. É por isso que seus estilis-
tas têm a liberdade de arriscar, de esbanjar virtuosis-
mo e inventividade, de mostrar manequins com
máscaras africanas, vestes de faraós egípcios ou em
trajes de mendigos. A consultoria americana Right
Angle Group calcula que um desfile desses gere uma
cobertura nos meios de comunicação que, se paga,
sairia por oito vezes mais do que o custo do desfile
– isso apenas nas revistas dos Estados Unidos.
A alta-costura serve para duas coisas: chamar a atenção
do mundo todo para determinada marca e atrair a seus
ateliês um punhado de clientes afortunadas, capazes
de encomendar vestidos iguais ou inspirados nos dos
desfiles, só que feitos sob medida para elas. A primei-
ra função é de longe a mais importante. A esta altura
todo mundo sabe que as grandes marcas de luxo vivem
majoritariamente de vender perfumes, cosméticos e
acessórios, tudo a preços olímpicos. A alta-costura
alimenta a imagem de luxo desses produtos e, como
se diz no jargão do mercado, legitima seus preços.
A alta-costura não assume apenas
essas funções. Ela teve papel
fundamental na evolução da
produção da moda. É importante
ressaltar que mesmo o prêt-à-porter,
que tem características diferenciadas
e conta com produção em escala
industrial, alimenta-se das pesquisas
e do ciclo da exclusividade, qualidade
e luxo desenvolvidos pela alta-
-costura.
44. Costureiro 1 Arco Ocupacional Vestuário 43
Em geral, a roupa nasce de um croqui, que será interpretado pela
funcionária chamada première de l’atelier num protótipo feito de
tecido comum. Ao contrário das roupas prêt-à-porter, não há moldes
de papel para orientar o corte. A roupa é cortada e alinhavada di-
retamente num manequim de madeira, preparado a partir das me-
didas precisas da cliente. A primeira prova é feita com o protótipo.
Só então o tecido definitivo será cortado e montado pelas costu-
reiras, chamadas de petites mains, mãozinhas. Seguem-se mais
duas provas até a roupa ser entregue. Nas maisons, em geral, exis-
tem dois ateliês, o flou, onde são feitos os trajes de noite, sobretu-
do vestidos, e o tailleur, para blusas e saias. “São ‘mãos’ diferentes:
a costureira de um ateliê não é capaz de fazer bem uma peça do
outro, e vice-versa”, explica Catherine Rivière, diretora de alta-
-costura da Dior. Um tailleur demora 45 dias para ficar pronto. “Se
a cliente estiver sempre disponível para as provas”, ressalta
Catherine, que atende pessoalmente as 200 clientes habituais da
Dior alta-costura. Ela e suas assistentes viajam constantemente
com vestidos e protótipos de prova na bagagem. “Metade de nos-
sas clientes é do Oriente”, diz.
O número de clientes de alta-costura de todas as grifes reunidas
não é muito maior do que as 200 privilegiadas que fazem suas
encomendas na Dior. Pouquíssimas são as mulheres que, como a
rainha Sirikit, da Tailândia, podem encomendar 25 trajes num ano.
E raras são as oportunidades, como o casamento do rei do Marro-
cos, com 2.000 convidados, três dias de recepções e trinta vestidos
só para a noiva. A alta-costura é deficitária em várias maisons por-
que o preço dos vestidos – de 35.000 a 350.000 reais – muitas
vezes não cobre o custo dos materiais e da mão de obra (que inclui
o estilista, claro), ambos especializadíssimos e caríssimos. Pascal
Morand, economista e diretor do Instituto Francês de Moda, estima
que nas poucas empresas em que a alta-costura resiste a atividade
represente entre 2% e 3% do faturamento geral. Mesmo o sucesso
nessa área não garante a sobrevivência dessa espécie ameaçada.
O exemplo mais recente foi o de Christian Lacroix, o mestre da
combinação de padronagens e das cores ibericamente fulgurantes.
Embora as encomendas de vestidos de alta-costura fossem consi-
deráveis, ele dava prejuízo na área de acessórios e prêt-à-porter e
acabou vendido pelo grupo LVMH.
46. Costureiro 1 Arco Ocupacional Vestuário 45
semanas de desfile, a imprensa de moda faz reportagens sobre a crise
da alta-costura e se pergunta se ela está acabando. Cada desistência é
contabilizada como uma pá de cal. E foram muitas recentemente: Yves
Saint Laurent, Emanuel Ungaro, Givenchy, Balmain, Donatella Versace,
Hanae Mori. Lacroix, com nova direção, muito provavelmente será o
próximo. Agora, os pilares do setor são Chanel, Dior e o italiano Valen-
tino, que faz alta-costura há meio século e é um dos poucos para quem
os vestidos sob medida representam uma atividade importante mesmo
financeiramente. O mais recente membro é Jean-Paul Gaultier, bancado
pelo grupo Hermès, que começou a mostrar sua alta-costura em 1997.
O desfile de estreia de Giorgio Armani neste ano foi visto como uma
lufada de esperança. O estilista italiano, que é dono de sua própria
marca, disse que decidiu se lançar na alta-costura porque via vestidos
caríssimos e sofisticados não serem vendidos em suas lojas, mesmo
havendo clientes que os adoravam. “Elas não compravam porque pre-
cisavam de ajustes de tamanho ou queriam uma manga diferente, um
colo menos decotado. Agora faremos como for pedido”, explicou Arma-
ni. Os 32 modelos mostrados – na maioria “glamourosos vestidos em
rabo de peixe, elegantes e perfeitamente usáveis”, dentro da visão prá-
tica do estilista – custarão, sob medida, entre 60 000 e 200 000 reais.
Além de chamar atenção e despertar desejos consumistas, os desfiles
servem para apresentar o tema em torno do qual uma grife vai de-
senvolver suas linhas de prêt-à-porter e acessórios e até sua estratégia
de marketing para a estação. Um bordado em canutilhos e miçangas,
por exemplo, pode virar uma estampa de blusas prêt-à-porter. No ano
passado, Karl Lagerfeld convidou Nicole Kidman para assistir ao des-
file. Os fotógrafos, que haviam sido obrigados a comparecer vestidos
de preto, provocaram um tsunami humano para fotografá-la. Pouco
depois, surgiu nas revistas e em outdoors a nova publicidade do per-
fume Chanel nº 5, com Nicole Kidman posando de diva, assediada
por paparazzi (e caída nos braços de Rodrigo Santoro). E agora, nes-
ta primavera europeia, as vitrines da loja estão decoradas com uma
manequim cercada de flashes, câmeras e bustos de fotógrafos. Tudo
bem pensado e planejado, sem nada da “maluquice” das passarelas.
VARELLA, Flávia: Vitrine global da fantasia. Veja: Edição Especial Moda Estilo,
maio 2005. Disponível em: http://veja.abril.com.br/especiais/estilo_2005/p_040.
html. Acesso em: 8 jan. 2013.
47. 46 Arco Ocupacional Vestuário Costureiro 1
Nome Como se fala
Petites mains Petite mãn
Flou Flu
Tailleur Taier
2. Terminada a leitura, respondam às questões a seguir.
a) Quais são as etapas apresentadas no texto para a criação de peças de alta-costura?
b) Na opinião do trio, por que algumas grandes grifes ainda apostam na alta-costura?
c) Escrevam com suas palavras as características da alta-costura e do prêt-à-porter.
Alta-costura Prêt-à-porter
48. Costureiro 1 Arco Ocupacional Vestuário 47
Unidade 2
A moda no século XX (20)
Na Unidade 1, você estudou as diferenças entre o que é moda
e o que é vestuário. Conheceu também a história e a evolução
desses conceitos até o final do século XIX (19). Nesta Unidade
será abordada a moda no século XX (20).
Para aprofundarmos a compreensão do que é moda, é possível
afirmar que ela é:
• um sistema composto por várias partes: desenho, modelagem,
costura, bordado etc. Embora cada uma das partes seja inde-
pendente, umas dependem das outras para que o sistema
funcione completamente. Por exemplo: não existe a possibi-
lidade de costurar uma roupa sem que ela esteja cortada;
ou pode ser apenas:
• o modelo da roupa que você escolhe de manhã para vestir.
Podemos também dizer que a moda acompanha pensamentos,
sentimentos, desejos e expectativas de determinada época, de
certo lugar e de um grupo da sociedade. Isso quer dizer, como
você já viu, que a moda se transforma de tempos em tempos
em relação ao lugar e às pessoas.
Gabrielle Bonheur Chanel (1883-1971), conhecida como Coco
Chanel, grande criadora de moda do século XX (20), definia
moda como algo que está presente não apenas nas vestimentas,
mas em todas as situações que vivemos e estreitamente ligada
aos costumes e aos fatos. Atribui-se à estilista a frase: “A moda
muda, o estilo permanece”.
Mas o que é estilo?
Que tal realizar uma atividade semelhante à da Unidade 1, mas
agora discutindo o que é estilo?
49. 48 Arco Ocupacional Vestuário Costureiro 1
Atividade 1
O que é estilo?
1. Em sua opinião, o que é estilo? Escreva, nas linhas a seguir, o que lhe vem à
mente quando ouve a palavra estilo.
2. Troque o que escreveu com um colega. O que há de semelhante e de diferente
entre sua resposta e a dele? Anote o que encontrou em comum entre elas.
3. Forme uma dupla e escrevam um parágrafo a partir da frase:
Estilo é...
Estilo
O conjunto de transformações ocorridas em grupos sociais, em diversos lugares e
épocas, é revelado pela moda e acaba definindo um estilo.
Vamos recorrer ao dicionário para auxiliar na compreensão da palavra estilo:
51. 50 Arco Ocupacional Vestuário Costureiro 1
Nessa época, há uma popularização do uso de peles de animais, que passam a fazer
parte de golas, punhos e forros de mantôs e de casacos. Casacos de peles, por exem-
plo, foram moda e objeto de desejo de muitas pessoas até os anos 1970, altamente
criticados na atualidade em razão dos movimentos de proteção aos animais.
Atividade 2
Peles de animais
1. Em grupo de cinco pessoas, façam uma pesquisa na biblioteca e na internet sobre
o uso de peles na moda, observando o roteiro a seguir.
a) Em que período o uso de peles tornou-se moda?
b) Por que, na opinião do grupo, o uso de peles é adotado no Brasil, que tem um
clima tropical, caracterizado por elevadas temperaturas?
c) O uso de peles é questionado pela sociedade? Por quê?
64. Costureiro 1 Arco Ocupacional Vestuário 63
Na moda, essas mudanças foram traduzidas em um vestuário de silhueta cilíndrica
e um tanto andrógina. Na realidade, tratava-se de uma moda que não retratava a
feminilidade tradicional, privilegiando, em vez disso, certo teor adolescente.
Foi também nesse período que se consolidou o prêt-à-porter, ou seja, as roupas
prontas vendidas em lojas com numeração definida. E, pela primeira vez, grifes e
confecções começaram a pensar em roupas diferenciadas para os jovens. Muitas
referências da moda, nesse período, passaram a vir das ruas. Um bom exemplo foi
a minissaia, que provocou uma verdadeira revolução. Embora haja controvérsias a
respeito da invenção dessa peça, ela costuma ser atribuída a Mary Quant (1934- ),
que, se não a criou, sem dúvida foi quem a popularizou.
A partir de 1964, com André Courrèges (1923- ), as conquistas espaciais inspiraram
as coleções de roupas produzidas pelas confecções. Todas as cores, em especial as
fortes e vibrantes, aliadas ao branco, preto e prata, foram utilizadas.
Na segunda metade da década de 1960, a diversidade na maneira de se vestir deu
o tom da moda. Surgiram então:
• a moda étnica, trazida pela loja inglesa Biba;
• a moda campestre, da estilista Laura Ashley (1925-1985);
• a moda safári, do estilista Yves Saint Laurent (1936-2008).
Viu-se nesse período uma revitalização de roupas antigas, com a valorização de
brechós (lojas de roupas usadas), roupas baratas e versáteis.
No Brasil, os anos 1960, e também a década seguinte, foram uma época de ouro
para um dos grandes nomes da costura brasileira: Dener Pamplona de Abreu (1936-
-1978), um gênio da alta-costura e o primeiro brasileiro a utilizar o próprio nome
em sua grife. Detentor de enorme talento para o desenho e a criação de moda, em
pouco tempo adquiriu os conhecimentos dos quais necessitaria para, aos 19 anos
de idade, abrir seu ateliê de costura: Dener – Alta-Costura.
Dener sempre foi original em seus trabalhos, criando modelos de acordo com as
características de suas clientes, como idade e físico, e considerando o fato de o
Brasil ser um país tropical. Com ele, iniciou-se um estilo próprio da moda brasilei-
ra. Mulheres que costumavam adquirir seus modelos em Paris, ou cópias desenha-
das por modistas brasileiros, passaram a comprá-los do ateliê de Dener.
Ganhador de prêmios nacionais e internacionais, tendo concorrido até mesmo com
Christian Dior, diz-se que teria sido convidado, e se recusado, a dirigir a Maison
Dior após a morte de seu criador.