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FÁBIO NOGUEIRA PEREIRA
UM BREVE ESBOÇO DA HISTÓRIA E DAS TEORIAS
DA HIPNOSE: DO MESMERISMO AOS
HERDEIROS DE ERICKSON NO BRASIL
30 (OU 40) ANOS DEPOIS
UM BREVE ESBOÇO DA HISTÓRIA E DAS TEORIAS DA HIPNOSE: DO
MESMERISMO AOS HERDEIROS DE ERICKSON NO BRASIL
FÁBIO NOGUEIRA PEREIRA*
RESUMO
O uso da hipnose e de estados de transe data do início da humanidade. Este
artigo faz uma revisão histórica da hipnose e seu desenvolvimento teórico-
técnico desde o magnetismo animal de Mesmer, à elucidação dos aspectos
psicológicos dos estados de transe por Braid, bem como pelas Escolas de
Salpêtrière e Nancy, na França, passando pelas guerras mundiais, as pesquisas
de Milton H. Erickson e as escolas teóricas herdeiras de suas contribuições até
os dias atuais no Brasil. Para tanto, também se discorre sobre a disseminação
da hipnose, sobretudo ericksoniana, no Brasil através dos Institutos Milton H.
Erickson e sua regulamentação como ferramenta complementar aos médicos,
odontólogos e psicólogos por seus respectivos Conselhos Federais.
Palavras-Chave: História da psicologia; Mesmerismo; Hipnose naturalista;
Hipnose ericksoniana; Psicoterapia.
1 INTRODUÇÃO
O uso da hipnose e de estados de transe data do início da humanidade, e
ainda é bastante utilizado em rituais e cerimônias religiosas. Muitas da cu-
ras citadas em documentos religiosos sobre imposição de mãos e passes
podem ser interpretadas como utilização de transes hipnóticos naturais para
a promoção de saúde. No Egito e Grécia antigos, existiam templos do sono e
vários rituais religiosos de cura envolviam estados de transe – o que ainda
está presente em certas culturas até os dias atuais (ZEIG, s/d; OLNESS e
KOHEN, 1996; ERICKSON, HERSHMAN e SECTER, 1998).
A história da hipnose como prática terapêutica na cultura ocidental começa a
se delinear mais concretamente a partir do século XVII, com Franz Anton
Mesmer (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Mesmer acredi-
tava que existia um fluido magnético que percorria o corpo e que podia curar
através do equilíbrio do magnetismo animal. Nesse primeiro momento pen-
sava-se que o ‘poder’ da cura estava no magnetizador.
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010
* Fábio Nogueira Pereira é psicólogo formado pela Pontifícia Universidade Católi-
ca de Minas Gerais e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito
Santo. Professor dos cursos de graduação de Administração, Ciências Contábeis
e Direito do UNESC e do curso de formação em psicoterapia e hipnoterapia
ericksoniana do Instituto Milton H. Erickson do Espírito Santo.
102
Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 103
2 O MESMERISMO E O MAGNETISMO ANIMAL
Mesmer aprendeu sobre o magnetismo com o sacerdote jesuíta Maximilian
Hell, que curava histeria com ímãs. Em 1778, Mesmer mudou-se para Paris,
onde desenvolveu um box com fios de ferro e ímãs para curar doenças e
indisposições. Também reunia seus pacientes para curas coletivas em ambi-
entes com luz fraca e música, tocando-os com varas submergidas em “água
magnética” (ABIA e ROBLES, 1997).
Em 1784, devido à crescente celebridade de Mesmer, o rei Luís XVI aponta
uma Comissão Científica para investigá-lo, bem como seu discípulo Charles
d’Eslon (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). A Comissão em
questão era formada por três ilustres cientistas contemporâneos: Benjamin
Franklin (então embaixador dos EUA para a França), o químico Lavoisier e o
médico Guillotin (inventor da guilhotina). A Comissão declarou que os efei-
tos atribuídos ao magnetismo animal eram resultados da imaginação do pa-
ciente e Mesmer foi denunciado por fraude.
Em 1838, o interesse pelo mesmerismo renasce na Inglaterra com John
Elliotson, professor da Universidade de Londres e inventor do estetoscópio.
Elliotson e seus colaboradores decidem editar o jornal Zoist para publicar
suas descobertas em 1842. Entretanto, a despeito de toda a intenção cientí-
fica de Elliotson, ele acabou se apegando ao magnetismo animal e
desconsiderou o real fator responsável pelas curas: um intenso rapport e da
imaginação do paciente (ERICKSON e cols., 1998).
3 O NASCIMENTO DA HIPNOSE MODERNA
James Braid, cirurgião inglês contemporâneo de Elliotson, começou a estu-
dar o mesmerismo sem acreditar muito em sua efetividade como método
terapêutico e até mesmo se opondo às teorias do magnetismo animal
(ERICKSON e cols., 1998). Braid enfatizou que o magnetismo animal de Mesmer
não estava presente em suas curas, sendo estas, conseqüências da suges-
tão, marcando definitivamente o fim do mesmerismo (KENNEDY, 2002). Braid
rejeitou a idéia de que a imaginação por si só pudesse produzir o transe e
reconheceu a importância da confiança do paciente no tratamento, assim
como a possibilidade de auto-hipnose devido ao trabalho que realizou consi-
go mesmo para controle de dor. Kennedy (2002) afirma que Braid conseguiu
provar, com suas pesquisas, que a hipnose ocorre naturalisticamente, de
dentro para fora do indivíduo, isto é, de que toda hipnose é uma auto-hipno-
se e de que não depende de qualquer espetáculo do hipnotista. James Braid
foi o primeiro cientista a detalhar a fenomenologia das mudanças fisiológi-
cas perceptíveis durante o transe (KENNEDY, 2002).
EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010104
Segundo Rossi (em comunicação pessoal citada por Kennedy, 2002), Braid é o
verdadeiro pai da hipnose. Ele cunhou o termo hipnose – derivado do grego
hypnos (cujo significado é sono); mais tarde, quis mudar o nome para
monoideísmo (concentração em uma única idéia) por reconhecer o erro de
associar o estado de transe ao sono, mas o termo, mesmo tecnicamente
errado, persistiu. Ele desenvolveu a técnica de fixação de visual com o obje-
tivo primário de induzir estados de relaxamento. Braid foi muito importante
para elucidação dos aspectos psicológicos da hipnose e suas teorias repercu-
tiram nos trabalhos de Broca, Charcot, Liébault, Bernheim, Heidenhain e
Krafft-Ebing (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Braid, tam-
bém foi o primeiro a explicar os estados de transe com a associação da
fisiologia e da psicologia (KENNEDY, 2002).
3.1 JEAN MARTIN CHARCOT
Charcot, famoso neurologista francês entre seus contemporâneos, retomou
as idéias de Mesmer sobre magnetismo animal e considerava o estado de
transe hipnótico uma manifestação histérica. Na verdade, na Escola de
Salpêtrière, quem fazia a maior parte das induções e realmente tinha conta-
to cotidiano com os pacientes eram seus assistentes. Assim, Charcot pouco
pesquisou para aprofundar seus estudos sobre os fenômenos hipnóticos
(OLNESS e KOHEN, 1996). Mais tarde, a história desmentiu a controvérsia
que havia se estabelecido entre as Escolas de Nancy e Salpêtrière. Infeliz-
mente, alguns cientistas da época, tal como Freud, acabaram por abandonar
a hipnose por influência das teorias de Charcot.
3.2 AUGUSTE AMBROSE LIÉBAULT E HIPPOLITE BERNHEIM
Ambos os cientistas leram os trabalhos de Braid e ficaram intensamente in-
teressados pela hipnose. Liébault iniciou seus estudos baseado em trabalhos
voluntários e de pesquisa para afastar os rumores de charlatanismo e fundou
a Escola de Nancy. Logo foi procurado por Bernheim, famoso neurologista e
professor da faculdade de medicina. Esses autores recolheram dados sobre
cerca de 10 mil pacientes que contradiziam e se opunham a Charcot, desen-
volvendo, juntos, teorias que acabaram por se provar mais acuradas (OLNESS
e KOHEN, 1996).
Bernheim supunha que a hipnose acontecia como resultado de vários métodos
de indução que agiam sobre a imaginação do paciente. Em 1886, escreveu o
primeiro tratado científico sobre hipnose: Suggestive therapeutics. Liébault e
Bernheim reconheciam as diferenças individuais dos pacientes na respostas às
induções (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Descobriram os
diversos níveis de aprofundamento do transe e pesquisaram sobre susceptibi-
lidade hipnótica com uma população que abrangia ambos os sexos e indivíduos
Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 105
de uma faixa de idade comportando desde crianças a idosos.
3.3 INÍCIO DO SÉCULO XX
O psicoterapeuta inglês J. Milne Bramwell começou a usar hipnose em 1889.
Em 1903, publicou Hipnotism: Its History, Practice, and Theory, uma verda-
deira revisão dos trabalhos publicados até então. Esse livro foi a publicação
mais ampla sobre a hipnose por muitos anos (OLNESS e KOHEN, 1996).
Vários autores importantes das ciências psicológicas também utilizaram hip-
nose no começo de suas carreiras, mas a abandonaram para desenvolver suas
próprias teorias de desenvolvimento psicológico e intervenção clínica: o gestalt-
terapeuta Fritz Perls, o behaviorista Eric Berne e o pai da psicanálise, Sigmund
Freud (ZEIG, s/d). Freud, na verdade, nunca rechaçou a hipnose, ao contrário
do abrangentemente divulgado na comunidade psi. Infelizmente, o abandono
“público” da hipnose por parte de Freud e os vários mitos criados a partir
desse fato atrasaram o desenvolvimento científico da hipnose e sua divulga-
ção mais ampla por cerca de meio século (ERICKSON e cols., 1998). Milton H.
Erickson retomou o uso terapêutico da hipnose enfatizando os recursos inter-
nos dos próprios pacientes ao invés da metodologia tradicional, na qual o
hipnotista impunha sugestões ao sujeito hipnótico.
Durante a Primeira Guerra Mundial, muitos soldados voltavam do fronte com
neuroses de guerra. Um psicanalista alemão, chamado Ernst Simmel, desen-
volveu a hipnoanálise para tratar tais pacientes (ERICKSON e cols., 1998).
Tal uso da hipnose chamou a atenção de Clark Hull, professor de psicologia
de Yale, que realizou pesquisas de psicologia experimental com hipnose,
cujo fruto de suas pesquisas foi o livro Hypnosis and suggestibility. Décadas
depois, durante a Segunda Guerra Mundial, Hadfield e Horsley, independen-
temente, e Grinker e Spiegel utilizaram barbitúricos para induzir uma hipno-
se medicamentosa (narcossíntese) com o objetivo de trazer à tona o mate-
rial traumático reprimido. Durante as duas Guerras Mundiais, a hipnose em
associação à psicanálise, foi um dos mais importantes avanços médicos para
o tratamento de traumas em soldados (ERICKSON e cols., 1998).
Na década de 1950, diversas escolas norte-americanas tinham cadeiras acadêmi-
cas sobre hipnose, dentre elas: Universidade da Califórnia, Universidade de Long
Island, Universidade Roosevelt, Universidade Tufts, entre outras. Nessa década,
Erickson e alguns colaboradores já viajavam por todos os EUA para divulgar e
ensinar hipnose em seminários bastante disputados (ERICKSON e cols., 1998;
HALEY, 2003).Também nesse período foram criadas as American Society of Clinical
Hypnosis, The American Journal of Clinical Hypnosis, British Journal of Medical
Hypnotism e The Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, mais dois jornais
na Espanha e alguns outros em vários países (ERICKSON e cols., 1998).
EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010106
4 MILTON H. ERICKSON
Milton Hyland Erickson nasceu em Aurun, Nevada, no dia 5 de dezembro de
1901, e faleceu em Phoenix, Arizona, no dia 25 de março de 1980. Psiquiatra
e mestre em psicologia, tornou-se conhecido por um trabalho inédito: asso-
ciar com sucesso, através de uma abordagem naturalista, o uso da hipnose
às psicoterapias. Erickson foi aluno de Clark Hull na Universidade de
Wisconsin, com quem pesquisou e iniciou seus estudos sobre fenômenos
hipnóticos. Trabalhou em vários hospitais psiquiátricos por todos os Estados
Unidos, contribuiu em pesquisas de Margaret Mead e Gregory Bateson – que
lhes foram apresentados por Abraham Maslow – e como consultor para o go-
verno norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo Zeig e
Munion (1999), Erickson escreveu ou colaborou em mais de 140 livros e arti-
gos científicos; foi colaborador de Aldous Huxley, Andre Weitzenhoffer, Jay
Haley, John Weakland, Gregory Bateson e Paul Watzlawick. Segundo Secter
(1982, citado por ZEIG, s/d), Erickson ficou conhecido nos Estados Unidos
como “Sr. Hipnose” pelo trabalho clínico desenvolvido e pelas contribuições
teóricas nessa área de conhecimento. Entretanto, segundo Haley (2003),
Erickson não só trabalhou excepcionalmente com a hipnose naturalista, como
suas contribuições, para inovar a prática psicoterápica, são uma abordagem
única. Erickson foi fundador e presidente da American Society of Clinical
Hypnosis (ASCH), além de fundador e editor da revista da ASCH, a American
Journal of Clinical Hypnosis (ZEIG, 1995; HALEY, 2003).
Erickson, juntamente com os autores acima citados, fazia parte de um grupo
de pensadores que queriam inovar o atendimento clínico com o objetivo de
incrementar os resultados obtidos no processo terapêutico. Lankton (2004)
coloca que tanto quanto Freud avançou e contribuiu no entendimento do fun-
cionamento psíquico, Erickson acrescentou para a epistemologia que incide
no atendimento psicológico clínico. Para Erickson, “terapia é uma forma de
ajudar os pacientes a estender seus limites” (HALEY, 2003).
Criando uma nova abordagem de tratamento, que podemos chamar de
Hipnoterapia Naturalista, ele trabalhava baseando-se no sintoma do pacien-
te, “entrando” na forma em que a pessoa causava o problema a si mesma,
fazendo a intervenção “de dentro para fora”. Ao longo de sua carreira, obte-
ve excelentes resultados no tratamento de casos diversos, como depres-
sões, fobias, problemas sexuais, doenças psicossomáticas e outros.
Nas aulas experimentais que dava, costumava colocar seus alunos em transe
e modificava padrões antigos que causava problemas a eles. Tinha uma for-
ma muito peculiar de ensinar, através de seminários didáticos, nos quais
seus alunos mais experimentavam sua metodologia do que se prendiam a
ela. Erickson era um exímio comunicador e, além do transe formalmente
Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 107
induzido, utilizava-se também de conversa hipnótica, comunicando-se em
vários níveis – verbal e não-verbalmente (ZEIG, s/d; ZEIG, 1995; ERICKSON
e cols., 1998; ROBLES, 2001).
4.1 OS HERDEIROS DE ERICKSON
Nos últimos 25 anos, The Milton H. Erickson Foundation teve dentre suas
intenções não estabelecer a psicoterapia ericksoniana com uma abordagem
psicoterápica em especial e sim divulgar as contribuições de Erickson para
as diversas escolas de psicoterapia já existentes, sejam elas de terapia
individual, grupal, de casais ou de família.
Assistimos, nos últimos 20 anos, ao desenvolvimento de escolas de terapia
sob influência ericksoniana que podemos classificar em nove principais gru-
pos (ZEIG, 2004):
1) Terapia Estratégica
Seus principais autores são Jay Haley e Cloé Madanes. Essa abordagem tira
o foco no uso da hipnose e enfatiza a utilização de tarefas terapêuticas e das
intervenções não-convencionais de Erickson.
2) Abordagem Interacional
Desenvolvida no Mental Research Institute (MRI) de Palo Alto, Califórnia,
baseada no trabalho de Watzlawick, Weakland e Fisch, essa segunda aborda-
gem também tira o foco da hipnose e enfatiza a utilização de intervenções
paradoxais e de reenquadramento. Essa abordagem, predominantemente
sistêmica, se fundamenta nos padrões de interação que se estabelecem em
famílias e casais.
3) Programação Neuro-Lingüística
Erickson deixou um legado que perdura até os dias atuais, tendo influencia-
do escolas de terapia familiar, terapia estratégica e é um dos três pilares
fundamentais – juntamente com Virginia Satir e Fritz Perls – das pesquisas
de Bandler e Grinder para o desenvolvimento da PNL.
4) Psicobiologia da Cura Mente-Corpo
A abordagem Mente-Corpo de Ernest Rossi deriva de seu contato com Erickson.
Rossi foi um dos maiores colaboradores de Erickson e editor de diversos de
seus artigo nos quatro volumes de Collected Papers, bem como o autor que
mais escreveu Erickson. Rossi desenvolveu sua abordagem com embasamento
EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010108
na Psicobiologia e aproveitou as contribuições de Erickson para orientações
na perspectiva Mente-Corpo.
5) Terapia Centrada na Solução
São vários os autores que podem ser agrupados sob esta linha. Zeig destaca
DeShazer como o de maior contribuição. Essa abordagem pertence, na ver-
dade, a uma segunda geração de terapias ericksonianas, já que foi desen-
volvida a partir da abordagem Interacional do MRI.
6) Self Relations
Abordagem desenvolvida por Stephen Gilligan que tem forte influência de
seu contato com Erickson no final da década de 1960, de sua prática de artes
marciais e de seu contato com o Budismo.
7) Neo-Ericksonianos
Aqui Zeig inclui a si mesmo além de Stephen Lankton, Teresa Robles e outros
autores. Os neo-ericksonianos utilizam hipnose e procuram desenvolver mais
estratégias focando no princípio de utilização ericksoniano.
8) Outcome Informed
Esse grupo inclui todos aqueles que não tiveram contato direto com Erickson,
mas desenvolveram seu trabalho a partir de estudos sobre Erickson. Assim,
também fazem parte da segunda geração de terapias ericksonianas. Dentre
os autores aqui incluídos, Zeig (2004) destaca Scott Miller e Michael Yapko.
9) Outros autores
Podemos incluir entre discípulos da segunda geração aqueles que utilizam con-
tribuições ericksonianas dentro de suas próprias abordagens psicoterapêuticas,
tais como Terapia Cognitiva e Terapia de Família, dentre outras.
5 HIPNOSE ERICKSONIANA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Segundo Baker (2005), podemos dividir a evolução da hipnose no Brasil em
três fases: tradicional, clássica e contemporânea. A fase tradicional, tam-
bém pode ser chamada de autóctone, e tem suas raízes nas práticas religio-
sas e de cura dos indígenas nativos. Um pouco mais adiante em nossa histó-
ria, esse substrato indígena somou-se às influências da espiritualidade e
medicina trazida pelos escravos africanos. Logo, como resultado do contato
Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 109
dessas duas culturas com a dos europeus, amalgamou-se o caldeirão sincrético
que disseminou entre a população diversas formas de práticas para curas
mente-corpo e soluções de problemas (BAKER, 2005). O mesmerismo e o
kardecismo emergiram nas últimas décadas de 1700 e no início do século XIX
devido ao grande interesse da aristocracia brasileira. Dom Pedro II chegou
até a fundar a Sociedade Brasileira de Estudos do Magnetismo Animal sob
influência do mesmerismo.
A fase clássica sofreu impacto dos primeiros estudos de Freud e das Escolas
de Nancy e Salpêtrière, bem como dos experimentos de Pavlov, Clark Hull e
das primeiras contribuições psiquiátricas de Erickson. Baker (2005) coloca
que em resposta à fundação da American Society of Clinical Hypnosis, a
Sociedade Brasileira de Hipnose emergiu em 1957, assim como algumas so-
ciedades regionais. Dentre os que se destacaram na fase clássica, Baker
(2004; 2005) destaca o médico Victorio Velleso, diretor-fundador do Instituto
Milton H. Erickson Brasil-Sul; David Akstein, médico que se utilizou de práti-
cas clássicas, ericksonianas e tradicionais; o médico Antonio Carlos Moraes
Passos, professor da Escola Paulista de Medicina e que manteve correspon-
dência ativa com Erickson; e Malomar Edelweiss Lund, psicanalista que estu-
dou com Igor Caruso em Viena e praticou hipnoanálise nos últimos 50 anos.
Também se deve destacar o trabalho realizado por Vladmir Bernick, Negrão
Prado, Myron Saling e Lindemberg Valadares.
Na verdade, as últimas sete décadas foram de intensa fertilização cruzada,
tendo todas as três correntes se influenciado continuamente (Baker, 2005). A
fase contemporânea inicia-se em 1992, quando José Carlos Victor Gomes
convida Jeffrey K. Zeig para seu primeiro workshop em terras brasileiras.
Essa atitude, segundo aponta Baker, “abriu as portas” para o crescimento da
hipnose e terapias ericksonianas no Brasil. Após a vinda de Zeig, alguns
outros autores de renome o seguiram, tais como: Ernest Rossi, Steven Gilligan,
Steven Lankton, Jay Haley, Steve De Shazer, Cloé Madanes, Humberto
Maturana, Paul Watzlawick, BettyAlice Erickson, Lynn Hoffman, Teresa Robles,
Peggy Papp, entre outros. José Carlos também fundou a Editorial Psy, que, na
década de 1990, publicou mais de 20 livros de abordagem ericksoniana.
Outra pessoa que deve ser destacada é Maria Margarida Carvalho. Filósofa
de formação, M. Margarida foi uma das fundadoras do Departamento de
Psicologia da USP, o primeiro departamento independente do país, e pessoa
de papel fundamental para a história da Psicologia no Brasil. Após trabalhar
com Rodolfo Bohoslavsky na década de 1970, com Orientação Profissional,
M. Margarida começou a estudar técnicas ericksonianas para controle de dor
e suas aplicações na oncologia e em doenças psicossomáticas. Carvalho es-
tudou com os discípulos mais destacados de Erickson, tanto na Europa como
nos EUA, e foi diretora-fundadora do Instituto Milton H. Erickson de São
EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010110
Paulo, em 1995 – juntamente com Marília Baker e José Carlos Vitor Gomes –
, o primeiro Brasil (BAKER, 2004; 2005). Após anos de prática clínica, M.
Margarida tem se destacado na última década por seu trabalho com
psiconcologia, realizando pesquisas e as apresentando em congressos.
Pode-se destacar, ainda, o trabalho realizado por Sofia Bauer, médica e psi-
canalista. Sofia foi aluna de Malomar Lund por muitos anos e começou sua
formação na Milton H. Erickson Foundation em 1991. Lançou em 1998
Hipnoterapia Ericksoniana, Passo a Passo, e em 2001, Síndrome do Pânico:
um sinal que desperta. Sofia Bauer, também, foi diretora-fundadora do Ins-
tituto Milton H. Erickson de Belo Horizonte e hoje é diretora do Instituto
Milton H. Erickson de Florianópolis.
Em agosto de 1999, foi fundado o Instituto Milton H. Erickson de Belo Hori-
zonte, tendo como diretores José Augusto Mendonça, Ângela Cota Guima-
rães Mendonça e Sofia Bauer. Muitos psicólogos, médicos e dentistas foram
alunos do primeiro Instituto mineiro e acabaram se tornando diretores de
Institutos ericksonianos no Brasil. Cinco Institutos foram fundados por ex-
alunos do Instituto de Belo Horizonte: Brasília, Maceió, Recife, Juiz de Fora e
Vale do Aço. Nos últimos anos, o Instituto de Belo Horizonte firmou convênio
com a Universidade Federal de Minas Gerais e com o Centro Ericksoniano do
México para intercâmbio científico e divulgação da abordagem de Erickson.
Em 2002 (em Florianópolis) e em 2004 (em Belo Horizonte), respectivamen-
te, foram sediados o III Encontro Latino-Americano de Terapeutas Ericksonianos
e o V Encontro Latino-Americano de Psicoterapia e Hipnose Ericksoniana,
eventos que congregaram ericksonianos de diversos países latino-america-
nos, europeus e diversos estados brasileiros.
Em dezembro de 2000, o Conselho Federal de Psicologia aprovou a Resolução
13/00, na qual autoriza e regulamenta o uso da hipnose como recurso auxi-
liar de trabalho do psicólogo, devido aos avanços e às contribuições da Esco-
la Ericksoniana (CFP, 2000). Segundo Araújo (2004), a hipnose também é
regulamentada como técnica auxiliar pelos Conselhos Federais de Medicina –
Código de Ética Médica, capítulo VI, artigos 62 e 64; Processo-Consulta 44/
99 – e de Odontologia – Lei n. 5081 de 24/08/66, artigo 6º, parágrafos I a VI.
Desde meados da década de 1990, a abordagem ericksoniana começou a
ser difundida com maior intensidade no Brasil. Hoje, existem 135 Socieda-
des, Institutos e Centros Ericksonianos filiados a The Milton H. Erickson
Foundation em todo o mundo (MILTON H. ERICKSON FOUNDATION, 2009).
No Brasil, 15 Institutos estão divulgando a abordagem ericksoniana através
da formação em psicoterapia e hipnose ericksoniana, pesquisas, palestras,
workshops, congressos e intercâmbios científicos com instituições nacio-
nais e internacionais.
Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 111
Concorda-se com Baker (2005), no sentido de que se o século XX foi o de
Freud, da psicanálise e de seus seguidores, o século XXI é, sem sombra de
dúvida, o de Milton H. Erickson e de seus herdeiros, pesquisadores e
divulgadores de suas contribuições à hipnose e à prática psicoterápica.
REFERÊNCIAS
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res, 1997.
ARAÚJO, J.S.A. Hipnose ericksoniana. Vitória: Instituto Milton H.
Erickson do Espírito Santo, 2004.
BAKER, M. Homenagem a Elizabeth Moore Erickson: mulher extraordiná-
ria, profissional, esposa, mãe e companheira. Belo Horizonte: Diamante,
2004.
______. The evolution of hypnosis in Brazil. The Milton H. Erickson
Foudation Newsletter, 20 (1), spring 2000. Disponível em: <http://
www.erickson-foundation.org/news/Archives/20(1)/IC_Brazil.htm>.
Acesso em 01/02/2005.
Conselho Federal de Psicologia (CFP). Resolução 13/00. Brasília: Autor,
2000.
ERICKSON, M.H., Hershman, S., SECTER, I. I. Hipnose médica e
odontológica: aplicações práticas. Campinas: Psy, 1998.
HALEY, J. Dr. Erickson’s Personality and Life. Disponível em: <http://
www.erickson-foundation.org/milton.htm>. Acesso em: 05/06/2003.
KENNEDY, T. James Braid, “The true father of hypnosis”. The Milton H.
Erickson Foundation Newsletter, 22 (1), 14, 2002.
LANKTON, S. Milton Erickson’s contribution to therapy epistemology –
not technology. Disponível em: <http://lankton.com/epist-bg.htm>.
Acesso em: 10/02/2004.
Milton H. Erickson Foundation. Milton H. Erickson Institutes and
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institutes.html>. Acesso em: 30/12/2009.
EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira
nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010112
OLNESS, K.; KOHEN, D. P. Hypnosis and hypnotherapy with children.
New York/London: Guilford Press, 1996.
ROBLES, T. Terapia feita sob medida: um seminário ericksoniano com
Jeffrey K. Zeig. Belo Horizonte: Diamante, 2001.
ZEIG, J.K. Seminários didáticos com Milton H. Erickson: hipnose, metá-
foras e comunicação em psicoterapia. Campinas: Psy, 1995.
______. Some of the advances on ericksonian psychotherapy that have
happened over the last twenty years. Comunicação oral apresentada no
5º Encontro Latino-Americano de Psicoterapia e Hipnose Ericksoniana. Belo
Horizonte, maio 2004.
______. Vivenciando Erickson. Campinas: Livro Pleno (s/d).
ZEIG J. K., MUNION, W. M. Milton H. Erickson. London/Thousand Oaks/
New Delhi: Sage, 1999.

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História da hipnose do Mesmerismo a Erickson

  • 1. FÁBIO NOGUEIRA PEREIRA UM BREVE ESBOÇO DA HISTÓRIA E DAS TEORIAS DA HIPNOSE: DO MESMERISMO AOS HERDEIROS DE ERICKSON NO BRASIL
  • 2. 30 (OU 40) ANOS DEPOIS UM BREVE ESBOÇO DA HISTÓRIA E DAS TEORIAS DA HIPNOSE: DO MESMERISMO AOS HERDEIROS DE ERICKSON NO BRASIL FÁBIO NOGUEIRA PEREIRA* RESUMO O uso da hipnose e de estados de transe data do início da humanidade. Este artigo faz uma revisão histórica da hipnose e seu desenvolvimento teórico- técnico desde o magnetismo animal de Mesmer, à elucidação dos aspectos psicológicos dos estados de transe por Braid, bem como pelas Escolas de Salpêtrière e Nancy, na França, passando pelas guerras mundiais, as pesquisas de Milton H. Erickson e as escolas teóricas herdeiras de suas contribuições até os dias atuais no Brasil. Para tanto, também se discorre sobre a disseminação da hipnose, sobretudo ericksoniana, no Brasil através dos Institutos Milton H. Erickson e sua regulamentação como ferramenta complementar aos médicos, odontólogos e psicólogos por seus respectivos Conselhos Federais. Palavras-Chave: História da psicologia; Mesmerismo; Hipnose naturalista; Hipnose ericksoniana; Psicoterapia. 1 INTRODUÇÃO O uso da hipnose e de estados de transe data do início da humanidade, e ainda é bastante utilizado em rituais e cerimônias religiosas. Muitas da cu- ras citadas em documentos religiosos sobre imposição de mãos e passes podem ser interpretadas como utilização de transes hipnóticos naturais para a promoção de saúde. No Egito e Grécia antigos, existiam templos do sono e vários rituais religiosos de cura envolviam estados de transe – o que ainda está presente em certas culturas até os dias atuais (ZEIG, s/d; OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON, HERSHMAN e SECTER, 1998). A história da hipnose como prática terapêutica na cultura ocidental começa a se delinear mais concretamente a partir do século XVII, com Franz Anton Mesmer (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Mesmer acredi- tava que existia um fluido magnético que percorria o corpo e que podia curar através do equilíbrio do magnetismo animal. Nesse primeiro momento pen- sava-se que o ‘poder’ da cura estava no magnetizador. nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 * Fábio Nogueira Pereira é psicólogo formado pela Pontifícia Universidade Católi- ca de Minas Gerais e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor dos cursos de graduação de Administração, Ciências Contábeis e Direito do UNESC e do curso de formação em psicoterapia e hipnoterapia ericksoniana do Instituto Milton H. Erickson do Espírito Santo. 102
  • 3. Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 103 2 O MESMERISMO E O MAGNETISMO ANIMAL Mesmer aprendeu sobre o magnetismo com o sacerdote jesuíta Maximilian Hell, que curava histeria com ímãs. Em 1778, Mesmer mudou-se para Paris, onde desenvolveu um box com fios de ferro e ímãs para curar doenças e indisposições. Também reunia seus pacientes para curas coletivas em ambi- entes com luz fraca e música, tocando-os com varas submergidas em “água magnética” (ABIA e ROBLES, 1997). Em 1784, devido à crescente celebridade de Mesmer, o rei Luís XVI aponta uma Comissão Científica para investigá-lo, bem como seu discípulo Charles d’Eslon (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). A Comissão em questão era formada por três ilustres cientistas contemporâneos: Benjamin Franklin (então embaixador dos EUA para a França), o químico Lavoisier e o médico Guillotin (inventor da guilhotina). A Comissão declarou que os efei- tos atribuídos ao magnetismo animal eram resultados da imaginação do pa- ciente e Mesmer foi denunciado por fraude. Em 1838, o interesse pelo mesmerismo renasce na Inglaterra com John Elliotson, professor da Universidade de Londres e inventor do estetoscópio. Elliotson e seus colaboradores decidem editar o jornal Zoist para publicar suas descobertas em 1842. Entretanto, a despeito de toda a intenção cientí- fica de Elliotson, ele acabou se apegando ao magnetismo animal e desconsiderou o real fator responsável pelas curas: um intenso rapport e da imaginação do paciente (ERICKSON e cols., 1998). 3 O NASCIMENTO DA HIPNOSE MODERNA James Braid, cirurgião inglês contemporâneo de Elliotson, começou a estu- dar o mesmerismo sem acreditar muito em sua efetividade como método terapêutico e até mesmo se opondo às teorias do magnetismo animal (ERICKSON e cols., 1998). Braid enfatizou que o magnetismo animal de Mesmer não estava presente em suas curas, sendo estas, conseqüências da suges- tão, marcando definitivamente o fim do mesmerismo (KENNEDY, 2002). Braid rejeitou a idéia de que a imaginação por si só pudesse produzir o transe e reconheceu a importância da confiança do paciente no tratamento, assim como a possibilidade de auto-hipnose devido ao trabalho que realizou consi- go mesmo para controle de dor. Kennedy (2002) afirma que Braid conseguiu provar, com suas pesquisas, que a hipnose ocorre naturalisticamente, de dentro para fora do indivíduo, isto é, de que toda hipnose é uma auto-hipno- se e de que não depende de qualquer espetáculo do hipnotista. James Braid foi o primeiro cientista a detalhar a fenomenologia das mudanças fisiológi- cas perceptíveis durante o transe (KENNEDY, 2002).
  • 4. EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010104 Segundo Rossi (em comunicação pessoal citada por Kennedy, 2002), Braid é o verdadeiro pai da hipnose. Ele cunhou o termo hipnose – derivado do grego hypnos (cujo significado é sono); mais tarde, quis mudar o nome para monoideísmo (concentração em uma única idéia) por reconhecer o erro de associar o estado de transe ao sono, mas o termo, mesmo tecnicamente errado, persistiu. Ele desenvolveu a técnica de fixação de visual com o obje- tivo primário de induzir estados de relaxamento. Braid foi muito importante para elucidação dos aspectos psicológicos da hipnose e suas teorias repercu- tiram nos trabalhos de Broca, Charcot, Liébault, Bernheim, Heidenhain e Krafft-Ebing (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Braid, tam- bém foi o primeiro a explicar os estados de transe com a associação da fisiologia e da psicologia (KENNEDY, 2002). 3.1 JEAN MARTIN CHARCOT Charcot, famoso neurologista francês entre seus contemporâneos, retomou as idéias de Mesmer sobre magnetismo animal e considerava o estado de transe hipnótico uma manifestação histérica. Na verdade, na Escola de Salpêtrière, quem fazia a maior parte das induções e realmente tinha conta- to cotidiano com os pacientes eram seus assistentes. Assim, Charcot pouco pesquisou para aprofundar seus estudos sobre os fenômenos hipnóticos (OLNESS e KOHEN, 1996). Mais tarde, a história desmentiu a controvérsia que havia se estabelecido entre as Escolas de Nancy e Salpêtrière. Infeliz- mente, alguns cientistas da época, tal como Freud, acabaram por abandonar a hipnose por influência das teorias de Charcot. 3.2 AUGUSTE AMBROSE LIÉBAULT E HIPPOLITE BERNHEIM Ambos os cientistas leram os trabalhos de Braid e ficaram intensamente in- teressados pela hipnose. Liébault iniciou seus estudos baseado em trabalhos voluntários e de pesquisa para afastar os rumores de charlatanismo e fundou a Escola de Nancy. Logo foi procurado por Bernheim, famoso neurologista e professor da faculdade de medicina. Esses autores recolheram dados sobre cerca de 10 mil pacientes que contradiziam e se opunham a Charcot, desen- volvendo, juntos, teorias que acabaram por se provar mais acuradas (OLNESS e KOHEN, 1996). Bernheim supunha que a hipnose acontecia como resultado de vários métodos de indução que agiam sobre a imaginação do paciente. Em 1886, escreveu o primeiro tratado científico sobre hipnose: Suggestive therapeutics. Liébault e Bernheim reconheciam as diferenças individuais dos pacientes na respostas às induções (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Descobriram os diversos níveis de aprofundamento do transe e pesquisaram sobre susceptibi- lidade hipnótica com uma população que abrangia ambos os sexos e indivíduos
  • 5. Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 105 de uma faixa de idade comportando desde crianças a idosos. 3.3 INÍCIO DO SÉCULO XX O psicoterapeuta inglês J. Milne Bramwell começou a usar hipnose em 1889. Em 1903, publicou Hipnotism: Its History, Practice, and Theory, uma verda- deira revisão dos trabalhos publicados até então. Esse livro foi a publicação mais ampla sobre a hipnose por muitos anos (OLNESS e KOHEN, 1996). Vários autores importantes das ciências psicológicas também utilizaram hip- nose no começo de suas carreiras, mas a abandonaram para desenvolver suas próprias teorias de desenvolvimento psicológico e intervenção clínica: o gestalt- terapeuta Fritz Perls, o behaviorista Eric Berne e o pai da psicanálise, Sigmund Freud (ZEIG, s/d). Freud, na verdade, nunca rechaçou a hipnose, ao contrário do abrangentemente divulgado na comunidade psi. Infelizmente, o abandono “público” da hipnose por parte de Freud e os vários mitos criados a partir desse fato atrasaram o desenvolvimento científico da hipnose e sua divulga- ção mais ampla por cerca de meio século (ERICKSON e cols., 1998). Milton H. Erickson retomou o uso terapêutico da hipnose enfatizando os recursos inter- nos dos próprios pacientes ao invés da metodologia tradicional, na qual o hipnotista impunha sugestões ao sujeito hipnótico. Durante a Primeira Guerra Mundial, muitos soldados voltavam do fronte com neuroses de guerra. Um psicanalista alemão, chamado Ernst Simmel, desen- volveu a hipnoanálise para tratar tais pacientes (ERICKSON e cols., 1998). Tal uso da hipnose chamou a atenção de Clark Hull, professor de psicologia de Yale, que realizou pesquisas de psicologia experimental com hipnose, cujo fruto de suas pesquisas foi o livro Hypnosis and suggestibility. Décadas depois, durante a Segunda Guerra Mundial, Hadfield e Horsley, independen- temente, e Grinker e Spiegel utilizaram barbitúricos para induzir uma hipno- se medicamentosa (narcossíntese) com o objetivo de trazer à tona o mate- rial traumático reprimido. Durante as duas Guerras Mundiais, a hipnose em associação à psicanálise, foi um dos mais importantes avanços médicos para o tratamento de traumas em soldados (ERICKSON e cols., 1998). Na década de 1950, diversas escolas norte-americanas tinham cadeiras acadêmi- cas sobre hipnose, dentre elas: Universidade da Califórnia, Universidade de Long Island, Universidade Roosevelt, Universidade Tufts, entre outras. Nessa década, Erickson e alguns colaboradores já viajavam por todos os EUA para divulgar e ensinar hipnose em seminários bastante disputados (ERICKSON e cols., 1998; HALEY, 2003).Também nesse período foram criadas as American Society of Clinical Hypnosis, The American Journal of Clinical Hypnosis, British Journal of Medical Hypnotism e The Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, mais dois jornais na Espanha e alguns outros em vários países (ERICKSON e cols., 1998).
  • 6. EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010106 4 MILTON H. ERICKSON Milton Hyland Erickson nasceu em Aurun, Nevada, no dia 5 de dezembro de 1901, e faleceu em Phoenix, Arizona, no dia 25 de março de 1980. Psiquiatra e mestre em psicologia, tornou-se conhecido por um trabalho inédito: asso- ciar com sucesso, através de uma abordagem naturalista, o uso da hipnose às psicoterapias. Erickson foi aluno de Clark Hull na Universidade de Wisconsin, com quem pesquisou e iniciou seus estudos sobre fenômenos hipnóticos. Trabalhou em vários hospitais psiquiátricos por todos os Estados Unidos, contribuiu em pesquisas de Margaret Mead e Gregory Bateson – que lhes foram apresentados por Abraham Maslow – e como consultor para o go- verno norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo Zeig e Munion (1999), Erickson escreveu ou colaborou em mais de 140 livros e arti- gos científicos; foi colaborador de Aldous Huxley, Andre Weitzenhoffer, Jay Haley, John Weakland, Gregory Bateson e Paul Watzlawick. Segundo Secter (1982, citado por ZEIG, s/d), Erickson ficou conhecido nos Estados Unidos como “Sr. Hipnose” pelo trabalho clínico desenvolvido e pelas contribuições teóricas nessa área de conhecimento. Entretanto, segundo Haley (2003), Erickson não só trabalhou excepcionalmente com a hipnose naturalista, como suas contribuições, para inovar a prática psicoterápica, são uma abordagem única. Erickson foi fundador e presidente da American Society of Clinical Hypnosis (ASCH), além de fundador e editor da revista da ASCH, a American Journal of Clinical Hypnosis (ZEIG, 1995; HALEY, 2003). Erickson, juntamente com os autores acima citados, fazia parte de um grupo de pensadores que queriam inovar o atendimento clínico com o objetivo de incrementar os resultados obtidos no processo terapêutico. Lankton (2004) coloca que tanto quanto Freud avançou e contribuiu no entendimento do fun- cionamento psíquico, Erickson acrescentou para a epistemologia que incide no atendimento psicológico clínico. Para Erickson, “terapia é uma forma de ajudar os pacientes a estender seus limites” (HALEY, 2003). Criando uma nova abordagem de tratamento, que podemos chamar de Hipnoterapia Naturalista, ele trabalhava baseando-se no sintoma do pacien- te, “entrando” na forma em que a pessoa causava o problema a si mesma, fazendo a intervenção “de dentro para fora”. Ao longo de sua carreira, obte- ve excelentes resultados no tratamento de casos diversos, como depres- sões, fobias, problemas sexuais, doenças psicossomáticas e outros. Nas aulas experimentais que dava, costumava colocar seus alunos em transe e modificava padrões antigos que causava problemas a eles. Tinha uma for- ma muito peculiar de ensinar, através de seminários didáticos, nos quais seus alunos mais experimentavam sua metodologia do que se prendiam a ela. Erickson era um exímio comunicador e, além do transe formalmente
  • 7. Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 107 induzido, utilizava-se também de conversa hipnótica, comunicando-se em vários níveis – verbal e não-verbalmente (ZEIG, s/d; ZEIG, 1995; ERICKSON e cols., 1998; ROBLES, 2001). 4.1 OS HERDEIROS DE ERICKSON Nos últimos 25 anos, The Milton H. Erickson Foundation teve dentre suas intenções não estabelecer a psicoterapia ericksoniana com uma abordagem psicoterápica em especial e sim divulgar as contribuições de Erickson para as diversas escolas de psicoterapia já existentes, sejam elas de terapia individual, grupal, de casais ou de família. Assistimos, nos últimos 20 anos, ao desenvolvimento de escolas de terapia sob influência ericksoniana que podemos classificar em nove principais gru- pos (ZEIG, 2004): 1) Terapia Estratégica Seus principais autores são Jay Haley e Cloé Madanes. Essa abordagem tira o foco no uso da hipnose e enfatiza a utilização de tarefas terapêuticas e das intervenções não-convencionais de Erickson. 2) Abordagem Interacional Desenvolvida no Mental Research Institute (MRI) de Palo Alto, Califórnia, baseada no trabalho de Watzlawick, Weakland e Fisch, essa segunda aborda- gem também tira o foco da hipnose e enfatiza a utilização de intervenções paradoxais e de reenquadramento. Essa abordagem, predominantemente sistêmica, se fundamenta nos padrões de interação que se estabelecem em famílias e casais. 3) Programação Neuro-Lingüística Erickson deixou um legado que perdura até os dias atuais, tendo influencia- do escolas de terapia familiar, terapia estratégica e é um dos três pilares fundamentais – juntamente com Virginia Satir e Fritz Perls – das pesquisas de Bandler e Grinder para o desenvolvimento da PNL. 4) Psicobiologia da Cura Mente-Corpo A abordagem Mente-Corpo de Ernest Rossi deriva de seu contato com Erickson. Rossi foi um dos maiores colaboradores de Erickson e editor de diversos de seus artigo nos quatro volumes de Collected Papers, bem como o autor que mais escreveu Erickson. Rossi desenvolveu sua abordagem com embasamento
  • 8. EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010108 na Psicobiologia e aproveitou as contribuições de Erickson para orientações na perspectiva Mente-Corpo. 5) Terapia Centrada na Solução São vários os autores que podem ser agrupados sob esta linha. Zeig destaca DeShazer como o de maior contribuição. Essa abordagem pertence, na ver- dade, a uma segunda geração de terapias ericksonianas, já que foi desen- volvida a partir da abordagem Interacional do MRI. 6) Self Relations Abordagem desenvolvida por Stephen Gilligan que tem forte influência de seu contato com Erickson no final da década de 1960, de sua prática de artes marciais e de seu contato com o Budismo. 7) Neo-Ericksonianos Aqui Zeig inclui a si mesmo além de Stephen Lankton, Teresa Robles e outros autores. Os neo-ericksonianos utilizam hipnose e procuram desenvolver mais estratégias focando no princípio de utilização ericksoniano. 8) Outcome Informed Esse grupo inclui todos aqueles que não tiveram contato direto com Erickson, mas desenvolveram seu trabalho a partir de estudos sobre Erickson. Assim, também fazem parte da segunda geração de terapias ericksonianas. Dentre os autores aqui incluídos, Zeig (2004) destaca Scott Miller e Michael Yapko. 9) Outros autores Podemos incluir entre discípulos da segunda geração aqueles que utilizam con- tribuições ericksonianas dentro de suas próprias abordagens psicoterapêuticas, tais como Terapia Cognitiva e Terapia de Família, dentre outras. 5 HIPNOSE ERICKSONIANA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Segundo Baker (2005), podemos dividir a evolução da hipnose no Brasil em três fases: tradicional, clássica e contemporânea. A fase tradicional, tam- bém pode ser chamada de autóctone, e tem suas raízes nas práticas religio- sas e de cura dos indígenas nativos. Um pouco mais adiante em nossa histó- ria, esse substrato indígena somou-se às influências da espiritualidade e medicina trazida pelos escravos africanos. Logo, como resultado do contato
  • 9. Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 109 dessas duas culturas com a dos europeus, amalgamou-se o caldeirão sincrético que disseminou entre a população diversas formas de práticas para curas mente-corpo e soluções de problemas (BAKER, 2005). O mesmerismo e o kardecismo emergiram nas últimas décadas de 1700 e no início do século XIX devido ao grande interesse da aristocracia brasileira. Dom Pedro II chegou até a fundar a Sociedade Brasileira de Estudos do Magnetismo Animal sob influência do mesmerismo. A fase clássica sofreu impacto dos primeiros estudos de Freud e das Escolas de Nancy e Salpêtrière, bem como dos experimentos de Pavlov, Clark Hull e das primeiras contribuições psiquiátricas de Erickson. Baker (2005) coloca que em resposta à fundação da American Society of Clinical Hypnosis, a Sociedade Brasileira de Hipnose emergiu em 1957, assim como algumas so- ciedades regionais. Dentre os que se destacaram na fase clássica, Baker (2004; 2005) destaca o médico Victorio Velleso, diretor-fundador do Instituto Milton H. Erickson Brasil-Sul; David Akstein, médico que se utilizou de práti- cas clássicas, ericksonianas e tradicionais; o médico Antonio Carlos Moraes Passos, professor da Escola Paulista de Medicina e que manteve correspon- dência ativa com Erickson; e Malomar Edelweiss Lund, psicanalista que estu- dou com Igor Caruso em Viena e praticou hipnoanálise nos últimos 50 anos. Também se deve destacar o trabalho realizado por Vladmir Bernick, Negrão Prado, Myron Saling e Lindemberg Valadares. Na verdade, as últimas sete décadas foram de intensa fertilização cruzada, tendo todas as três correntes se influenciado continuamente (Baker, 2005). A fase contemporânea inicia-se em 1992, quando José Carlos Victor Gomes convida Jeffrey K. Zeig para seu primeiro workshop em terras brasileiras. Essa atitude, segundo aponta Baker, “abriu as portas” para o crescimento da hipnose e terapias ericksonianas no Brasil. Após a vinda de Zeig, alguns outros autores de renome o seguiram, tais como: Ernest Rossi, Steven Gilligan, Steven Lankton, Jay Haley, Steve De Shazer, Cloé Madanes, Humberto Maturana, Paul Watzlawick, BettyAlice Erickson, Lynn Hoffman, Teresa Robles, Peggy Papp, entre outros. José Carlos também fundou a Editorial Psy, que, na década de 1990, publicou mais de 20 livros de abordagem ericksoniana. Outra pessoa que deve ser destacada é Maria Margarida Carvalho. Filósofa de formação, M. Margarida foi uma das fundadoras do Departamento de Psicologia da USP, o primeiro departamento independente do país, e pessoa de papel fundamental para a história da Psicologia no Brasil. Após trabalhar com Rodolfo Bohoslavsky na década de 1970, com Orientação Profissional, M. Margarida começou a estudar técnicas ericksonianas para controle de dor e suas aplicações na oncologia e em doenças psicossomáticas. Carvalho es- tudou com os discípulos mais destacados de Erickson, tanto na Europa como nos EUA, e foi diretora-fundadora do Instituto Milton H. Erickson de São
  • 10. EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010110 Paulo, em 1995 – juntamente com Marília Baker e José Carlos Vitor Gomes – , o primeiro Brasil (BAKER, 2004; 2005). Após anos de prática clínica, M. Margarida tem se destacado na última década por seu trabalho com psiconcologia, realizando pesquisas e as apresentando em congressos. Pode-se destacar, ainda, o trabalho realizado por Sofia Bauer, médica e psi- canalista. Sofia foi aluna de Malomar Lund por muitos anos e começou sua formação na Milton H. Erickson Foundation em 1991. Lançou em 1998 Hipnoterapia Ericksoniana, Passo a Passo, e em 2001, Síndrome do Pânico: um sinal que desperta. Sofia Bauer, também, foi diretora-fundadora do Ins- tituto Milton H. Erickson de Belo Horizonte e hoje é diretora do Instituto Milton H. Erickson de Florianópolis. Em agosto de 1999, foi fundado o Instituto Milton H. Erickson de Belo Hori- zonte, tendo como diretores José Augusto Mendonça, Ângela Cota Guima- rães Mendonça e Sofia Bauer. Muitos psicólogos, médicos e dentistas foram alunos do primeiro Instituto mineiro e acabaram se tornando diretores de Institutos ericksonianos no Brasil. Cinco Institutos foram fundados por ex- alunos do Instituto de Belo Horizonte: Brasília, Maceió, Recife, Juiz de Fora e Vale do Aço. Nos últimos anos, o Instituto de Belo Horizonte firmou convênio com a Universidade Federal de Minas Gerais e com o Centro Ericksoniano do México para intercâmbio científico e divulgação da abordagem de Erickson. Em 2002 (em Florianópolis) e em 2004 (em Belo Horizonte), respectivamen- te, foram sediados o III Encontro Latino-Americano de Terapeutas Ericksonianos e o V Encontro Latino-Americano de Psicoterapia e Hipnose Ericksoniana, eventos que congregaram ericksonianos de diversos países latino-america- nos, europeus e diversos estados brasileiros. Em dezembro de 2000, o Conselho Federal de Psicologia aprovou a Resolução 13/00, na qual autoriza e regulamenta o uso da hipnose como recurso auxi- liar de trabalho do psicólogo, devido aos avanços e às contribuições da Esco- la Ericksoniana (CFP, 2000). Segundo Araújo (2004), a hipnose também é regulamentada como técnica auxiliar pelos Conselhos Federais de Medicina – Código de Ética Médica, capítulo VI, artigos 62 e 64; Processo-Consulta 44/ 99 – e de Odontologia – Lei n. 5081 de 24/08/66, artigo 6º, parágrafos I a VI. Desde meados da década de 1990, a abordagem ericksoniana começou a ser difundida com maior intensidade no Brasil. Hoje, existem 135 Socieda- des, Institutos e Centros Ericksonianos filiados a The Milton H. Erickson Foundation em todo o mundo (MILTON H. ERICKSON FOUNDATION, 2009). No Brasil, 15 Institutos estão divulgando a abordagem ericksoniana através da formação em psicoterapia e hipnose ericksoniana, pesquisas, palestras, workshops, congressos e intercâmbios científicos com instituições nacio- nais e internacionais.
  • 11. Fábio Nogueira PereiraEM REVISTA nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010 111 Concorda-se com Baker (2005), no sentido de que se o século XX foi o de Freud, da psicanálise e de seus seguidores, o século XXI é, sem sombra de dúvida, o de Milton H. Erickson e de seus herdeiros, pesquisadores e divulgadores de suas contribuições à hipnose e à prática psicoterápica. REFERÊNCIAS ABIA, J., ROBLES, T. Lo esencial de la hipnosis. México D.F.: Alom Edito- res, 1997. ARAÚJO, J.S.A. Hipnose ericksoniana. Vitória: Instituto Milton H. Erickson do Espírito Santo, 2004. BAKER, M. Homenagem a Elizabeth Moore Erickson: mulher extraordiná- ria, profissional, esposa, mãe e companheira. Belo Horizonte: Diamante, 2004. ______. The evolution of hypnosis in Brazil. The Milton H. Erickson Foudation Newsletter, 20 (1), spring 2000. Disponível em: <http:// www.erickson-foundation.org/news/Archives/20(1)/IC_Brazil.htm>. Acesso em 01/02/2005. Conselho Federal de Psicologia (CFP). Resolução 13/00. Brasília: Autor, 2000. ERICKSON, M.H., Hershman, S., SECTER, I. I. Hipnose médica e odontológica: aplicações práticas. Campinas: Psy, 1998. HALEY, J. Dr. Erickson’s Personality and Life. Disponível em: <http:// www.erickson-foundation.org/milton.htm>. Acesso em: 05/06/2003. KENNEDY, T. James Braid, “The true father of hypnosis”. The Milton H. Erickson Foundation Newsletter, 22 (1), 14, 2002. LANKTON, S. Milton Erickson’s contribution to therapy epistemology – not technology. Disponível em: <http://lankton.com/epist-bg.htm>. Acesso em: 10/02/2004. Milton H. Erickson Foundation. Milton H. Erickson Institutes and Societies. Disponível em: <http://www.erickson-foundation.org/ institutes.html>. Acesso em: 30/12/2009.
  • 12. EM REVISTA Fábio Nogueira Pereira nº. 27, p. 101-112, jan/jun, 2010112 OLNESS, K.; KOHEN, D. P. Hypnosis and hypnotherapy with children. New York/London: Guilford Press, 1996. ROBLES, T. Terapia feita sob medida: um seminário ericksoniano com Jeffrey K. Zeig. Belo Horizonte: Diamante, 2001. ZEIG, J.K. Seminários didáticos com Milton H. Erickson: hipnose, metá- foras e comunicação em psicoterapia. Campinas: Psy, 1995. ______. Some of the advances on ericksonian psychotherapy that have happened over the last twenty years. Comunicação oral apresentada no 5º Encontro Latino-Americano de Psicoterapia e Hipnose Ericksoniana. Belo Horizonte, maio 2004. ______. Vivenciando Erickson. Campinas: Livro Pleno (s/d). ZEIG J. K., MUNION, W. M. Milton H. Erickson. London/Thousand Oaks/ New Delhi: Sage, 1999.