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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

           FELIPE DE SOUZA COSTA
     MARIA CLAUDIA SANTANA DE AZEVEDO




FERNANDO PESSOA E HETERÔNIMOS: UMA PROPOSTA
      INTERTEXTUAL PARA O ENSINO MÉDIO.




              Mogi das Cruzes, SP
                     2008
                                              1
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

            FELIPE DE SOUZA COSTA
     MARIA CLAUDIA SANTANA DE AZEVEDO




FERNANDO PESSOA E HETERÔNIMOS: UMA PROPOSTA
      INTERTEXTUAL PARA O ENSINO MÉDIO.




                          Trabalho de Conclusão de Curso
                          apresentado      ao     curso     de
                          Licenciatura     em      Letras    -
                          Português/Inglês     e   respectivas
                          literaturas da Universidade de Mogi
                          das Cruzes como parte dos
                          requisitos para a conclusão do
                          curso.




      Profº Orientador: Anderson da Cruz Zaneti



               Mogi das Cruzes, SP
                      2008
                                                            2
RESUMO


Este trabalho apresenta uma proposta intertextual para o ensino de literatura,
utilizando como ferramentas diálogos travados entre textos contemporâneos e os
poemas de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. Tem como
objetivo propiciar condições para que os alunos do Ensino Médio adquiram o hábito
prazeroso da leitura, através de uma análise crítica e reflexiva dos conteúdos
propostos e, conseqüentemente, a sua conscientização como agente participativo na
sociedade. Assume a relevância o fato de que a leitura de poemas tem sido
secundarizada no ensino da referida disciplina, o que não assegura ao aluno um
direito que lhe é garantido: apropriar-se totalmente do bem simbólico que é a
literatura. Foi desenvolvido por alunos do curso de Letras – Licenciatura Plena em
Português/Inglês e respectivas Literaturas, da Universidade de Mogi das Cruzes.
Espera-se que os educandos, ao final desta Seqüência, consigam perceber as
diversas leituras que podem ser feitas de poesia e outros gêneros, bem como
relacioná-los de forma reflexiva.


      Palavras-chave: Ensino de literatura; Ensino dialógico de literatura; Literatura
no Ensino Médio.




                                                                                    3
ABSTRACT


       This work presents an intertextual proposal to teach literature, using some
tools like dialogs establishing relations with contemporary texts and poems of
Fernando Pessoa, Alberto Caeiro and Álvaro de Campos. The aim is to create
conditions to high school students acquire the pleasant habit of reading, through a
critical and reflexive analysis of the proposed content and, consequently, their
awareness like a historical and participant agent in the society. It takes over the
relevance because the reading of poems has been seen from many years as
secondary importance, which doesn‘t guarantee a student‘s right: to appropriate of a
symbolic right that is the literature. It has been developed by the students of
Language and Literature, tracks Portuguese and English and its literatures, from the
University of Mogi das Cruzes. We wish the students, in the end of this Sequence,
can perceive the differents ways of reading that can be did with others genres, as
well as relate them reflexively.


       Key words: Literature teaching; Dialogic Literature Teaching ; Literature in the
high school.




                                                                                     4
AGRADECIMENTOS

Agradecemos, primeiramente, a Deus por nos sustentar e permitir que chegássemos
até aqui.


Ao Programa Universidade para Todos (PROUNI) e seus idealizadores, já que
ambos somos bolsistas e foi por meio dele que alcançamos mais um degrau em
nossa caminhada acadêmica.


À Universidade de Mogi das Cruzes, por abraçar o referido programa com afinco e
responsabilidade.


Ao nosso professor Orientador Anderson da Cruz Zaneti, pela compreensão e apoio.


Aos nossos familiares, motivadores constantes e responsáveis pela formação.




                                                                               5
―Ao ler este texto, muitos educadores poderão perguntar
onde está a literatura, a gramática, a produção do texto
escrito, as normas. Os conteúdos tradicionais foram
incorporados por uma perspectiva maior, que é a
linguagem, entendida como espaço dialógico, em que os
locutores se comunicam.‖ (PCN, 2002, p. 144).
                                                       6
SUMÁRIO



INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

  Apresentação ......................................................................................................... 1

      Justificativa ......................................................................................................... 2

      Público-Alvo ...................................................................................................... 3

      Objetivo Geral ................................................................................................... 3

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 4

DISCUSSÃO........................................................................................................... 10

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 20

ANEXOS ................................................................................................................ 22




                                                                                                                             7
INTRODUÇÃO


Apresentação
      O ensino de literatura tem passado por verdadeiras mudanças, metodologias
diversas aplicadas em instituições de ensino têm buscado suprir uma necessidade
histórica do povo brasileiro: o hábito da leitura. É bem verdade que pensar em
literatura é muito mais do que tentar incutir nos educandos um ―hábito‖, ler é o ponto
de partida para a fruição de um prazer, que quando aproveitado de forma adequada
e bem trabalhada reflete diretamente em mudanças de atitudes, quebra de
paradigmas e rompimento do senso comum.
      Todas essas transformações contribuem para a formação de um cidadão
consciente de seus direitos e deveres, tarefa difícil nos dias atuais. Haja vista que as
condições impostas à educação formal, verdadeiramente, dificultam esse processo.
      Pensando em poesia, a situação recebe um maior agravo. Por ser um gênero
aparentemente complexo, muitas pessoas desistem após a primeira leitura. Falta a
interpretação, o entendimento se torna esparso, dificultoso, nebuloso... Transportar
essa competência para uma comunidade de poucos leitores é um desafio.
      Embora a obra de Fernando Pessoa propicie espaço suficiente para a
introdução dessa prática, requer daqueles que aceitam o desafio um trabalho árduo,
de modo que se possa, ao mesmo tempo, sistematizá-lo e aproximá-lo de uma
realidade muito distante.
      O universo musical e os diversos gêneros que circulam na sociedade serão a
ponte que ligará o processo poético à realidade dos alunos, auxiliará singularmente,
para que eles possam se sentirem identificados e, a partir dela, chegar ao objetivo
proposto nesta seqüência de aulas.
      Esta Seqüência tem por finalidade a prática e instrumentalização de
ferramentas que possibilitem aos professores em formação a aquisição de
conhecimentos práticos aliados aos teóricos abordados nas aulas de Literatura
Portuguesa do curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade de Mogi das
Cruzes, objetivando a reflexão da prática da leitura de poemas no Ensino Médio.
      Tem como uma das principais fundamentações teóricas as Orientações
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, fazendo especial referência ao
desenvolvimento da intertextualidade entre os poemas de Fernando Pessoa e,
                                                                         8
principalmente, a música. Serão considerados aqui seus trabalhos produzidos no
âmbito hortonímico e heteronímico. A presente Seqüência, por sua vez, também
será utilizada pelos seus autores como entrega parcial do Trabalho de Conclusão de
Curso.


Justificativa
         A presente Seqüência Didática justifica-se pela relevância temática que
assume ao colocar em voga a situação da leitura de poemas nos dias atuais, em
especial no âmbito escolar, pois objetiva solucionar essa problemática nas aulas de
literatura do ensino médio.
         Partindo do pressuposto de que a aplicação destas se dará numa instituição
de ensino público, podemos refletir acerca da importância social que ela abarca, pois
sabemos que a leitura deste gênero em locais menos favorecidos é quase nula,
dada a sua necessidade de maior atenção e por que não dizer de conhecimento
cultural erudito, com o qual muitas vezes está associado a leitura de poesia.
         Ainda meditando sobre essa questão podemos nos alicerçar no que as
Orientações Curriculares Nacionais afirmam em torno desse mote:


                      Cabe aqui um parêntese relativamente à leitura da poesia. Sabe-se que ela
                      tem sido sistematicamente relegada a um plano secundário. Muito já se
                      falou sobre a dificuldade de lidar com o abstrato, com o inacabado, com a
                      ambigüidade, características intrínsecas do discurso poético, que tem
                      tornado a leitura de poemas rarefeita nas mediações escolares com sua
                      tradicional perspectiva centrada na resposta unívoca exemplar e na
                      inequívoca intenção autoral. (MEC, 2006, p. 74)



         A justificativa poder-se-ia resumir no seguinte trecho: ―Sabe-se que ela [a
poesia] tem sido sistematicamente relegada a um plano secundário‖, pois por ser um
gênero mais complexo não podemos excluir do aluno o direito que lhe é garantido.
Talvez, a secundarização ocorra pela precária formação dos profissionais da
educação, visto que por demandar maior critério, a poesia precisa ser mais
analisada, do que qualquer outro texto pronto dos livros didáticos.
         É conhecido de todos, também, que uma das principais preocupações das
instituições educacionais é criar condições para que os educandos se tornem

                                                                                             9
cidadãos críticos, conscientes e sujeitos de sua própria história. Pode-se dizer que o
trabalho com a poesia auxilia na reflexão, humanização e, conseqüentemente, a
alcançar esse objetivo, pois ―Por extensão, podemos pensar em letramento literário
como estado ou condição de quem não apenas é capaz de ler poesia ou drama,
mas dele se apropria efetivamente por meio da experiência estética, fruindo-o‖.
(MEC, 2006, p.55)
         Percebemos que o público-alvo, a quem se destinam essas dez aulas, passa
por uma carência na prática de leitura de poesia dentro e fora do âmbito escolar,
reforçando dessa forma a responsabilidade da escola e daqueles que dela fazem
parte.

         A literatura é um bem simbólico do qual o aluno deve se apropriar e, para
tanto, faz-se necessário a adequação na escolha dos textos ao nível de escolaridade
dos leitores em formação, e é justamente o que se propõe nesta Seqüência, pois a
aproximação entre textos remotos com os atuais visa a uma leitura proficiente e
prazerosa:

                      Configurada como bem simbólico de que se deve apropriar, a Literatura
                      como conteúdo curricular ganha contornos distintos conforme o nível de
                      escolaridade dos leitores em formação. As diferenças decorrem de vários
                      fatores ligados não somente à produção literária e à circulação de livros que
                      orientam os modos de apropriação dos leitores, mas também à identidade
                      do segmento da escolaridade construída historicamente e seus objetivos de
                      formação. (MEC, 2006, p. 61)

         Retomando as afirmações expostas nesta justificativa, podemos concluir que
a Seqüência de Aulas em questão está em consonância com as Orientações
Nacionais e com importantes teóricos que propõem um ensino dialógico e sócio-
interacionista de Linguagem e Literatura, pois proporciona possibilidades para que o
aluno construa o conhecimento de modo social e assimilando canônicos com
gêneros que circulam em seu contexto atual.

Público-Alvo: 3ª Série do Ensino Médio.

Objetivo Geral
         Criar condições para que os alunos do Ensino Médio adquiram o hábito
prazeroso, crítico, analítico e intertextual da leitura de poemas, visando sempre à
                                                                                                10
formação do leitor competente, para que através desta prática possa desenvolver,
além    dos   conhecimentos        acadêmico-científicos        em      Literatura,     chegar,
conseqüentemente, a um senso crítico, reflexivo e à conscientização de sua
importância como agente histórico na sociedade.
       É preciso, contudo, conduzi-los de forma eloqüente, buscando sempre situá-
los numa posição em que sejam capazes de compreender o real sentido do prazer
literário: ―A poesia é indispensável. Se ao menos soubesse para quê...‖ (MEC, 2006,
p. 52 apud FISCHER, 1966). Faz-se necessário mostrar aos educandos o ―por que‖
se deve ler poesia. Não basta dar explicações inúmeras oriundas de um status quo,
as quais eles estão cansados de ouvir. Deve-se agir, e as Orientações Curriculares,
inclusive, apontam meios para isso: A escola não precisa cobrir todos os estilos
literários. O professor pode, por exemplo, recortar na história autores e obras que ou
corresponderam com maestria à convenção ou estabeleceram rupturas; ambas
podem oferecer um conhecimento das mentalidades e das questões da época,
assim como propiciar prazer estético.


                     A partir desse recorte, ele pode planejar atividades de estudo das obras que
                     devem ser conduzidas segundo os seus recursos crítico-teóricos, amparado
                     pelo instrumental que acumulou ao longo de sua formação e também pelas
                     leituras que segue fazendo a título de formação contínua. (MEC, 2006, p.
                     79).


       O recorte, do qual trata esta Seqüência de Aulas, dar-se-á através de um
recurso didático e, ao mesmo tempo, literário: a intertextualidade, visando a
aproximar o proposto a uma realidade circunstancial dos alunos em formação.




                                                                                              11
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

      O projeto de ensino de literatura em questão tem como um de seus suportes
teóricos as Orientações Curriculares Nacionais, dentro de inúmeras argumentações
expostas neste documento. Tais orientações ressaltam o fato de que embora a
literatura seja um modo discursivo entre vários, o discurso literário difere-se dos
outros, porque de todos os modos discursivos é o menos pragmático, o que visa a
aplicações práticas, garantindo ao participante da leitura literária o exercício da
liberdade, favorecendo-lhe o desenvolvimento de um comportamento mais crítico e
menos preconceituoso diante do mundo.
      Mais que propiciar o exercício da liberdade e a leitura proficiente, esta
Seqüência Didática, através da observância das Orientações Nacionais, propõe e
possibilita um dos principais objetivos do ensino de literatura que é o processo de
humanização do indivíduo e para melhor abordar esta questão consideramos
necessário citar palavras de Antônio Cândido no que se refere à literatura como fator
de humanização:

                     Entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no homem
                     aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a
                     aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das
                     emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da
                     beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do
                     humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida
                     em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a
                     sociedade e o semelhante. (CÂNDIDO, 1995, p. 249).

      De acordo com as Orientações Nacionais, para alcançar tais objetivos dentro
do ensino de literatura não se faz necessário sobrecarregar o educando com
informações sobre escolas literárias, épocas e estilos, o aluno deve ser levado para
além da memorização de movimentos literários, sendo estimulado a ampliar e
articular conhecimentos e competências.


                     Para cumprir com esses objetivos, entretanto, não se deve sobrecarregar o
                     aluno com informações sobre épocas, estilos, características de escolas

                                                                                           12
literárias, etc., como até hoje tem ocorrido, apesar de os PCN,
                     principalmente o PCN+, alertarem para o caráter secundário de tais
                     conteúdos... (MEC, 2006, p.54).


      Com base nesta explanação, o projeto em questão busca, por meio de sua
didática, propiciar condições para que o aluno adquira experiência literária, ou seja,
o contato efetivo com o texto, objetivando a sensação de ―estranhamento‖ em
relação aos temas propostos e posteriormente possibilidades de intertextualidade
com seu contexto, etapas necessárias para a ampliação dos conteúdos a serem
ministrados, dos já adquiridos e capacidade de reflexão crítica, elementos
fundamentais para a aquisição do letramento literário.
       Tais experiências são vivenciadas nas atividades em que são consideradas
as idéias e discussões dos alunos, possibilitando troca de impressões acerca das
intertextualidades, admitindo a perspectiva de que um texto sempre permite mais de
uma interpretação e que cada leitor reage de forma diferente diante dele.


                     Parece, portanto, necessário motivá-los à leitura com atividades que tenham
                     para os jovens uma finalidade imediata e não necessariamente escolar (por
                     exemplo, que o aluno se reconheça como leitor, ou que veja nisso prazer,
                     que encontre espaço para compartilhar suas impressões de leitura com os
                     colegas e com os professores)... Ele lerá então porque se sentirá motivado
                     a fazer algo que deseja e, ao mesmo tempo, começará a construir um saber
                     sobre o próprio gênero, a levantar hipóteses de leitura, a perceber a
                     repetição e as limitações do que lê, os valores, as diferentes estratégias
                     narrativas (MEC, 2006, p.70,71).


      A opção de utilizar músicas contemporâneas no desenvolvimento de algumas
atividades surgiu a partir da observância de que na época medieval, os trovadores
compunham seus textos poéticos, ou seja, as cantigas, para serem cantadas e
acompanhadas por instrumentos musicais. Porém com o advento de novas práticas
baseadas na estética humanista, os textos literários separaram-se da melodia,
resultando em dois textos distintos: o poema, gênero literário, e a canção, o gênero
letra musical. Esta Seqüência referente ao ensino de literatura também objetiva
comprovar    a    permanência      da     ―irmandade‖       entre    poema       e    canção.
      As Orientações Nacionais para o Ensino de Literatura sugerem a utilização de
músicas, filmes contemporâneos e outras modalidades como instrumento didático
                                                                           13
para o ensino desta. Encontram-se nos PCNs e OCNs explanações que ressaltam o
fato dessas modalidades e tantos outros tipos de produção, em prosa ou em verso
ser de importância significativa para o ensino da referida disciplina, seja por
transgredir, denunciar e principalmente por serem significativos dentro do contexto
dos alunos alertando para o fato de que as escolhas utilizadas pelos professores
devem ter suporte, revelando a qualidade estética.


                       Qualquer texto escrito, seja ele popular ou erudito, seja expressão de
                       grupos majoritários ou de minorias, contenha denúncias ou reafirme o status
                       quo, deve passar pelo mesmo crivo que se utiliza para os escritos
                       canônicos: Há ou não intencionalidade artística? A realização correspondeu
                       à intenção? Quais os recursos utilizados para tal? Qual seu significado
                       histórico-social? Proporciona ele o estranhamento, o prazer estético? (MEC,
                       2006, p.57)


       Baseados nestas reflexões, a Seqüência Didática em questão visou à
intersecção de filmes e músicas contemporâneas no desenvolvimento de atividades
com o intuito de aproximar os poemas à realidade e ao interesse dos alunos, pois a
escolha de modalidades populares com relevante valor estético colabora na
identificação e empatia dos alunos em relação às obras eruditas, muitas vezes
consideradas inatingíveis para as classes menos favorecidas.


                       Podem propiciar aos alunos momentos voluntários para que leiam
                       coletivamente uma obra literária, assistam a um filme, leiam poemas de sua
                       autoria de preferência fora do ambiente de sala de aula: no pátio. Na sala
                       de vídeo, na biblioteca, no parque (PCN+, 2002, p.67).


      Na busca de inserir-se numa postura teórica mais abrangente, esta Seqüência
de Aulas baseia-se na idéia defendida por Bakhtin (2000), de língua como atividade
social, histórica e cognitiva, e suas aplicações de ação e intervenção sobre o mundo.
A partir dessa hipótese sócio-interativa da língua, pode-se inferir que toda
comunicação verbal se realiza por meio de gêneros, fundamentando-se nesse
princípio básico, Marcuschi, que complementa e atualiza as idéias bakhtinianas,
considera os gêneros textuais como fenômenos históricos vinculados aos fatos
sociais e culturais.

                                                                                               14
Em ―Ensino de Literatura: Uma proposta dialógica para o trabalho de
Literatura‖, o autor William Roberto Cereja apresenta aos leitores, após discorrer
sobre toda a problemática que envolve o ensino de literatura atualmente, três
propostas didáticas para potencializar o ensino da referida disciplina.

      A primeira hipótese é ―organizar o curso em grandes unidades temáticas e, a
partir de cada uma delas, abrir um amplo leque de leituras, confrontando autores e
gêneros que de, alguma forma, contribuíram para referendar a importância do tema
em foco.‖ (CEREJA, p.162, 2005).

      Pensar nessa opção nos faz alavancar algumas suposições que, a priori,
parecem    se   encaixar   fidedignamente    com    a   proposta    desta   Seqüência:
intertextualizar os poemas de Fernando Pessoa e o gênero música, pois podemos
entender a obra do poeta como uma “uma grande unidade temática”, haja vista que
ele por si só já dá conta de grande parte da literatura produzida em seu tempo.

      A segunda é ―a organização do curso em torno dos gêneros literários. Nesse
caso, teríamos uma perspectiva evolutiva de gêneros da literatura, como o romance,
a novela, a epopéia, a crônica, a fábula, a tragédia, o drama, etc., cuja origem,
evolução e eventual extinção deveriam ser relacionadas com o contexto social e
cultural de cada um‖ (CEREJA, p.163, 2005). Essa proposta, embora consistente e
considerável, não abriria espaço para inclusão do gênero música, por exemplo,
como elemento norteador do trabalho em sala de aula, pois restringe a metodologia
aos ―gêneros literários‖, não podendo ser aceitos os ―gêneros do discurso‖.

      A terceira e última diz respeito ―à forma que parte da contemporaneidade para
chegar às origens, tem a vantagem de se iniciar com textos cuja linguagem é familiar
ao aluno. Nesse caso, o aluno de 15 anos começaria a estudar literatura por textos
de autores contemporâneos, com linguagem e temas atuais; os textos mais
distantes no tempo, como os do Trovadorismo ou de Camões, seriam estudados na
3ª série do ensino médio, quando o aluno está mais preparado e amadurecido
intelectualmente.‖ (CEREJA, p.164, 2005) O fator que nos impede de tomá-la como
ponto de partida está justamente na não-concordância com o nosso público-alvo,
pois não iniciaremos o trabalho na primeira série do ensino médio, no qual os


                                                                                   15
poemas de Fernando Pessoa, por fazer parte do Modernismo, teriam de ser um dos
primeiros a serem utilizados.

      A intertextualidade deve ser observada como suporte para que se chegue a
um ponto determinado, nunca como substituinte daquilo que é priorizado: o texto
literário. Portanto, podemos encará-la como metodologia que nos auxiliará a criar um
ambiente favorável para a leitura de poemas. Partiremos de algo mais próximo da
vivência extra-escolar dos educandos para, então, encorajá-los, ambientá-los e
suportá-los na leitura de um texto que demanda um pouco mais de reflexão e
atenção, neste caso, os poemas de Fernando Pessoa.

      A fim de nos aprofundarmos acerca dessa questão e de como, diretamente,
ela pode estar ligada ao ensino de literatura, encontramos em Kristeva aportes
teórico-discursivos que nos remetem de maneira mais próxima ao que visa a esta
seqüência de aulas, pois ela afirma que a linguagem poética, matéria-prima deste
trabalho, nada mais é do que um diálogo entre textos, ampliando assim as idéias
dialógicas sugeridas por Bakhtin:

                     A linguagem poética aparece como um diálogo de textos: toda seqüência se
                     faz em relação a uma outra proveniente de um outro corpus, de maneira
                     que toda seqüência está duplamente orientada: para o ato de reminiscência
                     (evocação de uma outra escrita) e para o ato de intimação (a transformação
                     dessa escritura). (KRISTEVA,


      Autores como Haroldo de Campos encaram esse processo de aproximação
como fator determinante para o ensino de literatura, pois ―já defendia a necessidade
de se criar uma ‗nova antologia da literatura brasileira sob o ponto de vista
sincrônico e testar o corpus assim obtido no ensino de vários graus‘ (CEREJA, 2005,
p. 149 apud, ROCCO, 1992). O poeta via, então, a literatura como um espaço de
simultaneidades capaz de aproximar, por exemplo, Fernando Pessoa e Camões ou
Álvares de Azevedo e Drummond e, assim, nos fazer ver o passado naquilo que ele
tem de novo.‖ (CEREJA, p.165, 2005).
      Além de aproximar os poemas de Pessoa à música, propomos, também,
nesta seqüência a aproximação de sua obra com autores de tempos remotos, para
ser mais preciso, Camões. O que, de certa forma, acaba por abrir outros leques
possíveis para a construção de intertextualidade e novas leituras.
                                                                                            16
Desta maneira, assim como Bakhtin postula que ―todo discurso é uma
resposta a outros discursos‖, concluímos que em literatura o processo não é
diferente:

                    Todo discurso artístico estabelece relações dialógicas com outros discursos,
                    contemporâneos a ele ou fincados na tradição. Aproximações e contrastes
                    de temas, gêneros e projetos literários; aproximação e contrastes de estilos
                    de época e de estilo pessoal; aproximações e contrastes entre a literatura e
                    outras artes e linguagens ou outras áreas do conhecimento, comparações
                    interdiscursivas – eis alguns caminhos possíveis para o ensino de literatura
                    na escola, ancorados no princípio bakhtiniano de dialogismo. (CEREJA,
                    2005, p. 178)




                                    DISCUSSÃO

       Pensado e encarado, em princípio, como um trabalho que envolveria poesia e
a intertextualidade com a música, esta Seqüência didática, bem como as
fundamentações que a acompanham, ganhou moldes, enveredou por novos
                                                                                             17
caminhos e tomou proporções diversas ao que pensávamos. O tímido projeto
conseguiu focalizar um autor específico no grande universo deste gênero e o tomou
como mote para apresentar uma proposta intertextual no ensino de literatura:
Fernando Pessoa e três heterônimos seus de maior destaque, Alberto Caeiro, Álvaro
de Campos e Ricardo Reis.

       Como já foi explanado em nossa fundamentação teórica, tomamos por base
as Orientações Curriculares Nacionais e alguns teóricos importantes que nos
fundamentaram, inclusive, na escolha da abordagem inicial. O foco é justamente
tomar as produções deste importante autor da Literatura Portuguesa como um tema
central e, a partir delas, sugerir possíveis intertextualidades com outros gêneros que
circulam na sociedade, a fim de que se possa criar entre o texto literário e o aluno
uma aproximação importante e necessária para sua formação escolar e aquisição da
proficiência literária. .

       Partindo desses pressupostos, iniciamos a elaboração da seqüência de aulas
por meio de uma pesquisa com a finalidade de reunir dados referentes ao autor e
selecionar poemas, músicas, filmes, charges e ilustrações para que fossem travados
os diálogos entre os textos.

       O ―Manual do Aluno‖ possui, na primeira página, uma apresentação que o
convida a participar das aulas, esclarece o objetivo geral e os alerta acerca da
atividade final, o Sarau. Esperamos que desde o início o educando possa se
relacionar com o projeto de maneira harmoniosa e compreenda que a partir dali ele
terá uma tarefa importante, a de não se portar como um mero ouvinte, mas sim um
integrante    fundamental   que   atuará   como    sujeito   real   na   construção   do
conhecimento. A linguagem utilizada durante todo o projeto visa a essa
aproximação, pois a todo o momento utilizam-se vocativos construídos de maneira
descomplicada, pois acreditamos que facilitar o acesso do aluno ao texto é o
caminho ideal para alcançarmos o objetivo geral.

       As aulas I, II e III visam à conceituação dos gêneros poesia e canção e de
intertextualidade. A primeira aula apresenta na Atividade 1 o poema ―Isto‖ de
Fernando Pessoa e um parágrafo de um texto de Kierkegaard falsamente
versificado. Espera-se que eles possam lê-los e em seguida discuti-los seguindo

                                                                                      18
algumas questões que são levantadas na Atividade 2. O ponto alto da discussão
deve centrar-se na última questão, em que se revela qual é o verdadeiro poema, na
seqüência criou-se oportunidade para que eles pudessem discutir o que de fato faz
um texto ser realmente literário e especificamente, possa ser classificado como
pertencente ao gênero poesia. O professor, nesse momento, deve mediar a
discussão e deixar que eles alcancem uma resposta satisfatória e não simplesmente
conceituar o que é poesia, já que um profissional com boa formação literária saberá
que essa não é uma tarefa fácil.

      A Aula II, Letra e Música começa, mesmo que de forma tímida, a inserir
outros gêneros discursivos para se alcançar o alvo, ou seja, a intertextualidade:
apresentamos o gênero filme e junto com ele uma sinopse que descreve
rapidamente o enredo da trama e então são exibidos trechos do filme que devem ser
intercalados com comentários feitos pelo professor e questões que são dadas no
próprio escopo da aula.

      A idéia é que o professor não se prenda ao enredo e sim à mensagem
intrínseca do filme, a qual nada mais é do que a união entre melodia e letra, e o
papel que cada uma desempenha. A partir de então, deve-se entrar com uma
discussão mais abrangente, concentrada na segunda questão da Atividade, a qual
relaciona a irmandade existente entre poesia e música no tempo do Trovadorismo,
levantando ainda uma questão maior: Todas as músicas são poemas?

       A Aula III, Conversa entre os Textos, objetiva a conceituação de
intertextualidade e para tanto faz uso de dois gêneros, que já foram anteriormente
discutidos, a poesia e a música. A saber: o poema de Camões ―Amor é fogo que
arde sem se ver‖ e a música de Renato Russo ―Monte Castelo‖.

      Os dois textos tratam do mesmo assunto e o segundo, inclusive, emprega
parte do primeiro. É justamente neste momento que aparecerá uma atividade que
será aproveitada em outros momentos do trabalho: ―Pensar e Argumentar‖, nela o
aluno deve refletir sobre as questões apresentadas e ainda se posicionar, sendo que
para tanto ele deverá utilizar, além dos seus conhecimentos prévios, os adquiridos
nas duas aulas anteriores.



                                                                                19
Após a conceituação de diálogo entre textos semelhantes, eles serão
convidados a enxergar este processo em dois poemas que tratam de temas
divergentes, embora sejam do mesmo autor. Essa última atividade deve funcionar
como uma espécie de pré-anúncio das aulas seguintes, pois os dois poemas são de
autoria do Fernando Pessoa, o mesmo poeta que será trabalhado nas demais aulas.

         As aulas IV, V e VI, assim como as três precedentes, possuem um núcleo
comum: apresentação da produção ortônima de Fernando Pessoa. A primeira
consiste, inicialmente, na apresentação de dois pequenos vídeos, retirados do site
Youtube,     os   quais   apresentam   um   breve   relato   biográfico   da   vida   de
Fernando Pessoa, bem como do processo de heteronímia. Em seguida é sugerida a
leitura de um texto retirado da Revista Cult, que tem também como tema central a
biografia do autor e ainda acrescenta uma discussão acerca do processo de criação
dos heterônimos, durante essa discussão faz-se necessário que o professor abra um
espaço para que os alunos exponham suas dúvidas e impressões sobre o assunto.
O objetivo é que se possam adquirir conhecimentos acerca da vida e obra deste
poeta e, ao mesmo tempo, colocar os alunos em contato com outros gêneros
discursivos: a biografia (apresentada por acadêmicos) e vídeos rápidos do Youtube,
muito usuais atualmente.

         A Aula V visa a reunir os conhecimentos adquiridos ao longo das anteriores,
de modo que o educando poderá colocar em prática e visualizar, por exemplo,
intertextualidade dentro do próprio Fernando Pessoa.

         São apresentados, primeiramente, dois poemas do poeta: ―O menino da sua
mãe‖ e ―Dobrada à moda do Porto‖. Inicialmente será feita uma leitura e na atividade
2 eles escutarão os mesmos textos acrescidos de melodia e interpretados na voz de
dois artistas contemporâneos. Em seguida, a proposta de Atividade ―Pensar e
Argumentar‖ reaparece, a fim de criar discussões que objetivam uma compreensão
temática como temas transversais e, ao mesmo tempo, retomar as que foram
realizadas em aulas anteriores.
         A sexta aula é considerada como ponto ápice deste ―núcleo‖, pois tratará de
um assunto muito importante para a compreensão de Pessoa, pelo menos no que
diz respeito à construção da obra ―Mensagem‖, o povo português e sua relação com
o Mar.
                                                                                      20
Os alunos serão convidados à leitura de dois textos que discutem esta
temática, ambos circulantes na sociedade. Neste momento, enquanto ocorre a
leitura, o professor poderá mediar a discussão acrescendo, mesmo que de forma
suscinta, um pouco da história épica dos portugueses.
      Na Atividade 2 eles lerão o poema ―Mar Portuguez‖ de Fernando Pessoa e
trechos específicos de ―Os Lusíadas‖,a fim de que possam entender a obra paralela
de Fernando Pessoa em relação a Camôes. Após, escutarão a música ―O Rei do
Mar‖, de Djavan. O professor deverá estimulá-los a intertextualizar os três textos por
meio das questões que lhes são apresentadas. O objetivo é que eles consigam
percebe o foco temático e, ao mesmo tempo, atentar-se ao possível diálogo com a
música.
      A última atividade consiste numa proposta de redação, na qual pedimos para
que os alunos produzam um pequeno texto, explorando uma temática mais próxima
à realidade atual: a conquista humana do espaço e sua possível comparação com
as conquistas marítimas.
      O fim da aula dá-se com uma sugestão de leitura, o aluno também encontrará
outras sugestões como esta no decorrer da seqüência. O alvo é despertar a
curiosidade do aluno em relação ao assunto e ampliar o seu conhecimento, fazendo
com que eles possam continuar mantendo contato com literatura fora do âmbito do
escolar.
      As aulas VII, VIII e IX são reservadas para apreciação e fruição da obra dos
heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Esperamos que eles
adquiriram conhecimento da biografia pessoal de cada um e, também, possam ter
um   contato   direto   com     suas   obras,   fazendo   relações   diretas   com   as
intertextualidades propostas.
      Iniciamos por Álvaro de Campos, a primeira atividade consiste na leitura de
excertos da cartas de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, apenas a parte
em que se tem a descrição do heterônimo em questão.
      Após essa leitura inicial, apresentamos uma breve tabela que descreve
algumas características particulares da escrita de Álvaro de Campos, neste
momento não há necessidade de se prender a explicações longas e tradicionais.
Espera-se que o professor acompanhe a leitura junto com o aluno e enquanto isto
ocorre, interfira ressaltando alguns pontos específicos sem, ainda, mostar o poema.

                                                                                     21
Pede-se que seja feita essa leitura colaborativa porque nesta aula será utilizado
apenas um poema, o qual, por ser extenso, norteará toda as demais ações.
      O processo da atividade ocorrerá de modo diferente, pois os alunos
acompanharão a leitura de ―Cruzou por mim‖ musicado e interpretado na voz de Jô
Soares. Em seguida haverá       uma ―Roda de Conversa‖, a fim de que sejam
discutidas questões temáticas que estão intimamente ligadas ao texto, sabendo que
uma leitura coletiva é um método eficaz na construção do conhecimento.
      A aula seguinte, destinada a Ricardo Reis, terá o mesmo início da anterior,
apresentaremos a biografia do referido heterônimo e leremos um pequeno resumo
das temáticas que ele costuma utilizar em suas obras. Como os poemas dele estão
diretamente ligados às odes, achamos por bem conceituá-la, apresentando uma
breve definição de uma enciclopédia.
      Após ter o conhecimento de Ode, os educandos serão solicitados a escutar o
poema ―Segue o Teu Destino‖, interpretada na voz de Nana Caymmi. O objetivo é
que eles possam perceber a proximidade da ode com a música.
      Recorrendo à temática e aproveitando a questão da intertextualidade,
selecionamos um quadro Renascentista de Andrea Mantegna e pedimos para que
eles, partindo de conhecimento adquiridos de seu contato com a literatura, liguem
algumas características Neoclássicas, tema recorrente em Ricardo Reis, a estrofes
de ―Segue o Teu Destino‖.
      A aula IX foi dedicada ao ―mestre‖, Alberto Caeiro. A atividade 1 propõe a
leitura de dois poemas, o Fragmento V de ―O Guardador de Rebanhos‖ e
―Liberdade‖, ambos também acompanhados pela voz de Jô Soares. Espera-se que
esses acompanhamentos criem uma proximidade com os alunos, já que o intérprete
assume um sotaque português e incorpora ao poema, para além dos efeitos criados
pela melodia, uma outra roupagem.
      A atividade 2 solicita aos alunos a discussão em grupo de dois fragmentos
dos poemas já lidos. Embora sejam de ―autores diferentes‖, Fernando Pessoa e
Alberto Caeiro, esperamos com esta discussão criar condições para que os alunos
percebam a intertextualidade temática existente entre os dois poemas.
      As características formais e literárias do autor, são dadas por meio de uma
atividade, na qual os alunos devem identificá-las por meio de leitura e reflexão no
Fragmento V de ―O Guardador de Rebanhos‖. A biografia do autor é apresentada

                                                                                22
por último, pois como afirma o próprio Pessoa, este heterônimo era considerado o
mestre, portanto a fruição da leitura de sua obra é muito mais prazerosa do que o
conhecimento biográfico em si.
      A última aula é dedicada inteiramente às apresentações programadas pelos
alunos, porém fez-se necessária a apresentação de significado da palavra Sarau,
pois sabemos que esse não é um evento usual nas escolas de hoje e que muitos
dos alunos participantes podem nunca ter se envolvido em um projeto como esse,
por isso também sugerimos o que pode ser feito e o alvo não é limitar, mas
enriquecer as idéias.
      Cada grupo terá sete minutos para se apresentar. Não podemos esquecer
também que durante todas as aulas o professor deve lembrar, empolgar, motivar e
alertar os alunos para esse grande evento da última aula.
      O objetivo é fazer com que todo o conhecimento produzido durante as dez
aulas seja compartilhado com os demais colegas da escola. Não há necessidade de
ser um mega evento, dado que o tempo não permite, as apresentações podem ser
simples, sem deixar de conter, é claro, qualidade e conteúdo. O tema central do
sarau deve ser pautado em Fernando Pessoa e heterônimos estudados.
      Após essa Seqüência, espera-se que os educandos envolvidos neste projeto
possam estar aptos a compreender o gênero poesia e canção, sem esquecer dos
possíveis diálogos que podem existir em qualquer texto e que estes, por sua vez,
ajudam a compreender e, ao mesmo tempo, enriquecer qualquer construção de
conhecimento, em especial o literário.




                                                                              23
CONSIDERAÇÕES FINAIS


      A preocupação com a maneira que a Literatura tem sido abordada no âmbito
educacional fez com que esse projeto fosse pensado e desenvolvido. Partindo das
reflexões citadas anteriormente, pudemos concluir que esta proposta contribui para
a formação de alunos do Ensino Médio, no que se refere à aquisição de habilidades
necessárias para o desenvolvimento crítico de um cidadão.
      Todo o trabalho em si engloba uma série de elementos que auxiliam no
aprendizado contextualizado e, ao mesmo tempo, consonante com as Orientações
Curriculares Nacionais. Foram confrontados textos contemporâneos com literários, a
fim de que se pudesse despertar o interesse do aluno, por meio de uma
aproximação, a textos considerados inacessíveis e de difícil leitura.
       Os conceitos de fundamentação da Seqüência Didática surgiram a partir da
análise e reflexão de idéias de grandes      teóricos que compreendem a literatura
através de uma visão dialógica, a qual nos instigou a transpô-la para um ambiente
                                                                               24
extra-escolar, deixando de lado os métodos usuais que historicamente têm se
preocupado com o sentido tradicional do ensino:


                     Ao ler este texto, muitos educadores poderão perguntar onde está a
                     literatura, a gramática, a produção do texto escrito, as normas. Os
                     conteúdos tradicionais foram incorporados por uma perspectiva maior, que
                     é a linguagem, entendida como espaço dialógico, em que os locutores se
                     comunicam. (PCN, 2002, p. 144).


      As atividades propostas foram idealizadas para que o aluno pudesse assumir
uma posição ativa durante o processo de ensino-aprendizagem, criando condições
para que ele, desta forma, adotasse uma postura participativa e autônoma, refletindo
as atitudes que a sociedade espera de um cidadão atuante.
      Entendemos que as dificuldades implícitas a qualquer educador que vê o
ensino de uma forma sócio-interacional são inúmeras, a primeira delas é pensar que
sua aplicação demanda tempo, preparo, experimentações e condições mínimas para
um bom desenvolvimento das atividades.
      O professor que se deparar com a presente Seqüência Didática, com certeza,
terá que transpor muitos obstáculos, pois, como já é sabido de todos, não existe
manual que os impulsionem rumo ao êxito profissional. É preciso pensar que todas
as experimentações estão suscetíveis a sucessos e fracassos, mas o que de fato
deverá nortear o seu trabalho é a reflexão que deve ser feita após cada tentativa,
seja o seu resultado esperado ou não.
      Além de pensar naquele que futuramente poderá fazer uso deste projeto,
podemos refletir na condição em que se encontram os autores deste trabalho:
professores em formação. Muito se fala sobre a deficiência na formação de
profissionais da educação, contudo podemos entender que esse pré-preparo auxilia
em nossa atuação, de modo que no futuro, ao nos depararmos com situação
parecida, não nos sentiremos desambientados e estaremos, também, bem
fundamentados, principalmente no que diz respeito às propostas correntes, oriundas
de estudos científicos, os quais, a todo momento, têm buscado um caminho mais
acertado para o cumprimento desse papel tão importante.
      Esperamos que essa Seqüência Didática seja uma ferramenta eficaz no
trabalho docente e que possa cumprir de maneira satisfatória os objetivos propostos,

                                                                                          25
de modo que possíveis alterações ou sugestões possam enriquecer e aprimorar
nossas expectativas, visando sempre à obtenção de resultados que privilegiem a
reflexão e a atuação na práxis do professor de Literatura.




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CEREJA, William Roberto. Ensino de Literatura: Uma proposta dialógica para o
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                                                                          27
SECRETARIA      DE    EDUCAÇÃO       BÁSICA.     Linguagens,   códigos   e   suas
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ANEXOS – SEQÜÊNCIA DIDÁTICA
SEQÜÊNCIA      FERNANDO PESSOA E HETERÔNIMOS: UMA
DIDÁTICA    PROPOSTA INTERTEXTUAL PARA O ENSINO MÉDIO
SEQÜÊNCIA DIDÁTICA

                                    APRESENTAÇÃO




                                       Caro aluno,

                                            Esta   seqüência    de   aulas    foi   criada
                                    especialmente para que você, aluno do Ensino
                                    Médio, possa conhecer melhor a obra de um
                                    grande escritor modernista da Língua Portuguesa,
                                    Fernando Pessoa e seus heterônimos.

                                            Por meio destas aulas você poderá se
aprofundar em conhecimentos literários, referentes à complexidade e à apreciação
do gênero poesia, além de ser uma ferramenta de aprendizagem que visa a uma
futura participação em vestibulares e, principalmente, a fruição literária.

       Estas aulas serão proveitosas para você que não dispensa um trabalho
diferente com a turma, que gosta de aprender, realizar projetos, ler, criticar,
argumentar, debater e escrever. Esperamos que desta forma você possa aprimorar
sua capacidade de interagir com as pessoas e com o mundo em que vive e, ao
mesmo tempo, adquirir a habilidade de viajar pela palavra através da poesia.

       Ao final desta seqüência, desejamos que você, juntamente com seus colegas,
elabore uma apresentação para o sarau que se realizará na última aula. Aproveite
todos os conhecimentos construídos durante os dias que estudaremos este autor
para colocar sua criatividade em prática.



                                     Bons estudos,




                                                                              Os autores.




                                                                                        2
AULA I: O QUE É POESIA?
   Objetivo: Nesta aula, o objetivo é que você possa adquirir conhecimentos
       específicos acerca do gênero poesia, suas principais características e
                               complexidade de conceituação.



Atividade 1: Converse com seus colegas de turma e dividam-se em sete grupos.
Lembre-se que este será o mesmo grupo utilizado para o sarau; a seguir leiam os
dois poemas:


ISTO                                                  O EU E O INFINITO


Dizem que finjo ou minto                              O eu é a síntese consciente de infinito
Tudo que escrevo. Não.                                E de finito em relação com ela própria;
Eu simplesmente sinto                                 Mas tornar-se si próprio é tornar-se concreto,
Com a imaginação.                                     coisa irrealizável no finito ou infinito.
Não uso o coração.                                    A evolução consiste em afastar-se de si próprio,
                                                      numa infinitização. O eu que não se torna
Tudo o que sonho ou passo
O que me falha ou finda,                              ele próprio permanece desesperado;
É como que um terraço                                 o eu está em evolução a cada instante
Sobre outra coisa ainda.                              da sua existência, e não sabe o que
Essa coisa é que é linda.                             será


Por isso escrevo em meio                              (KIERKEGAARD, Soren. O conceito de angústia.
Do que não está ao pé,                                São Paulo: Hemus, 2007.)
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!


(PESSOA,    Fernando.       Poesia:   1918-1930.São
Paulo: Companhia das Letras, 2007.)


Atividade 2: Agora que você já leu, discuta com seus colegas as questões que se
seguem:


     Em sua opinião, o que faz estes textos serem considerados poesia?
                                                                                                         3
 Aponte neles algumas características em comum.
     O que de mais importante caracteriza uma poesia, a forma ou o conteúdo?
       Um destes dois textos não é um poema. Trata-se de um texto em prosa
        falsamente versificado, a fim de exemplificar a complexidade de conceituação
        de poesia. Você arriscaria apontar qual destes dois textos não é um poema?
        Justifique sua opinião.


                            AULA II: LETRA E MÚSICA

 Objetivo: O objetivo da segunda aula é ampliar a discussão da aula anterior e
acrescentar conhecimentos acerca do gênero canção, apontando suas afinidades
                                     com a poesia.


Atividade 1: A seguir haverá exibição de fragmentos do filme ―Letra e música‖,
objetivando a conceituação de letra e melodia, bem como suas semelhanças com a
poesia. Antes de assistir, conheça mais sobre o filme:


              Sinopse: Alex Fletcher (Hugh Grant) é um decadente astro da música pop, que fez
              muito sucesso na década de 80, mas que agora apenas se apresenta no circuito
              nostálgico de feiras e parques de diversão. A chance de mais uma vez fazer sucesso
              bate à sua porta quando Cora Corman (Haley Bennet), a atual diva do pop, o
              convida para compor uma canção e gravá-la com ela, em dueto. O problema é que
              Alex há anos não compõe uma canção sequer, além de jamais ter escrito uma letra
              de música. Sua salvação é Sophie Fisher (Drew Barrymore), a encarregada de cuidar
              das plantas de Alex, cujo jeito com as palavras serve de inspiração para Alex.
              Inicialmente reticente em trabalhar com Alex devido ao término conturbado de um
              relacionamento e à fobia dele a compromisso, Sophie termina por aceitar a
              parceria.

        A partir dos comentários do professor em relação ao filme, reflita sobre as
        questões abaixo:


     Em sua opinião, dentro de uma canção qual a função da letra e da melodia?
     No trovadorismo, as poesias eram escritas para serem acompanhadas por
        instrumentos musicais. Você acredita que as músicas contemporâneas são
        uma ramificação deste período? Por quê?

                                                                                                   4
 Você conhece poesias que foram utilizadas como letras de música?
       Exemplifique.


                AULA III: A CONVERSA ENTRE OS TEXTOS

Objetivo: A construção da terceira aula objetiva favorecer identificação de diálogos
 existentes entre textos e oferecer-lhe a oportunidade de ouvir e expor argumentos
                           relacionados ao tema em questão.



Atividade 1: Organize-se com seus com os componentes de seu grupo e leia o
poema a seguir:


                         AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER


Amor é fogo que arde sem se ver,              É querer estar preso por vontade;
é ferida que dói, e não se sente;             é servir a quem vence o vencedor;
é um contentamento descontente,               é ter com quem nos mata, lealdade.
é dor que desatina sem doer.
                                              Mas como causar pode seu favor
É um não querer mais que bem querer;          nos corações humanos amizade,
é um andar solitário entre a gente;           se tão contrário a si é o mesmo Amor?
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.           (CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos para
                                              amar o amor. São Paulo: L&PM, 2007)




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Atividade 2: Agora ouça e acompanhe a letra da música que será reproduzida:


                 MONTE CASTELO            É um não contentar-se
                                          De contente
Ainda que eu falasse                      É cuidar que se ganha
A língua dos homens                       Em se perder...
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...                É um estar-se preso
                                          Por vontade
É só o amor, é só o amor                  É servir a quem vence
Que conhece o que é verdade               O vencedor
O amor é bom, não quer o mal              É um ter com quem nos mata
Não sente inveja                          A lealdade
Ou se envaidece...                        Tão contrário a si
                                          É o mesmo amor...
O amor é o fogo
Que arde sem se ver                       Estou acordado
É ferida que dói                          E todos dormem, todos dormem
E não se sente                            Todos dormem
É um contentamento                        Agora vejo em parte
Descontente                                Mas então veremos face a face
É dor que desatina sem doer...            É só o amor, é só o amor
                                          Que conhece o que é verdade...
Ainda que eu falasse
A língua dos homens                       Ainda que eu falasse
E falasse a língua dos anjos              A língua dos homens
Sem amor, eu nada seria...                E falasse a língua dos anjos
                                          Sem amor, eu nada seria...
É um não querer
Mais que bem querer                       (Renato Russo. Adaptação de “I Coríntios 13” e
É solitário andar                         “Soneto 11” de Luís Vas de Camões. Corações
Por entre a gente                         Perfeitos Edições Musicais Ltda – EMI).




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Atividade 3: Agora que você leu o poema e ouviu a música, posicione-se em
relação às seguintes questões:


    O que existe em comum entre o poema de Camões e a letra da música
      interpretada do grupo Legião urbana?
    Os textos discutem um mesmo tema. Qual é esse tema? Os autores expõem
      divergências ou concordâncias em relação a ele?
    Destaque os fragmentos da poesia que foram utilizados na música.
    Considerando os fragmentos em comum, podemos afirmar que há diálogo
      entre os textos. Aponte de que forma ele ocorre e comente as impressões do
      seu grupo com o restante da turma:


   a) Reprodução fiel do poema;
   b) Abordagem do mesmo assunto, valendo-se de uma opinião divergente;
   c) Reprodução criativa, valendo-se de excertos da poesia, a partir de outras
      perspectivas.




Atividade 4: Baseando-se em noções adquiridas na atividade anterior, você pôde
perceber que os textos travam diálogos, os quais recebem uma definição de
intertextualidade. Trabalhar a intertextualidade consiste em identificar semelhanças
e diferenças no registro e nos aspectos temáticos, estruturais e discursivos. Partindo
da afirmação de que os textos também podem travar diálogos divergentes, leia os
seguintes poemas e identifique exemplos:




                                                                                    7
ISTO                                          AUTOPSICOGRAFIA


Dizem que finjo ou minto                      O poeta é um fingidor.
Tudo que escrevo. Não.                        Finge tão completamente
Eu simplesmente sinto                         Que chega a fingir que é dor
Com a imaginação.                             A dor que deveras sente.
Não uso o coração.
                                              E os que lêem o que escreve,
Tudo o que sonho ou passo,                    Na dor lida sentem bem,
O que me falha ou finda,                      Não as duas que ele teve,
É como que um terraço                         Mas só as que eles não têm.
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa que é linda.                       E assim nas calhas de roda
                                              Gira, a entreter a razão,
Por isso escrevo em meio                      Esse comboio de corda
Do que não está ao pé,                        Que se chama coração
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.                            (COUTINHO, Afrânio. O eu profundo e os
Sentir? Sinta quem lê!                             outros eus. Rio de Janeiro: Nova
                                                            Fronteira, 2006).



            AULA IV: VIDA E OBRA DE FERNANDO PESSOA

Objetivo: Esperamos que nesta aula você possa adquirir conhecimentos sobre a
          vida e obra de Fernando Pessoa, bem como seus heterônimos.

Atividade 1: Acompanhe os vídeos ―Fernando Pessoa‖ e ―Fernando Pessoa Vida e
Obra‖.
Atividade 2: Após assistir aos vídeos, amplie seus conhecimentos sobre o referido
poeta, através da literatura cuidadosa do seguinte texto:




                                                                                      8
Fernando Pessoa - o poeta da inquietude e do desassossego


          A    literatura pode ser um meio de vida. Para Fernando Pessoa, a vida foi
               um meio para a literatura se revelar, uma demonstração daquilo que
outro poeta, o mexicano Octavio Paz, Prêmio Nobel de Literatura de 1990, definia
como aspectos biográficos no métier da poesia: ―Os poetas não têm biografia; sua
biografia é-lhes a obra... Nada há de surpreendente em sua vida, nada, a não serem
os poemas...‖.
          Uma biografia de Pessoa pode ser uma impossibilidade, mas também a prova
de que uma vida é repleta de surpresas quando engajada de maneira incondicional
á criação literária.
          Segundo Marcos Siscar, poeta, tradutor e professor de Teoria da literatura da
Universidade Estadual Paulista (UNESP), em São Jose do Rio Preto, ―para que os
heterônimos sejam o que são, isto é, diferentes de ‗pseudônimos‘, é preciso
imaginar que eles não sejam apenas estratégia de uma consciência lírica central,
mas uma maneira de dramatizar (de dar a sentir) a dispersão constitutiva daquilo
que chamamos consciência. Ou seja, não se trata, por um lado, de ver os
heterônimos apenas como parte do plano autoral de um poeta central chamado
Fernando Pessoa, nem, por outro lado, de passar a tratar esses heterônimos como
autores contemporâneos do modernismo português. A heteronímia deveria ser
concebida como um teatro, nesse caso cheio de notações de cena, mas sem
diretor‖.
          Leyla Perrone-Moisés, no livro Fernando Pessoa-Aquém do eu, além do
outro, diz que ―o fenômeno da heteronímia não é decorrência uma riqueza, mas de
uma falta. Os heterônimos não são frutos de uma rica imaginação tão somente
artística, ou a prova da versatilidade do poeta, mas o cobrimento de uma falha. Falta
de ser e excesso de desejo faz implodir o sujeito que, ao tentar reunir diversos ―eus‖
postiços num conjunto, precipita-se, pelo contrário, na experiência da dispersão sem
volta‖.


          (Nathalia Cesana, Revista Cult-, volume 3: O poeta da inquietude e do
                                     desassossego)

                                                                                      9
Aula V: Intertextualidade em Pessoa

   Objetivo: A quinta aula visa à reflexão sobre o conteúdo da aula anterior e a
 possibilidade de intertextualizar as poesias de Fernando Pessoa e declamações
               adaptadas com melodias por artistas contemporâneos.



Atividade 1: Em grupo, leia os seguintes poemas de Fernando Pessoa:


                         O MENINO DE SUA MÃE


No plaino abandonado                          Caiu-lhe da algibeira
Que a morna brisa aquece,                     A cigarreira breve.
De balas trespassado                          Dera-lhe a mãe. Está inteira
– Duas, de lado a lado –,                     E boa a cigarreira,
Jaz morto, e arrefece.                        Ele é que já não serve.


Raia-lhe a farda o sangue.                    De outra algibeira, alada
De braços estendidos,                         Ponta a roçar o solo,
Alvo, louro, exangue,                         A brancura embainhada
Fita com olhar langue                         De um lenço... Deu-lho a criada
E cego os céus perdidos.                      Velha que o trouxe ao colo.


Tão jovem! que jovem era!                     Lá longe, em casa, há a prece:
(Agora que idade tem?)                        ―Que volte cedo, e bem!‖
Filho único, a mãe lhe dera                   (Malhas que o Império tece!)
Um nome e o mantivera:                        Jaz morto, e apodrece,
―O menino da sua mãe‖.                        O menino da sua mãe.
                                              (PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930.São
                                              Paulo: Companhia das Letras, 2007.)




                                                                                    10
DOBRADA À MODA DO PORTO


                               Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
                               Serviram-me o amor como dobrada fria.
                               Disse delicadamente ao missionário da cozinha
                               Que a preferia quente,
                               Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.


                               Impacientaram-se comigo.
                               Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
                               Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
                               E vim passear para toda a rua.


                               Quem sabe o que isto quer dizer?
                               Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).


Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
(PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930.São Paulo: Companhia das Letras, 2007.)

Atividade 2: Ouça agora os mesmos poemas interpretados na voz de Jô Soares e
Marília Pêra, acrescidos de melodia.
Atividade 3: Após a leitura e escuta dos poemas, discuta com os colegas de grupo
sobre o conteúdo dos textos, atentando para o que se segue:




                                                                                           11
 Lembrando das aulas 1, 2 e 3, nas quais conceituamos poesia, música e
      intertextualidade, podemos afirmar que houve diálogo entre o que lemos e
      escutamos?
    Que efeito a melodia e a voz dos artistas contemporâneos acrescentam à
      compreensão dos poemas?
    Embora exista uma distância entre o tempo de produção da obra de Fernando
      Pessoa e a adaptação feita pelos artistas, o diálogo pode ser considerado
      como uma forma de atualização temática ou apenas uma recriação criativa?
    De que forma podemos relacionar o amor que foi servido frio em ―Dobrada à
      moda do Porto‖ com a triste estória do poema ―O menino de sua mãe‖?
    Em relação ao poema ―O menino de sua mãe‖, está correto afirmar que a
      miséria e a falta de horizontes a que estão sendo submetidos os jovens são a
      causa da violência que impera em nossa sociedade?

Atividade 4: Organizem-se em círculo para iniciar uma roda de conversa referente
às questões anteriores; em seguida escolham um representante do grupo para
compartilhar as discussões realizadas com o restante da classe, você pode
acrescentar outras informações e conhecimentos que possui acerca do assunto,
evitando manter-se restrito ao conteúdo dos textos.

              Aula VI – O povo português e o mar
     Objetivo: A proposta é fazer com que você adquira conhecimentos sobre a
      importância da figura do mar para o povo português e, conseqüentemente,
   relacioná-la com as obras literárias de Camões e Fernando Pessoa, ou seja, Os
                               Lusíadas e Mensagem.




                                                                                 12
Atividade 1: Leia os textos abaixo :




      A
                 saudade que sentem os portugueses pode eventualmente ser
                 explicada geograficamente. Com efeito, Portugal é um país pequeno
                 cercado pelo mar, quase como uma ilha, que predispõe os seus
habitantes a deixarem o continente. Não é por isso, supreendente a vontade que os
portugueses têm em se virarem para o mundo, lançando-se ao mar. Os portugueses
não gostam de limites e, por isso, evitam-nos. Os portugueses gostam de desafios;
ficam tristes quando falham, mas ficariam ainda mais tristes se não tivessem
tentado. As descobertas portugueses situam-se, algures, no passado porque as
colónias já o foram. De todo o lado onde os portugueses chegaram, deixam e trazem
lembranças da sua passagem. Da arquitectura à língua, de Marrocos à China,
                                       passando pela Índia, Japão e Timor.

                                              A saudade que sentem os portugueses
                                       pode     eventualmente      ser       explicada
                                       geograficamente. Com efeito, Portugal é um
                                       país pequeno cercado pelo mar, quase como
                                       uma ilha, que predispõe os seus habitantes a
                                       deixarem o continente. Não é por isso,
                                       supreendente a vontade que os portugueses
                                       têm em se virarem para o mundo, lançando-se
                                       ao mar. Os portugueses não gostam de limites
e, por isso, evitam-nos. Os portugueses gostam de desafios; ficam tristes quando
falham, mas ficariam ainda mais tristes se não tivessem tentado. As descobertas
portugueses situam-se, algures, no passado porque as colónias já o foram. De todo
o lado onde os portugueses chegaram, deixam e trazem lembranças da sua
passagem. Da arquitectura à língua, de Marrocos à China, passando pela Índia,
Japão e Timor.

(Adaptado de http://www.teiaportuguesa.com/lusografo/saudade.htm - Acessado em
01/09/2008)

      ―... Um exemplo disso é a relação de admiração e competição que Pessoa
mantém com Luís de Camões, autor de Os Lusíadas, ‗Ao escrever Mensagem

                                                                                    13
Pessoa procura corrigir os erros de visão do épico camoniano quanto ao destino
português. Corrige, também a inadequação formal do poema épico, uma vez que,
segundo ele, os poemas longos já não são possíveis hoje em dia, quando a
aceleração da vida exige uma forma concentrada, mas ricamente alusiva e
significativa de expressão poética. É a tentativa de reescrever Os Lusíadas do
século XX‘, conta Yara.‖

(Nathalia Cesana, Revista Cult-, volume 3: O poeta da inquietude e do
desassossego).

       Atividade 2: Agora que você aprendeu sobre a relação do povo português
com o mar e sobre a obra Mensagem de Fernando Pessoa, reúna-se com o seu
grupo e leia os poemas ―Mar Portuguez‖, Fernando Pessoa e alguns trechos de Os
Lusíadas. Após a leitura, identifique intertextualidade com a música de Djavan: ―O
Rei do Mar‖. Levando em consideração as seguintes questões:
    Os autores abordam o assunto do mar partindo de uma mesma perspectiva?
       Explique.
    Por que podemos afirmar que há intertextualidade entre a música e os
       poemas?
    Destaque alguns versos dos poemas e da música em que fique explícita a
       exaltação do povo português em relação à dominação do mar.


            MAR PORTUGUEZ
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Mas nelle é que espelhou o céu.
                                                                                     14
(COUTINHO, Afrânio. O eu profundo e os outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006).
                      TRECHOS DE ―OS LUSÍADAS‖ – CANTO IV


                           62
                                  "Pelo mar alto Sículo navegam;
                                  Vão-se às praias de Rodes arenosas;
                                  E dali às ribeiras altas chegam,
                                  Que com morte de Magno são famosas;
                                  Vão a Mênfis e às terras, que se regam
                                  Das enchentes Nilóticas undosas;
                                  Sobem à Etiópia, sobre Egito,
                                  Que de Cristo lá guarda o santo rito.


                           63
                                  "Passam também as ondas Eritreias,
                                  Que o povo de Israel sem nau passou;
                                  Ficam-lhe atrás as serras Nabateias,
                                  Que o filho de Ismael co'o nome ornou.
                                  As costas odoríferas Sabeias,
                                  Que a mãe do belo Adónis tanto honrou,
                                  Cercam, com toda a Arábia descoberta
                                  Feliz , deixando a Pétrea e a Deserta.




                           90
                           "Qual vai dizendo: —" Ó filho, a quem eu tinha
                                  Só para refrigério, e doce amparo
                                  Desta cansada já velhice minha,
                                  Que em choro acabará, penoso e amaro,
                                  Por que me deixas, mísera e mesquinha?
                                  Por que de mim te vás, ó filho caro,
                                  A fazer o funéreo enterramento,
                                  Onde sejas de peixes mantimento!" —


                           91

                                                                                       15
"Qual em cabelo: —"Ó doce e amado esposo,
                                   Sem quem não quis Amor que viver possa,
                                   Por que is aventurar ao mar iroso
                                   Essa vida que é minha, e não é vossa?
                                   Como por um caminho duvidoso
                                   Vos esquece a afeição tão doce nossa?
                                   Nosso amor, nosso vão contentamento
                                   Quereis que com as velas leve o vento?" —


           (CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Portugal: Europa-América, 2002).


                                     O REI DO MAR


Vou me perder                                   O brilho dos faróis
No azul verde do mar                            Que me importa
Junto da manhã                                  O fundo, a calmaria e o temporal
Em busca da vida
                                                Eu sou o rei
Vou remover                                     Eu sou o rei
Lendas, tormentas, paixão                       Eu sou o rei
Livre a navegar                                 do mar
Em busca da vida                                Da minha cidade natal


Que me importa                                  (Djavan. 1975 BMG Music Publishing Brasil
A brisa fria                                    Ltda).


                       Atividade 3: Agora , individualmente, redija um pequeno texto
                       expondo sua opinião acerca do seguinte comentário: Em sua
                       ânsia de exploração e conquista, o homem olha sempre para
                       frente e para longe; está sempre em busca de uma nova
                       aventura e descoberta. Atualmente o homem tem realizado
conquistas de planetas distantes como a Lua e Marte. Em sua opinião,os motivos
que levaram o ser humano a empreender a conquista espacial são os mesmos que
levaram o povo português às conquistas marítimas?


                                                                                            16
Sugestão de Leitura:      Poema - O homem; as
                       viagens, de Carlos Drummond de Andrade.

       AULA VII – ÁLVARO DE CAMPOS, O POETA DA PROSA
                           RITMADA E EMOTIVA.

Objetivo: O objetivo é que você possa aprofundar conhecimentos sobre a vida e
obra de Álvaro de Campos e identificar seu estilo poético, bem como a escolha de
                                suas temáticas.



Atividade 1: Conheça um pouco mais sobre a vida e obra de Álvaro de Campos:




  (Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita em
                                      Lisboa).


                                                                                   17
Fases da Escrita:


1ª Fase – Decadentista              Esta fase expressa-se como a falta de um
                                    sentido para a vida e a necessidade de fuga à
                                    monotonia, com preciosismo, símbolos e
                                    imagens     apresenta-se     marcado         pelo
                                    Romantismo e pelo Simbolismo.

2ª Fase – Futurista/Sensacionista   Esta fase foi bastante marcada pela influência
                                    de Walt Whitman e de Marinetti (Manifesto
                                    Futurista), nela, Álvaro de Campos celebra o
                                    triunfo da máquina, da energia mecânica e da
                                    civilização moderna. Sente-se nos poemas
                                    uma atracção quase erótica pelas máquinas,
                                    símbolo da vida moderna. Campos apresenta
                                    a beleza dos “maquinismos em fúria” e da
                                    força da máquina por oposição à beleza
                                    tradicionalmente     concebida.     Exalta     o
                                    progresso técnico, essa “nova revelação
                                    metálica e dinâmica de Deus”.

3ª Fase – Intimista/Pessimista      Nesta fase, Campos sente-se vazio, um
                                    marginal, um incompreendido. Sofre fechado
                                    em si mesmo, angustiado e cansado. Como
                                    temáticas destacam-se: a solidão interior, a
                                    incapacidade de amar, a descrença em
                                    relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor
                                    de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade,
                                    a oposição sonho/realidade – frustração. a
                                    dissolução do “eu”, a dor de pensar e o
                                    conflito entre a realidade e o poeta.



(Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_de_Campos. Acessado em
01/09/2008)

                                                                                        18
Atividade 2: Ouça o poema ―Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da baixa‖,
musicado na voz de Jô Soares:

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).


Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
E' estar ao lado da escala social,
E' não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.


Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?


Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.


Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.


Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
                                                                                  19
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco aquele pobre que não era pobre que tinha olhos tristes por
profissão.


Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!


E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.


Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!


Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.


Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.


(Jô Soares - Voz. Billy Forghieri – Arranjo. Remix em Pessoa: Performance Music – Sony
DADC Brasil.)




Atividade 3: Organizem-se em círculo para iniciar uma roda de conversa e discutam
inicialmente sobre as seguintes questões:
     Baseando-se no texto lido na atividade 1, sabemos que Álvaro de Campos
         tinha como uma de suas características enfatizar a emotividade. Em que
         momentos de ―Cruzou por mim‖ podemos encontrar essa característica?
                                                                                                                20
 Em sua opinião, que sentimento o ―eu – lírico‖ tenta expressar no seguinte
      verso: ―Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!‖.
    Em qual das três fases, citadas acima, se encaixa o poema ―Cruzou por
      mim‖?
    Uma das características predominantes de Álvaro de Campos é a de prosador
      (narrador). Em ―Cruzou por mim‖, podemos fundamentar essa afirmação?
      Justifique sua resposta.
    De acordo com o poema, qual opinião o ―eu – lírico‖ expressa sobre o que é
      ser ―vadio e pedinte‖?


       AULA VIII – RICARDO REIS, O POETA NEOCLÁSSICO.

Objetivo: Possibilitar oportunidade para que você, aluno, construa conhecimentos
   sobre a vida e obra de Ricardo Reis, bem como bem como a escolha de suas
                                        temáticas.


Atividade 1: Leia os textos a seguir:




                                                                               21
(Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita em
                          Lisboa, 13 de Janeiro de 1935).

      A poesia de Ricardo Reis é constituída com bases em idéias elevadas e odes,
ou seja, na poesia de Reis é constante o Neoclassicismo. Para finalizar, podemos
concluir que através da intemporalidade das suas preocupações, a angústia da
brevidade da vida, a inevitável Morte e a interminável busca de estratégias de
limitação do sofrimento que caracteriza a vida humana, Reis tenta iludir o sofrimento
resultante da consciência aguda da precariedade da vida.

                                    Temáticas:


                      Aceita a calma da ordem das coisas;

            Sofre com as ameaças do Fatum, da velhice e da Morte;

         Vê o rio como uma imagem da vida que passa – efemeridade;

                       Considera a infância a idade ideal;

               Defende o ideal de uma vida passiva e silenciosa;

     Preconiza a carência das ideias dogmáticas e filosóficas como meio de

                            manter-se puro e sossegado;
                     Opõe o paganismo e ao cristianismo;



(Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Reis. Acessado em 01/09/2008)


                                             O que é Ode?

                   Poema lírico de forma complexa e variável. Surgiu na Grécia
                   Antiga, onde era cantado com acompanhamento musical. A ode
                   caracteriza-se pelo tom elevado e sublime com que trata
                   determinado    assunto.    As   literaturas   ocidentais   modernas
aproveitaram sobretudo, do ponto de vista da forma, a ode composta por três
unidades estróficas, correspondentes, no desenvolvimento da idéia do poema, à
estrofe, à antístrofe (cantada pelo coro, originalmente) e ao epodo (conclusão do
poema). A ode comportava uma série de esquemas métricos e rítmicos, de acordo
com os quais era classificada.

                                                                                    22
(D´ONOFRIO, Salvatore. Pequena Enciclopédia da Cultura Ocidental. São Paulo:
                                Campus, 2005).

Atividade 2: Ouça o poema ―Segue o teu destino‖, de Ricardo Reis, musicado na
voz de Nana Caymmi:

                          SEGUE O TEU DESTINO


Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias


A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.


Suave é viver só
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses


Vê de longe a vida
Nunca a interrogues
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração
Os deuses são deuses
Porque não se pensam


                                                                                23
(Nana Caymmi – Voz: Dori Caymmi. A música em Pessoa. Biscoito Fino Ltda).


Atividade 3: Observe o quadro abaixo atentando para o seguinte enunciado:

    Você já estudou o Neoclassicismo, tanto o quadro como o poema têm
       características classicistas. Identifique-as, relacionando as duas obras.




         O Parnaso (séc. XV), de Andrea Mantegna, obra do Renascimento italiano.

Atividade 4: Ligue as características (coluna 1) aos versos retirados do poema
―Segue o teu destino‖ (coluna 2).

                                                       Segue o teu destino
                                                       Rega as tuas plantas
Defende o ideal de uma vida                            Ama as tuas rosas
passiva e silenciosa                                   O resto é a sombra
                                                       De árvores alheias

                                                       Suave é viver só
Referência à mitologia grega                           Grande e nobre é sempre
                                                       Viver simplesmente

                                                       Vê de longe a vida
Sofre com as ameaças do                                Nunca a interrogues
Fatum, da velhice e da Morte                           Ela nada pode
                                                       Dizer-te.
                                                       Mas serenamente
Bucolismo                                              Imita o Olimpo
                                                       No teu coração
                                                       Os deuses são deuses
                                                       Porque não se pensam




                                                                                   24
Sugestão de Leitura: Romance –         “O ano da morte de Ricardo Reis”, de
 José Saramago.

                    Sinopse: Neste romance, o heterônimo mais clássico do poeta português
                    Fernando Pessoa, o horaciano Ricardo Reis, acha-se novamente em Lisboa,
                    depois de uma temporada no Brasil, onde se auto-exilara. O ano é o de 1936.
                    Médico, educado pelos jesuítas e monarquistas, ele é um sábio capaz de se
                    contentar em assistir ao espetáculo do mundo, como diz numa das epígrafes do
                    livro. Aqui, porém, ele se vê confrontado com os acontecimentos de 1936, em
                    Portugal e fora dele; de um lado, a ditadura fascista de Salazar; de outro, a
                    gestação da Segunda Guerra Mundial, a Frente Popular francesa, a Guerra Civil
                    espanhola, a expansão nazista na Europa. Um confronto, enfim, com um mundo
                    que decerto não era um espetáculo.




                 AULA IX – ALBERTO CAEIRO, O MESTRE.

Objetivo: Possibilitar oportunidade para que você, aluno, construa conhecimentos
sobre a vida e obra de Alberto Caeiro, bem como a escolha de suas temáticas.




 Atividade 1: Leia o seguinte trecho de ―O Guardador de Rebanhos‖, poema de
 Alberto Caeiro e ouça ―Liberdade‖, de Fernando Pessoa, musicado na voz de Jô
 Soares:

 FRAGMENTO V


 Há metafísica bastante em não pensar em nada.
 O que penso eu do mundo?
 Sei lá o que penso do mundo!
 Se eu adoecesse pensaria nisso.
 Que idéia tenho eu das cousas?
 Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
 Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
                                                                                              25
E sobre a criação do Mundo?
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério. […]
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
―Constituição íntima das cousas‖…
―Sentido íntimo do Universo‖…
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. […]
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.


(COUTINHO, Afrânio. O eu profundo e os outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006).


LIBERDADE
(Fernando Pessoa)


Ai que prazer
Não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
Como tem tempo, não tem pressa…



                                                                                       26
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.


Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.


E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca…


(Jô Soares - Voz. Billy Forghieri – Arranjo. Remix em Pessoa: Performance Music – Sony
DADC Brasil.)


Atividade 2: A partir da leitura realizada na atividade anterior, discuta com os seus
colegas de grupo o diálogo existentes entre esses dois fragmentos, retirados dos
dois poemas acima:


―Há metafísica bastante em não pensar em nada.‖
(O Guardador de Rebanhos – Fragmentos V)


―Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.‖
(Liberdade)


Atividade 3: Observe as seguintes características da escrita de Alberto Caeiro e a
partir dessas informações identifique-as dentro do Fragmento V de ―O Guardador de
Rebanhos‖:

                                                                                   27
   Todo objeto é uma sensação nossa;
      Toda a arte é a convenção de uma sensação em objeto;
      Portanto, toda arte é a convenção de uma sensação numa outra sensação;
      regressa a um primitivismo do conhecimento da natureza;
      ensinou a filosofia do não filosofar;
      linguagem espontânea, discursiva, e prosaica.


(Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Caeiro. Acessado em 01/09/2008)




 (Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita em
                              Lisboa, 13 de Janeiro de 1935).




                                                                                    28
AULA X – SARAU.
  Objetivo: Agora, abriremos espaço para que você, juntamente com seu grupo,
   exponha todo o conhecimento adquirido sobre Fernando Pessoa de maneira
                                     criativa.

                                O que é Sarau?
sm (cast sarao) 1 Reunião festiva, em casa particular, em clube ou teatro, em que se
   passa a noite dançando, jogando, tocando etc. 2 Concerto musical de noite. 3
 Reunião de pessoas amantes das letras, para recitação e audição de trabalhos em
                                  prosa ou verso.
        (Michaelis Língua Portuguesa – Novo Dicionário Escolar. São Paulo:
                              Melhoramentos, 2008)


Atividade 1: Agora que você compreendeu a concepção de um Sarau, organize-se
com seus colegas de grupo e ponha a sua criatividade em prática. Utilize os
conhecimentos adquiridos sobre Fernando Pessoa e heterônimos e realize uma
apresentação de no máximo 7 minutos.
      Faça algo breve, mas que, ao mesmo tempo, consiga captar a essência desta
Seqüência Didática. Pense na idéia de convidar outros colegas do ensino médio de
sua escola, a fim de que se possa compartilhar o aprendizado.




                                                                                  29
Divirtam-se!




               30

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Fernando Pessoa e Heterônimos: Uma proposta intertextual para o Ensino Médio

  • 1. UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES FELIPE DE SOUZA COSTA MARIA CLAUDIA SANTANA DE AZEVEDO FERNANDO PESSOA E HETERÔNIMOS: UMA PROPOSTA INTERTEXTUAL PARA O ENSINO MÉDIO. Mogi das Cruzes, SP 2008 1
  • 2. UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES FELIPE DE SOUZA COSTA MARIA CLAUDIA SANTANA DE AZEVEDO FERNANDO PESSOA E HETERÔNIMOS: UMA PROPOSTA INTERTEXTUAL PARA O ENSINO MÉDIO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Letras - Português/Inglês e respectivas literaturas da Universidade de Mogi das Cruzes como parte dos requisitos para a conclusão do curso. Profº Orientador: Anderson da Cruz Zaneti Mogi das Cruzes, SP 2008 2
  • 3. RESUMO Este trabalho apresenta uma proposta intertextual para o ensino de literatura, utilizando como ferramentas diálogos travados entre textos contemporâneos e os poemas de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. Tem como objetivo propiciar condições para que os alunos do Ensino Médio adquiram o hábito prazeroso da leitura, através de uma análise crítica e reflexiva dos conteúdos propostos e, conseqüentemente, a sua conscientização como agente participativo na sociedade. Assume a relevância o fato de que a leitura de poemas tem sido secundarizada no ensino da referida disciplina, o que não assegura ao aluno um direito que lhe é garantido: apropriar-se totalmente do bem simbólico que é a literatura. Foi desenvolvido por alunos do curso de Letras – Licenciatura Plena em Português/Inglês e respectivas Literaturas, da Universidade de Mogi das Cruzes. Espera-se que os educandos, ao final desta Seqüência, consigam perceber as diversas leituras que podem ser feitas de poesia e outros gêneros, bem como relacioná-los de forma reflexiva. Palavras-chave: Ensino de literatura; Ensino dialógico de literatura; Literatura no Ensino Médio. 3
  • 4. ABSTRACT This work presents an intertextual proposal to teach literature, using some tools like dialogs establishing relations with contemporary texts and poems of Fernando Pessoa, Alberto Caeiro and Álvaro de Campos. The aim is to create conditions to high school students acquire the pleasant habit of reading, through a critical and reflexive analysis of the proposed content and, consequently, their awareness like a historical and participant agent in the society. It takes over the relevance because the reading of poems has been seen from many years as secondary importance, which doesn‘t guarantee a student‘s right: to appropriate of a symbolic right that is the literature. It has been developed by the students of Language and Literature, tracks Portuguese and English and its literatures, from the University of Mogi das Cruzes. We wish the students, in the end of this Sequence, can perceive the differents ways of reading that can be did with others genres, as well as relate them reflexively. Key words: Literature teaching; Dialogic Literature Teaching ; Literature in the high school. 4
  • 5. AGRADECIMENTOS Agradecemos, primeiramente, a Deus por nos sustentar e permitir que chegássemos até aqui. Ao Programa Universidade para Todos (PROUNI) e seus idealizadores, já que ambos somos bolsistas e foi por meio dele que alcançamos mais um degrau em nossa caminhada acadêmica. À Universidade de Mogi das Cruzes, por abraçar o referido programa com afinco e responsabilidade. Ao nosso professor Orientador Anderson da Cruz Zaneti, pela compreensão e apoio. Aos nossos familiares, motivadores constantes e responsáveis pela formação. 5
  • 6. ―Ao ler este texto, muitos educadores poderão perguntar onde está a literatura, a gramática, a produção do texto escrito, as normas. Os conteúdos tradicionais foram incorporados por uma perspectiva maior, que é a linguagem, entendida como espaço dialógico, em que os locutores se comunicam.‖ (PCN, 2002, p. 144). 6
  • 7. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1 Apresentação ......................................................................................................... 1 Justificativa ......................................................................................................... 2 Público-Alvo ...................................................................................................... 3 Objetivo Geral ................................................................................................... 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 4 DISCUSSÃO........................................................................................................... 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 20 ANEXOS ................................................................................................................ 22 7
  • 8. INTRODUÇÃO Apresentação O ensino de literatura tem passado por verdadeiras mudanças, metodologias diversas aplicadas em instituições de ensino têm buscado suprir uma necessidade histórica do povo brasileiro: o hábito da leitura. É bem verdade que pensar em literatura é muito mais do que tentar incutir nos educandos um ―hábito‖, ler é o ponto de partida para a fruição de um prazer, que quando aproveitado de forma adequada e bem trabalhada reflete diretamente em mudanças de atitudes, quebra de paradigmas e rompimento do senso comum. Todas essas transformações contribuem para a formação de um cidadão consciente de seus direitos e deveres, tarefa difícil nos dias atuais. Haja vista que as condições impostas à educação formal, verdadeiramente, dificultam esse processo. Pensando em poesia, a situação recebe um maior agravo. Por ser um gênero aparentemente complexo, muitas pessoas desistem após a primeira leitura. Falta a interpretação, o entendimento se torna esparso, dificultoso, nebuloso... Transportar essa competência para uma comunidade de poucos leitores é um desafio. Embora a obra de Fernando Pessoa propicie espaço suficiente para a introdução dessa prática, requer daqueles que aceitam o desafio um trabalho árduo, de modo que se possa, ao mesmo tempo, sistematizá-lo e aproximá-lo de uma realidade muito distante. O universo musical e os diversos gêneros que circulam na sociedade serão a ponte que ligará o processo poético à realidade dos alunos, auxiliará singularmente, para que eles possam se sentirem identificados e, a partir dela, chegar ao objetivo proposto nesta seqüência de aulas. Esta Seqüência tem por finalidade a prática e instrumentalização de ferramentas que possibilitem aos professores em formação a aquisição de conhecimentos práticos aliados aos teóricos abordados nas aulas de Literatura Portuguesa do curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade de Mogi das Cruzes, objetivando a reflexão da prática da leitura de poemas no Ensino Médio. Tem como uma das principais fundamentações teóricas as Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, fazendo especial referência ao desenvolvimento da intertextualidade entre os poemas de Fernando Pessoa e, 8
  • 9. principalmente, a música. Serão considerados aqui seus trabalhos produzidos no âmbito hortonímico e heteronímico. A presente Seqüência, por sua vez, também será utilizada pelos seus autores como entrega parcial do Trabalho de Conclusão de Curso. Justificativa A presente Seqüência Didática justifica-se pela relevância temática que assume ao colocar em voga a situação da leitura de poemas nos dias atuais, em especial no âmbito escolar, pois objetiva solucionar essa problemática nas aulas de literatura do ensino médio. Partindo do pressuposto de que a aplicação destas se dará numa instituição de ensino público, podemos refletir acerca da importância social que ela abarca, pois sabemos que a leitura deste gênero em locais menos favorecidos é quase nula, dada a sua necessidade de maior atenção e por que não dizer de conhecimento cultural erudito, com o qual muitas vezes está associado a leitura de poesia. Ainda meditando sobre essa questão podemos nos alicerçar no que as Orientações Curriculares Nacionais afirmam em torno desse mote: Cabe aqui um parêntese relativamente à leitura da poesia. Sabe-se que ela tem sido sistematicamente relegada a um plano secundário. Muito já se falou sobre a dificuldade de lidar com o abstrato, com o inacabado, com a ambigüidade, características intrínsecas do discurso poético, que tem tornado a leitura de poemas rarefeita nas mediações escolares com sua tradicional perspectiva centrada na resposta unívoca exemplar e na inequívoca intenção autoral. (MEC, 2006, p. 74) A justificativa poder-se-ia resumir no seguinte trecho: ―Sabe-se que ela [a poesia] tem sido sistematicamente relegada a um plano secundário‖, pois por ser um gênero mais complexo não podemos excluir do aluno o direito que lhe é garantido. Talvez, a secundarização ocorra pela precária formação dos profissionais da educação, visto que por demandar maior critério, a poesia precisa ser mais analisada, do que qualquer outro texto pronto dos livros didáticos. É conhecido de todos, também, que uma das principais preocupações das instituições educacionais é criar condições para que os educandos se tornem 9
  • 10. cidadãos críticos, conscientes e sujeitos de sua própria história. Pode-se dizer que o trabalho com a poesia auxilia na reflexão, humanização e, conseqüentemente, a alcançar esse objetivo, pois ―Por extensão, podemos pensar em letramento literário como estado ou condição de quem não apenas é capaz de ler poesia ou drama, mas dele se apropria efetivamente por meio da experiência estética, fruindo-o‖. (MEC, 2006, p.55) Percebemos que o público-alvo, a quem se destinam essas dez aulas, passa por uma carência na prática de leitura de poesia dentro e fora do âmbito escolar, reforçando dessa forma a responsabilidade da escola e daqueles que dela fazem parte. A literatura é um bem simbólico do qual o aluno deve se apropriar e, para tanto, faz-se necessário a adequação na escolha dos textos ao nível de escolaridade dos leitores em formação, e é justamente o que se propõe nesta Seqüência, pois a aproximação entre textos remotos com os atuais visa a uma leitura proficiente e prazerosa: Configurada como bem simbólico de que se deve apropriar, a Literatura como conteúdo curricular ganha contornos distintos conforme o nível de escolaridade dos leitores em formação. As diferenças decorrem de vários fatores ligados não somente à produção literária e à circulação de livros que orientam os modos de apropriação dos leitores, mas também à identidade do segmento da escolaridade construída historicamente e seus objetivos de formação. (MEC, 2006, p. 61) Retomando as afirmações expostas nesta justificativa, podemos concluir que a Seqüência de Aulas em questão está em consonância com as Orientações Nacionais e com importantes teóricos que propõem um ensino dialógico e sócio- interacionista de Linguagem e Literatura, pois proporciona possibilidades para que o aluno construa o conhecimento de modo social e assimilando canônicos com gêneros que circulam em seu contexto atual. Público-Alvo: 3ª Série do Ensino Médio. Objetivo Geral Criar condições para que os alunos do Ensino Médio adquiram o hábito prazeroso, crítico, analítico e intertextual da leitura de poemas, visando sempre à 10
  • 11. formação do leitor competente, para que através desta prática possa desenvolver, além dos conhecimentos acadêmico-científicos em Literatura, chegar, conseqüentemente, a um senso crítico, reflexivo e à conscientização de sua importância como agente histórico na sociedade. É preciso, contudo, conduzi-los de forma eloqüente, buscando sempre situá- los numa posição em que sejam capazes de compreender o real sentido do prazer literário: ―A poesia é indispensável. Se ao menos soubesse para quê...‖ (MEC, 2006, p. 52 apud FISCHER, 1966). Faz-se necessário mostrar aos educandos o ―por que‖ se deve ler poesia. Não basta dar explicações inúmeras oriundas de um status quo, as quais eles estão cansados de ouvir. Deve-se agir, e as Orientações Curriculares, inclusive, apontam meios para isso: A escola não precisa cobrir todos os estilos literários. O professor pode, por exemplo, recortar na história autores e obras que ou corresponderam com maestria à convenção ou estabeleceram rupturas; ambas podem oferecer um conhecimento das mentalidades e das questões da época, assim como propiciar prazer estético. A partir desse recorte, ele pode planejar atividades de estudo das obras que devem ser conduzidas segundo os seus recursos crítico-teóricos, amparado pelo instrumental que acumulou ao longo de sua formação e também pelas leituras que segue fazendo a título de formação contínua. (MEC, 2006, p. 79). O recorte, do qual trata esta Seqüência de Aulas, dar-se-á através de um recurso didático e, ao mesmo tempo, literário: a intertextualidade, visando a aproximar o proposto a uma realidade circunstancial dos alunos em formação. 11
  • 12. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O projeto de ensino de literatura em questão tem como um de seus suportes teóricos as Orientações Curriculares Nacionais, dentro de inúmeras argumentações expostas neste documento. Tais orientações ressaltam o fato de que embora a literatura seja um modo discursivo entre vários, o discurso literário difere-se dos outros, porque de todos os modos discursivos é o menos pragmático, o que visa a aplicações práticas, garantindo ao participante da leitura literária o exercício da liberdade, favorecendo-lhe o desenvolvimento de um comportamento mais crítico e menos preconceituoso diante do mundo. Mais que propiciar o exercício da liberdade e a leitura proficiente, esta Seqüência Didática, através da observância das Orientações Nacionais, propõe e possibilita um dos principais objetivos do ensino de literatura que é o processo de humanização do indivíduo e para melhor abordar esta questão consideramos necessário citar palavras de Antônio Cândido no que se refere à literatura como fator de humanização: Entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade e o semelhante. (CÂNDIDO, 1995, p. 249). De acordo com as Orientações Nacionais, para alcançar tais objetivos dentro do ensino de literatura não se faz necessário sobrecarregar o educando com informações sobre escolas literárias, épocas e estilos, o aluno deve ser levado para além da memorização de movimentos literários, sendo estimulado a ampliar e articular conhecimentos e competências. Para cumprir com esses objetivos, entretanto, não se deve sobrecarregar o aluno com informações sobre épocas, estilos, características de escolas 12
  • 13. literárias, etc., como até hoje tem ocorrido, apesar de os PCN, principalmente o PCN+, alertarem para o caráter secundário de tais conteúdos... (MEC, 2006, p.54). Com base nesta explanação, o projeto em questão busca, por meio de sua didática, propiciar condições para que o aluno adquira experiência literária, ou seja, o contato efetivo com o texto, objetivando a sensação de ―estranhamento‖ em relação aos temas propostos e posteriormente possibilidades de intertextualidade com seu contexto, etapas necessárias para a ampliação dos conteúdos a serem ministrados, dos já adquiridos e capacidade de reflexão crítica, elementos fundamentais para a aquisição do letramento literário. Tais experiências são vivenciadas nas atividades em que são consideradas as idéias e discussões dos alunos, possibilitando troca de impressões acerca das intertextualidades, admitindo a perspectiva de que um texto sempre permite mais de uma interpretação e que cada leitor reage de forma diferente diante dele. Parece, portanto, necessário motivá-los à leitura com atividades que tenham para os jovens uma finalidade imediata e não necessariamente escolar (por exemplo, que o aluno se reconheça como leitor, ou que veja nisso prazer, que encontre espaço para compartilhar suas impressões de leitura com os colegas e com os professores)... Ele lerá então porque se sentirá motivado a fazer algo que deseja e, ao mesmo tempo, começará a construir um saber sobre o próprio gênero, a levantar hipóteses de leitura, a perceber a repetição e as limitações do que lê, os valores, as diferentes estratégias narrativas (MEC, 2006, p.70,71). A opção de utilizar músicas contemporâneas no desenvolvimento de algumas atividades surgiu a partir da observância de que na época medieval, os trovadores compunham seus textos poéticos, ou seja, as cantigas, para serem cantadas e acompanhadas por instrumentos musicais. Porém com o advento de novas práticas baseadas na estética humanista, os textos literários separaram-se da melodia, resultando em dois textos distintos: o poema, gênero literário, e a canção, o gênero letra musical. Esta Seqüência referente ao ensino de literatura também objetiva comprovar a permanência da ―irmandade‖ entre poema e canção. As Orientações Nacionais para o Ensino de Literatura sugerem a utilização de músicas, filmes contemporâneos e outras modalidades como instrumento didático 13
  • 14. para o ensino desta. Encontram-se nos PCNs e OCNs explanações que ressaltam o fato dessas modalidades e tantos outros tipos de produção, em prosa ou em verso ser de importância significativa para o ensino da referida disciplina, seja por transgredir, denunciar e principalmente por serem significativos dentro do contexto dos alunos alertando para o fato de que as escolhas utilizadas pelos professores devem ter suporte, revelando a qualidade estética. Qualquer texto escrito, seja ele popular ou erudito, seja expressão de grupos majoritários ou de minorias, contenha denúncias ou reafirme o status quo, deve passar pelo mesmo crivo que se utiliza para os escritos canônicos: Há ou não intencionalidade artística? A realização correspondeu à intenção? Quais os recursos utilizados para tal? Qual seu significado histórico-social? Proporciona ele o estranhamento, o prazer estético? (MEC, 2006, p.57) Baseados nestas reflexões, a Seqüência Didática em questão visou à intersecção de filmes e músicas contemporâneas no desenvolvimento de atividades com o intuito de aproximar os poemas à realidade e ao interesse dos alunos, pois a escolha de modalidades populares com relevante valor estético colabora na identificação e empatia dos alunos em relação às obras eruditas, muitas vezes consideradas inatingíveis para as classes menos favorecidas. Podem propiciar aos alunos momentos voluntários para que leiam coletivamente uma obra literária, assistam a um filme, leiam poemas de sua autoria de preferência fora do ambiente de sala de aula: no pátio. Na sala de vídeo, na biblioteca, no parque (PCN+, 2002, p.67). Na busca de inserir-se numa postura teórica mais abrangente, esta Seqüência de Aulas baseia-se na idéia defendida por Bakhtin (2000), de língua como atividade social, histórica e cognitiva, e suas aplicações de ação e intervenção sobre o mundo. A partir dessa hipótese sócio-interativa da língua, pode-se inferir que toda comunicação verbal se realiza por meio de gêneros, fundamentando-se nesse princípio básico, Marcuschi, que complementa e atualiza as idéias bakhtinianas, considera os gêneros textuais como fenômenos históricos vinculados aos fatos sociais e culturais. 14
  • 15. Em ―Ensino de Literatura: Uma proposta dialógica para o trabalho de Literatura‖, o autor William Roberto Cereja apresenta aos leitores, após discorrer sobre toda a problemática que envolve o ensino de literatura atualmente, três propostas didáticas para potencializar o ensino da referida disciplina. A primeira hipótese é ―organizar o curso em grandes unidades temáticas e, a partir de cada uma delas, abrir um amplo leque de leituras, confrontando autores e gêneros que de, alguma forma, contribuíram para referendar a importância do tema em foco.‖ (CEREJA, p.162, 2005). Pensar nessa opção nos faz alavancar algumas suposições que, a priori, parecem se encaixar fidedignamente com a proposta desta Seqüência: intertextualizar os poemas de Fernando Pessoa e o gênero música, pois podemos entender a obra do poeta como uma “uma grande unidade temática”, haja vista que ele por si só já dá conta de grande parte da literatura produzida em seu tempo. A segunda é ―a organização do curso em torno dos gêneros literários. Nesse caso, teríamos uma perspectiva evolutiva de gêneros da literatura, como o romance, a novela, a epopéia, a crônica, a fábula, a tragédia, o drama, etc., cuja origem, evolução e eventual extinção deveriam ser relacionadas com o contexto social e cultural de cada um‖ (CEREJA, p.163, 2005). Essa proposta, embora consistente e considerável, não abriria espaço para inclusão do gênero música, por exemplo, como elemento norteador do trabalho em sala de aula, pois restringe a metodologia aos ―gêneros literários‖, não podendo ser aceitos os ―gêneros do discurso‖. A terceira e última diz respeito ―à forma que parte da contemporaneidade para chegar às origens, tem a vantagem de se iniciar com textos cuja linguagem é familiar ao aluno. Nesse caso, o aluno de 15 anos começaria a estudar literatura por textos de autores contemporâneos, com linguagem e temas atuais; os textos mais distantes no tempo, como os do Trovadorismo ou de Camões, seriam estudados na 3ª série do ensino médio, quando o aluno está mais preparado e amadurecido intelectualmente.‖ (CEREJA, p.164, 2005) O fator que nos impede de tomá-la como ponto de partida está justamente na não-concordância com o nosso público-alvo, pois não iniciaremos o trabalho na primeira série do ensino médio, no qual os 15
  • 16. poemas de Fernando Pessoa, por fazer parte do Modernismo, teriam de ser um dos primeiros a serem utilizados. A intertextualidade deve ser observada como suporte para que se chegue a um ponto determinado, nunca como substituinte daquilo que é priorizado: o texto literário. Portanto, podemos encará-la como metodologia que nos auxiliará a criar um ambiente favorável para a leitura de poemas. Partiremos de algo mais próximo da vivência extra-escolar dos educandos para, então, encorajá-los, ambientá-los e suportá-los na leitura de um texto que demanda um pouco mais de reflexão e atenção, neste caso, os poemas de Fernando Pessoa. A fim de nos aprofundarmos acerca dessa questão e de como, diretamente, ela pode estar ligada ao ensino de literatura, encontramos em Kristeva aportes teórico-discursivos que nos remetem de maneira mais próxima ao que visa a esta seqüência de aulas, pois ela afirma que a linguagem poética, matéria-prima deste trabalho, nada mais é do que um diálogo entre textos, ampliando assim as idéias dialógicas sugeridas por Bakhtin: A linguagem poética aparece como um diálogo de textos: toda seqüência se faz em relação a uma outra proveniente de um outro corpus, de maneira que toda seqüência está duplamente orientada: para o ato de reminiscência (evocação de uma outra escrita) e para o ato de intimação (a transformação dessa escritura). (KRISTEVA, Autores como Haroldo de Campos encaram esse processo de aproximação como fator determinante para o ensino de literatura, pois ―já defendia a necessidade de se criar uma ‗nova antologia da literatura brasileira sob o ponto de vista sincrônico e testar o corpus assim obtido no ensino de vários graus‘ (CEREJA, 2005, p. 149 apud, ROCCO, 1992). O poeta via, então, a literatura como um espaço de simultaneidades capaz de aproximar, por exemplo, Fernando Pessoa e Camões ou Álvares de Azevedo e Drummond e, assim, nos fazer ver o passado naquilo que ele tem de novo.‖ (CEREJA, p.165, 2005). Além de aproximar os poemas de Pessoa à música, propomos, também, nesta seqüência a aproximação de sua obra com autores de tempos remotos, para ser mais preciso, Camões. O que, de certa forma, acaba por abrir outros leques possíveis para a construção de intertextualidade e novas leituras. 16
  • 17. Desta maneira, assim como Bakhtin postula que ―todo discurso é uma resposta a outros discursos‖, concluímos que em literatura o processo não é diferente: Todo discurso artístico estabelece relações dialógicas com outros discursos, contemporâneos a ele ou fincados na tradição. Aproximações e contrastes de temas, gêneros e projetos literários; aproximação e contrastes de estilos de época e de estilo pessoal; aproximações e contrastes entre a literatura e outras artes e linguagens ou outras áreas do conhecimento, comparações interdiscursivas – eis alguns caminhos possíveis para o ensino de literatura na escola, ancorados no princípio bakhtiniano de dialogismo. (CEREJA, 2005, p. 178) DISCUSSÃO Pensado e encarado, em princípio, como um trabalho que envolveria poesia e a intertextualidade com a música, esta Seqüência didática, bem como as fundamentações que a acompanham, ganhou moldes, enveredou por novos 17
  • 18. caminhos e tomou proporções diversas ao que pensávamos. O tímido projeto conseguiu focalizar um autor específico no grande universo deste gênero e o tomou como mote para apresentar uma proposta intertextual no ensino de literatura: Fernando Pessoa e três heterônimos seus de maior destaque, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Como já foi explanado em nossa fundamentação teórica, tomamos por base as Orientações Curriculares Nacionais e alguns teóricos importantes que nos fundamentaram, inclusive, na escolha da abordagem inicial. O foco é justamente tomar as produções deste importante autor da Literatura Portuguesa como um tema central e, a partir delas, sugerir possíveis intertextualidades com outros gêneros que circulam na sociedade, a fim de que se possa criar entre o texto literário e o aluno uma aproximação importante e necessária para sua formação escolar e aquisição da proficiência literária. . Partindo desses pressupostos, iniciamos a elaboração da seqüência de aulas por meio de uma pesquisa com a finalidade de reunir dados referentes ao autor e selecionar poemas, músicas, filmes, charges e ilustrações para que fossem travados os diálogos entre os textos. O ―Manual do Aluno‖ possui, na primeira página, uma apresentação que o convida a participar das aulas, esclarece o objetivo geral e os alerta acerca da atividade final, o Sarau. Esperamos que desde o início o educando possa se relacionar com o projeto de maneira harmoniosa e compreenda que a partir dali ele terá uma tarefa importante, a de não se portar como um mero ouvinte, mas sim um integrante fundamental que atuará como sujeito real na construção do conhecimento. A linguagem utilizada durante todo o projeto visa a essa aproximação, pois a todo o momento utilizam-se vocativos construídos de maneira descomplicada, pois acreditamos que facilitar o acesso do aluno ao texto é o caminho ideal para alcançarmos o objetivo geral. As aulas I, II e III visam à conceituação dos gêneros poesia e canção e de intertextualidade. A primeira aula apresenta na Atividade 1 o poema ―Isto‖ de Fernando Pessoa e um parágrafo de um texto de Kierkegaard falsamente versificado. Espera-se que eles possam lê-los e em seguida discuti-los seguindo 18
  • 19. algumas questões que são levantadas na Atividade 2. O ponto alto da discussão deve centrar-se na última questão, em que se revela qual é o verdadeiro poema, na seqüência criou-se oportunidade para que eles pudessem discutir o que de fato faz um texto ser realmente literário e especificamente, possa ser classificado como pertencente ao gênero poesia. O professor, nesse momento, deve mediar a discussão e deixar que eles alcancem uma resposta satisfatória e não simplesmente conceituar o que é poesia, já que um profissional com boa formação literária saberá que essa não é uma tarefa fácil. A Aula II, Letra e Música começa, mesmo que de forma tímida, a inserir outros gêneros discursivos para se alcançar o alvo, ou seja, a intertextualidade: apresentamos o gênero filme e junto com ele uma sinopse que descreve rapidamente o enredo da trama e então são exibidos trechos do filme que devem ser intercalados com comentários feitos pelo professor e questões que são dadas no próprio escopo da aula. A idéia é que o professor não se prenda ao enredo e sim à mensagem intrínseca do filme, a qual nada mais é do que a união entre melodia e letra, e o papel que cada uma desempenha. A partir de então, deve-se entrar com uma discussão mais abrangente, concentrada na segunda questão da Atividade, a qual relaciona a irmandade existente entre poesia e música no tempo do Trovadorismo, levantando ainda uma questão maior: Todas as músicas são poemas? A Aula III, Conversa entre os Textos, objetiva a conceituação de intertextualidade e para tanto faz uso de dois gêneros, que já foram anteriormente discutidos, a poesia e a música. A saber: o poema de Camões ―Amor é fogo que arde sem se ver‖ e a música de Renato Russo ―Monte Castelo‖. Os dois textos tratam do mesmo assunto e o segundo, inclusive, emprega parte do primeiro. É justamente neste momento que aparecerá uma atividade que será aproveitada em outros momentos do trabalho: ―Pensar e Argumentar‖, nela o aluno deve refletir sobre as questões apresentadas e ainda se posicionar, sendo que para tanto ele deverá utilizar, além dos seus conhecimentos prévios, os adquiridos nas duas aulas anteriores. 19
  • 20. Após a conceituação de diálogo entre textos semelhantes, eles serão convidados a enxergar este processo em dois poemas que tratam de temas divergentes, embora sejam do mesmo autor. Essa última atividade deve funcionar como uma espécie de pré-anúncio das aulas seguintes, pois os dois poemas são de autoria do Fernando Pessoa, o mesmo poeta que será trabalhado nas demais aulas. As aulas IV, V e VI, assim como as três precedentes, possuem um núcleo comum: apresentação da produção ortônima de Fernando Pessoa. A primeira consiste, inicialmente, na apresentação de dois pequenos vídeos, retirados do site Youtube, os quais apresentam um breve relato biográfico da vida de Fernando Pessoa, bem como do processo de heteronímia. Em seguida é sugerida a leitura de um texto retirado da Revista Cult, que tem também como tema central a biografia do autor e ainda acrescenta uma discussão acerca do processo de criação dos heterônimos, durante essa discussão faz-se necessário que o professor abra um espaço para que os alunos exponham suas dúvidas e impressões sobre o assunto. O objetivo é que se possam adquirir conhecimentos acerca da vida e obra deste poeta e, ao mesmo tempo, colocar os alunos em contato com outros gêneros discursivos: a biografia (apresentada por acadêmicos) e vídeos rápidos do Youtube, muito usuais atualmente. A Aula V visa a reunir os conhecimentos adquiridos ao longo das anteriores, de modo que o educando poderá colocar em prática e visualizar, por exemplo, intertextualidade dentro do próprio Fernando Pessoa. São apresentados, primeiramente, dois poemas do poeta: ―O menino da sua mãe‖ e ―Dobrada à moda do Porto‖. Inicialmente será feita uma leitura e na atividade 2 eles escutarão os mesmos textos acrescidos de melodia e interpretados na voz de dois artistas contemporâneos. Em seguida, a proposta de Atividade ―Pensar e Argumentar‖ reaparece, a fim de criar discussões que objetivam uma compreensão temática como temas transversais e, ao mesmo tempo, retomar as que foram realizadas em aulas anteriores. A sexta aula é considerada como ponto ápice deste ―núcleo‖, pois tratará de um assunto muito importante para a compreensão de Pessoa, pelo menos no que diz respeito à construção da obra ―Mensagem‖, o povo português e sua relação com o Mar. 20
  • 21. Os alunos serão convidados à leitura de dois textos que discutem esta temática, ambos circulantes na sociedade. Neste momento, enquanto ocorre a leitura, o professor poderá mediar a discussão acrescendo, mesmo que de forma suscinta, um pouco da história épica dos portugueses. Na Atividade 2 eles lerão o poema ―Mar Portuguez‖ de Fernando Pessoa e trechos específicos de ―Os Lusíadas‖,a fim de que possam entender a obra paralela de Fernando Pessoa em relação a Camôes. Após, escutarão a música ―O Rei do Mar‖, de Djavan. O professor deverá estimulá-los a intertextualizar os três textos por meio das questões que lhes são apresentadas. O objetivo é que eles consigam percebe o foco temático e, ao mesmo tempo, atentar-se ao possível diálogo com a música. A última atividade consiste numa proposta de redação, na qual pedimos para que os alunos produzam um pequeno texto, explorando uma temática mais próxima à realidade atual: a conquista humana do espaço e sua possível comparação com as conquistas marítimas. O fim da aula dá-se com uma sugestão de leitura, o aluno também encontrará outras sugestões como esta no decorrer da seqüência. O alvo é despertar a curiosidade do aluno em relação ao assunto e ampliar o seu conhecimento, fazendo com que eles possam continuar mantendo contato com literatura fora do âmbito do escolar. As aulas VII, VIII e IX são reservadas para apreciação e fruição da obra dos heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Esperamos que eles adquiriram conhecimento da biografia pessoal de cada um e, também, possam ter um contato direto com suas obras, fazendo relações diretas com as intertextualidades propostas. Iniciamos por Álvaro de Campos, a primeira atividade consiste na leitura de excertos da cartas de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, apenas a parte em que se tem a descrição do heterônimo em questão. Após essa leitura inicial, apresentamos uma breve tabela que descreve algumas características particulares da escrita de Álvaro de Campos, neste momento não há necessidade de se prender a explicações longas e tradicionais. Espera-se que o professor acompanhe a leitura junto com o aluno e enquanto isto ocorre, interfira ressaltando alguns pontos específicos sem, ainda, mostar o poema. 21
  • 22. Pede-se que seja feita essa leitura colaborativa porque nesta aula será utilizado apenas um poema, o qual, por ser extenso, norteará toda as demais ações. O processo da atividade ocorrerá de modo diferente, pois os alunos acompanharão a leitura de ―Cruzou por mim‖ musicado e interpretado na voz de Jô Soares. Em seguida haverá uma ―Roda de Conversa‖, a fim de que sejam discutidas questões temáticas que estão intimamente ligadas ao texto, sabendo que uma leitura coletiva é um método eficaz na construção do conhecimento. A aula seguinte, destinada a Ricardo Reis, terá o mesmo início da anterior, apresentaremos a biografia do referido heterônimo e leremos um pequeno resumo das temáticas que ele costuma utilizar em suas obras. Como os poemas dele estão diretamente ligados às odes, achamos por bem conceituá-la, apresentando uma breve definição de uma enciclopédia. Após ter o conhecimento de Ode, os educandos serão solicitados a escutar o poema ―Segue o Teu Destino‖, interpretada na voz de Nana Caymmi. O objetivo é que eles possam perceber a proximidade da ode com a música. Recorrendo à temática e aproveitando a questão da intertextualidade, selecionamos um quadro Renascentista de Andrea Mantegna e pedimos para que eles, partindo de conhecimento adquiridos de seu contato com a literatura, liguem algumas características Neoclássicas, tema recorrente em Ricardo Reis, a estrofes de ―Segue o Teu Destino‖. A aula IX foi dedicada ao ―mestre‖, Alberto Caeiro. A atividade 1 propõe a leitura de dois poemas, o Fragmento V de ―O Guardador de Rebanhos‖ e ―Liberdade‖, ambos também acompanhados pela voz de Jô Soares. Espera-se que esses acompanhamentos criem uma proximidade com os alunos, já que o intérprete assume um sotaque português e incorpora ao poema, para além dos efeitos criados pela melodia, uma outra roupagem. A atividade 2 solicita aos alunos a discussão em grupo de dois fragmentos dos poemas já lidos. Embora sejam de ―autores diferentes‖, Fernando Pessoa e Alberto Caeiro, esperamos com esta discussão criar condições para que os alunos percebam a intertextualidade temática existente entre os dois poemas. As características formais e literárias do autor, são dadas por meio de uma atividade, na qual os alunos devem identificá-las por meio de leitura e reflexão no Fragmento V de ―O Guardador de Rebanhos‖. A biografia do autor é apresentada 22
  • 23. por último, pois como afirma o próprio Pessoa, este heterônimo era considerado o mestre, portanto a fruição da leitura de sua obra é muito mais prazerosa do que o conhecimento biográfico em si. A última aula é dedicada inteiramente às apresentações programadas pelos alunos, porém fez-se necessária a apresentação de significado da palavra Sarau, pois sabemos que esse não é um evento usual nas escolas de hoje e que muitos dos alunos participantes podem nunca ter se envolvido em um projeto como esse, por isso também sugerimos o que pode ser feito e o alvo não é limitar, mas enriquecer as idéias. Cada grupo terá sete minutos para se apresentar. Não podemos esquecer também que durante todas as aulas o professor deve lembrar, empolgar, motivar e alertar os alunos para esse grande evento da última aula. O objetivo é fazer com que todo o conhecimento produzido durante as dez aulas seja compartilhado com os demais colegas da escola. Não há necessidade de ser um mega evento, dado que o tempo não permite, as apresentações podem ser simples, sem deixar de conter, é claro, qualidade e conteúdo. O tema central do sarau deve ser pautado em Fernando Pessoa e heterônimos estudados. Após essa Seqüência, espera-se que os educandos envolvidos neste projeto possam estar aptos a compreender o gênero poesia e canção, sem esquecer dos possíveis diálogos que podem existir em qualquer texto e que estes, por sua vez, ajudam a compreender e, ao mesmo tempo, enriquecer qualquer construção de conhecimento, em especial o literário. 23
  • 24. CONSIDERAÇÕES FINAIS A preocupação com a maneira que a Literatura tem sido abordada no âmbito educacional fez com que esse projeto fosse pensado e desenvolvido. Partindo das reflexões citadas anteriormente, pudemos concluir que esta proposta contribui para a formação de alunos do Ensino Médio, no que se refere à aquisição de habilidades necessárias para o desenvolvimento crítico de um cidadão. Todo o trabalho em si engloba uma série de elementos que auxiliam no aprendizado contextualizado e, ao mesmo tempo, consonante com as Orientações Curriculares Nacionais. Foram confrontados textos contemporâneos com literários, a fim de que se pudesse despertar o interesse do aluno, por meio de uma aproximação, a textos considerados inacessíveis e de difícil leitura. Os conceitos de fundamentação da Seqüência Didática surgiram a partir da análise e reflexão de idéias de grandes teóricos que compreendem a literatura através de uma visão dialógica, a qual nos instigou a transpô-la para um ambiente 24
  • 25. extra-escolar, deixando de lado os métodos usuais que historicamente têm se preocupado com o sentido tradicional do ensino: Ao ler este texto, muitos educadores poderão perguntar onde está a literatura, a gramática, a produção do texto escrito, as normas. Os conteúdos tradicionais foram incorporados por uma perspectiva maior, que é a linguagem, entendida como espaço dialógico, em que os locutores se comunicam. (PCN, 2002, p. 144). As atividades propostas foram idealizadas para que o aluno pudesse assumir uma posição ativa durante o processo de ensino-aprendizagem, criando condições para que ele, desta forma, adotasse uma postura participativa e autônoma, refletindo as atitudes que a sociedade espera de um cidadão atuante. Entendemos que as dificuldades implícitas a qualquer educador que vê o ensino de uma forma sócio-interacional são inúmeras, a primeira delas é pensar que sua aplicação demanda tempo, preparo, experimentações e condições mínimas para um bom desenvolvimento das atividades. O professor que se deparar com a presente Seqüência Didática, com certeza, terá que transpor muitos obstáculos, pois, como já é sabido de todos, não existe manual que os impulsionem rumo ao êxito profissional. É preciso pensar que todas as experimentações estão suscetíveis a sucessos e fracassos, mas o que de fato deverá nortear o seu trabalho é a reflexão que deve ser feita após cada tentativa, seja o seu resultado esperado ou não. Além de pensar naquele que futuramente poderá fazer uso deste projeto, podemos refletir na condição em que se encontram os autores deste trabalho: professores em formação. Muito se fala sobre a deficiência na formação de profissionais da educação, contudo podemos entender que esse pré-preparo auxilia em nossa atuação, de modo que no futuro, ao nos depararmos com situação parecida, não nos sentiremos desambientados e estaremos, também, bem fundamentados, principalmente no que diz respeito às propostas correntes, oriundas de estudos científicos, os quais, a todo momento, têm buscado um caminho mais acertado para o cumprimento desse papel tão importante. Esperamos que essa Seqüência Didática seja uma ferramenta eficaz no trabalho docente e que possa cumprir de maneira satisfatória os objetivos propostos, 25
  • 26. de modo que possíveis alterações ou sugestões possam enriquecer e aprimorar nossas expectativas, visando sempre à obtenção de resultados que privilegiem a reflexão e a atuação na práxis do professor de Literatura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A MÚSICA em Pessoa. Rio de Janeiro: Biscoito Fino Ltda, 2005. 1. disco compacto: digital, stereo. AS QUATRO Estações. São Paulo: Corações Perfeitos Edições Musicais Ltda – EMI, 2004. 1. disco compacto: digital, stereo. CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. 1. ed. Portugal: Europa-América, 2002 CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos para amar o amor. 1. ed. Porto Alegre: L&PM, 2007. 26
  • 27. CEREJA, William Roberto. Ensino de Literatura: Uma proposta dialógica para o trabalho com literatura. 1. ed. São Paulo: Atual, 2005. CESANA, Nathalia. As diferentes pessoas em Pessoa. Revista Cult: Especial Biografias, São Paulo, v. 3, p. 6 e 7. 2007. COUTINHO, Afrânio. O eu profundo e os outros eus. 1. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. D´ONOFRIO, Salvatore. Pequena enciclopédia da cultura ocidental. 1. Ed. São Paulo: Campus, 2005 FALCÃO, Fernanda Scopel. O poema e a canção: Uma aproximação intergêneros. Disponível em http://www.ufes.br/~mlb/multiteorias/pdf/FernandaScope%20FalcaoOPemaEACanca o.pdf. Acesso em 02/07/2008. YAMPOLSCHI, Roseane. Intertextualidade e estetismo na música pós-moderna. Disponível em http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2006/CDROM/COM/04_ Com_Musicologia/sessao05/04COM_MusHist_0503-. Acesso em 02/07/08. GREGORIM, Clovis Osvaldo. Michaelis língua portuguesa: Novo dicionário escolar. 1. ed. São Paulo: Melhoramentos, 2008. KIERKEGAARD, Soren. O conceito de angústia. 1. ed. São Paulo: Hemus, 2007. LETRA E MÚSICA. Marc Lwarence. Estados Unidos: Warner, 1996. 1 DVD. PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. REMIX em Pessoa. São Paulo: Performance Music – Sony DADC Brasil, 2007. 1. disco compacto: digital, stereo. 27
  • 28. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Linguagens, códigos e suas tecnologias. 1. ed. Brasília: Ministério da Educação, 2006. <http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_de_Campos. Acesso em 01/09/2008> <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Reis. Acessado em 01/09/2008> <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Caeiro. Acessado em 01/09/2008> <http://www.teiaportuguesa.com/lusografo/saudade.htm> Acesso em 01/09/2008> <http://www.teiaportuguesa.com/lusografo/saudade.htm - Acesso em 01/09/2008> 28
  • 30. SEQÜÊNCIA FERNANDO PESSOA E HETERÔNIMOS: UMA DIDÁTICA PROPOSTA INTERTEXTUAL PARA O ENSINO MÉDIO
  • 31. SEQÜÊNCIA DIDÁTICA APRESENTAÇÃO Caro aluno, Esta seqüência de aulas foi criada especialmente para que você, aluno do Ensino Médio, possa conhecer melhor a obra de um grande escritor modernista da Língua Portuguesa, Fernando Pessoa e seus heterônimos. Por meio destas aulas você poderá se aprofundar em conhecimentos literários, referentes à complexidade e à apreciação do gênero poesia, além de ser uma ferramenta de aprendizagem que visa a uma futura participação em vestibulares e, principalmente, a fruição literária. Estas aulas serão proveitosas para você que não dispensa um trabalho diferente com a turma, que gosta de aprender, realizar projetos, ler, criticar, argumentar, debater e escrever. Esperamos que desta forma você possa aprimorar sua capacidade de interagir com as pessoas e com o mundo em que vive e, ao mesmo tempo, adquirir a habilidade de viajar pela palavra através da poesia. Ao final desta seqüência, desejamos que você, juntamente com seus colegas, elabore uma apresentação para o sarau que se realizará na última aula. Aproveite todos os conhecimentos construídos durante os dias que estudaremos este autor para colocar sua criatividade em prática. Bons estudos, Os autores. 2
  • 32. AULA I: O QUE É POESIA? Objetivo: Nesta aula, o objetivo é que você possa adquirir conhecimentos específicos acerca do gênero poesia, suas principais características e complexidade de conceituação. Atividade 1: Converse com seus colegas de turma e dividam-se em sete grupos. Lembre-se que este será o mesmo grupo utilizado para o sarau; a seguir leiam os dois poemas: ISTO O EU E O INFINITO Dizem que finjo ou minto O eu é a síntese consciente de infinito Tudo que escrevo. Não. E de finito em relação com ela própria; Eu simplesmente sinto Mas tornar-se si próprio é tornar-se concreto, Com a imaginação. coisa irrealizável no finito ou infinito. Não uso o coração. A evolução consiste em afastar-se de si próprio, numa infinitização. O eu que não se torna Tudo o que sonho ou passo O que me falha ou finda, ele próprio permanece desesperado; É como que um terraço o eu está em evolução a cada instante Sobre outra coisa ainda. da sua existência, e não sabe o que Essa coisa é que é linda. será Por isso escrevo em meio (KIERKEGAARD, Soren. O conceito de angústia. Do que não está ao pé, São Paulo: Hemus, 2007.) Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê! (PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930.São Paulo: Companhia das Letras, 2007.) Atividade 2: Agora que você já leu, discuta com seus colegas as questões que se seguem:  Em sua opinião, o que faz estes textos serem considerados poesia? 3
  • 33.  Aponte neles algumas características em comum.  O que de mais importante caracteriza uma poesia, a forma ou o conteúdo?  Um destes dois textos não é um poema. Trata-se de um texto em prosa falsamente versificado, a fim de exemplificar a complexidade de conceituação de poesia. Você arriscaria apontar qual destes dois textos não é um poema? Justifique sua opinião. AULA II: LETRA E MÚSICA Objetivo: O objetivo da segunda aula é ampliar a discussão da aula anterior e acrescentar conhecimentos acerca do gênero canção, apontando suas afinidades com a poesia. Atividade 1: A seguir haverá exibição de fragmentos do filme ―Letra e música‖, objetivando a conceituação de letra e melodia, bem como suas semelhanças com a poesia. Antes de assistir, conheça mais sobre o filme: Sinopse: Alex Fletcher (Hugh Grant) é um decadente astro da música pop, que fez muito sucesso na década de 80, mas que agora apenas se apresenta no circuito nostálgico de feiras e parques de diversão. A chance de mais uma vez fazer sucesso bate à sua porta quando Cora Corman (Haley Bennet), a atual diva do pop, o convida para compor uma canção e gravá-la com ela, em dueto. O problema é que Alex há anos não compõe uma canção sequer, além de jamais ter escrito uma letra de música. Sua salvação é Sophie Fisher (Drew Barrymore), a encarregada de cuidar das plantas de Alex, cujo jeito com as palavras serve de inspiração para Alex. Inicialmente reticente em trabalhar com Alex devido ao término conturbado de um relacionamento e à fobia dele a compromisso, Sophie termina por aceitar a parceria. A partir dos comentários do professor em relação ao filme, reflita sobre as questões abaixo:  Em sua opinião, dentro de uma canção qual a função da letra e da melodia?  No trovadorismo, as poesias eram escritas para serem acompanhadas por instrumentos musicais. Você acredita que as músicas contemporâneas são uma ramificação deste período? Por quê? 4
  • 34.  Você conhece poesias que foram utilizadas como letras de música? Exemplifique. AULA III: A CONVERSA ENTRE OS TEXTOS Objetivo: A construção da terceira aula objetiva favorecer identificação de diálogos existentes entre textos e oferecer-lhe a oportunidade de ouvir e expor argumentos relacionados ao tema em questão. Atividade 1: Organize-se com seus com os componentes de seu grupo e leia o poema a seguir: AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER Amor é fogo que arde sem se ver, É querer estar preso por vontade; é ferida que dói, e não se sente; é servir a quem vence o vencedor; é um contentamento descontente, é ter com quem nos mata, lealdade. é dor que desatina sem doer. Mas como causar pode seu favor É um não querer mais que bem querer; nos corações humanos amizade, é um andar solitário entre a gente; se tão contrário a si é o mesmo Amor? é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. (CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos para amar o amor. São Paulo: L&PM, 2007) 5
  • 35. Atividade 2: Agora ouça e acompanhe a letra da música que será reproduzida: MONTE CASTELO É um não contentar-se De contente Ainda que eu falasse É cuidar que se ganha A língua dos homens Em se perder... E falasse a língua dos anjos Sem amor, eu nada seria... É um estar-se preso Por vontade É só o amor, é só o amor É servir a quem vence Que conhece o que é verdade O vencedor O amor é bom, não quer o mal É um ter com quem nos mata Não sente inveja A lealdade Ou se envaidece... Tão contrário a si É o mesmo amor... O amor é o fogo Que arde sem se ver Estou acordado É ferida que dói E todos dormem, todos dormem E não se sente Todos dormem É um contentamento Agora vejo em parte Descontente Mas então veremos face a face É dor que desatina sem doer... É só o amor, é só o amor Que conhece o que é verdade... Ainda que eu falasse A língua dos homens Ainda que eu falasse E falasse a língua dos anjos A língua dos homens Sem amor, eu nada seria... E falasse a língua dos anjos Sem amor, eu nada seria... É um não querer Mais que bem querer (Renato Russo. Adaptação de “I Coríntios 13” e É solitário andar “Soneto 11” de Luís Vas de Camões. Corações Por entre a gente Perfeitos Edições Musicais Ltda – EMI). 6
  • 36. Atividade 3: Agora que você leu o poema e ouviu a música, posicione-se em relação às seguintes questões:  O que existe em comum entre o poema de Camões e a letra da música interpretada do grupo Legião urbana?  Os textos discutem um mesmo tema. Qual é esse tema? Os autores expõem divergências ou concordâncias em relação a ele?  Destaque os fragmentos da poesia que foram utilizados na música.  Considerando os fragmentos em comum, podemos afirmar que há diálogo entre os textos. Aponte de que forma ele ocorre e comente as impressões do seu grupo com o restante da turma: a) Reprodução fiel do poema; b) Abordagem do mesmo assunto, valendo-se de uma opinião divergente; c) Reprodução criativa, valendo-se de excertos da poesia, a partir de outras perspectivas. Atividade 4: Baseando-se em noções adquiridas na atividade anterior, você pôde perceber que os textos travam diálogos, os quais recebem uma definição de intertextualidade. Trabalhar a intertextualidade consiste em identificar semelhanças e diferenças no registro e nos aspectos temáticos, estruturais e discursivos. Partindo da afirmação de que os textos também podem travar diálogos divergentes, leia os seguintes poemas e identifique exemplos: 7
  • 37. ISTO AUTOPSICOGRAFIA Dizem que finjo ou minto O poeta é um fingidor. Tudo que escrevo. Não. Finge tão completamente Eu simplesmente sinto Que chega a fingir que é dor Com a imaginação. A dor que deveras sente. Não uso o coração. E os que lêem o que escreve, Tudo o que sonho ou passo, Na dor lida sentem bem, O que me falha ou finda, Não as duas que ele teve, É como que um terraço Mas só as que eles não têm. Sobre outra coisa ainda. Essa coisa que é linda. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Por isso escrevo em meio Esse comboio de corda Do que não está ao pé, Que se chama coração Livre do meu enleio, Sério do que não é. (COUTINHO, Afrânio. O eu profundo e os Sentir? Sinta quem lê! outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006). AULA IV: VIDA E OBRA DE FERNANDO PESSOA Objetivo: Esperamos que nesta aula você possa adquirir conhecimentos sobre a vida e obra de Fernando Pessoa, bem como seus heterônimos. Atividade 1: Acompanhe os vídeos ―Fernando Pessoa‖ e ―Fernando Pessoa Vida e Obra‖. Atividade 2: Após assistir aos vídeos, amplie seus conhecimentos sobre o referido poeta, através da literatura cuidadosa do seguinte texto: 8
  • 38. Fernando Pessoa - o poeta da inquietude e do desassossego A literatura pode ser um meio de vida. Para Fernando Pessoa, a vida foi um meio para a literatura se revelar, uma demonstração daquilo que outro poeta, o mexicano Octavio Paz, Prêmio Nobel de Literatura de 1990, definia como aspectos biográficos no métier da poesia: ―Os poetas não têm biografia; sua biografia é-lhes a obra... Nada há de surpreendente em sua vida, nada, a não serem os poemas...‖. Uma biografia de Pessoa pode ser uma impossibilidade, mas também a prova de que uma vida é repleta de surpresas quando engajada de maneira incondicional á criação literária. Segundo Marcos Siscar, poeta, tradutor e professor de Teoria da literatura da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em São Jose do Rio Preto, ―para que os heterônimos sejam o que são, isto é, diferentes de ‗pseudônimos‘, é preciso imaginar que eles não sejam apenas estratégia de uma consciência lírica central, mas uma maneira de dramatizar (de dar a sentir) a dispersão constitutiva daquilo que chamamos consciência. Ou seja, não se trata, por um lado, de ver os heterônimos apenas como parte do plano autoral de um poeta central chamado Fernando Pessoa, nem, por outro lado, de passar a tratar esses heterônimos como autores contemporâneos do modernismo português. A heteronímia deveria ser concebida como um teatro, nesse caso cheio de notações de cena, mas sem diretor‖. Leyla Perrone-Moisés, no livro Fernando Pessoa-Aquém do eu, além do outro, diz que ―o fenômeno da heteronímia não é decorrência uma riqueza, mas de uma falta. Os heterônimos não são frutos de uma rica imaginação tão somente artística, ou a prova da versatilidade do poeta, mas o cobrimento de uma falha. Falta de ser e excesso de desejo faz implodir o sujeito que, ao tentar reunir diversos ―eus‖ postiços num conjunto, precipita-se, pelo contrário, na experiência da dispersão sem volta‖. (Nathalia Cesana, Revista Cult-, volume 3: O poeta da inquietude e do desassossego) 9
  • 39. Aula V: Intertextualidade em Pessoa Objetivo: A quinta aula visa à reflexão sobre o conteúdo da aula anterior e a possibilidade de intertextualizar as poesias de Fernando Pessoa e declamações adaptadas com melodias por artistas contemporâneos. Atividade 1: Em grupo, leia os seguintes poemas de Fernando Pessoa: O MENINO DE SUA MÃE No plaino abandonado Caiu-lhe da algibeira Que a morna brisa aquece, A cigarreira breve. De balas trespassado Dera-lhe a mãe. Está inteira – Duas, de lado a lado –, E boa a cigarreira, Jaz morto, e arrefece. Ele é que já não serve. Raia-lhe a farda o sangue. De outra algibeira, alada De braços estendidos, Ponta a roçar o solo, Alvo, louro, exangue, A brancura embainhada Fita com olhar langue De um lenço... Deu-lho a criada E cego os céus perdidos. Velha que o trouxe ao colo. Tão jovem! que jovem era! Lá longe, em casa, há a prece: (Agora que idade tem?) ―Que volte cedo, e bem!‖ Filho único, a mãe lhe dera (Malhas que o Império tece!) Um nome e o mantivera: Jaz morto, e apodrece, ―O menino da sua mãe‖. O menino da sua mãe. (PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930.São Paulo: Companhia das Letras, 2007.) 10
  • 40. DOBRADA À MODA DO PORTO Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo, Serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionário da cozinha Que a preferia quente, Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria. Impacientaram-se comigo. Nunca se pode ter razão, nem num restaurante. Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta, E vim passear para toda a rua. Quem sabe o que isto quer dizer? Eu não sei, e foi comigo ... (Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim, Particular ou público, ou do vizinho. Sei muito bem que brincarmos era o dono dele. E que a tristeza é de hoje). Sei isso muitas vezes, Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram Dobrada à moda do Porto fria? Não é prato que se possa comer frio, Mas trouxeram-mo frio. Não me queixei, mas estava frio, Nunca se pode comer frio, mas veio frio. (PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930.São Paulo: Companhia das Letras, 2007.) Atividade 2: Ouça agora os mesmos poemas interpretados na voz de Jô Soares e Marília Pêra, acrescidos de melodia. Atividade 3: Após a leitura e escuta dos poemas, discuta com os colegas de grupo sobre o conteúdo dos textos, atentando para o que se segue: 11
  • 41.  Lembrando das aulas 1, 2 e 3, nas quais conceituamos poesia, música e intertextualidade, podemos afirmar que houve diálogo entre o que lemos e escutamos?  Que efeito a melodia e a voz dos artistas contemporâneos acrescentam à compreensão dos poemas?  Embora exista uma distância entre o tempo de produção da obra de Fernando Pessoa e a adaptação feita pelos artistas, o diálogo pode ser considerado como uma forma de atualização temática ou apenas uma recriação criativa?  De que forma podemos relacionar o amor que foi servido frio em ―Dobrada à moda do Porto‖ com a triste estória do poema ―O menino de sua mãe‖?  Em relação ao poema ―O menino de sua mãe‖, está correto afirmar que a miséria e a falta de horizontes a que estão sendo submetidos os jovens são a causa da violência que impera em nossa sociedade? Atividade 4: Organizem-se em círculo para iniciar uma roda de conversa referente às questões anteriores; em seguida escolham um representante do grupo para compartilhar as discussões realizadas com o restante da classe, você pode acrescentar outras informações e conhecimentos que possui acerca do assunto, evitando manter-se restrito ao conteúdo dos textos. Aula VI – O povo português e o mar Objetivo: A proposta é fazer com que você adquira conhecimentos sobre a importância da figura do mar para o povo português e, conseqüentemente, relacioná-la com as obras literárias de Camões e Fernando Pessoa, ou seja, Os Lusíadas e Mensagem. 12
  • 42. Atividade 1: Leia os textos abaixo : A saudade que sentem os portugueses pode eventualmente ser explicada geograficamente. Com efeito, Portugal é um país pequeno cercado pelo mar, quase como uma ilha, que predispõe os seus habitantes a deixarem o continente. Não é por isso, supreendente a vontade que os portugueses têm em se virarem para o mundo, lançando-se ao mar. Os portugueses não gostam de limites e, por isso, evitam-nos. Os portugueses gostam de desafios; ficam tristes quando falham, mas ficariam ainda mais tristes se não tivessem tentado. As descobertas portugueses situam-se, algures, no passado porque as colónias já o foram. De todo o lado onde os portugueses chegaram, deixam e trazem lembranças da sua passagem. Da arquitectura à língua, de Marrocos à China, passando pela Índia, Japão e Timor. A saudade que sentem os portugueses pode eventualmente ser explicada geograficamente. Com efeito, Portugal é um país pequeno cercado pelo mar, quase como uma ilha, que predispõe os seus habitantes a deixarem o continente. Não é por isso, supreendente a vontade que os portugueses têm em se virarem para o mundo, lançando-se ao mar. Os portugueses não gostam de limites e, por isso, evitam-nos. Os portugueses gostam de desafios; ficam tristes quando falham, mas ficariam ainda mais tristes se não tivessem tentado. As descobertas portugueses situam-se, algures, no passado porque as colónias já o foram. De todo o lado onde os portugueses chegaram, deixam e trazem lembranças da sua passagem. Da arquitectura à língua, de Marrocos à China, passando pela Índia, Japão e Timor. (Adaptado de http://www.teiaportuguesa.com/lusografo/saudade.htm - Acessado em 01/09/2008) ―... Um exemplo disso é a relação de admiração e competição que Pessoa mantém com Luís de Camões, autor de Os Lusíadas, ‗Ao escrever Mensagem 13
  • 43. Pessoa procura corrigir os erros de visão do épico camoniano quanto ao destino português. Corrige, também a inadequação formal do poema épico, uma vez que, segundo ele, os poemas longos já não são possíveis hoje em dia, quando a aceleração da vida exige uma forma concentrada, mas ricamente alusiva e significativa de expressão poética. É a tentativa de reescrever Os Lusíadas do século XX‘, conta Yara.‖ (Nathalia Cesana, Revista Cult-, volume 3: O poeta da inquietude e do desassossego). Atividade 2: Agora que você aprendeu sobre a relação do povo português com o mar e sobre a obra Mensagem de Fernando Pessoa, reúna-se com o seu grupo e leia os poemas ―Mar Portuguez‖, Fernando Pessoa e alguns trechos de Os Lusíadas. Após a leitura, identifique intertextualidade com a música de Djavan: ―O Rei do Mar‖. Levando em consideração as seguintes questões:  Os autores abordam o assunto do mar partindo de uma mesma perspectiva? Explique.  Por que podemos afirmar que há intertextualidade entre a música e os poemas?  Destaque alguns versos dos poemas e da música em que fique explícita a exaltação do povo português em relação à dominação do mar. MAR PORTUGUEZ Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abysmo deu, Mas nelle é que espelhou o céu. 14
  • 44. (COUTINHO, Afrânio. O eu profundo e os outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006). TRECHOS DE ―OS LUSÍADAS‖ – CANTO IV 62 "Pelo mar alto Sículo navegam; Vão-se às praias de Rodes arenosas; E dali às ribeiras altas chegam, Que com morte de Magno são famosas; Vão a Mênfis e às terras, que se regam Das enchentes Nilóticas undosas; Sobem à Etiópia, sobre Egito, Que de Cristo lá guarda o santo rito. 63 "Passam também as ondas Eritreias, Que o povo de Israel sem nau passou; Ficam-lhe atrás as serras Nabateias, Que o filho de Ismael co'o nome ornou. As costas odoríferas Sabeias, Que a mãe do belo Adónis tanto honrou, Cercam, com toda a Arábia descoberta Feliz , deixando a Pétrea e a Deserta. 90 "Qual vai dizendo: —" Ó filho, a quem eu tinha Só para refrigério, e doce amparo Desta cansada já velhice minha, Que em choro acabará, penoso e amaro, Por que me deixas, mísera e mesquinha? Por que de mim te vás, ó filho caro, A fazer o funéreo enterramento, Onde sejas de peixes mantimento!" — 91 15
  • 45. "Qual em cabelo: —"Ó doce e amado esposo, Sem quem não quis Amor que viver possa, Por que is aventurar ao mar iroso Essa vida que é minha, e não é vossa? Como por um caminho duvidoso Vos esquece a afeição tão doce nossa? Nosso amor, nosso vão contentamento Quereis que com as velas leve o vento?" — (CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Portugal: Europa-América, 2002). O REI DO MAR Vou me perder O brilho dos faróis No azul verde do mar Que me importa Junto da manhã O fundo, a calmaria e o temporal Em busca da vida Eu sou o rei Vou remover Eu sou o rei Lendas, tormentas, paixão Eu sou o rei Livre a navegar do mar Em busca da vida Da minha cidade natal Que me importa (Djavan. 1975 BMG Music Publishing Brasil A brisa fria Ltda). Atividade 3: Agora , individualmente, redija um pequeno texto expondo sua opinião acerca do seguinte comentário: Em sua ânsia de exploração e conquista, o homem olha sempre para frente e para longe; está sempre em busca de uma nova aventura e descoberta. Atualmente o homem tem realizado conquistas de planetas distantes como a Lua e Marte. Em sua opinião,os motivos que levaram o ser humano a empreender a conquista espacial são os mesmos que levaram o povo português às conquistas marítimas? 16
  • 46. Sugestão de Leitura: Poema - O homem; as viagens, de Carlos Drummond de Andrade. AULA VII – ÁLVARO DE CAMPOS, O POETA DA PROSA RITMADA E EMOTIVA. Objetivo: O objetivo é que você possa aprofundar conhecimentos sobre a vida e obra de Álvaro de Campos e identificar seu estilo poético, bem como a escolha de suas temáticas. Atividade 1: Conheça um pouco mais sobre a vida e obra de Álvaro de Campos: (Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita em Lisboa). 17
  • 47. Fases da Escrita: 1ª Fase – Decadentista Esta fase expressa-se como a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia, com preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo. 2ª Fase – Futurista/Sensacionista Esta fase foi bastante marcada pela influência de Walt Whitman e de Marinetti (Manifesto Futurista), nela, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. 3ª Fase – Intimista/Pessimista Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença em relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade, a oposição sonho/realidade – frustração. a dissolução do “eu”, a dor de pensar e o conflito entre a realidade e o poeta. (Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_de_Campos. Acessado em 01/09/2008) 18
  • 48. Atividade 2: Ouça o poema ―Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da baixa‖, musicado na voz de Jô Soares: Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara, Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele; E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha (Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro: Não sou parvo nem romancista russo, aplicado, E romantismo, sim, mas devagar...). Sinto uma simpatia por essa gente toda, Sobretudo quando não merece simpatia. Sim, eu sou também vadio e pedinte, E sou-o também por minha culpa. Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte: E' estar ao lado da escala social, E' não ser adaptável às normas da vida, 'As normas reais ou sentimentais da vida - Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta, Não ser pobre a valer, operário explorado, Não ser doente de uma doença incurável, Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria, Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas, E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor. Não: tudo menos ter razão! Tudo menos importar-se com a humanidade! Tudo menos ceder ao humanitarismo! De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela? Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou, Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente: E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio, E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte. Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki. Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir. E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece. Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato, 19
  • 49. E estou-me rebolando numa grande caridade por mim. Coitado do Álvaro de Campos! Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações! Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia! Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos, Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita, Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco aquele pobre que não era pobre que tinha olhos tristes por profissão. Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa! Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo! E, sim, coitado dele! Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam, Que são pedintes e pedem, Porque a alma humana é um abismo. Eu é que sei. Coitado dele! Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma! Mas até nem parvo sou! Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais. Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido. Não me queiram converter a convicção: sou lúcido! Já disse: sou lúcido. Nada de estéticas com coração: sou lúcido. Merda! Sou lúcido. (Jô Soares - Voz. Billy Forghieri – Arranjo. Remix em Pessoa: Performance Music – Sony DADC Brasil.) Atividade 3: Organizem-se em círculo para iniciar uma roda de conversa e discutam inicialmente sobre as seguintes questões:  Baseando-se no texto lido na atividade 1, sabemos que Álvaro de Campos tinha como uma de suas características enfatizar a emotividade. Em que momentos de ―Cruzou por mim‖ podemos encontrar essa característica? 20
  • 50.  Em sua opinião, que sentimento o ―eu – lírico‖ tenta expressar no seguinte verso: ―Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!‖.  Em qual das três fases, citadas acima, se encaixa o poema ―Cruzou por mim‖?  Uma das características predominantes de Álvaro de Campos é a de prosador (narrador). Em ―Cruzou por mim‖, podemos fundamentar essa afirmação? Justifique sua resposta.  De acordo com o poema, qual opinião o ―eu – lírico‖ expressa sobre o que é ser ―vadio e pedinte‖? AULA VIII – RICARDO REIS, O POETA NEOCLÁSSICO. Objetivo: Possibilitar oportunidade para que você, aluno, construa conhecimentos sobre a vida e obra de Ricardo Reis, bem como bem como a escolha de suas temáticas. Atividade 1: Leia os textos a seguir: 21
  • 51. (Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita em Lisboa, 13 de Janeiro de 1935). A poesia de Ricardo Reis é constituída com bases em idéias elevadas e odes, ou seja, na poesia de Reis é constante o Neoclassicismo. Para finalizar, podemos concluir que através da intemporalidade das suas preocupações, a angústia da brevidade da vida, a inevitável Morte e a interminável busca de estratégias de limitação do sofrimento que caracteriza a vida humana, Reis tenta iludir o sofrimento resultante da consciência aguda da precariedade da vida. Temáticas:  Aceita a calma da ordem das coisas;  Sofre com as ameaças do Fatum, da velhice e da Morte;  Vê o rio como uma imagem da vida que passa – efemeridade;  Considera a infância a idade ideal;  Defende o ideal de uma vida passiva e silenciosa;  Preconiza a carência das ideias dogmáticas e filosóficas como meio de manter-se puro e sossegado;  Opõe o paganismo e ao cristianismo; (Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Reis. Acessado em 01/09/2008) O que é Ode? Poema lírico de forma complexa e variável. Surgiu na Grécia Antiga, onde era cantado com acompanhamento musical. A ode caracteriza-se pelo tom elevado e sublime com que trata determinado assunto. As literaturas ocidentais modernas aproveitaram sobretudo, do ponto de vista da forma, a ode composta por três unidades estróficas, correspondentes, no desenvolvimento da idéia do poema, à estrofe, à antístrofe (cantada pelo coro, originalmente) e ao epodo (conclusão do poema). A ode comportava uma série de esquemas métricos e rítmicos, de acordo com os quais era classificada. 22
  • 52. (D´ONOFRIO, Salvatore. Pequena Enciclopédia da Cultura Ocidental. São Paulo: Campus, 2005). Atividade 2: Ouça o poema ―Segue o teu destino‖, de Ricardo Reis, musicado na voz de Nana Caymmi: SEGUE O TEU DESTINO Segue o teu destino Rega as tuas plantas Ama as tuas rosas O resto é a sombra De árvores alheias A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos Só nós somos sempre Iguais a nós próprios. Suave é viver só Grande e nobre é sempre Viver simplesmente Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses Vê de longe a vida Nunca a interrogues Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração Os deuses são deuses Porque não se pensam 23
  • 53. (Nana Caymmi – Voz: Dori Caymmi. A música em Pessoa. Biscoito Fino Ltda). Atividade 3: Observe o quadro abaixo atentando para o seguinte enunciado:  Você já estudou o Neoclassicismo, tanto o quadro como o poema têm características classicistas. Identifique-as, relacionando as duas obras. O Parnaso (séc. XV), de Andrea Mantegna, obra do Renascimento italiano. Atividade 4: Ligue as características (coluna 1) aos versos retirados do poema ―Segue o teu destino‖ (coluna 2). Segue o teu destino Rega as tuas plantas Defende o ideal de uma vida Ama as tuas rosas passiva e silenciosa O resto é a sombra De árvores alheias Suave é viver só Referência à mitologia grega Grande e nobre é sempre Viver simplesmente Vê de longe a vida Sofre com as ameaças do Nunca a interrogues Fatum, da velhice e da Morte Ela nada pode Dizer-te. Mas serenamente Bucolismo Imita o Olimpo No teu coração Os deuses são deuses Porque não se pensam 24
  • 54. Sugestão de Leitura: Romance – “O ano da morte de Ricardo Reis”, de José Saramago. Sinopse: Neste romance, o heterônimo mais clássico do poeta português Fernando Pessoa, o horaciano Ricardo Reis, acha-se novamente em Lisboa, depois de uma temporada no Brasil, onde se auto-exilara. O ano é o de 1936. Médico, educado pelos jesuítas e monarquistas, ele é um sábio capaz de se contentar em assistir ao espetáculo do mundo, como diz numa das epígrafes do livro. Aqui, porém, ele se vê confrontado com os acontecimentos de 1936, em Portugal e fora dele; de um lado, a ditadura fascista de Salazar; de outro, a gestação da Segunda Guerra Mundial, a Frente Popular francesa, a Guerra Civil espanhola, a expansão nazista na Europa. Um confronto, enfim, com um mundo que decerto não era um espetáculo. AULA IX – ALBERTO CAEIRO, O MESTRE. Objetivo: Possibilitar oportunidade para que você, aluno, construa conhecimentos sobre a vida e obra de Alberto Caeiro, bem como a escolha de suas temáticas. Atividade 1: Leia o seguinte trecho de ―O Guardador de Rebanhos‖, poema de Alberto Caeiro e ouça ―Liberdade‖, de Fernando Pessoa, musicado na voz de Jô Soares: FRAGMENTO V Há metafísica bastante em não pensar em nada. O que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso. Que idéia tenho eu das cousas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma 25
  • 55. E sobre a criação do Mundo? O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério! O único mistério é haver quem pense no mistério. […] Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? A de serem verdes e copadas e de terem ramos E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, A nós, que não sabemos dar por elas. Mas que melhor metafísica que a delas, Que é a de não saber para que vivem Nem saber que o não sabem? ―Constituição íntima das cousas‖… ―Sentido íntimo do Universo‖… Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. […] Pensar no sentido íntimo das cousas É acrescentado, como pensar na saúde Ou levar um copo à água das fontes. O único sentido íntimo das cousas É elas não terem sentido íntimo nenhum. (COUTINHO, Afrânio. O eu profundo e os outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006). LIBERDADE (Fernando Pessoa) Ai que prazer Não cumprir um dever. Ter um livro para ler E não o fazer! Ler é maçada, Estudar é nada. O sol doira sem literatura. O rio corre bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal Como tem tempo, não tem pressa… 26
  • 56. Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto melhor é quando há bruma. Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças… Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol que peca Só quando, em vez de criar, seca. E mais do que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças, Nem consta que tivesse biblioteca… (Jô Soares - Voz. Billy Forghieri – Arranjo. Remix em Pessoa: Performance Music – Sony DADC Brasil.) Atividade 2: A partir da leitura realizada na atividade anterior, discuta com os seus colegas de grupo o diálogo existentes entre esses dois fragmentos, retirados dos dois poemas acima: ―Há metafísica bastante em não pensar em nada.‖ (O Guardador de Rebanhos – Fragmentos V) ―Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma.‖ (Liberdade) Atividade 3: Observe as seguintes características da escrita de Alberto Caeiro e a partir dessas informações identifique-as dentro do Fragmento V de ―O Guardador de Rebanhos‖: 27
  • 57. Todo objeto é uma sensação nossa;  Toda a arte é a convenção de uma sensação em objeto;  Portanto, toda arte é a convenção de uma sensação numa outra sensação;  regressa a um primitivismo do conhecimento da natureza;  ensinou a filosofia do não filosofar;  linguagem espontânea, discursiva, e prosaica. (Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Caeiro. Acessado em 01/09/2008) (Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita em Lisboa, 13 de Janeiro de 1935). 28
  • 58. AULA X – SARAU. Objetivo: Agora, abriremos espaço para que você, juntamente com seu grupo, exponha todo o conhecimento adquirido sobre Fernando Pessoa de maneira criativa. O que é Sarau? sm (cast sarao) 1 Reunião festiva, em casa particular, em clube ou teatro, em que se passa a noite dançando, jogando, tocando etc. 2 Concerto musical de noite. 3 Reunião de pessoas amantes das letras, para recitação e audição de trabalhos em prosa ou verso. (Michaelis Língua Portuguesa – Novo Dicionário Escolar. São Paulo: Melhoramentos, 2008) Atividade 1: Agora que você compreendeu a concepção de um Sarau, organize-se com seus colegas de grupo e ponha a sua criatividade em prática. Utilize os conhecimentos adquiridos sobre Fernando Pessoa e heterônimos e realize uma apresentação de no máximo 7 minutos. Faça algo breve, mas que, ao mesmo tempo, consiga captar a essência desta Seqüência Didática. Pense na idéia de convidar outros colegas do ensino médio de sua escola, a fim de que se possa compartilhar o aprendizado. 29