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Tecnica de escovação FONES
1. Higiene bucal e motivação no controle do biofilme dental
Artigo de Revisão / Review Article
Ditterich, R.G., et al
Higiene bucal e motivação no controle do biofilme dental
Oral care habits and the role of motivation in mechanic control of
dental biofilm
Rafael Gomes Ditterich*, Priscila Paiva Portero*, Denise Stadler Wambier**, Gibson Luiz Pilatti***, Fábio André Dos Santos***
* Mestre em Odontologia (Clínica Integrada) - UEPG.
** Doutora em Odontopediatria - FO-USP Professora das disciplinas de Odontologia Preventiva e Sanitária e Odontopediatria - UEPG.
,
*** Doutor em Periodontia - UNESP-Araraquara, Professor da disciplina de Periodontia - UEPG
Descritores Resumo
Higiene bucal, motivação, saúde bucal. Os hábitos de higiene bucal realizados pelo paciente exercem importante influência sobre o acú-
mulo do biofilme dental nas estruturas bucais e no desenvolvimento da doença periodontal e cárie
dentária. Este trabalho de revisão de literatura tem por finalidade verificar as evidências científicas
sobre os hábitos de higiene bucal e o papel da motivação no controle mecânico do biofilme dental
realizado pelo paciente. Concluiu-se que o estabelecimento de hábitos de higiene bucal no controle
mecânico caseiro do biofilme dental deve ser uma prática estimulada sempre pelo cirurgião-dentista
frente ao seu paciente e que a motivação e aplicação de reforços devem ser encaradas como ferra-
mentas a serem utilizadas constantemente durante as consultas odontológicas como importantes
fatores na melhoria da qualidade da saúde bucal.
Key-words Abstract
Oral hygiene, motivation, oral health. Oral care habits carried on by the patient have an important influence on the accumulation of
the dental biofilm in the oral structures, as well as in the development of periodontal disease and
dental caries. The literature review intends to verify the scientific evidences about the oral care
habits and the role of motivation in mechanic control of the dental biofilm performed by the patient.
The conclusion was that the setting of oral care habits in home mechanic control of dental biofilm
123
must be faced as tools to be used constantly during the dental consultation as important factors in
improving the quality of oral health.
Correspondência para / Correspondence to:
Rafael Gomes Ditterich
Av. Silva Jardim, 1856 - apto. 2201- Rebouças - Curitiba – PR - CEP 80250-200 / E-mail: rafael.gomes@universia.com.br
INTRODUÇÃO
CONSIDERAÇÕES GERAIS
O biofilme dental apresenta-se como agente etiológico
extrínseco das doenças periodontais. Inúmeros estudos epide- Hábitos de higiene bucal
miológicos têm demonstrado associação entre higiene bucal O controle diário do biofilme é de grande importância
e biofime dental 1, 9, 16, 20, 29. para a manutenção das condições de saúde alcançadas com o
O controle mecânico caseiro é reconhecidamente o meio tratamento periodontal, evitando ou retardando a colonização
mais simples e com melhor custo/benefício para o paciente. do meio gengival por espécies bacterianas 24.
No entanto, a obtenção da colaboração do paciente para A escovação é a principal linha de frente de defesa contra
sua execução pode ser bastante trabalhosa devida não só à o biofilme dental e a gengivite, assim como, é a forma mais
dificuldade técnica e habilidade, mas também, à necessidade amplamente usada e socialmente aceita de higiene bucal. Mui-
de alterações de hábitos de higiene bucal já adquiridos pelo tas variáveis sociais, psicológicas e educacionais influenciam
paciente 16, 26, 32. Os procedimentos de controle mecânico, são o comportamento de higiene bucal. A maioria dos indivíduos
difíceis, exigem tempo, destreza, perseverança, e conseqüente- escova seus dentes regularmente, uma vez que higiene bucal
mente só se obtêm com a participação adequada de pacientes está associada com higiene pessoal e aparência 27, 29.
bem motivados 30. O uso freqüente da escova não é sinônimo de limpeza,
O cirurgião-dentista é o responsável pela manutenção nem evita por si só, a perda dental. Mais importante que a
da saúde bucal dos indivíduos de sua comunidade, devendo
transmitir conhecimento sobre prevenção, com a finalidade de
educação em saúde bucal. Portanto, para que se obtenha êxito
no controle e prevenção das doenças bucais, o profissional deve
trabalhar com os hábitos e comportamentos dos pacientes,
procurando modificá-los
freqüência é a qualidade da limpeza. Apesar disso, ainda se dá
ou aperfeiçoá-los, sempre visando à melhora do seu estado de muita ênfase às técnicas de escovação, e diferentes variações
saúde 13. Este trabalho de revisão de literatura objetiva verificar em torno da escova dental a ser utilizada 3. Entretanto, Esteves
Odontologia. Clín.-Científ., Recife, 6 (2): 123-128, abr/jun., 2007
os principais fatores relacionados aos hábitos de higiene bucal et al. 10 (2001) afirmam que antes de se pensar no tempo gasto
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e destacar a importância da motivação no controle mecânico com a escovação, outros fatores devem ser considerados como
o modo, a qualidade da limpeza e a quantidade do biofilme.
2. Higiene bucal e motivação no controle do biofilme dental
Ditterich, R.G., et al
Vilani et al. 34 (1998) realizaram um estudo comparativo Estudos sobre os hábitos de higiene bucal são muito
com 15 acadêmicos de odontologia com 5 diferentes tipos importantes para avaliação de como são utilizados e quais os
de escovas dentais e concluíram que todas as escovas foram costumes habituais na prática de higienização realizada pela
eficientes na remoção do biofilme dental, comprovando que população. Segundo Abegg 1 (1997) verificar os hábitos de
o tipo de escova não interfere no controle mecânico. Parizotto higiene bucal em populações tem como objetivo principal o
et al. 21 (2003) também verificaram a efetividade de 2 tipos de planejamento de programas educativos que visem a sua me-
escovas na remoção de biofilme dental em 32 crianças de 4-6 lhoria, com conseqüente redução do nível de placa bacteriana
anos e encontraram que o tipo de escova não foi significante e sangramento gengival.
na remoção da placa bacteriana. Entretanto, Cochran et al. Santos et al. 28 (1992) avaliaram os hábitos de higiene
5
(1996) reconhecem que as variações nas escovas dentais bucal em 550 crianças e adolescentes em São Paulo, verifican-
tenham um menor impacto direto sobre a remoção de placa e do que 60,65% dos estudantes tinham o hábito da escovar os
higidez tecidual, porém afirmam que o tipo de escova utilizada dentes 3 vezes por dia e que 64,5% não têm como o hábito à
pode influenciar na capacidade de controlar a escova e de utilização do fio dental como complementação da escovação.
adaptá-la ao interior da cavidade bucal. Também verificaram que 32,7% dos participantes não tinham
Lopes e Nascimento 18 (1993) verificaram a preferência, o recebido quaisquer orientações de como escovar os dentes
tipo e a substituição das escovas dentais em 102 indivíduos, e corretamente e que 47,5% não haviam recebido orientação
identificaram como fator principal da escolha da escova dental, de como utilizar o fio dental.
o preço. Também verificaram que o critério mais relatado para a Abegg 1 (1997) avaliou os hábitos bucais de 478 adultos e
substituição das escovas, seria no momento em que as cerdas constatou que o número de escovações diárias mais freqüentes
começassem a abrirem-se. Quanto à avaliação das escovas foi de 3 vezes ao dia e que a freqüência estava relacionada com
dentais, foi constatado que quase a totalidade da amostra já o nível sócio-econômico, onde uma condição sócio-econômica
necessitava de substituição, porém não foram trocadas devido baixa apresentava um menor hábito de escovações diárias.
a motivos financeiros, na população mais carente ou, por ne- Quanto ao uso do fio dental, 67,5% dos entrevistados relata-
gligência na população com melhor poder aquisitivo. Segundo ram que o utilizavam e verificou-se que 81,7% das pessoas
os autores a dificuldade financeira para se adquirir a escova de categoria sócio-econômica alta usavam fio dental, contra
dental tem como conseqüência uma má higienização. 52,8% das pessoas de categoria sócio-econômica baixa, sendo
Lascala e Moussalli 16 (1997) relatam sobre a falta de esta diferença significante. Quanto à prática de uso do palito
superioridade de uma escova sobre as outras, e até que as pes- dental, ao contrário do fio dental indivíduos de categoria sócio-
quisas provem o contrário, o profissional deveria prescrever a econômica mais baixa e homens usam o palito com mais fre-
escova que mais se adequar às condições bucais e habilidades qüência, assim como a idade, que seu uso aumenta à medida
do paciente baseando-se, para tanto, em suas observações que a idade dos indivíduos aumenta.
clínicas, procurando não submeter esta escolha às suas pre- Petry et al. 23 (2000) realizaram um estudo de caso-
dileções próprias baseadas em fatores subjetivos. controle sobre conhecimentos, práticas e atitudes em adultos
124 Quanto à técnica de escovação utilizada deve-se levar em livres de cárie, em que estes eram os casos e os controles
consideração a capacidade do paciente em poder realizá-la. eram os pacientes com atividade ou história de doença cárie.
Chiarelli et al. 4 (2001) realizaram um estudo em 20 escolares Verificou que entre os casos, 18,5% fazem apenas uma ou duas
para verificar a eficácia de duas técnicas de escovação: Fones escovações diárias e 28% escovam quatro vezes ou mais por
e Bass. O grupo que realizou a técnica de Bass mostrou uma dia. Entre os controles, essas proporções foram de 13% e 35%,
redução média de placa de 40,74% e o que realizou a técnica respectivamente. Apenas 44% dos casos sustentavam usar fio
de Fones a diminuição média foi de 29,47%. Para redução de dental; destes, 81% já tinham recebido orientação quanto ao
sangramento gengival a técnica de Bass também apresentou seu uso correto. Entre os controles, 62% usam o fio dental e
os melhores resultados. Porém nenhuma das técnicas reduziu 84% tinham recebido orientação para este fim. Tal orientação
a quantidade de microorganismos na saliva pelo período de foi dada pelo cirurgião-dentista para cerca de 70% tanto dos
32 dias. casos quanto dos controles. Os autores concluíram que os
Estudos têm sido realizados para verificar a eficácia das hábitos de higiene bucal nesta amostra não demonstraram
várias técnicas de escovações na remoção do biofilme dental efeito protetor esperado contra a doença cárie.
4, 18, 21, 34
. Entretanto a utilização de uma nova técnica pelo pa- Garcia et al. 14 (2001) verificaram o comportamento
ciente somente será eficaz quando o seu reforço for aplicado de higiene bucal em 61 adultos com 20 e 50 anos atendidos
várias vezes, somente assim poderão ocorrer mudanças na em serviço público. Os resultados mostraram que 75,4% da
atitude quanto à higiene bucal. população estudada passavam o fio dental antes da escovação,
Cabe ao profissional selecionar os instrumentos e os 63,9% utilizavam-no com tamanho adequado e apenas 27,9%
meios de limpeza a serem utilizados para o controle de placa executavam adequadamente a técnica de
em seus pacientes, levando-se em consideração sempre à
necessidade individual de cada paciente 5, 10, 24. Outro fator que
deve ser avaliado para a indicação de um dispositivo de higie- uso. Com relação à escovação, 59% apresentavam a escova
nização complementar à escovação é a anatomia interdental dental em bom estado de conservação e 34,4% procediam à
da área a ser utilizada 3, 5. escovação de maneira adequada. Com estes dados, pode-se
O uso de dentifrício, por si só não é sinônimo de maior determinar que ainda há muito a ser melhorado no comporta-
limpeza dental. Em sua composição apresentam abrasivos e mento de higiene bucal na população estudada, pois poucos
saponáceos que auxiliam na desorganização do biofilme dental, pacientes demonstraram ter uma higiene bucal totalmente
porém com a sua utilização não se pode afirmar que maior será satisfatória.
a sua remoção, isto foi comprovado em estudo realizado por Esteves et al. 10 (2001) identificaram as práticas e atitudes
Parizotto et al. 21 (2003) em 32 crianças em que puderam con- de higienização bucal de 270 universitários em Marília. Quanto
cluir que o uso do dentifrício não foi significativo na redução do à prática de escovação a média foi de 3 vezes ao dia e o tempo
biolfime. Porém, o seu uso durante as escovações é importante gasto para a escovação foi em média de 60 segundos. Sobre
por ser um veículo de flúor aplicado diariamente sobre as super- a troca das escovas dentárias foi observado que a maior parte
fícies dentais e também por ser cientificamente comprovado a dos pesquisados trocam suas escovas entre o período de 2 a
sua importância na redução das cáries dentais. 4 meses de uso.
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3. Higiene bucal e motivação no controle do biofilme dental
Ditterich, R.G., et al
Para identificar a prevalência dos hábitos de higiene bucal Saliba et al. 27 (1998) realizaram um estudo com 45 es-
interproximal, Trentin e Oppermann 33 (2001) realizaram uma colares divididos em 3 grupos com idade entre 12 a 15 anos
pesquisa em 154 jovens de 14-18 anos. Avaliaram os hábitos para verificar a importância da motivação e da escovação
de higiene interproximal com os níveis de placa e inflamação supervisionada comparada à escovação habitual e a profilaxia
gengival. Constataram que somente 36,3% da amostra rela- profissional no controle mecânico. Constataram que a esco-
tavam o uso do fio dental diariamente. Quanto aos níveis de vação orientada e supervisionada apresentou os melhores
placa e de sangramento gengival os índices foram elevados resultados com uma diferença significante no índice de placa
tanto para os usuários como para os não-usuários de fio dental, bacteriana, comprovando que a motivação é fator primordial
não havendo diferenças entre os grupos. O modo como o fio para o controle do biofilme dental e conseqüentemente para
dental estava sendo usado nesta população, não representava a promoção da saúde bucal.
um acréscimo ao controle do biofilme dental realizado apenas Leal et al. 17 (2002) avaliaram o emprego de distintas
pela escova. Com este estudo, verificou-se que o simples uso orientações profissionais no aprendizado de técnicas de esco-
de dispositivo para higiene complementar à escovação, sem vação na redução do índice de biofilme dental. Participaram
nenhuma orientação prévia pelo profissional não é sinal de uma do estudo 40 crianças de 3 a 6 anos divididas em 3 grupos:
boa higienização interproximal realizada pelo paciente. I - audiovisual, II - criança como modelo e III - instrução indi-
Araújo et al. 2 (2003) avaliaram o uso do fio dental em vidual e constataram que em todos os grupos houve redução
473 universitários, e verificaram que 72% o utilizam, e destes, do índice de placa, porém com maior redução no grupo da
66% usam mais de uma vez ao dia. Observou-se também dife- instrução individual.
rença em relação ao sexo quanto ao seu uso, demonstrando Toassi e Petry 32 (2002) avaliaram a eficácia de duas
que as mulheres parecem ter maior conhecimento e são as estratégias motivacionais em escolares de 5 a 14 anos. O
que utilizam com maior freqüência. programa de motivação a que os escolares tinham acesso
Com os diversos trabalhos relatados, pode-se identificar constou da utilização de diversos recursos aplicados em dois
que cada grupo populacional tem condutas diferentes quanto grupos de intervenção: Grupo A (motivação em sessão única)
à realização de práticas preventivas, em que se pode constatar e Grupo B (motivação em quatro sessões). Em ambos os
que os hábitos de higiene bucal que universitários realizam são grupos houve redução tanto do sangramento gengival quanto
diferentes da população em geral como também entre outros da quantidade de biofilme dental. Quando comparados os
grupos como: crianças, adolescentes e adultos. O profissional grupos, o sangramento e a quantidade de placa, apresentaram
deve ter consciência da diferença existente entre as pessoas redução altamente significativa no grupo B quando comparado
e as populações, e saber intervir tanto individual como coleti- ao A. Em conclusão, os reforços motivacionais em programas
vamente nas atitudes e práticas de higiene bucal. educativos-preventivos atuam positivamente para a redução
do biofilme e sangramento gengival.
A motivação como fator de controle mecânico do biofilme Szpilman et al. 31 (2005) verificaram a efetividade de um
dental programa preventivo baseado no controle de placa e melhoria
A educação em saúde tem como objetivo maior, causar da higiene bucal em crianças de 6 a 12 anos divididos em 3 125
uma mudança de atitude do paciente em relação aos hábitos grupos: Grupo I (29 crianças) – recebeu palestra informativa,
com a saúde bucal, que é alcançada através da criação ou mu- Grupo II (27 crianças) – recebeu palestra, demonstração e
dança de percepção por parte do paciente. Para que se alcance escovação supervisionada e o Grupo III (controle - 30 crian-
estas mudanças, é de fundamental importância, a motivação ças) – nenhuma orientação. Os resultados demonstraram
do paciente. A motivação humana é muito complexa e está resultados significativos de
baseada numa combinação de expectativas, idéias, crenças,
sentimentos, esperanças, atitudes, valores que iniciam, man-
tém e regulam o comportamento 30.
A motivação é uma poderosa ferramenta para pro-
mover a saúde bucal da população, melhorando a qualidade redução de biofilme dental aos 14 dias, porém, aos 90 dias a
de vida da mesma, e deve ser trabalhado junto aos indivíduos condição de acúmulo ficou igual ou piorou em relação às condi-
o mais precocemente possível, assim que se iniciar o desen- ções iniciais do exame. Os autores concluíram que um aumento
volvimento da capacidade de compreensão 6. do conhecimento pode ser esperado, porém este não resultará,
A educação estimula os pacientes a aprender, capaci- necessariamente, em uma mudança de comportamento.
tando-os para tomar decisões e fazer escolhas A maioria dos trabalhos tem avaliado a eficiência da
motivação em crianças e adolescentes. Os adultos estão mais
sujeitos a dificuldades peculiares na motivação, como fatores
econômicos e sociais, que freqüentemente, levam ao estresse
emocional, o qual somado aos hábitos incorretos de higiene es-
tabelecidos tornam estes pacientes mais resistentes à introdu-
relacionadas à sua saúde bucal. Esta deve ser realizada e ção de mudanças nos procedimentos de controle mecânico do
enfatizada, tanto no âmbito da saúde pública quanto individual- biofilme dental, além do fato de muitos pacientes relacionarem
mente, em consultório particular 11. O objetivo de toda educação a falta de tempo como motivo da falta de higiene 26.
formal e informal para a saúde é atingir um nível de higiene Com a finalidade de avaliar o papel da motivação em
bucal e uma taxa de progressão de doença periodontal que pacientes adultos, Rossa Júnior et al. 26 (2004) realizaram
seja compatível com a manutenção de uma dentição natural um estudo do efeito da motivação repetida durante terapia
funcional e esteticamente aceitável por toda a vida 30. periodontal em 17 pacientes adultos com doença periodontal
A motivação no controle mecânico do biofilme dental é crônica. Os pacientes foram divididos em dois grupos: (1) rece-
a peça chave para a promoção do auto-cuidado e preocupação beram instruções e motivação realizados apenas na 1ª sessão;
com a saúde bucal. Estudos nacionais demonstram que com (2) receberam instruções e motivação em todas as sessões do
o processo de motivação dos pacientes na higienização bucal tratamento periodontal básico. Os resultados indicaram um
ocorre uma redução na quantidade de placa bacteriana e na comportamento similar dos grupos em relação à presença do
presença de sangramento gengival. biofilme supragengival até os três meses, quando houve uma
Navarro et al. 20 (1996) avaliaram a influência de meios tendência, não significativa, de retorno aos níveis de placa
preventivos: palestras sobre higiene bucal, motivação e esco- iniciais no grupo 1. O sangramento foi significativamente re-
vação supervisionada sobre os níveis de placa bacteriana em duzido no grupo 2 em comparação (2): grupo 1 já a partir dos
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26 escolares no período de 4 meses com visitas periódicas 3 meses e continuou estável até os 12 meses. Concluiu-se que
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semanais. Em relação ao nível de placa antes e depois do a realização de instruções repetidas de higiene e motivação
4. Higiene bucal e motivação no controle do biofilme dental
Ditterich, R.G., et al
É importante que o cirurgião-dentista lembre que a O estabelecimento de hábitos de higiene bucal no con-
educação do paciente deve ser realizada a longo prazo, pois trole mecânico caseiro do biofilme dental deve ser uma prática
apenas uma sessão de motivação não resulta em mudanças de estimulada sempre pelo cirurgião-dentista frente ao seu pa-
hábitos e atitudes que levam o indivíduo a desenvolver técnicas ciente, pois somente assim o paciente perceberá que a doença
preventivas de maneira responsável e espontânea 12, 19, 35. periodontal e a cárie dentária são reflexos das suas atitudes
Outro fator importante é que o profissional deve suscitar ou falta de preocupação com sua saúde bucal. O profissional
o entusiasmo do paciente, o que vai depender muito, também, deve esclarecer que o seu tratamento não será duradouro se
de seu próprio entusiasmo, pois se não estiver motivado, jamais o indivíduo não perceber que o grande responsável pela manu-
conseguirá obter resultados positivos 19. Por isso que para o tenção e prevenção dos cuidados odontológicos é ele mesmo.
sucesso na promoção de saúde bucal é necessário à efetiva A motivação e aplicação de reforços no controle mecânico
combinação participativa do binômio paciente-profissional 22. devem ser encaradas como ferramentas a serem utilizadas
O profissional deve ser muito cauteloso ao abordar o pa- pelos cirurgiões-dentistas durante as consultas odontológicas
ciente, respeitando o fato de que as pessoas têm seus valores como importantes fatores na melhoria da qualidade da saúde
e prioridades, que estes são formados muito lentamente e só bucal realizada pelos pacientes.
serão reformulados de modo lento. Desta forma não se deve
esperar uma imediata transformação de comportamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Deve-se evitar a imposição de conceitos, e ao mesmo tempo,
saber avaliar as expectativas do paciente em relação ao resul- 1. Abegg C. Hábitos de higiene bucal de adultos porto-alegren-
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espontânea, o profissional deve utilizar-se de uma linguagem 2. Araújo CA, Deliberador T, Cruz ACC, Santos FA. O uso de fio
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da pelos retornos periódicos 11. Para buscar as transformações, 7(42): 467-71.
o profissional pode atuar em diferentes níveis, sendo os mais
importantes o cognitivo, o afetivo e o psicomotor 3: “O nível 3. Buischi, YP, Axelsson P, Siqueira TRF. Controle mecânico do
cognitivo é o nível do conhecimento da informação. Todas as biofilme dental e a prática da promoção de saúde bucal. In:
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de forma lógica, clara e direta respeitando o nível cultural de São Paulo: Artes Médicas; 2000. p. 170-214.
cada paciente. O nível afetivo é aquele através do qual se 4. Chiarelli M, Guimarães A, Chaim LAF. Avaliação da eficácia
estabelece a das técnicas de escovação dental de Bass e Fonnes em relação
à remoção de placa, diminuição de sangramento gengival e
quantidade de estreptococos mutans e lactobacilos na saliva.
126 Rev ABO Nac, 2001; 9(2): 88-93.
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atuação mecânica por parte do paciente, conseqüentemente,
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dental através da escovação”. gia: avaliação da efetividade de um método educativo aplicado
A motivação do paciente é muito mais importante que em escolares do primeiro grau, da rede particular da cidade de
a escova em si, que a técnica ensinada, e que a orientação Araraquara. Rev Odontol UNESP, 1997; 26(2): 337-52.
que lhe foi dada de como utilizar a escova dentro de uma de-
terminada técnica. Se o paciente não tiver consciência de que 7. De Micheli G, Jorge MC, Lotufo RFM, Conde MC, Romito GA,
a higienização é importante para si, não adianta educá-lo na Carvalho CV. O tratamento periodontal de suporte e a impor-
maneira de escovar 5, 16. Isto pode ser constatado por Dimbarre tância da cooperação consciente. Rev Odontol UNICID, 2001;
e Wambier 8 (1996) que verificaram em escolares que após 13(3): 203-13.
o ensino das técnicas de escovação, apenas 17% fixaram a
técnica de Bass e 62% fixaram a técnica de Fones, havendo 8. Dimbarre DT, Wambier DS. A influência da motivação e super-
uma tendência em abandonar o aprendizado. Já De Micheli et visão profissional na redução de placa bacteriana em escolares.
al. 7 (2001) afirmam que a cooperação do paciente frente ao Rev Odontol Univ São Paulo, 1996; 10(3): 166-73.
tratamento diminui com o passar dos tempos e que o maior
índice de abandono ocorre no primeiro ano, indicando que 9. Dutra CMR, Ferreira EF. A motivação de pacientes portadores
este é o período crítico para decisão do paciente em aderir às de doença periodontal crônica sob manutenção periodontal: um
mudanças nas práticas preventivas de higiene bucal. estudo qualitativo. Rev Odontol UNESP, 2005; 34(1): 5-10.
A motivação pode ser realizada de duas maneiras: por
meio da motivação direta e indireta. Entende-se por motiva- 10. Esteves SRR, Milanezi LA, Garcia VG. Conhecimentos,
ção direta a relação de contato estreito entre o profissional- atitudes e práticas de higienização dos dentes com escovas
paciente sobre todas as formas de comunicação, em que o dentárias de alunos ingressantes na faculdade de ciências
profissional é o principal ator na realização da educação em odontológicas da universidade de Marília. Rev Ciências Odontol
saúde bucal. A motivação indireta é aquela em que não se faz UNIMAR, 2001; 4(4): 105-16.
presente à participação ativa do cirurgião-dentista no processo
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CONCLUSÃO
Odontologia. Clín.-Científ., Recife, 6 (2): 123-128, abr/jun., 2007
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5. Higiene bucal e motivação no controle do biofilme dental
Ditterich, R.G., et al
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Recebido para publicação em 11/10/2006
Enviado para reformulação em 15/03/2007
Aceito para publicação em 15/05/2007
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