SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  26
A horta do Senhor Lobo
Há muitos e muitos dias que o Senhor Lobo percorre a floresta, duma ponta à outra, em busca de um pedacinho de comida, mas sem resultado. Nem o mais inocente e desprevenido passarito pôs o bico de fora do seu ninho, ao frio. Nem o mais simples e tolo bichinho se atreveu a mostrar a ponta do seu focinho.
“ Estou esfomeado!”, queixa-se ele, enquanto caminha por entre as árvores. A fome obrigara-o a trincar umas tristes bolotas, duras como o gelo. “Chega!
Estou farto”, exclama para si próprio, enquanto engole uma miserável avelã. “ Tenho de me OR-GA-NI-ZAR! Vou armazenar comida, em latas de conserva, no meu armário. De certeza que não serei o primeiro animal a fazer isso!”
Depois, começa a ler e reler o Livro do Perfeito Hortelão, que o deixa a sonhar: a sua horta há-de ser a melhor de todas as hortas do mundo inteiro. O Senhor Lobo põe a cabeça a funcionar. E prepara-se para a obra. Para construir uma horta, são precisas ferramentas e sementes. Ele encontra tudo isso no armazém do agricultor. Até descobre um velho chapéu de hortelão que lhe assenta na cabeça como uma luva.
Todos os animais da floresta se põem a espreitá-lo, cheios de curiosidade. O Senhor Lobo revolve terra e mais terra. Depois, cava, semeia, rega, trata e monda. É um trabalho muito duro, e ele sua como um porquinho. Além disso, nem sequer tem tempo de ir à caça. Felizmente os rabanetes cor-de-rosa crescem muito depressa.
O Senhor Lobo fica maravilhado quando os tomates e os pimentos começam a amadurecer, quando as ervilhas e os feijões crescem ao longo das estacas e as gordas abóboras amarelecem, como bolas douradas.
O seu armário fica a abarrotar de comida.  De certeza que ao Senhor Lobo nada faltará, no próximo Inverno! E enquanto ele está ocupado a arrumar e a cozinhar, a meter em latas de conserva os tomates e os vegetais para a sopa, os habitantes da floresta passeiam por todo o lado, sem medo nenhum.
Os animais nunca sentiram tanta paz nas suas vidas! É verdade: o lobo agora só come vegetais.
Mas, de repente, numa certa manhã, tudo se altera. Um grito pavoroso ressoa por todos os cantos da floresta, acordando-a: é o Senhor Lobo.
“ Isto é demais!”, rosna o animal, ferozmente. “Não vou deixar que me vençam!” Os seus olhos ficaram outra vez negros e brilhantes. Ei, Senhor Mocho, venha cá! Olhe para esta porcaria! Alguém destruiu a minha horta durante a noite. Você viu quem foi o bandido? Ai se o apanho!...”
A ave fecha os olhos por uns momentos e, depois, murmura algumas palavras junto das orelhas grandes do lobo. “ Deixe-me pensar!”, pia o mocho. “ Não, não reparei em nada de estranho… vamos usar a cabeça. Deve haver uma solução inteligente para este problema.”
Satisfeito com o seu trabalho, o lobo entra em casa, para comer uma saborosa malga de sopa de brócolos e, depois, reler um livro de aventuras. O Senhor Lobo desaparece para dentro da sua oficina e, pouco tempo depois, todos podem ouvi-lo a serrar e a martelar. E, felizmente, ao entardecer, ele espeta na terra uma linda tabuleta de madeira, mesmo em frente do portão da horta.
Um coelhinho, bem pequenino, quase cai na vala ao tentar ler aquilo que o lobo pintou tão cuidadosamente na tabuleta. E imediatamente informa os outros animais que estão a discutir o assunto, na clareira. Ninguém repara no mocho que do alto dum pinheiro os observa atentamente. “Não posso acreditar!”, grunhe o rato.  “ Trazer sementes? Muito bem, tive uma ideia! O filho do agricultor vai regar o milho todas as tardes. Há espigas de todas as cores… vermelhas… roxas. Volto já!”. E, dizendo isto, desaparece.
“ Que grande ideia!”, exclamou o Avô Caracol, acenando com as antenas.  “ Vamos levar-lhe algumas alfaces que logo voltaram a crescer mal se cortam! Ah! Ah! Um caracol a surpreender um lobo! Quem havia de dizer?!”. E, dizendo isto, o caracol desaparece atrás da parede.
A luz suave da aurora toca levemente na horta. Primeiro, aparece uma espécie de ténue toalha de luz  rosada que se deita mansamente sobre a relva e folhas e, pouco a pouco, os raios de sol pintam as flores com uma luz dourada.As pétalas, fechadas durante a noite, abrem-se suavemente e os girassóis viram-se lentamente para o céu.  O Senhor Lobo abre as persianas da cozinha… e estremece de alegria.
Depois de dar uma penteadela ao seu pêlo, ele sai para a sua horta. Dirige-se, então, para a Dona Coelha, que treme como uma folha ao vento. Ela segura nas mãos um saquinho feito de papel de jornal.
O lobo cumprimenta-a com a sua delicada voz. “ Bo-boomm-bom dia”, balbucia ela. “ Trouxe-lhe estas sementes de rabanete preto. Está interessado?” “ Claro que estou interessado! Os rabanetes pretos são saborosos? O que hei-de oferecer-lhes em troca?”
“ Nada. Ainda ontem tivemos de castigar o nosso filho por ter estragado a sua horta e mordiscado as suas alcachofras”.  “ Oh! Não era razão para tal! Olhe, aqui tem esta alface e estes rabanetes. Aquilo que colhi chega para mim e sobra! Além disso, acabam por se estragar se não se comerem logo. E diga ao seu filho que pode vir quando quiser e até ajudar-me a arrancar as ervas. Negócio feito?”
Então, apareceram os outros animais, cada um trazendo também coisas bem originais. “ Se quiser, podemos vir todos ajudá-lo”, exclamam.
Durante o trabalho, cada um vai contando sobre o local em que cada um provou certa hortaliça pela primeira vez, ou onde colheu determinada flor, ou o melhor modo de as plantar, de as colher ou de as cozinhar.
A manhã voa tão depressa, tão depressa que eles ficam surpreendidos quando os sinos tocam, a anunciar o meio-dia. Apenas o mocho dorme a bom dormir, no meio de doces sonhos.
“ Quem quer almoçar comigo?”, sugere o lobo. “ Acabei agora mesmo de fazer salada e de pôr a mesa. Almoçamos cá fora, pois está um dia esplêndido!” Apenas dito, logo feito. O Senhor Lobo senta-se à mesa, acompanhado pelos seus convidados, para apreciarem um delicioso almoço.
Atrás do portão, o Senhor Lobo acena um adeus. Tudo lhe parece fácil de acontecer, nesta tarde. Todos os seus problemas, a sua má reputação, as suas caçadas solitárias, mesmo as suas mágoas quando as coisas não corriam bem -  tudo isso pertence ao passado. A tarde passou, veloz como um sonho. Logo, chega a hora de dizer adeus. Carregados de ofertas, os amigos do Senhor Lobo despedem-se e vão-se embora.  “ Até qualquer dia, Senhor Lobo, e obrigada por tudo!”
Ao fechar o portão, o Senhor Lobo olha para o cimo do enorme pinheiro: a lua redonda parece um queijo a sorrir para ele, enquanto se ouve o velho mocho a piar uma suave canção.
FIM

Contenu connexe

Tendances

Carlota barbosa a bruxa medrosa
Carlota barbosa a bruxa medrosa Carlota barbosa a bruxa medrosa
Carlota barbosa a bruxa medrosa Lara Gonçalves
 
Coração de Mãe
Coração de MãeCoração de Mãe
Coração de MãePedro Moura
 
A joaninha que perdeu as pintinhas
A joaninha que perdeu as pintinhasA joaninha que perdeu as pintinhas
A joaninha que perdeu as pintinhaslauridesm
 
A ovelhinha-que-veio-para-jantar
A ovelhinha-que-veio-para-jantarA ovelhinha-que-veio-para-jantar
A ovelhinha-que-veio-para-jantarOfelia Liborio
 
O palhaco-tristoleto
O palhaco-tristoletoO palhaco-tristoleto
O palhaco-tristoletoSilvares
 
Dia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentesDia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentesTeresa Ramos
 
Escola dos meninos felizes livro
Escola dos meninos felizes   livroEscola dos meninos felizes   livro
Escola dos meninos felizes livroRoberto Schkolnick
 
O sapo que queria beber leite
O sapo que queria beber leiteO sapo que queria beber leite
O sapo que queria beber leiteProfessora Cida
 
Conto torrado nuvem.caracol_Clara
Conto torrado nuvem.caracol_ClaraConto torrado nuvem.caracol_Clara
Conto torrado nuvem.caracol_ClaraClara Sousa
 
Histórias para todas as letras
Histórias para todas as letrasHistórias para todas as letras
Histórias para todas as letrasProfessora
 
A magia da estrela do outono
A magia da estrela do outonoA magia da estrela do outono
A magia da estrela do outonoCarla Ferreira
 
Kiko o dentinho de leite
Kiko o dentinho de leiteKiko o dentinho de leite
Kiko o dentinho de leitePaula Sousa
 

Tendances (20)

Carlota barbosa a bruxa medrosa
Carlota barbosa a bruxa medrosa Carlota barbosa a bruxa medrosa
Carlota barbosa a bruxa medrosa
 
Coração de Mãe
Coração de MãeCoração de Mãe
Coração de Mãe
 
Um bocadinho de inverno
Um bocadinho de invernoUm bocadinho de inverno
Um bocadinho de inverno
 
A casinha do tatu
A casinha do tatuA casinha do tatu
A casinha do tatu
 
A joaninha que perdeu as pintinhas
A joaninha que perdeu as pintinhasA joaninha que perdeu as pintinhas
A joaninha que perdeu as pintinhas
 
A ovelhinha-que-veio-para-jantar
A ovelhinha-que-veio-para-jantarA ovelhinha-que-veio-para-jantar
A ovelhinha-que-veio-para-jantar
 
O polvo coceguinhas
O polvo coceguinhasO polvo coceguinhas
O polvo coceguinhas
 
A Sopa Verde
A Sopa VerdeA Sopa Verde
A Sopa Verde
 
Nao quero dormir!
Nao quero dormir!Nao quero dormir!
Nao quero dormir!
 
O palhaco-tristoleto
O palhaco-tristoletoO palhaco-tristoleto
O palhaco-tristoleto
 
Dia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentesDia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentes
 
Escola dos meninos felizes livro
Escola dos meninos felizes   livroEscola dos meninos felizes   livro
Escola dos meninos felizes livro
 
O sapo que queria beber leite
O sapo que queria beber leiteO sapo que queria beber leite
O sapo que queria beber leite
 
Conto torrado nuvem.caracol_Clara
Conto torrado nuvem.caracol_ClaraConto torrado nuvem.caracol_Clara
Conto torrado nuvem.caracol_Clara
 
Histórias para todas as letras
Histórias para todas as letrasHistórias para todas as letras
Histórias para todas as letras
 
A magia da estrela do outono
A magia da estrela do outonoA magia da estrela do outono
A magia da estrela do outono
 
O Meu Pai
O Meu PaiO Meu Pai
O Meu Pai
 
Kiko o dentinho de leite
Kiko o dentinho de leiteKiko o dentinho de leite
Kiko o dentinho de leite
 
A galinha que sabia ler
A galinha que sabia lerA galinha que sabia ler
A galinha que sabia ler
 
Peixinho arco íris
Peixinho arco írisPeixinho arco íris
Peixinho arco íris
 

En vedette

Conto veado.florido
Conto veado.floridoConto veado.florido
Conto veado.floridoAna Violante
 
Baixe o Livro 'Zumbi o pequeno guerreiro' em PDF
Baixe o Livro 'Zumbi o pequeno guerreiro' em PDFBaixe o Livro 'Zumbi o pequeno guerreiro' em PDF
Baixe o Livro 'Zumbi o pequeno guerreiro' em PDFAugusto Bertotto
 
História infantil- A Amizade
História infantil- A AmizadeHistória infantil- A Amizade
História infantil- A Amizadefprc
 
A princesa baixinha power point
A princesa baixinha   power pointA princesa baixinha   power point
A princesa baixinha power pointlabeques
 
Quem da prenda ao pai natal
Quem da prenda ao pai natalQuem da prenda ao pai natal
Quem da prenda ao pai natalAna Moreira
 
Os sapatos do pai natal[1]
Os sapatos do pai natal[1]Os sapatos do pai natal[1]
Os sapatos do pai natal[1]joana1900
 
A dieta do pai natal história e imagens
A dieta do pai natal   história e imagensA dieta do pai natal   história e imagens
A dieta do pai natal história e imagensJani Miranda
 

En vedette (9)

Conto veado.florido
Conto veado.floridoConto veado.florido
Conto veado.florido
 
Baixe o Livro 'Zumbi o pequeno guerreiro' em PDF
Baixe o Livro 'Zumbi o pequeno guerreiro' em PDFBaixe o Livro 'Zumbi o pequeno guerreiro' em PDF
Baixe o Livro 'Zumbi o pequeno guerreiro' em PDF
 
Zumbi: O Pequeno Guerreiro
Zumbi: O Pequeno GuerreiroZumbi: O Pequeno Guerreiro
Zumbi: O Pequeno Guerreiro
 
História infantil- A Amizade
História infantil- A AmizadeHistória infantil- A Amizade
História infantil- A Amizade
 
O sapo tem medo
O sapo tem medoO sapo tem medo
O sapo tem medo
 
A princesa baixinha power point
A princesa baixinha   power pointA princesa baixinha   power point
A princesa baixinha power point
 
Quem da prenda ao pai natal
Quem da prenda ao pai natalQuem da prenda ao pai natal
Quem da prenda ao pai natal
 
Os sapatos do pai natal[1]
Os sapatos do pai natal[1]Os sapatos do pai natal[1]
Os sapatos do pai natal[1]
 
A dieta do pai natal história e imagens
A dieta do pai natal   história e imagensA dieta do pai natal   história e imagens
A dieta do pai natal história e imagens
 

Similaire à A horta do Senhor Lobo traz paz à floresta

Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01Lara Gonçalves
 
A horta do sr. lobo
A horta do sr. loboA horta do sr. lobo
A horta do sr. lobobibabbe
 
A horta do sr. lobo
A horta do sr. loboA horta do sr. lobo
A horta do sr. lobobibabbe
 
A horta do sr lobo[1]
A horta do sr lobo[1]A horta do sr lobo[1]
A horta do sr lobo[1]Teresa Ramos
 
A horta do Sr. Lobo
A horta do Sr. LoboA horta do Sr. Lobo
A horta do Sr. Lobobibabbe
 
A horta do sr lobo
A horta do sr loboA horta do sr lobo
A horta do sr loboquintadocano
 
A horta do_sr_lobo
A horta do_sr_loboA horta do_sr_lobo
A horta do_sr_lobo266446113
 
A horta do sr lobo
A horta do sr loboA horta do sr lobo
A horta do sr loboquintadocano
 
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01-141030084336-conversion-gate01
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01-141030084336-conversion-gate01Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01-141030084336-conversion-gate01
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01-141030084336-conversion-gate01Cristiana Pimenta
 
A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo Deisy Quintero
 
"A horta do senhor lobo"
"A horta do senhor lobo""A horta do senhor lobo"
"A horta do senhor lobo"Naara Machado
 
História infantil A HORTA DO SR LOBO.ppt
História infantil A HORTA DO SR LOBO.pptHistória infantil A HORTA DO SR LOBO.ppt
História infantil A HORTA DO SR LOBO.pptCrisdeDeus1
 
A horta do sr lobo.ppt
A horta do sr lobo.pptA horta do sr lobo.ppt
A horta do sr lobo.pptJoanaBatista56
 

Similaire à A horta do Senhor Lobo traz paz à floresta (20)

A horta do sr lobo
A horta do sr loboA horta do sr lobo
A horta do sr lobo
 
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01
 
A horta do sr. lobo
A horta do sr. loboA horta do sr. lobo
A horta do sr. lobo
 
A horta do sr. lobo
A horta do sr. loboA horta do sr. lobo
A horta do sr. lobo
 
A horta do sr lobo[1]
A horta do sr lobo[1]A horta do sr lobo[1]
A horta do sr lobo[1]
 
A horta do Sr. Lobo
A horta do Sr. LoboA horta do Sr. Lobo
A horta do Sr. Lobo
 
A horta do senhor lobo
A horta do senhor loboA horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo
 
A horta do sr lobo
A horta do sr loboA horta do sr lobo
A horta do sr lobo
 
A horta do sr. lobo
A horta do sr. loboA horta do sr. lobo
A horta do sr. lobo
 
A horta do sr. lobo
A horta do sr. loboA horta do sr. lobo
A horta do sr. lobo
 
A horta do sr. lobo,
A horta do sr. lobo,A horta do sr. lobo,
A horta do sr. lobo,
 
A horta do_sr_lobo
A horta do_sr_loboA horta do_sr_lobo
A horta do_sr_lobo
 
A horta do sr lobo
A horta do sr loboA horta do sr lobo
A horta do sr lobo
 
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01-141030084336-conversion-gate01
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01-141030084336-conversion-gate01Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01-141030084336-conversion-gate01
Ahortadosrlobo 111016114232-phpapp01-141030084336-conversion-gate01
 
A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo
 
"A horta do senhor lobo"
"A horta do senhor lobo""A horta do senhor lobo"
"A horta do senhor lobo"
 
História infantil A HORTA DO SR LOBO.ppt
História infantil A HORTA DO SR LOBO.pptHistória infantil A HORTA DO SR LOBO.ppt
História infantil A HORTA DO SR LOBO.ppt
 
A horta do sr lobo.ppt
A horta do sr lobo.pptA horta do sr lobo.ppt
A horta do sr lobo.ppt
 
A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo
 
A horta do sr lobo
A horta do sr loboA horta do sr lobo
A horta do sr lobo
 

A horta do Senhor Lobo traz paz à floresta

  • 1. A horta do Senhor Lobo
  • 2. Há muitos e muitos dias que o Senhor Lobo percorre a floresta, duma ponta à outra, em busca de um pedacinho de comida, mas sem resultado. Nem o mais inocente e desprevenido passarito pôs o bico de fora do seu ninho, ao frio. Nem o mais simples e tolo bichinho se atreveu a mostrar a ponta do seu focinho.
  • 3. “ Estou esfomeado!”, queixa-se ele, enquanto caminha por entre as árvores. A fome obrigara-o a trincar umas tristes bolotas, duras como o gelo. “Chega!
  • 4. Estou farto”, exclama para si próprio, enquanto engole uma miserável avelã. “ Tenho de me OR-GA-NI-ZAR! Vou armazenar comida, em latas de conserva, no meu armário. De certeza que não serei o primeiro animal a fazer isso!”
  • 5. Depois, começa a ler e reler o Livro do Perfeito Hortelão, que o deixa a sonhar: a sua horta há-de ser a melhor de todas as hortas do mundo inteiro. O Senhor Lobo põe a cabeça a funcionar. E prepara-se para a obra. Para construir uma horta, são precisas ferramentas e sementes. Ele encontra tudo isso no armazém do agricultor. Até descobre um velho chapéu de hortelão que lhe assenta na cabeça como uma luva.
  • 6. Todos os animais da floresta se põem a espreitá-lo, cheios de curiosidade. O Senhor Lobo revolve terra e mais terra. Depois, cava, semeia, rega, trata e monda. É um trabalho muito duro, e ele sua como um porquinho. Além disso, nem sequer tem tempo de ir à caça. Felizmente os rabanetes cor-de-rosa crescem muito depressa.
  • 7. O Senhor Lobo fica maravilhado quando os tomates e os pimentos começam a amadurecer, quando as ervilhas e os feijões crescem ao longo das estacas e as gordas abóboras amarelecem, como bolas douradas.
  • 8. O seu armário fica a abarrotar de comida. De certeza que ao Senhor Lobo nada faltará, no próximo Inverno! E enquanto ele está ocupado a arrumar e a cozinhar, a meter em latas de conserva os tomates e os vegetais para a sopa, os habitantes da floresta passeiam por todo o lado, sem medo nenhum.
  • 9. Os animais nunca sentiram tanta paz nas suas vidas! É verdade: o lobo agora só come vegetais.
  • 10. Mas, de repente, numa certa manhã, tudo se altera. Um grito pavoroso ressoa por todos os cantos da floresta, acordando-a: é o Senhor Lobo.
  • 11. “ Isto é demais!”, rosna o animal, ferozmente. “Não vou deixar que me vençam!” Os seus olhos ficaram outra vez negros e brilhantes. Ei, Senhor Mocho, venha cá! Olhe para esta porcaria! Alguém destruiu a minha horta durante a noite. Você viu quem foi o bandido? Ai se o apanho!...”
  • 12. A ave fecha os olhos por uns momentos e, depois, murmura algumas palavras junto das orelhas grandes do lobo. “ Deixe-me pensar!”, pia o mocho. “ Não, não reparei em nada de estranho… vamos usar a cabeça. Deve haver uma solução inteligente para este problema.”
  • 13. Satisfeito com o seu trabalho, o lobo entra em casa, para comer uma saborosa malga de sopa de brócolos e, depois, reler um livro de aventuras. O Senhor Lobo desaparece para dentro da sua oficina e, pouco tempo depois, todos podem ouvi-lo a serrar e a martelar. E, felizmente, ao entardecer, ele espeta na terra uma linda tabuleta de madeira, mesmo em frente do portão da horta.
  • 14. Um coelhinho, bem pequenino, quase cai na vala ao tentar ler aquilo que o lobo pintou tão cuidadosamente na tabuleta. E imediatamente informa os outros animais que estão a discutir o assunto, na clareira. Ninguém repara no mocho que do alto dum pinheiro os observa atentamente. “Não posso acreditar!”, grunhe o rato. “ Trazer sementes? Muito bem, tive uma ideia! O filho do agricultor vai regar o milho todas as tardes. Há espigas de todas as cores… vermelhas… roxas. Volto já!”. E, dizendo isto, desaparece.
  • 15. “ Que grande ideia!”, exclamou o Avô Caracol, acenando com as antenas. “ Vamos levar-lhe algumas alfaces que logo voltaram a crescer mal se cortam! Ah! Ah! Um caracol a surpreender um lobo! Quem havia de dizer?!”. E, dizendo isto, o caracol desaparece atrás da parede.
  • 16. A luz suave da aurora toca levemente na horta. Primeiro, aparece uma espécie de ténue toalha de luz rosada que se deita mansamente sobre a relva e folhas e, pouco a pouco, os raios de sol pintam as flores com uma luz dourada.As pétalas, fechadas durante a noite, abrem-se suavemente e os girassóis viram-se lentamente para o céu. O Senhor Lobo abre as persianas da cozinha… e estremece de alegria.
  • 17. Depois de dar uma penteadela ao seu pêlo, ele sai para a sua horta. Dirige-se, então, para a Dona Coelha, que treme como uma folha ao vento. Ela segura nas mãos um saquinho feito de papel de jornal.
  • 18. O lobo cumprimenta-a com a sua delicada voz. “ Bo-boomm-bom dia”, balbucia ela. “ Trouxe-lhe estas sementes de rabanete preto. Está interessado?” “ Claro que estou interessado! Os rabanetes pretos são saborosos? O que hei-de oferecer-lhes em troca?”
  • 19. “ Nada. Ainda ontem tivemos de castigar o nosso filho por ter estragado a sua horta e mordiscado as suas alcachofras”. “ Oh! Não era razão para tal! Olhe, aqui tem esta alface e estes rabanetes. Aquilo que colhi chega para mim e sobra! Além disso, acabam por se estragar se não se comerem logo. E diga ao seu filho que pode vir quando quiser e até ajudar-me a arrancar as ervas. Negócio feito?”
  • 20. Então, apareceram os outros animais, cada um trazendo também coisas bem originais. “ Se quiser, podemos vir todos ajudá-lo”, exclamam.
  • 21. Durante o trabalho, cada um vai contando sobre o local em que cada um provou certa hortaliça pela primeira vez, ou onde colheu determinada flor, ou o melhor modo de as plantar, de as colher ou de as cozinhar.
  • 22. A manhã voa tão depressa, tão depressa que eles ficam surpreendidos quando os sinos tocam, a anunciar o meio-dia. Apenas o mocho dorme a bom dormir, no meio de doces sonhos.
  • 23. “ Quem quer almoçar comigo?”, sugere o lobo. “ Acabei agora mesmo de fazer salada e de pôr a mesa. Almoçamos cá fora, pois está um dia esplêndido!” Apenas dito, logo feito. O Senhor Lobo senta-se à mesa, acompanhado pelos seus convidados, para apreciarem um delicioso almoço.
  • 24. Atrás do portão, o Senhor Lobo acena um adeus. Tudo lhe parece fácil de acontecer, nesta tarde. Todos os seus problemas, a sua má reputação, as suas caçadas solitárias, mesmo as suas mágoas quando as coisas não corriam bem - tudo isso pertence ao passado. A tarde passou, veloz como um sonho. Logo, chega a hora de dizer adeus. Carregados de ofertas, os amigos do Senhor Lobo despedem-se e vão-se embora. “ Até qualquer dia, Senhor Lobo, e obrigada por tudo!”
  • 25. Ao fechar o portão, o Senhor Lobo olha para o cimo do enorme pinheiro: a lua redonda parece um queijo a sorrir para ele, enquanto se ouve o velho mocho a piar uma suave canção.
  • 26. FIM