Uma mulher vai sozinha ao mar salgado e frio. Embora com medo, ela prossegue corajosamente sem se conhecer totalmente. Ao entrar na água, sente uma alegria fatal e fica alerta como um caçador, explorando lentamente o caminho com coragem crescente até se deixar cobrir pela primeira onda.

1. As águas do mundo Clarice Lispector

2. Ela está sozinha. O mar salgado não é sozinho porque é salgado e grande, e isso é uma realização .

3. Nessa hora ela se conhece menos ainda do que conhece o mar. Sua coragem é a de , não se conhecendo, no entanto prosseguir. É fatal não se conhecer, e não se conhecer exige coragem.

4. Vai entrando. A água salgada é de um frio que lhe arrepia em ritual as pernas. Mas uma alegria fatal – a alegria é uma fatalidade – já a tomou, embora nem lhe ocorrera sorrir. Pelo contrário, está muito séria.

5. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta de seus mais adormecidos sonos seculares. E agora ela está alerta, mesmo sem pensar, como um caçador está alerta, mesmo sem pensar.

6. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda- e abre caminho na gelidez que, líquida, se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no amor em que a oposição pode ser um pedido.

7. O caminho lento aumenta as coragens secretas.

8. E de repente ela se deixa cobrir pela primeira onda.

9. FORMATAÇÃO: Mima (Wilma) Badan [email_address] MÚSICA: Como uma onda Execução: Richard Clayderman IMAGENS: Getty Images (Repasse com ss devidos créditos) BLOG: www.mimabadan.blogspot.com PPSs e ESTÓRIAS INFANTIS: www.slideshare.net/mimabadan