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ALTA SENSIBILIDADE
   EMOCIONAL

 NOVAS PERSPECTIVAS




     Helena Polak
Contato com a autora:

helenapolak@terra.com.br


Blog:

http://helenapolak.blogspot.com/


Este livro pode ser adquirido através do site:

              www.clubedeautores.com.br




 Obrigada a todos que incentivaram e contribuíram
          com a elaboração deste livro!!




                                                    2
I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE
EMOCIONAL...........................................................................6
II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO
BORDERLINE?......................................................................10
III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO
BORDERLINE........................................................................19
   1. Vergonha / Invalidação ...................................................19
   2. Raiva................................................................................21
   3. Impulsividade ..................................................................22
   4. Variações de humor.........................................................24
   5. Sensibilidade sensorial / ansiedade .................................24
   6. Sensibilidade a crítica......................................................25
   7. Interpretação equivocada de emoções.............................26
   8. Distorção de “fatos” / memória emocional /
   atemporalidade ....................................................................28
   9. Atribuição de culpa .........................................................31
   10. Medo de abandono / medo de intimidade .....................32
   11. Atitude “oito ou oitenta” ...............................................34
   12. Ruminação.....................................................................35
   13. Depressão / Medicamentos............................................36
   14. Insônia ...........................................................................37
   15. Problemas de Interação Social ......................................37
   16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas.........................39
IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA....................41
V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS ..................................46
VI. EMOÇÕES........................................................................49
VII. LIDANDO COM IMPULSIVIDADE E/OU
DEPRESSÃO ..........................................................................53
   1. Táticas para conter impulsos prejudiciais .......................54
   2. Táticas para combater depressão.....................................55
   3. Outras dicas para inserir uma pausa entre o impulso e o
   ato decorrente ......................................................................56
      a) Fazer perguntas a si mesma.........................................56
      b) Protelar........................................................................57

                                                                                           3
c) Procurar distração........................................................57
     d) Conversar consigo mesma ..........................................58
  4. Táticas a médio e longo prazo.........................................59
     a)Fazer papel de repórter.................................................59
     b) Usar auto-afirmações ..................................................60
     c) Buscar outras fontes de adrenalina..............................61
VIII. NOVAS PERSPECTIVAS.............................................63
  1) Reconhecendo distorções cognitivas, como: ..................64
     a) Pensamento preto ou branco, oito ou oitenta ..............64
     b) Extrapolação/ generalização .......................................64
     c) Prisma negativo...........................................................64
     d) Conclusões precipitadas..............................................64
     e) Tamanho dos problemas .............................................64
     f) Raciocínio emocional ..................................................65
     g) Projeções do “deveria”................................................65
     h) Rótulos ........................................................................65
     i) Personalização e culpa .................................................65
  2. Modificando as distorções cognitivas .............................66
     a) Identifique o tipo de percepção errônea ......................66
     b) Examine as provas ......................................................66
     c) Fale consigo mesma ....................................................66
     d) Busque o meio termo ..................................................67
     e) Faça uma pequena pesquisa de opinião ......................67
     f) Descreva situações com outras palavras......................67
     g) Não assuma toda a culpa.............................................67
     h) Não atribua toda a culpa aos outros ............................67
     i) Analise o custo-benefício.............................................68
  3. Libertando-se de ressentimentos .....................................68
  4. Sugestões de outras pessoas para lidar melhor com seus
  pensamentos negativos:.......................................................72
IX. APRENDENDO A CONVIVER MELHOR COM OS
OUTROS.................................................................................75
X. CONSOLIDANDO SUA IDENTIDADE..........................85
  1. Crenças problemáticas.....................................................85
  2. Identificando suas crenças...............................................85

                                                                                        4
3. Reprogramando suas crenças ..........................................88
  4. Identificando valores .......................................................89
  5. Definindo metas ..............................................................92
XI. LIDANDO COM O ESTRESSE DA ALTA
SENSIBILIDADE EMOCIONAL..........................................96
  1. Aprendendo a relaxar ......................................................96
     a) Relaxamento muscular progressivo ............................97
     b) Meditação....................................................................98
  2. Cuidando melhor de si.....................................................99
     a) Alimentação ................................................................99
     b) Movimentação.............................................................99
     c) Sono reparador ..........................................................100
  3. Organizando seu tempo.................................................101
XII. DEPOIMENTOS DE ALGUMAS PESSOAS
DIAGNOSTICADAS COM TRANSTORNO DE
PERSONALIDADE BORDERLINE ...................................103
REFERÊNCIAS ....................................................................113




                                                                                     5
I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE
EMOCIONAL
 
Você se identifica com a maioria das afirmativas abaixo? 
 
           Tenho medo de ser abandonada pelos outros 
           Quando tenho um impulso muito forte, eu o sigo sem 
           pensar nas consequencias  
           Meus relacionamentos são instáveis e problemáticos 
           Quando penso sobre minha infância, vem a sensação 
           de falta de compreensão e carinho, lembranças de 
           abuso e trauma 
           Sinto um vazio interior a maior parte do tempo, uma 
           falta de rumo 
           Tenho problemas com vícios, dependências, 
           compulsões, transtornos alimentares, etc. 
           Meu humor varia de uma hora para outra e até muitas 
           vezes no mesmo dia 
           Frequentemente não consigo controlar minhas 
           reações, que são muito intensas 
           Sinto que o mundo à minha volta é cheio de ameaças 
           e pressões e cobranças  
           Às vezes me acho muito vulnerável e fraca, sinto que 
           não dou conta de lidar com a vida 
           Desconfio que frequentemente incomodo as pessoas, 
           que elas não me aceitam como sou 
           Sofro muito com as palavras e atitudes dos outros, 
           pois levo tudo de forma pessoal – e negativa  
           Tenho problemas de insônia, depressão, ataques de 
           pânico, de ansiedade.  

 
 
 



                                                              6
Veja como a renomada escritora Pearl Buck descreve uma pessoa 
altamente  criativa  que  já  nasce  com  extrema  sensibilidade 
emocional – para a qual:  

                     “Um toque é uma pancada,
                     um barulho é um estrondo,
                      um revés é uma tragédia,
                      uma alegria é um êxtase,
                       um amigo é um amado,
                        um amado é um deus,
                       e o fracasso é a morte.”




Se você chega a sofrer com sua extrema sensibilidade emocional, 
é  possível  que  você  apresente  algumas  características  daquilo 
que,  no  seu  conjunto,  é  chamado  (por  falta  ainda  de  um  nome 
melhor)  de  “transtorno  de  personalidade  borderline”  ( 
“bórderláine”, ou simplesmente “bórder”).  
 
O  objetivo  aqui  não  é  rotular  ninguém,  e  sim  identificar  e 
entender da melhor forma possível os fatores que lhe afligem e, 

                                                                     7
com  base  nisto,  partir  para  a  adoção  de  uma  nova  perspectiva, 
adotando atitudes que podem melhorar consideravelmente a sua 
qualidade de vida, atenuando suas angústias e incertezas.  
 
Às vezes a simples constatação de que aquilo que nos atormenta 
tem um nome específico,  possui características específicas, tem 
potencial  de  recuperação,  e  é  compartilhado  por  milhares  e 
milhares  de pessoas  ao  redor  do  mundo,  pode  proporcionar  um 
certo  alívio.  E  essa  identificação  talvez  lhe  permita  partir  mais 
rapidamente  para  o  próximo  passo  –  ok, se é esse o meu problema, o
que posso fazer então para melhorar?  
 
Entretanto,  mesmo  com  toda  a  sua  inteligência  e  percepção, 
poderá haver diversos motivos pelos quais você talvez relute em 
aceitar  de  imediato  essa  possibilidade,  por  considerá‐la 
perturbadora,  depreciativa,  radical,  discriminatória,  pessimista, 
constrangedora, etc.  
 
Em vista da sua experiência de vida e sua alta sensibilidade inata, 
talvez você nao queira aceitar ou admitir que tenha qualquer tipo 
de  “transtorno”  de  personalidade,  ou  comportamental,  ou 
emocional, ou o que seja. Essa reação é perfeitamente normal.  
 
De modo geral, não queremos ser considerados “diferentes”  de 
forma  negativa.  Além  disso,  todos  nós  no  fundo  tememos  que 
algum  profissional  da  área  de  saúde  (seja  mental  ou  física)    nos 
diga que realmente sofremos de algum problema que precisa ser 
analisado,  tratado,  acompanhado,  medicado,  etc.,  ou  que  nos 
diga que temos que fazer algumas mudanças em nosso estilo de 
vida  (como  ter  que  fazer  atividade  física,  ou  parar  de  fumar,  de 
beber,  de  comer  doces,  etc.).  Mudança  é  uma  palavra  chave:  a 
ponte entre o conhecido e o desconhecido. 
 
Se você quiser, pode optar por considerar o conteúdo deste livro 
simplesmente como um conjunto de informações sobre questões 


                                                                         8
emocionais  ou  de  relacionamento,  que  podem  vir  a  ser  úteis  de 
alguma forma.  
 
Mas,  se  você  reconhecer,  nem  que  seja  somente  no  seu  íntimo, 
que  você  efetivamente  possui  algumas  das  características  acima 
descritas,  comuns  ao  transtorno  borderline,  e  sabe  que  suas 
reações  impulsivas  e/ou  negativas  atrapalham  a  sua  vida  e  seus 
relacionamentos  –  então  você  pode  começar  a  trabalhar  suas 
questões com a ajuda das ferramentas oferecidas aqui, como um 
primeiro  passo,  enquanto  você  não  busca  e  encontra  o  apoio 
profissional (e/ou familiar) necessário para progredir mais rápida 
e seguramente na construção de uma vida melhor.  
 
O  importante  é  justamente  dar  o  primeiro  passo,  e  colocar 
intenção no seu progresso e recuperação. Não é um caminho fácil 
–  você  vai  precisar  de  muita  coragem,  perseverança  e  fé. 
Confiança  de  que  você  vai  chegar  a  um  ponto  de  poder 
aproveitar  muito  melhor  sua  vida  como  recompensa  por  este 
esforço.  
 
Quanto  mais  você  protelar  em  analisar  objetivamente  a 
relevância  das  características  e  consequências  da  alta 
sensibilidade  emocional  no  seu  caso,  e  em  tomar  as  medidas 
necessárias para se entender melhor e procurar a ajuda adequada 
para  fazer  as  mudanças  indicadas,  mais  íngreme  e  lento  será  o 
seu  caminho  de  recuperação.  Aproveite  esta  oportunidade  para 
começar a mudar sua perspectiva desde já.  

Observação: Adota-se o uso do feminino ao longo do livro para concordar com a
palavra “pessoa” – embora naturalmente a alta sensibilidade emocional possa
              ser encontrada tanto em homens quanto mulheres.




                                                                           9
II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO
BORDERLINE?

Não  há  resposta  simples  para  essa  pergunta.  Existe  um  intenso 
debate  em  andamento  sobre  os  fatores  que  podem  contribuir 
para  a  manifestação  dos  sintomas  do  Transtorno  de 
Personalidade Borderline (TPB), sem que se tenha chegado ainda 
a  um  consenso.  Somente  para  ilustrar  como  que  esse  problema 
tem  sido  relativamente  pouco  estudado  até  agora,  o 
primeiríssimo  congresso  internacional  sobre  Borderline  foi 
realizado apenas em 2010, em Berlim.  
 
Um  dos  novos  nomes  propostos  para  o  distúrbio  é  “Transtorno 
de  Regulação  Emocional”,  pois  é  justamente  a  “desregulação 
emocional”  que  traduz  a  dificuldade  que  a  pessoa  tem  em 
regular,  modular,  controlar,  e  até  reconhecer  e  classificar  suas 
próprias emoções. 
 
Muitas  pesquisas  estão  sendo  conduzidas  sob  diversas  óticas, 
mas de modo geral a constatação é de que  algumas pessoas já
nascem com um certo conjunto de vulnerabilidades
neurobiológicas, as quais podem (ou não) levar a uma
manifestação dos comportamentos associados ao transtorno,
dependendo das experiências pessoais e influências do meio.  
 
Estas  pesquisas  continuam  analisando  a  ação  de 
neurotransmissores,  serotonina,  a  amídala  (parte  do  sistema 
límbico),  as  diferentes  formas  de  perceber  e  processar 
conhecimento  e  emoções,  a  hipersensibilidade  a  estímulos  e 
mudanças,  a  atividade  do  córtex  pré‐frontal,  as  questões 
relacionadas  à  insônia,  resposta  a  dor,  receptores  opióides,  o 
cerebelo, o hipocampo, baixa ocitocina, entre outras.  
 
Existe  uma  grande  diversidade  na  “programação”  individual  –  o 
que, por sua vez – e isto é de suma importância ‐ aponta para o 
potencial de “reprogramar” as reações e atitudes da pessoa com 

                                                                     10
sintomas  Borderline,  principalmente  através  de  terapia,  para 
permitir que tenha uma vida mais tranqüila e equilibrada. 
 
Alguns  tipos  de  comportamento  “menos  comuns”  encontrados 
em  nosso  meio  de  familiares  e  amigos  podem  dizer  respeito, 
talvez,  a  um  tio  impulsivo  e  esbanjador,  uma  tia  que  sofre  de 
depressão, um avô que bebia demais, um primo super tímido, um 
outro  primo  brilhante  porém  imprevisível,  um  parente  muito 
“sistemático”,  outro  extremamente  ciumento  e  possessivo,  um 
colega  que  só  quer  saber  de  aventuras  radicais,  e  assim  por 
diante.  
 
Considerados individualmente, tais traços podem até ser aceitos 
socialmente como hábitos “excêntricos” (embora o alcoolismo, o 
homossexualismo  e  transtornos  de  comportamento,  por 
exemplo,  ainda  carreguem  um  pesado  estigma,  contribuindo 
para  que  as  próprias  pessoas  e  seus  parentes  não  queiram 
comentá‐los abertamente nem buscar ajuda).  
 
Mas,  no  caso  do  Borderline,  pode  ocorrer  a  concentração  de 
diversas  destas  vulnerabilidades  e  características  em  uma  só 
pessoa – o que representa uma carga individual excessivamente 
pesada para se lidar de forma adequada sem alguma espécie de 
ajuda. 
 
Com  uma  boa  terapia  (uma  das  opções  mais  eficazes  sendo  a 
Cognitiva  comportamental,  que  visa  justamente  essa 
reprogramação,  ou  psico‐educação)  e  o  apoio  e  envolvimento 
positivo de pessoas amadas e amigas, e também, muitas vezes, a 
ajuda de medicação adequada, a pessoa com sintomas Borderline 
pode  atingir  um  excelente  grau  de  recuperação.  Relatos 
fascinantes  e  inspiradores  podem  ser  encontrados  em  grande 
quantidade em blogs e vídeos e sites na internet, em livros (como 
The Buddha and the Borderline, por Kiera Van Gelder, BPD Coaching and
Advocacy,  por  A.  J.  Mahari,  Loud in the House of Myself,  por  Stacy 


                                                                      11
Pershall,  por  enquanto  disponíveis  somente  em  inglês),  entre 
outras fontes.  
 
É  interessante  observar  que  muitas  pessoas  com  sintomas 
Borderline  acabam  encontrando  equilíbrio,  satisfação  e 
realização  ao  exercer  atividades  que  envolvem  a  prestação  de 
ajuda aos outros, seja através de enfermagem, assistência social, 
voluntariado, ensino de modo geral, terapia, etc. 
 
Um dos exemplos mais marcantes na área internacional é da Dra. 
Marsha  Linehan,  da  Universidade  de  Washington  nos  EUA, 
pioneira  no  desenvolvimento  e  utilização  da  Terapia 
Comportamental  Dialética,  que  já  ajudou  um  grande  número  de 
pessoas  com  sintomas  borderline  ao  redor  do  mundo  –  sendo 
que  ela  mesma  passou  por  uma  juventude  turbulenta, 
atormentada  por  sintomas  borderline.  Maiores  detalhes  sobre  o 
caso      dela     podem        ser     encontrados      no     site
www.borderlinepersonalitydisorder.com. 

Temos  também  o  caso  amplamente  divulgado  do  jogador  de 
futebol  americano,  Brandon  Marshall,  que  declarou  que  vai 
trabalhar para que o transtorno se torne mais conhecido, e assim 
mais  rapidamente  diagnosticado  e  tratado.  Entre  pessoas  já 
falecidas,  podemos  somente  especular,  mas  aparentemente 
tanto o famoso pintor Van Gogh quanto à Lady Diana sofriam de 
vários sintomas borderline.  
   
No  final  deste  livro  você  encontrará  também  relatos  de  outras 
pessoas  já  diagnosticadas  como  portadoras  do  transtorno  de 
personalidade  Borderline  (ou  seja,  desregulação  emocional), 
ilustrando sua trajetória, suas dúvidas e angústias, sua coragem e 
seus avanços. E você poderá acompanhar também alguns grupos 
excelentes  no  Facebook,  como  Transtorno  de  Personalidade 
Borderline  e  Grupo  de  Portadores  do  Transtorno  Borderline  onde 
as  pessoas  conversam  sobre  seus  problemas,  trocam  idéias    e 
sugestões, encontrando apoio e compreensão, assim como blogs 

                                                                   12
informativos          e         interativos,         tais         como 
http://vidadeumaborderline.blogspot.com/,                              e 
http://cafepsicanalitico.blogspot.com/.  
 
Não  devemos  nunca  esquecer  de  que  existem  muitos  níveis  e 
tipos de sintomas Borderline, bem como variadas fases e ciclos e 
combinações de comportamentos. Às vezes, se as circunstâncias 
de  vida  não  desencadeiam  as  fortes  e  negativas  reações 
emocionais  características  do  transtorno,  a  vulnerabilidade 
biológica  pode  permanecer  dormente  por  muito  tempo,  ou 
mesmo latente para sempre, e/ou poderá manifestar‐se de forma 
relativamente branda, e/ou mais passageira.  
 
Além disso, à medida que a pessoa chega aos quarenta, levando 
uma  vida  com  menos  conflitos  emocionais,  registra‐se  uma 
frequente tendência à diminuição dos sintomas de instabilidade e 
impulsividade,  às  vezes  até  sem  tratamento  específico. 
Entretanto,  sem  um  ambiente  estruturado  e  sem  terapia, 
algumas pessoas podem até piorar – portanto, não é a idade em 
si  o  fator  determinante.  Entre  outros  profissionais  a  confirmar 
essa  tendência,  temos  o  Dr.  Erlei  Sassi  Junior,  formado  em 
medicina  e  psicoterapia  pela  Universidade  de  São  Paulo  (USP), 
que  estuda  pacientes  com  transtorno  borderline  há  15  anos  e 
atualmente  coordena  o  Ambulatório  dos  Transtornos  de 
Personalidade  e  do  Impulso  do  Instituto  de  Psiquiatria  do 
Hospital das Clínicas, também na capital paulista.  
 
O  mesmo,  ao  ser  indagado  sobre  as  principais  mudanças 
esperadas  no  Manual  de  Diagnóstico  e  Estatística  de  Distúrbios 
Mentais,  o  DSM‐V,  previsto  para  publicação  em  maio  de  2013, 
respondeu  à  Veja  Online  de  31/07/2011  o  seguinte:  “no  DSM‐V,  a 
principal evolução no diagnóstico do transtorno será a aplicação 
de  questionários  destinados  a  medir  duas  características. 
Primeira:  em  que  medida  o  paciente  se  vê  como  um  indivíduo 
autônomo,  ou  seja,  que  não  depende  dos  outros.  Quanto  mais 
considerar‐se  independente,  menos  graves  são  os  sintomas. 

                                                                     13
Segunda:  a  capacidade  do  paciente  de  colocar‐se  no  lugar  do 
outro. Quanto mais entender as aflições de outra pessoa, menos 
graves  são  os  sintomas.  Desta  maneira,  será  possível  medir  o 
nível  de  intensidade  do  transtorno.  Dependendo  do  grau  da 
doença, o tratamento muda.” 
 
Resumindo  –  não  há  uma  única  causa  específica  do  transtorno 
Borderline,  pois  a  manifestação  dos  sintomas  depende  do 
conjunto       individual      de     vulnerabilidades         e     a 
sequencia/combinação  de  eventos  que  impactaram  aquela 
pessoa.  Por  conseguinte,  é  importante  frisar  que  a  pessoa  que 
apresenta  o  transtorno  não  “tem  culpa”  pelo  aparecimento  e 
manifestação  dos  sintomas  de  Borderline,  e  nem  existe  uma 
figura  exclusiva  a  quem  possa  ser  atribuída  a  “culpa”  pelo 
desenvolvimento  do  transtorno,  entre  pais,  parentes,  parceiros, 
cônjuges ou amigos. 

É  essencial  lembrar  que  todos  nós  temos  momentos  de 
desregulação  emocional.  Porém  alguns  aspectos  que  levam 
certas  pessoas  a  serem  efetivamente  diagnosticadas  como 
portadoras  do  Transtorno  de  Personalidade  Borderline  dizem 
respeito  ao grau em que tais características afetam as suas
vidas e a dos outros, a intensidade e velocidade com que essas
emoções surgem e são expressas, e a demora em retornar para
um estado emocional mais objetivo e tranqüilo.  
 
A  possibilidade  de  que  a  causa  destes  comportamentos 
perturbadores  seja  o  Transtorno  de  Personalidade  Borderline 
deve  ser  contemplada,  avaliada  e/ou  confirmada  por  um 
profissional  da  área  de  saúde  mental,  única  pessoa  com 
competência  para  fazer  o  diagnóstico  preciso  e  oferecer  o 
tratamento e acompanhamento terapêutico adequado.  
 
Entretanto,  geralmente  são  os  familiares  ou  cônjuges  os 
primeiros  a  testemunhar  os  comportamentos  imprevisíveis  e 
impulsivos  apresentados  pela  pessoa  com  alta  sensibilidade 

                                                                   14
emocional  (potencialmente  Borderline),  e,  por  não  terem 
conhecimento suficiente sobre o assunto, ficam sem saber como 
agir  ou  reagir,  onde  e  que  tipo  de  ajuda  devem  procurar,  e  nem 
têm condições de avaliar devidamente se a ajuda encontrada é a 
mais adequada para o caso em questão.  
 
A própria pessoa com sintomas Borderline muitas vezes não sabe 
onde  e  como  procurar  ajuda  para  seus  dilemas  e  angústias, 
principalmente  se  nao  tem  conhecimento  do  conjunto  de 
características  que  pode  indicar  a  presença  do  transtorno.  E 
existem  também  fatores  pessoais,  econômicos,  familiares,  etc. 
que criam obstáculos à sua busca e obtenção da ajuda necessária 
e eficaz. Como resultado, normalmente há uma longa e lastimável 
demora  no  reconhecimento  do  problema  e  na  definição  do 
diagnóstico correto, assim como na posterior disponibilização de 
suporte e tratamento adequado.  
 
Foi justamente pensando neste aspecto – o da frequente
demora em se encontrar ajuda terapêutica eficaz - e
considerando que esse tempo perdido é traduzido em
sofrimento para cada pessoa e sua família - que tomamos a
iniciativa de oferecer uma compilação de “primeiros passos”
para que a própria pessoa com sintomas Borderline possa ir
adquirindo mais consciência e autoconfiança até que consiga
ter acesso ao devido apoio profissional.
 
Pois  o  sofrimento  emocional  é  um  fator  constante  na  vida  da 
pessoa  altamente  sensível,  decorrendo  basicamente  do  fato  de 
carregar  suas  emoções  à  flor  da  pele,  como  se  lhe  faltasse  uma 
importante  camada  protetora  que  a  maioria  dos  outros  possui. 
Ela  vive  num  turbilhão  emocional,  e  por  conseguinte  procura 
aliviar  sua  dor  de  qualquer  forma  disponível  no  momento  – 
mesmo se isto faz com que ela se vire contra os outros ou contra 
si  mesma.  É  como  se  estivesse  literalmente  pegando  fogo  e 
corresse desesperadamente em direção ao rio mais próximo para 
apagar  as  chamas,  nem  que  para  isso  tenha  de  derrubar  todos 
que se encontram em seu caminho.
                                                                       15
 
Esse  caos  interno  é  descrito  assim  em  primeira  mão  por  uma 
pessoa com sintomas Borderline: 


                                 “Você queria saber o pior sobre mim, as
                                 coisas que não contei para ninguém e
                                 escondi debaixo da superfície. Como posso
                                 explicar? Como posso explicar quem eu
                                 sou, se nem eu mesma sei com certeza?
                                 Como colocar em palavras os piores
                                 aspectos de mim, dos quais tenho fugido
                                 há tanto tempo? Vou lhe contar meus
                                 segredos, vou contar tudo. Pode ser que
                                 isso me ajude. Talvez você me deteste por
                                 isso ou talvez você entenda. Não sei, mas
                                 estou cansada de fugir. Então aqui vai,
vou lhe dar o que você pediu.

Eu te odeio. Isso não é verdade, mas às vezes acho que é. Não atendo o
telefone quando você liga, embora queira falar com você. Não te ligo, mesmo
sendo isso a única coisa que quero fazer. Não vou te procurar, embora todas
as partes de mim queiram fazer isso. Vou sentir raiva de você, vou querer te
magoar, vou te afugentar porque tenho medo que você se aproxime demais.
Preciso de sua atenção constante, seu apoio, mas os receberei com fria
indiferença.

Terei ciúme da atenção que você dá para outros, e terei raiva de você por me
ignorar. Vou me sentir bem carinhosa e próxima de você um dia, somente
para ficar com raiva de você e querer te expulsar da minha vida no dia
seguinte.

Sofro de amnésia emocional, talvez eu tenha sido sempre assim. Vejo cada
evento, cada dia, cada conversa como um evento separado, sempre buscando
sinais de que você possa vir a me magoar. Quando me sinto ignorada, fico
com raiva e esqueço que no dia anterior você me falou quanto que gostava
de mim.




                                                                         16
Sou um caos inconsistente. Existe uma parte de mim que está feliz e
confiante, e uma outra parte que é insegura e carente. Esses dias, nunca sei
que lado vai vir à tona.

Cada vez que acho que as coisas estão sob controle, que eu sei que você gosta
de mim e me sinto bem com nosso relacionamento, a dúvida e o medo
voltam. Talvez com tempo possam sumir inteiramente, mas tenho minhas
dúvidas. Basta aparecer um novo relacionamento, um novo amigo, um novo
dia, e tudo volta outra vez.

Você pergunta o que pode fazer por mim, e eu não sei o que lhe responder. A
minha parte carente quer sua atenção constante, precisa de suas palavras e
seus pensamentos, de sua presença. Mas sei que isto não é a resposta,
preciso aceitar as limitações em nosso relacionamento. A minha parte
assustada quer você fora da minha vida para facilitar as coisas. A minha
parte detestável quer te magoar e machucar porque acredita que você me
machucou.

Tudo que posso pedir é que você entenda, que não desista. Vou lhe ignorar às
vezes, posso ser grossa com você, posso tentar magoá-lo. Posso me esconder
de você e esperar que você me procure, para que eu sinta que você realmente
se importa comigo.

 Não é justo fazer essas coisas com você, mas eu as farei. Não posso lhe pedir
para agüentar isso tudo, não é justo, e, não importa como eu aja, gosto
demais de você para lhe sujeitar a isso tudo. Mas você perguntou, e é isso
que tenho a lhe dizer.

Não gosto disso. Não gosto de ser carente e pegajosa. Não gosto de magoar
as pessoas. Não gosto de ser grossa e sarcástica com as pessoas que me
cercam. Não gosto dessa parte de mim. Durante muitos anos ignorei isso e
fiz de conta que isso era eu, mas entendi agora que eu estava errada. Isso
não é eu – é uma falsa identidade criada para me proteger do mundo.

 Não foi fácil chegar a este entendimento, e talvez ainda não o tenha aceito
inteiramente. Mas encontrei o meu caminho, sinto que posso mudar e que
posso aceitar esse lado meu e impedi-lo de se tornar aquilo que sou. Não vai
ser fácil e não vai ser rápido, mas tenho fé que vou conseguir. Talvez um dia
eu me veja como a pessoa que você vê por trás de minhas defesas, e talvez
um dia vou permitir que os outros também vejam aquela pessoa.

                                                                          17
Isso é dirigido a você, mas você representa muitas pessoas. As pessoas que
estão próximas a mim agora. As pessoas das quais eu quero estar próxima
mesmo as tendo afugentado. Os amigos que afastei no passado, os amigos
que nunca perdoei e nunca permiti voltar para minha vida, os amigos aos
quais nunca tive oportunidade de dizer essas coisas. As pessoas que vou
conhecer no futuro, as pessoas das quais vou gostar até que novamente eu
as empurre para fora de minha vida. A parte de mim que ainda está
tentando entender quem eu sou. Você é estas pessoas todas e muitas mais”.
 
Os  conceitos  abordados  na  seção  a  seguir  estão  descritos 
também  no  primeiro  livro  da  autora,  Sensibilidade à Flor da Pele, 
dirigido  principalmente  a  familiares  de  pessoas  com  sintomas 
Borderline,  porém  são  incluídos  aqui  devido  à  sua  importância 
para o melhor entendimento dos aspectos mais problemáticas da 
alta sensibilidade emocional.   
 




                                                                       18
III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO
BORDERLINE

1. Vergonha / Invalidação
 
A  vergonha  é  um  aspecto  que  não  só  permeia  como  provoca 
muitas das ações e reações da pessoa com sintomas Borderline.  
 
Existem  diversas  maneiras  de  definir o  sentimento  de  vergonha. 
Mas,  basicamente,  podemos  dizer  que  a  vergonha  é  o  mal‐estar 
emocional  vinculado  à  idéia  de  alguma  ação  que  imaginamos 
censurada pelos outros e/ou por nós mesmos.  
 
Mas, de onde vem essa vergonha?
 
Essa sensação enraizada de vergonha entre muitas pessoas com 
sintomas  Borderline  é  geralmente  atribuída  a  um  ambiente 
“invalidante” na infância e/ou juventude – um ambiente em que 
as reações emocionais da criança, principalmente as negativas ou 
mal  compreendidas  (tais  como  raiva,  medo  e  tristeza)  foram 
tratadas com zombaria, ironia, impaciência, rejeição ou desprezo, 
e/ou  consideradas  inadequadas,  incômodas,  erradas,  inválidas, 
inaceitáveis  ou  indesejáveis;  um  ambiente  em  que  foram 
repetidamente  praticados  atos  ou  proferidas  palavras  para 
controlar, inibir, coibir ou moldar tais reações.  
 
Essa invalidação pode ser percebida e assimilada pela pessoa com 
alta  sensibilidade  emocional  em  uma  grande  variedade  de 
situações, desde casos de abuso sexual real a uma mera falta de 
sintonia  entre  sua  personalidade  e  a  dos  seus  pais.  Mesmo  pais 
amorosos  e  bem‐intencionados  podem  ter  dificuldades  em  lidar 
com  uma  criança  mais  sensível,  por  falta  de  conhecimento,  de 
tempo, ou outros fatores. 
 
Pessoas  com  predisposição  a  Borderline  podem  tornar‐se 
incapazes  de  validar  a  si  mesmas,  de  sentir  empatia  por  si 
mesmas,  de  se  consolar  e  acalentar,  de  gerar  e  manter  uma 
                                                                     19
autoconfiança  saudável.  Quando  a  manifestação  de  suas 
emoções  negativas  é  bloqueada  ou  punida,  isso  gera  uma 
resposta ou reação de vergonha – primeiro, pelo próprio fato de 
ter  sentido  essa  emoção  intensa,  e,  segundo,  por  ter  externado 
essa emoção, expondo‐se a crítica e juízo.  
 
A  vulnerabilidade  biológica  da  pessoa  com  sintomas  Borderline 
impede  que  ela  consiga  distinguir  entre  o  que  ela  é  e  o  que  ela 
sente,  e,  por  não  corresponder  às  expectativas  da  família  ou  da 
sociedade,  sente‐se  punida  de  alguma  forma  pelas  suas  ações, 
que  são,  por  sua  vez,  uma  manifestação  direta  de  seus 
sentimentos  e  impulsos.  Portanto,  ela  age  conforme  seus 
sentimentos  e,  caso  punida,  internaliza  que  está  sendo  punida 
pelo que ela é. 
 




                                                  
                                  
    Veja este comentário de uma pessoa com sintomas Borderline: 

“Um terapeuta me contou que toda família tem sua ovelha negra – essa
ovelha negra sendo a pessoa que se sobressai pelo seu poder, e que os outros,
por se sentirem inseguros em seu convívio, buscam controlar e fazer com
que se torne uma ovelha branca. Essa pessoa nunca conseguiu ser uma
ovelha branca, mas ficou com a sensação de que não se encaixava em lugar
nenhum. Infelizmente, ela tem Borderline.”
 

                                                                         20
A  reação  natural  a  um  sentimento  de  vergonha  é  acobertá‐lo, 
pois  a  pessoa  se  sente  vulnerável,  e  a  vergonha  acaba  gerando 
mais vergonha, num círculo vicioso. 
 
E  é  justamente  essa  vergonha  que  impede  muitas  pessoas  com 
sintomas Borderline de procurar ajuda na forma de terapia, pois 
isto  também  acarreta  duas  reações  distintas  de  vergonha.  Uma, 
resultante  do  medo  de  que  o  terapeuta  vai  conseguir  enxergar 
seus  defeitos  e  enquadrá‐la  como  problemática  e  imperfeita, 
como  uma  pessoa  que  precisa  ser  “consertada”.  E  outra,  pelo 
medo de que, se a terapia não der resultado, sua vergonha e seu 
fracasso serão confirmados oficial e publicamente.  
 
Passada  a  crise  de  desregulação  emocional,  a  pessoa  com 
sintomas  Borderline  pode  sentir‐se  envergonhada  e 
constrangida. Porém normalmente não expressa a sua vergonha, 
nem procura justificar seu comportamento, nem pede desculpas 
– mais uma vez porque, se admitisse sua culpa, poderia tornar‐se 
alvo  de  mais  crítica.  Ou  então  simplesmente  porque  ela  mesma 
não consegue se perdoar. 
 
Sua  vergonha  pode  intensificar‐se  rapidamente,  externando‐se 
em forma de tristeza, medo e raiva. A raiva, por ser uma emoção 
extremamente  forte,  frequentemente  prevalecerá  sobre  as 
outras. 
 
2. Raiva

Uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  ter  um  acesso  de 
raiva a troco de aparentemente nada: uma coisa mínima fora do 
lugar,  um  pequeno  atraso,  uma  palavra  descuidada,  uma  ligeira 
mudança de planos ‐ esses eventos remetem não só à vergonha 
mas  também  a  uma  hipersensibilidade  a  crítica, a  uma 
insegurança básica. A raiva tem a função, entre outras coisas, de 
criar uma barreira contra três sentimentos básicos que conduzem 
à  baixa  de  auto‐estima  –  vulnerabilidade,  impotência,  e 

                                                                    21
abandono. Porém, incontrolada e mal usada, acaba atrapalhando 
a  nossa  vida,  e  nessa  ânsia  de  nos  defender  desses  perigos, 
partimos para o ataque. 
 
Veremos  mais  adiante  algumas  dicas  para  atenuar  acessos  de 
raiva. 
 
3. Impulsividade

De  modo  geral,  nossas  emoções  podem  ser  desencadeadas  por 
sinais, indícios, impressões ou “vibrações” vindos do ambiente ao 
nosso  redor,  e  nosso  “sistema  imunológico  emocional”,  por 
assim  dizer,  automaticamente  procura  interpretar  o  significado 
desses sinais.  
 
No  caso  das  pessoas  com  sintomas  Borderline,  o  significado 
destes  sinais  pode  ser  interpretado  erroneamente,  levando  à 
impulsividade e comportamentos aparentemente injustificados.  
 
A  impulsividade  pode  ser  vista  como  uma  tendência  a  agir  com 
pouco  ou  nenhum  planejamento  para  reduzir  o  impacto  de 
estímulos  adversos.  Esta  reação  automática  pode  ser  essencial 
para sua sobrevivência quando você tiver que fugir de um perigo 
real,  como  desviar  de  um  outro  carro  ou  fugir  de  um  cachorro 
bravo. Entretanto, dependendo do contexto e da intensidade da 
resposta,  a  impulsividade  pode  ser  uma  característica 
disfuncional que gera sérios problemas na vida do Borderline.  
 
A impulsividade extrema pode levar a comportamentos de risco, 
tais  como  imprudência  ao  volante,  jogatina,  libertinagem, 
promiscuidade, associação com pessoas à margem da lei, excesso 
de  consumismo,  viagens  repentinas,  obsessão  por  cirurgias 
plásticas,  distúrbios  alimentares  como  anorexia  e  bulimia, 
autolesão,  tudo  com  o  mesmo  objetivo  básico:  aliviar  a  dor 
emocional através de uma alta dose de adrenalina ou através de 
outras fontes de dor que suplantem a dor original.  

                                                                    22
 
Um  fator  que  talvez  contribua  para  esta  impulsividade  é  uma 
possível diferença na organização dos circuitos neurais. Pesquisas 
recentes  com  ressonância  magnética  funcional  mostram  que  o 
cérebro  em  descanso  das  pessoas  com  sintomas  Borderline 
mostra maior ativação do córtex pré‐frontal (a parte do cérebro 
que  parece  ser  responsável  pela  análise  e  tomada  de  decisões, 
servindo  também  como  freio  de  agressão)  do  que  em  pessoas 
sem sintomas Borderline.  
 
Isto  se  traduz  em  uma  percepção  mais  aguçada  de  ameaças, 
geralmente na área emocional. Quando a ameaça é percebida ou 
efetivamente  se  materializa,  o  córtex  pré‐frontal  “desliga”  e  o 
sistema  límbico  “acende”.  Como  conseqüência,  a  pessoa  com 
sintomas  Borderline  reage  de  forma  reativa  e  impulsiva,  tendo 
seu  processo  decisório  inibido.  Isto  muitas  vezes  leva  a  uma 
desregulação  emocional  e  extrema  personalização  –  em  outras 
palavras,  ela  não  só  percebe  uma  ameaça,  mas  acredita  que 
esteja especificamente direcionada a ela. 
 
Um  dos  moderadores  da  atividade  no  córtex  pré‐frontal  é  a 
serotonina, que é o neurotransmissor modulador das vias senso‐
perceptivas  responsáveis  pela  sensação  de  dor,  e  que  também 
contribui  para  o  melhor  controle  do  impulso  sexual,  da 
agressividade  e  da  ansiedade.  Cogita‐se  que  deficiências  no 
metabolismo  da  serotonina  (e  na  quantidade  e  sensibilidade  de 
seus receptores) possam exacerbar os sintomas Borderline.  
 
O aspecto positivo desta visão neurobiológica é que este quadro 
pode  ser  aos  poucos  modificado  através  do  pensamento 
(durante  o  processo  da  terapia  Cognitiva  comportamental,  por 
exemplo), à medida que o córtex pré‐frontal vai sendo reativado 
e  re‐programado.  Isto  permite  que  as  emoções  se  transformem 
de impulsivas para ponderadas. E essa é uma das principais metas 
a ser buscada. 
 

                                                                    23
4. Variações de humor

                                Uma das principais características da 
                                pessoa  com  sintomas  Borderline  é  a 
                                sua  imprevisível  e  drástica  variação 
                                de  humor.  Sua  alta  sensibilidade  e 
                                reatividade  emocionais  prejudicam 
                                seu  processo  cognitivo,  seu 
                                raciocínio,  sua  tomada  de  decisões, 
                                sua auto‐confiança. Seu humor tende 
                                a oscilar de forma mais rápida do que 
ocorre  em  alguns  outros  distúrbios  comportamentais  (como  o 
bipolar, por exemplo), podendo mudar diversas vezes no decurso 
de  poucas  horas.  Isso  cria  um  clima  de  insegurança  geral  tanto 
para a própria pessoa quanto para seus amigos e familiares.  
 
A amídala, uma parte do sistema límbico, parece ter participação 
nesta labilidade/instabilidade emocional. Sua função principal é o 
processamento  de  emoções  e  o  armazenamento  de  lembranças 
emocionais.  Serve  também  como  o  sistema  de  alarme  do 
cérebro, acendendo as reações de fuga ou luta. A amídala recebe 
informacoes  sensoriais  do  corpo  através  do  tálamo  e  envia 
mensagens  para  muitas  outras  áreas,  inclusive  o  rosto,  ativando 
expressões  faciais,  além  de  estar  associada  com  o  olfato.  As 
pessoas com sintomas Borderline em alguns estudos mostraram 
ter  amídalas  bem  mais  ativas  do  que  a  maioria  da  população, 
levando  a  uma  intensificação  nas  reações  emocionais  a  quase 
todas as situações de vida, colocando‐as em estado praticamente 
constante de alerta e prontidão.  

5. Sensibilidade sensorial / ansiedade
 
As  pessoas  com  sintomas  Borderline  frequentemente 
apresentam  alta  sensibilidade,  não  só  a  cheiros,  mas  também  a 
outros  estímulos  sensoriais,  tais  como  texturas  (tecidos,  etc.), 
ruídos  (interpretando  como  ofensivos  alguns  sons  que  nao 

                                                                     24
incomodam  os  outros),  sabores,  luminosidade,  e  assim  por 
diante.  
 
As  pesquisas  também  indicam  que  pode  haver  uma  conexão 
entre  a  ansiedade,  a  impulsividade  e  variações  de  humor.  A 
ansiedade  é  geralmente  uma  das  primeiras  características 
observadas por terapeutas ao lidar com pessoas posteriormente 
diagnosticadas com Borderline (assim como a depressão).  
 
Se  fosse  promovida  uma  conscientização  maior  entre  pais  e 
professores  quanto  à  importância  da  detecção  precoce  de 
ansiedade  e  sensibilidade  exacerbadas  em  crianças,  talvez  elas 
pudessem  ser  ensinadas  técnicas  de  “coping”  para  aprender  a 
lidar  melhor  com  essas  características,  evitando  assim  o 
desenvolvimento de problemas mais sérios no futuro.  

6. Sensibilidade a crítica

As  pessoas  com  sintomas  Borderline  têm  tendência  a  reagir  de 
forma  inesperadamente  radical  a  críticas  e  rejeições  percebidas 
                           ou imaginadas; a evitar tarefas, reuniões 
                           ou  interações  sociais  em  que  possa 
                           surgir  qualquer  rejeição  implícita;  a 
                           monitorar  constantemente  as  reações 
                           dos  outros  para  detectar  algum  indício, 
                           por mais sutil que seja, de desaprovação 
                           no  seu  radar  emocional;  e  a  vivenciar 
                           antecipadamente  emoções  negativas 
                           com base em supostas rejeições futuras.  
 
Quando  tal  rejeição  ou  crítica  é  percebida  ou  efetivamente 
ocorre, principalmente quando parte de uma pessoa com a qual 
tenha  um  forte  vínculo  afetivo,  isto  gera  ondas  de  raiva, 
hostilidade e às vezes até violência física. Mais uma vez, isso tem 
a  ver  com  vergonha  e  medo  de  julgamento.  De  qualquer  forma, 
uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  vai  se  julgar  severamente 

                                                                    25
por  causa  da  vergonha  (sou uma má pessoa)  e  vai  se  rejeitar  (não
mereço aceitação).  
 
Além disso, por mais paradoxal que pareça, pode voltar‐se contra 
as  pessoas  que  lhe  estendem  a  mão  e  oferecem  aceitação, 
porque acha que no fundo não merece tal aceitação.  
 
Esta é a lei de “efeito e causa”, assim explicada por uma pessoa 
com sintomas Borderline: 
 
  “O mundo opera no sentido de “efeito e causa” (e não ao contrário).
Se eu sinto coisas de uma certa forma, vou procurar retroativamente
uma causa para as mesmas – uma causa que não possa ser atribuída
a mim! Pois se for, eu seria julgada como estando errada. E eu não
aguento ser julgada como errada.”

7. Interpretação equivocada de emoções

O  processamento  de  informações,  ou  seja,  o  processamento 
cognitivo  e  emocional,  é  intimamente  relacionado  ao  nosso 
sistema  neurobiológico.  Alterações  nesse  processamento  são 
frequentemente  o  primeiro  sinal  observado  pelos  parentes  e 
próximos de que tem algo na pessoa amada que foge à regra. 
 
Mesmo  afirmações  aparentemente  neutras  podem  ser 
interpretadas  de  forma  emocional,  e  levadas  pessoalmente, 
causando reações imprevistas. Pode  ser algo tão  inócuo como – 
“você  está  bonita  hoje”  (reação  personalizada,  focando  na 
palavra  “hoje”:  por que você diz isso, tou feia nos outros dias?),  e  assim 
por diante.  
 
O transtorno de personalidade Borderline geralmente apresenta 
obstáculos  à  comunicação  habitual.  As  palavras  dos  outros 
parecem sofrer uma distorção “no ar”, uma mutação inexplicável 
entre o instante em que são proferidas e o momento em que são 
ouvidas,  absorvidas  e  interpretadas  pela  pessoa  com  sintomas 

                                                                           26
Borderline,  muitas  vezes  já  com  conotação  negativa,  acusatória, 
crítica.  
 
Pesquisas  recentes  realizadas por  Larry  Siever  e  Barbara  Stanley 
indicam que alguns elementos químicos no cérebro, tais como a 
ocitocina, bem como o nosso sistema opióide endógeno, afetam 
nossa capacidade de confiar nos outros e firmar relacionamentos. 
Cada  área  do  cérebro  possui  uma  função  específica  e  precisa 
estar  corretamente  conectada  com  locais  neuroanatômicos 
específicos  para  que  todos  os  sistemas  funcionem 
adequadamente  em  harmonia.  Também  existem  muitos 
neurotransmissores e neuropeptídios (hormônios) envolvidos na 
regulação destes sistemas que afetam as formas de percepção de 
atos e palavras. 
 
Alguns       estudos      também 
mostram  que  as  emoções 
negativas  são  processadas  de 
forma  distinta  das  positivas, 
usando estruturas e viajando por 
circuitos  neurais  diferentes.  Os 
gatilhos  negativos  parecem 
provocar  respostas  mais  intensas  do  que  os  positivos.  Por 
aparentemente  possuírem  uma  propensão  inata  a  enxergar  as 
coisas  pelo  lado  negativo,  as  pessoas  com  sintomas  Borderline 
podem  encontrar  mais  dificuldade  em  administrar  relações 
interpessoais,  levando  tudo  para  o  campo  pessoal  e  assim 
intensificando suas reações. 
 
Um  aspecto  interessante  –  e  relevante  –  indicado  por  pesquisas 
usando  ressonância  magnética  funcional  é  que  as  pessoas  com 
sintomas  Borderline,  em  comparação  com  a  maioria  da 
população,  parecem  ter  uma  reação  muito  mais  intensa  e 
negativa  a  expressões  faciais  neutras,  interpretando‐as  como 
ameaçadoras, suspeitas, enigmáticas, negativas.  
 

                                                                    27
Isto  é  algo  a  ser  levado  em  conta  tanto  pelos  familiares  quanto 
pelos terapeutas. Pois os parentes, confrontados com acessos de 
raiva, geralmente procuram manter sua calma a qualquer custo – 
e acabam exacerbando a explosão emocional, por ter sua reação 
controlada interpretada como desinteresse, raiva contida, crítica, 
desamor,  condescendência,  etc.  E  os  terapeutas,  que 
normalmente  procuram  manter‐se  objetivos  e  impassíveis 
durante  suas  sessões,  podem  estar  transmitindo,  em  vez  de 
segurança  e  tranqüilidade,  algo  muito  diferente.  A  pessoa  com 
sintomas Borderline de modo geral parece preferir uma forma de 
comunicação  mais  emocional,  clara  e  vigorosa,  porém  sempre 
sem crítica ou julgamento. 
 
8. Distorção de           “fatos”     /    memória       emocional      /
atemporalidade
 
As  pessoas  com  sintomas  Borderline  podem  chegar  a  distorcer 
fatos ocorridos, em situações nas quais: 
            é menos doloroso mentir do que confessar a verdade; 
            querem dar uma impressão melhor à outra pessoa do 
            que elas têm de si mesmas;  
            querem evitar crítica ou autocrítica;  
            não conseguem enxergar a “verdade” por causa de 
            seu “raciocínio” emocional.  
 
Se  a  pessoa  a  quem  elas  contam  a  sua  versão  dos  fatos  tem 
probabilidade  de  julgá‐la  como  “má”  ou  “imperfeita”,  a 
expectativa  da  desaprovação  desencadeia,  primeiro,  a 
sensibilidade  e  reação  à  rejeição,  e  depois  a  vergonha,  porque  a 
pessoa  com  sintomas  Borderline  realmente  acredita,  no  fundo, 
que, se ela confessar a verdade, os outros vão descobrir que ela é 
uma “má pessoa” e vão acabar por rejeitá‐la totalmente.  
 
Algo que sempre precisa ser levado em conta é que: 
 
     A “verdade” da pessoa com sintomas Borderline é sua
                          emoção.
                                                                       28
A  pessoa  com  sintomas  Borderline  não  necessariamente  se 
baseia naquilo que vê, ouve, testemunha ‐ baseia‐se mais no que 
ela sente, e interpreta as coisas através das “lentes emocionais” 
de  suas  experiências,  mesmo  que  tal  interpretação  seja 
divergente dos “fatos” externos presenciados pelos outros à sua 
volta.  
 
E uma pessoa tomada por fortes emoções não consegue aceitar, 
assimilar,  arquivar  ou  reconhecer  informações  que  não 
confirmem ou não justifiquem tal emoção, conforme evidencia o 
seguinte depoimento:  
 

“As lembranças são como pastas no meu arquivo mental. Já que estou
sempre sendo julgada, eu uso esses arquivos seletivamente, assim como os
advogados no seu trabalho. Desta forma, somente serão utilizadas as
lembranças que se adéquam aos meus sentimentos do momento. Pois as
lembranças que apresentam provas contrárias aos meus sentimentos não
serão consideradas como provas admissíveis – ou então serão alteradas para
preservar a minha inocência.”
 
 
Portanto,  ela  estará  mais  propensa  a  re‐interpretar  ou  gerar 
“fatos” alternativos que possam corroborar o que está sentindo. 
Na  sua  visão,  não  está  efetivamente  “mentindo”,  mas  sim 
salientando  ou  selecionando  “fatos”  para  respaldar  sua  forte 
reação emotiva à situação vivida.  
 
É  muito  importante  entender  este  processo  que  leva  a  pessoa 
com  sintomas  Borderline  a  contar  inverdades,  pois  as  mesmas 
podem  ser  altamente  prejudiciais  e  ofensivas  às  pessoas  à  sua 
volta,  que,  por  desconhecerem  o  transtorno  e  suas 
características, não sabem que não devem levar essas acusações 
pessoalmente, e que não devem tentar se defender das mesmas, 
pois  estas  são  um  reflexo  de  ataque  ou  contra‐ataque  sobre  o 
qual  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  tem  pouco  ou  nenhum 
controle. 
                                                                       29
Às  vezes  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  relatam  eventos 
para  amigos,  parentes  e  terapeutas  de  forma  bem  diferente  do 
que  efetivamente  aconteceram.  Podem  até  acusar  seus  pais  de 
abuso,  sem  fundamento  na  realidade  vivenciada  pelos  outros.  É 
importante, portanto, ter uma visão mais clara de como funciona 
o  processo  de  elaboração  de  lembranças  emocionais 
(envolvendo  a  amídala,  o  hipocampo,  lobo  temporal,  entre 
outros)  para  entender  melhor  eventuais  divergências  de  fatos 
ocorridos.  
 
Frequentemente, por ter uma forte desconfiança do mundo e das 
pessoas  que  a  cercam,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  se 
sente  vulnerável  e  impotente.  E  já  que  as  suas  emoções  podem 
ser desencadeadas e desreguladas com tanta facilidade e rapidez, 
de  forma  tão  dolorosa,  ela  quer  proteger‐se  contra  essa  dor,  e 
pode  enxergar  sua  vulnerabilidade  como  uma  forma  de  abuso 
emocional pelos outros, em vista da intensidade da dor que isso 
acarreta. Em consequência, ela pode incorporar essa percepção à 
sua memória e “história pessoal” como se de fato tivesse sofrido 
abusos concretos. 
 
Devemos  também  lembrar  do  aspecto  de  atemporalidade  ‐  a 
pessoa  com  sintomas  Borderline  tende  a  fazer  uma  conexão 
direta  e  atemporal  entre  experiências  emocionais  do  passado  e 
acontecimentos  atuais,  porque  a  sensação  para  ela  é  uma  só  ‐ 
não faz diferença se algo aconteceu há uma hora ou há vinte anos 
atrás. Por conseguinte, pode acabar agindo com base na soma de 
suas  lembranças  emocionais,  com  uma  intensidade  que  aos 
outros parece desproporcional à situação presente: 


 “Todo tempo é presente. Se algo me incomoda agora, é diretamente
relacionado à maior dor que já senti – e essa dor vem se juntar ao presente
também. O tempo não cura feridas porque, na realidade, o tempo não passa.
Tudo – passado, presente, e futuro – está sempre no aqui e no agora.”



                                                                        30
Portanto,  se  algo  no  ambiente  da  pessoa  com  sintomas 
Borderline a remete a uma memória implícita ou emocional, e se 
ela  interpreta  algo  equivocadamente  de  forma  personalizada, 
suas  emoções  são  deflagradas  sem  que  ela  saiba  por  que, 
reativando  seguidamente  a  experiência  emocional  do  passado. 
Eventos  ou  palavras  que  magoaram  a  pessoa  no  passado 
parecem ser revividos com o mesmo (ou até maior) grau de dor, 
sofrimento  e  intensidade  emocional,  como  se  tivessem  acabado 
de  acontecer,  independente  da  cronologia  real.  A  dificuldade 
inerente que as pessoas com sintomas Borderline têm em deixar 
para  trás  lembranças  desagradáveis  faz  com  que  vivam  em 
constante  sofrimento,  o  qual  não  é  atenuado  nem  compensado 
por lembranças de bons momentos. 
 
9. Atribuição de culpa

A  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  responsabilizar  os 
outros  (seja  Deus,  o  destino,  o  mundo,  a  vida,  os  colegas  de 
trabalho,  os  pais,  o  cônjuge,  etc.)  pelos  problemas  percebidos,  
entre outras causas porque ela mesma não quer ser vista como a 
“causa”  de  problemas  ou  sofrimento.  Isso  a  tornaria  uma  “má 
pessoa”  e,  assim  sendo,  ela  mereceria  nada  menos  do  que  a 
morte  (parece  dramático,  mas  a  vida  das  pessoas  com  sintomas 
Borderline  é  permeada  de  drama,  de  hipérboles,  de  extremos). 
Portanto, é mais fácil atribuir a culpa a outras pessoas ou fatores 
externos.  
 
Isto  não  representa  exatamente  uma  projeção,  e  sim  uma 
tentativa de desvio de atenção, por medo de rejeição, de crítica e 
julgamento,  de  sofrimento.  Se  ela  tivesse  culpa  “no  cartório”, 
isso  reforçaria  a  sua  vergonha  e  a  sua  certeza  de  que  não 
consegue fazer nada direito. Pelo seu prisma de preto ou branco, 
oito  ou  oitenta,  basta  uma  ponta  de  culpa,  e  ela  já  se  sente 
condenada.  
 

                                                                     31
Como  disse  um  homem  com  Borderline  para  a  sua  esposa,  ao 
tentar explicar porque a culpava por tantas coisas: 
 
  “Eu quero que todo mundo concorde comigo. Se não concordam comigo,
começo a ficar ansioso. Quando você discute comigo, quando você não está
jogando no meu time, fico achando que você me considera um fracassado.
Fico extremamente irritado quando você não concorda comigo. Não sei bem
por que – simplesmente fico frustrado, e depois fico com raiva de você
porque me sinto frustrado.”


É  por  isso  que,  passado  o  período  de  desregulação  emocional, 
quando  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  retorna  a  um  humor 
mais estável, raramente “assume responsabilidade” pelo que fez 
ou  disse,  nos  moldes  do  que  os  outros  esperam  –  seja  com  um 
reconhecimento  de  culpa,  com  um  pedido  de  desculpas  ou  com 
explicativas e justificativas. 

10. Medo de abandono / medo de intimidade




Estes  dois  medos  –  tanto  de  abandono  quanto  de  intimidade    ‐ 
são  os  dois  lados  da  mesma  moeda  –  e,  no  mundo  “preto  ou 
branco”  da  pessoa  com  sintomas  Borderline,  o  medo  de 
intimidade  pode  alternar  para  medo  do  abandono  muito 
rapidamente, e vice‐versa.  
                                     
                                                                     32
Relacionamentos  intensos  e  íntimos  envolvem  emoções  muito 
profundas. Infelizmente, para a pessoa com sintomas Borderline, 
essas  emoções  podem  ser  apavorantes,  por  serem  fortes, 
cansativas  e  desgastantes  demais.  Por  isso  ela  pode  afastar  a 
pessoa  amada  com  medo  de  se  perder  neste  turbilhão  de 
emoções.  Ela  sente  que  não  dá  conta  de  lidar  com  todos  os 
aspectos  desse  envolvimento  e  fica  com  medo  de  perder  a 
percepção de seu “eu”.  
 
Por  outro  lado,  um  dos  seus  maiores  medos  é  o  medo  de 
abandono  pelas  pessoas  que  ela  preza.  Assim  sendo,  muitas 
vezes opta por terminar um relacionamento – de forma brusca e 
irremediável ‐ para não ter que sofrer essa perda pressentida do 
“eu”, sofrimento este alimentado tanto pelo medo de abandono 
quanto pelo medo de intimidade.  
 
Em  outras  palavras,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode 
optar por cortar relações com  outros  para impedir que  ocorra  o 
abandono  previsto  ou  então  para  mostrar  que  não  precisa  do 
outro, ou então para evitar possíveis críticas e rejeição. Assim ela 
acredita  poder  controlar  melhor  a  situação  para  mitigar  seu 
(potencial) sofrimento.  
 
Mas  é  importante  falar  um  pouco  mais  sobre  a  questão  do 
abandono, pois é necessário entender que, para uma pessoa com 
sintomas  Borderline,  “abandono”  pode  significar  muito  mais  do 
que  o  abandono  físico  mais  objetivamente  percebido.  Existem 
outros  tipos  de  abandono  mais  sutis  que  são  impactantes.  Por 
exemplo, o sentimento de abandono pode ser deflagrado por: 
 
    sensação de falta de compreensão por parte dos outros; 
    dificuldade em se entrosar ou participar de um grupo; 
    sensação de solidão, de nostalgia; 
    sensação de perda pelo rompimento de um relacionamento; 
    morte de um animal de estimação; 
    mudança de residência;  

                                                                   33
perda de emprego; 
    medo de rejeição ao descobrir preferência por 
    relacionamentos com pessoas do mesmo sexo; 
    sensação de falta de rumo na vida; 
    falta de definição de identidade; 
    carência emocional;  
    percepção de rejeição, impaciência, invalidação;  
    morte de pessoa querida. 
 
Uma sensação de abandono é uma ferida profunda, muitas vezes 
pouco  compreendida,  que  pode  passar  despercebida  pelos 
outros à sua volta. 
 
11. Atitude “oito ou oitenta”

                                     A  pessoa  com  sintomas 
                                     Borderline  tem  a  tendência  de 
                                     ver  o  mundo  externo  ou  de 
                                     forma  muito  positiva  ou  então 
                                     muito          negativa,         e 
                                     frequentemente oscila de forma 
                                     inesperada  entre  esses  dois 
                                     extremos  de  opinião.  Essa 
                                     variabilidade       pode       ser 
extremamente frustrante e confusa para quem a ama, porque ela 
pode  achar  alguém  maravilhoso  um  dia,  e  detestável  no  dia 
seguinte.  
 
Por  exemplo,  quando  uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  se 
sente  (para  isso  bastando  a  sua  interpretação,  visão,  percepção 
do  caso)  criticada  por  um  amigo,  provavelmente  dirá  a  outros 
que  ele  é  burro,  incompetente,  mentiroso,  traiçoeiro,  etc.  Ao 
invés  de  esperar  passar  sua  onda  de  revolta  e  raiva  contra  o 
amigo, a pessoa com sintomas Borderline poderá impulsivamente 
romper com ele de forma radical, fazendo assim com que ele se 
afaste definitivamente – mais uma vez, mantendo‐se fiel à diretriz 

                                                                    34
pessoal  de  “abandonar  antes  de  ser  abandonada”,  baseada  na 
seguinte crença:  


 “Pensamento é realidade. Se penso em algo, já é fato. Se alguém menciona
                              algo, já é fato.”



12. Ruminação

As  pessoas  com  sintomas  Borderline  são  propensas  a  ficar 
remoendo  acontecimentos  e  conversas  para  tentar  detectar  a 
possível existência de críticas veladas ou segundas intenções por 
parte  de  outros.  Essa  tendência  a  ficar  remoendo  ou  ruminando 
pode explicar algumas manifestações de desconfiança e medo.  
 
Isto envolve a personalização, isto é, a atitude de levar tudo para 
o campo pessoal, pois o medo de crítica e de julgamento faz com 
que  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  acredite  que  tudo,  tudo 
mesmo, tem a ver com ela. 
 
A ruminação pode desencadear o “raciocínio emocional”, em que 
os  sentimentos  se  equiparam  a  fatos.  Pois,  conforme  ilustrado 
por  um  dos  depoimentos  acima,  a  pessoa  com  sintomas 
Borderline  pensa  em  ordem  inversa,  isto  é,  partindo  do  efeito 
para  a  busca  de  uma  causa.  Assim  sendo,  basta  ela  achar  que 
existe uma segunda intenção para que isto se torne um fato para 
ela e uma base plausível para futuras ações e reações.  
 
A pessoa com sintomas Borderline fica mais inclinada a entrar em 
processo  de  ruminação  quando  está  ociosa,  entediada,  ou 
quando  sofre  de  insônia  (o  que  é  bastante  comum,  como 
veremos mais adiante). 
 
Uma  forma  de  ajudar  a  combater  essa  tendência  de  remoer  as 
coisas  é  buscar  se  envolver  em  atividades  prazerosas,  sejam 

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físicas, mentais, sociais ou outras. Além disso, algumas formas de 
meditação  que  visam  a  concentração  no  momento  presente  ‐ 
como,  por  exemplo,  o  estado  de  plena  atenção  (o  mindfulness)
proposto  pelo  budismo, que  é  usado  também  no  mundo 
corporativo  para  combater  o  estresse  ‐  ajudam  a  pessoa  a 
aprender a se preocupar menos com o passado e o futuro.  

13. Depressão / Medicamentos
 
                                A  pessoa  com  sintomas  Borderline 
                                muitas  vezes  faz  uso  de  grandes 
                                quantidades  de  bebida  alcoólica 
                                e/ou drogas para amortecer sua dor 
emocional.  O  perigo  é  exacerbado  pelo  fato  de  que  consegue 
ingerir  quantidades  espantosas  de  medicamentos  (inclusive 
remédios  receitados  pelos  seus  médicos,  tais  como  ansiolíticos, 
analgésicos,  antidepressivos,  etc.)  e/ou  drogas  ilícitas,  ou  álcool, 
sem  perder  a  consciência  e  sem  sofrer  efeitos  de  overdose  ou 
ressaca.  
 
Infelizmente,  esses  remédios  e  drogas  podem  ter  sérios  efeitos 
colaterais  –  muitas  vezes  gerando  o  próprio  efeito  que 
supostamente  deveriam  combater  (como  antidepressivos  que 
geram pensamentos suicidas) – e podem aumentar o descontrole 
emocional ou estimular a impulsividade. Por conseqüência, além 
do  perigo  inerente,  os  resultados  de  seu  uso  podem  acabar 
gerando mais vergonha e autopunição por parte da pessoa com 
sintomas Borderline.  
 
É  comum  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  sentir  intensa  dor 
emocional  em  diversas  ocasiões  durante  o  dia,  todo  dia.  Já  que 
essas  emoções  são  emoções  básicas,  como  tristeza,  raiva  e 
medo,  as  reações  às  mesmas  são  tanto  físicas  quanto  mentais. 
Esses  estados  emocionais  são  tão  poderosos  que  prevalecem 
sobre o pensamento racional. Ao sentir dor, independente da sua 


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fonte, a reação primordial do corpo e da mente é de buscar alívio 
o mais rápido possível, por qualquer meio que seja.  

14. Insônia

Uma das manifestações físicas 
comuns  de  Borderline  é 
insônia. Isso se deve em parte 
ao  fato  de  ficar  remoendo 
acontecimentos  (reais  ou 
imaginados,  passados  ou 
futuros). 
                  
Além  disso,  existem  indícios 
de  que  a  composição  química 
do  cérebro  da  pessoa  com  sintomas  Borderline  não  permita  ao 
organismo  um  eficiente  aproveitamento  da  serotonina,  um 
neurotransmissor que atua como sedativo e calmante natural do 
nosso  corpo.  Muitas  pessoas  com  sintomas  Borderline  precisam 
de soníferos para conseguir adormecer e acabam tomando esses 
remédios  em  altas  doses,  por  não  surtirem  efeito  facilmente.  A 
falta  de  descanso  adequado  acaba  exacerbando  as 
manifestações  de  sintomas  Borderline,  tais  como  ansiedade, 
isolamento, variações de humor e sensibilidade a estresse.

15. Problemas de Interação Social

As  pessoas  com  sintomas  Borderline  são  frequentemente  vistas 
como pessoas egoístas/egocêntricas que pouco se importam com 
os  problemas  e  o  sofrimento  dos  outros.  Precisamos  lembrar, 
entretanto,  que,  já  que  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  age 
sob  o  efeito  de  fortes  emoções  (principalmente  negativas),  ela 
tem  dificuldade  em  enxergar  muito  além  de  seu  redemoinho 
pessoal de preocupações.  
 
Muitas  vezes  ela  fica  insegura  em  certos  contextos  sociais, 
fazendo  com  que  fale  excessivamente,  entregando‐se  a  longos 
                                                                    37
monólogos  (geralmente  sobre  si  mesma),  usando  linguagem 
inapropriada ou abordando assuntos inadequados para a ocasião 
e para sua platéia.  
 
Embora  possa  parecer  que  isso  seja  fruto  de  alta  auto‐estima  e 
uma  demonstração  de  falta  de  consideração  com  os  outros,  na 
realidade o que ocorre é que ela passa muito tempo procurando 
detectar  se  as  outras  pessoas  enxergam  a  sua  vergonha  e  a 
rejeitam,  monitorando  constantemente  o  seu  ambiente  para 
captar  sinais  de  desaprovação,  às  vezes  manifestando 
comportamentos  de  extrema  desconfiança  e  até  tendências 
paranóicas.  
 
Neste  sentido,  Larry  Siever  pondera  que  talvez  níveis  baixos  de 
opióides  endógenos  nas  pessoas  com  sintomas  Borderline 
contribuam  para  intensificar  suas  emoções  negativas  e  sua 
sensação  de  vazio  interior  e  disforia  (depressão,  tristeza, 
melancolia,  pessimismo),  alimentando  também  sua  busca 
impetuosa  por  laços  afetivos  e  sua  reação  exacerbada  a  uma 
perda dos mesmos. Isto tem a ver com o fato de que a satisfação 
geralmente  obtida  através  de  vínculos  emocionais,  desde  a 
infância, parece fugir do alcance de muitas pessoas com sintomas 
Borderline.  
 
Hoje  em  dia,  com  a  facilidade  de  comunicação  via  internet  e 
celular,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  facilmente  criar 
uma rede de relacionamento “virtual”, o que lhe permite passar 
rapidamente  de  mera  “conhecida”  para  “amiga  do  peito”, 
contando detalhes de sua vida íntima, para que os outros fiquem 
com dó dela e/ou sintam admiração por ela.  
 
Assim, cria um contingente de pessoas que estão “do lado dela”, 
compensando  a  sua  carência  afetiva,  alimentando  sua  fome  de 
aceitação,  validação,  elogios,  carinho,  respeito.  Isso  também  lhe 
permite  controlar  melhor  o  desenrolar  e  a  intensidade  de 


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relacionamentos,  inclusive  seu  eventual  término  (novamente, 
garantia de que possa abandonar antes de ser abandonada). 
 
O  mesmo  ímpeto  de  busca  de  aprovação  muitas  vezes  leva  as 
pessoas  com  sintomas  Borderline  a  se  moldar,  como  um 
camaleão, aos anseios, interesses e preferências dos que querem 
impressionar  e  cativar,  tais  como  namorados,  surpreendendo‐os 
e  encantando‐os  com  o  nível  de  empatia,  sensibilidade  e 
compatibilidade demonstradas. 
 
16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas

Às  vezes  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  recorrem  à 
autolesão,  cortando‐se  com  giletes  ou  facas,  queimando‐se  com 
fósforos  ou  cigarros,  arrancando  mechas  de  cabelo,  cutucando 
unhas ou o rosto até sangrar.  
 
Mas  ‐  por  que  alguém  buscaria  infligir  dor  a  si  mesmo? 
Aparentemente, segundo pesquisas recentes feitas pela Barbara 
Stanley  da  Universidade  de  Colúmbia,  a  percepção  de  dor  entre 
as  pessoas  com  sintomas  Borderline  diminui  durante  os 
momentos  de  autolesão,  ao  mesmo  tempo  que  aumentam  seus 
níveis  de  opióides  endógenos  (produzidos  pelo  próprio  corpo). 
Assim, quando se cortam, sentem mais um alívio psíquico do que 
dor física.  
 
É  importante  lembrar  que  o  objetivo  primordial  desses  atos  de 
autolesão  não  é  chamar  atenção,  até  porque  muitos  episódios 
ocorrem  longe  dos  olhares  das  pessoas  que  as  amam.  Às  vezes, 
quando  não  conseguem  encobrir  ou  disfarçar  os  cortes  ou 
cicatrizes resultantes, isso acaba gerando ainda mais vergonha e 
constrangimento  quando  os  outros  reparam  e  comentam  sobre 
os mesmos.  
 
Como pode ser visto na literatura e também nos depoimentos de 
pessoas  com  o  transtorno  e  nos  blogs  mencionados, 

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pensamentos suicidas são bastante comuns e recorrentes, pois o 
desânimo  diante  das  dificuldades  enfrentadas  nos 
relacionamentos, principalmente, é muito grande, e a pessoa, ao 
se sentir extremamente frustrada e magoada, pode cogitar uma 
fuga definitiva. 
 
 
                                
 
 




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IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA
 
Se você se identificou com uma série de características descritas 
acima, e viu como são comuns a tantas outras pessoas com alta 
sensibilidade emocional, você poderá até constatar que, entre as 
suas amizades e outros relacionamentos, você já está em contato 
com pessoas com características semelhantes, com as quais você 
poderá compartilhar e comentar suas novas descobertas.  
 
Mas, e com relação aos outros à sua volta? O que você deve dizer 
ou deixar de falar? Esse aspecto é bem delicado. Antes de tomar 
qualquer  atitude,  o  ideal  seria  que  obtivesse  confirmação  do 
diagnóstico  efetivo  de  transtorno  de  personalidade  Borderline, 
elaborado  por  um  profissional  qualificado  da  área  de  saúde 
mental.  
 
Mas, como já comentamos, esse processo pode ser muito difícil e 
demorado.  Portanto,  até  que  você  consiga  fazer  terapia  eficaz 
com um profissional experiente nesta área, mesmo que seja para 
tratar  de  alta  sensibilidade  emocional,  ou  ansiedade,  depressão 
ou  síndrome  do  pânico,  ou  distúrbio  alimentar  ou 
comportamental,  ou  algo  semelhante,  o  importante  é  que  você 
não se sinta sozinha e desamparada. Use todas as ferramentas e 
contatos  possíveis  para  buscar  apoio  e  compreensão,  tais  como 
livros, blogs, amigos (sejam virtuais ou não). 
 
Dentro de sua própria família, você corre o risco de não encontrar 
muita  receptividade  ao  falar  sobre  suas  angústias  emocionais 
como  possíveis  sinais  de  um  transtorno  comportamental,  por 
uma  série  de  motivos.  Entre  outros:  seus  pais,  por  exemplo, 
podem  achar  que  estão  sendo  acusados  de  ter  lhe  criado  de 
forma  errada  e  vão  reagir  repelindo  essa  idéia  e  tudo  que  a 
mesma  implica  (seja  por  sentimento  de  culpa  ou  outro);  seus 
parentes  podem  não  se  sentir  em  condições  de  lidar  com  a  sua 
dor e portanto vão negar que você tenha qualquer “problema”; 
podem  hesitar  em  admitir  perante  outros  que  você  seja  um 

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pouco  “diferente”,  uma  espécie  de  “ovelha  negra”  que  não  se 
encaixa  nos  padrões  aceitos  pela  família  e  pela  sociedade  em 
geral;  os  cônjuges  ou  namorados  podem  ficar  temerosos  em 
dizer  ou  fazer  algo  “errado”  e  exacerbar  seus  sintomas  (por 
estarem  “pisando  em  ovos”),  e/ou  podem  ter  medo  de  ter  que 
mudar  algo  neles  mesmos  para  lidar  com  você  de  forma  mais 
compreensiva e eficaz.  
 
Basicamente,  entretanto,  na  maioria  dos  casos  podemos 
procurar partir do pressuposto de que estas atitudes de aparente 
falta de empatia e apoio podem ser atribuídas mais a uma falta de 
conhecimento  e  de  flexibilidade,  do  que  a  uma  real  má  vontade 
ou desinteresse.  
 
Às  vezes  sonhamos  com  um  tipo  de  apoio  e  compreensão  que 
simplesmente  não  vem  da  forma  e  na  hora  que  queremos  – 
nestes casos, devemos procurar aceitar as limitações dos outros, 
assim  como  queremos  que  os  outros  aceitem  as  nossas.  E  fica 
sempre  aquela  dúvida  no  ar  –  será  que  o  problema  está  no 
excesso  de  expectativas,  ou  na  insuficiência  do  retorno 
esperado?  
 
De  modo  geral,  as  pessoas  possuem  um  sistema  de  crenças 
estabelecido, e têm medo de fazer mudanças. Além disso, muitas 
fazem julgamentos e críticas de forma automática e praticamente 
inconsciente.  Rebaixar  os  outros  não  deixa  de  ser  uma 
ferramenta  que  algumas  pessoas  usam  para  se  sentir  mais 
poderosas. Por isso, acham‐se no direito de julgar os outros pela 
sua  situação  econômica,  pelas  suas  decisões,  pelo  seu 
comportamento,  pela  sua  aparência,  até  pelo  seu  cansaço,  falta 
de  ânimo,  estado  de  saúde,  e  assim  por  diante  –  chamando  os 
outros de “fracos”, “frescos”, “incompetentes”, “lerdos”, etc. 
 
Os  conceitos  rígidos,  às  vezes  expressos  de  forma  repetida  e 
enfática,  com  relação  ao  que  é  “certo“  ou  “errado“  não  levam 
em  conta  a  “possibilidade”  de  que  as  opiniões  tão 

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orgulhosamente defendidas possam não ser a “verdade suprema 
e única”... Opiniões são somente isso – opiniões. Elas podem ser 
úteis  para  nortear  a  nossa  própria  vida  e  nossas ações,  mas  não 
constituem uma verdade absoluta que deva ser obrigatoriamente 
acatada por todos à nossa volta.  
 
Com  relação  ao  conceito  de  “verdade”  versus  “mentira”, 
devemos  lembrar  que  “verdade”  pode  significar  algo  diferente 
do  que  “fatos  ocorridos”,  conforme  já  mencionado,  e  até  a 
descrição  de  fatos  ocorridos  pode  variar  de  uma  pessoa  para 
outra  –  dez  testemunhas  de  um  acidente  ou  crime  podem 
oferecer dez relatos diferentes, e três irmãos podem recordar um 
acontecimento na infância de modo inteiramente diverso.  
 
Além  disso,  muitas  vezes  as  pessoas  confundem  aceitação  com 
aprovação, e têm medo de abrir mão de sua postura habitual por 
acreditar  que  elas  mesmas  serão  julgadas  como  fracas  ou 
indecisas ou “sem caráter”. A tendência mais enraizada é sempre 
buscar  impor  aos  outros  nossos  próprios  parâmetros,  julgando 
que  nossa  linha  de  conduta  é  a  única  certa.  Muitas  pessoas  se 
orgulham  de  seu  discernimento,  de  seus  preceitos  morais,  de 
saber  distinguir  entre  o  certo  e  o  errado,  às  vezes  agarrando‐se 
mais  à  sua  própria  necessidade  de  auto‐afirmação  do  que 
pensando no bem estar e sentimentos dos outros.  
 
É  importante,  entretanto,  aceitar  que  as  emoções  não  são  nem 
certas nem erradas – simplesmente  são. E indispensável adquirir 
uma  compreensão  mais  ampla  da  força  e  da  importância  das 
emoções,  não  necessariamente  em  contraposição  à  razão,  mas 
em  complementação  à  mesma.  É  através  do  casamento 
equilibrado  do  emocional  com  o  racional  que  conseguimos 
otimizar a nossa tomada de decisões na vida. 

É interessante observar que os estudos da neurociência mostram 
claramente que a parte emocional do cérebro aprende coisas de 
um  modo  diferenciado  da  área  de  pensamento  lógico.  As 

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habilidades  de  inteligência  emocional  são  desenvolvidas  numa 
região  do  cérebro  chamada  sistema  límbico,  que  controla  os 
instintos,  os  impulsos,  as  motivações.  Por  outro  lado,  as 
habilidades  técnicas  e  analíticas  são  aprendidas  no  neocórtex, 
que é a parte do cérebro que processa a lógica e os conceitos. 
 
Mas,  voltando  a  uma  pergunta  comum  –  a quem você pode ou
deve contar que você acha ou sabe que tem sintomas
Borderline? A resposta é – depende. 
 
Primeiro,  você  tem  que  avaliar  isso  caso  a  caso,  para  tentar 
minimizar  o  risco  de  se  expor  a  críticas,  discriminação  (sim, 
infelizmente  tem  essa  possibilidade),  perda  de  confiança. 
Algumas  pessoas,  por  desconhecimento,  podem  achar  que  você 
só  está  querendo  justificar  suas  próprias  ações  e  reações  ao 
alegar  problemas  emocionais,  podem  começar  a  se  distanciar,  a 
espalhar  boatos  sobre  você  –  coisas  que  você  certamente  quer 
evitar.  
 
Depende  também  do  relacionamento  que  você  tem  com  a 
pessoa, depende da forma e do momento em que você aborda e 
explica o assunto, depende das idades e parentescos envolvidos, 
e  assim  por  diante.  Mais  uma  vez,  o  ideal  seria  ter  o  suporte  de 
um  profissional  compassivo  e  experiente.  Na  falta  do  mesmo, 
procure  antes  de  mais  nada  sempre  avaliar  a  fundo  exatamente 
por  que  você  está  querendo  (ou  precisando)  contar  a  alguém 
sobre  seu  problema,  e  quais  são  os  possíveis  e/ou  prováveis 
benefícios/riscos/conseqüências. 
 
O  caminho  mais  recomendável  talvez  seja  o  de  informar  os 
outros,  na  medida  que  julgar  necessário  e  viável,  que  você 
simplesmente  tem  dificuldade  em  administrar  suas  emoções  e 
reações,  e  que  você  está  trabalhando  isto,    assim  como  muitas 
pessoas ‐ inclusive executivos de grandes empresas – freqüentam 
cursos para aprender a controlar estresse e raiva.  
 

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Pode ocorrer que você realmente tenha magoado e prejudicado 
outras pessoas no passado por comportamentos decorrentes de 
sua  impulsividade,  intolerância  a  crítica,  medo  de  abandono,  e 
outras características da alta sensibilidade emocional.  
 
Por  exemplo,  você  pode  ter  se  afastado  de  sua  família  e 
“adotado” a família de amigas ou namorados/cônjuges, por sentir 
que nestes outros ambientes você estará menos sujeita a críticas 
e  cobranças.  A  sua  dedicação  e  seus  atos  de  bondade  são 
apreciados  de  uma  forma  que  alimenta  a  sua  auto‐estima,  e  lhe 
faz  sentir‐se  mais  útil  e  acolhida.  Entretanto,  talvez  você  não  se 
dê  conta  da  dor  causada  aos  seus  familiares  pelo  seu 
afastamento e aparente rejeição dos mesmos.  
 
Aos poucos, com terapia e uma reprogramação de suas reações, 
talvez  você  consiga  “chegar”  nessas  pessoas  que  lhe  são 
importantes  e  começar  a  reconstruir  seu  relacionamento.  Nada 
como um dia após o outro, mesmo não havendo garantia de que 
as coisas transcorram na forma exata que desejaríamos.  




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V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS
 
Não é muito comum uma pessoa com sintomas Borderline buscar 
ajuda psicoterápica por iniciativa própria para o transtorno em si 
–  e,  também,  muitas  vezes,  mesmo  quando  inicia  terapia  e  a 
mesma começa a focar o transtorno, ela a abandona. 
 
Pois,  considerando  que  a  pessoa 
com  sintomas  Borderline  sofre 
intensamente com crítica e medo de 
rejeição,  vergonha  de  si  mesma,  e 
confusão  quanto  aos  seus  próprios 
sentimentos,  uma  abordagem  que 
não  leva  esses  aspectos  em  conta 
provavelmente  não  terá  muito 
sucesso.  É  importante  o  terapeuta 
dar  o  mesmo  tanto  de  importância 
ao aspecto de aceitação quanto ao de necessidade de mudança, 
o que otimiza as chances de continuação do tratamento. 
 
Terapias  tradicionais  que  partem  do  pressuposto  de  que  os 
comportamentos  de  hoje  são  causados  por  experiências  do 
passado  muitas  vezes  não  levam  em  conta  os  componentes 
neurobiológicos  do  Borderline,  limitando  assim  seu  potencial  de 
êxito.  
 
Mas,  uma  vez  oficialmente  diagnosticado  o  transtorno,  as 
pessoas  com  Borderline  são  geralmente  tratadas  com  uma 
combinação de:  
 
a. estabilizadores  de  humor  e  antidepressivos.  Esses 
     medicamentos  psicofarmacológicos  devem  ser  receitados  e 
     ministrados  de  forma  extremamente  criteriosa,  pois  podem 
     causar  graves  efeitos  colaterais,  que  variam  de  pessoa  para 
     pessoa, existindo ainda o perigo de exagero no consumo de 
     medicamentos,  pelo  fato  de  as  pessoas  com  sintomas 

                                                                     46
Borderline  não  sentirem  tão  rapidamente  os  efeitos 
    esperados dos mesmos; e  
 
b. terapias  de  eficácia  comprovada,  como  a  Cognitiva 
   Comportamental  e  sua  derivada,  a  Terapia  Comportamental 
   Dialética,  que  ajudam  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  a 
   reconhecer e diferenciar e reprogramar os seus pensamentos 
   e sentimentos. 

Cabe  aos  profissionais  da  área  de  saúde  mental  fornecer  uma 
descrição mais detalhada das terapias que podem ser usadas no 
tratamento  –  oferecemos  aqui  somente  um  pequeno  resumo 
superficial sobre as duas acima mencionadas.  
 
Segundo  a  Dra.  Judith  Beck,  que  continua  desenvolvendo  o 
trabalho  pioneiro  de  psicoterapia  iniciado  pelo  seu  pai,  Aaron 
“Tim”  Beck,  no  Beck  Institute  na  Filadélfia,  a  Terapia  Cognitiva 
parte do princípio de que crenças e pensamentos de uma pessoa 
influenciam  suas  emoções,  ações  e  sintomas  físicos,  e  que  as 
técnicas específicas que o terapeuta escolhe para usar com cada 
paciente  devem  ser  individualizadas  com  base  na  Conceituação 
Cognitiva  deste  paciente  (a  compreensão  do  terapeuta, 
confirmada pelo paciente, de quais são as crenças subjacentes do 
paciente;  os  padrões  não  adaptativos  que  ele  desenvolveu  para 
“lidar”  com  estas  crenças;  e  os  pensamentos,  emoções  e 
comportamentos  diários  que  aparecem  como  resultado  destas 
crenças). 
 
Por  outro  lado,  a  Terapia  Comportamental  Dialética  –  TCD  foi 
desenvolvida  especificamente  pela  Dra.  Marsha  Linehan, 
professora  de  psicologia  na  Universidade  de  Washington,  EUA, 
para tratar o transtorno de personalidade Borderline.  

Essa  abordagem  –  TCD  ‐  visa  ajudar  a  pessoa  com  sintomas 
Borderline a vislumbrar aos poucos as tonalidades de cinza entre 
seus  extremos  usuais  de  “preto  ou  branco”  (isto  é,  os  dilemas 
dialéticos) na sua forma de agir e pensar.  
                                                                      47
A  terapia  individual  da  TCD  tende  a  ser  bastante  direta  e 
confrontativa,  e  busca  abordar  em  uma  sessão  semanal  os 
conteúdos  que  venham  a  se  apresentar.  A  prioridade  é  dada  à 
atenção a comportamentos suicidas e auto‐destrutivos, e depois 
a  comportamentos  que  interfiram  com  o  progresso  da  própria 
terapia. A seguir vem assuntos ligados à qualidade de vida e à sua 
melhora. 
 
Durante  a  terapia  individual  frequentemente  se  discute  como 
melhorar as  aptidões que compõem o modelo da  TCD, ou como 
superar os obstáculos ao desenvolvimento das mesmas. A terapia 
de grupo consiste geralmente em uma sessão semanal orientada 
ao  desenvolvimento  de  habilidades  específicas,  divididas  da 
seguinte forma: 
a) Atenção Plena (“mindfulness”) 
b) Regulação de emoções 
c) Tolerância à pressão e frustração 
d) Efetividade nas relações interpessoais. 

Continue  sempre  pesquisando  (verifique  tratamento  disponível 
em Itapira, São Paulo, por exemplo, no Instituto Bairral, liderados 
pelo  Dr.  Sérgio  Monteiro,  tel.  (19)  3863‐9400 (veja
http://www.doctoralia.com.br/medico/sergio+augusto+monteiro+dos
+santos-11943276; ou  no  Rio  Grande  do  Sul,  pela  Dra.  Ângela 
Leggerini de Figueiredo na PUCRS (cujo telefone de consultório é 
51  32227322,  ou  o  tratamento  focado  em  Terapia  Cognitiva 
Comportamental  realizado  pela  Dra.  Nilcéa  Coelho  na  região  do 
Rio  de  Janeiro  (falecomnilceacoelho@hotmail.com),  Continue 
também trocando idéias com outras pessoas e aprendendo cada 
vez  mais  sobre  as  manifestações  e  características  da  alta 
sensibilidade  emocional.  Novas  possibilidades  e  respostas 
surgirão, e assim você poderá encontrar ajuda para se recuperar 
mais  rapidamente  e  buscar  a  felicidade  que  você  procura.  Esse 
movimento,  essa  busca,  esse  esforço  de  sua  parte  certamente 
abrirão novos caminhos. 

                                                                   48
VI. EMOÇÕES
 
Conforme explicado pela Judith Beck em seu livro  Terapia Cognitiva
- Teoria e Prática- Judith Beck - Ed. Artmed,  as  emoções  "negativas" 
são  normais  e  fazem  parte  de  nossas  vidas  tanto  como  as 
emoções  "positivas".  É  importante  aprender  a  diferenciar  os 
pensamentos automáticos das emoções, a rotular a emoções e a 
classificar a intensidade das emoções. 
 
Muitas  vezes  as  emoções  vêm  sem  identificação  específica. 
Ninguém passa o dia inteiro analisando e rotulando suas próprias 
emoções  –  agora estou feliz, agora fiquei frustrado, tou chateado, tou
deprimido, tou tenso, e  assim  por  diante.  Muitas  emoções  passam 
como nuvens no céu, e é somente quando essas se avolumam ou 
escurecem  ou  então  se  afastam  para  deixar  o  sol  brilhar,  que 
efetivamente reparamos e nos conscientizamos do nosso estado 
de espírito.  
 
A  pessoa  com  sintomas  borderline,  ao  ser  dominada  por 
sentimentos  muito  fortes,  conflitantes  e  confusos,  pode 
encontrar  dificuldade  em  reconhecê‐los  e  classificá‐los,  mesmo 
que este discernimento seja essencial para o desenvolvimento de 
seu controle emocional. Veja a seguir uma mera amostra de como 
você pode se sentir de uma hora para outra:  
 

      Abandonada, anormal, abusada, aceita, realizada, ativa,
insatisfeita, chateada, entediada, briguenta, envergonhada, alerta,
    audaciosa, temerosa, sonolenta, faminta, alegre, prestativa,
  saudosa, impaciente, criativa, animada, irrequieta, angustiada,
             exuberante, dramática, anti-social, pasma;

   ciumenta, confusa, amorosa, ignorante, iluminada, insegura,
 insignificante, insultada, intelectual, inteligente, constrangida,
 grata, desolada, desesperada, solitária, irritadiça, corajosa, linda,
  desengonçada, sortuda, discriminada, incompreendida, gorda,
                   inchada, descabelada, esperta;
                                                                    49
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A alta sensibilidade emocional pdf

  • 1. ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL NOVAS PERSPECTIVAS Helena Polak
  • 2. Contato com a autora: helenapolak@terra.com.br Blog: http://helenapolak.blogspot.com/ Este livro pode ser adquirido através do site: www.clubedeautores.com.br Obrigada a todos que incentivaram e contribuíram com a elaboração deste livro!! 2
  • 3. I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL...........................................................................6 II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO BORDERLINE?......................................................................10 III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO BORDERLINE........................................................................19 1. Vergonha / Invalidação ...................................................19 2. Raiva................................................................................21 3. Impulsividade ..................................................................22 4. Variações de humor.........................................................24 5. Sensibilidade sensorial / ansiedade .................................24 6. Sensibilidade a crítica......................................................25 7. Interpretação equivocada de emoções.............................26 8. Distorção de “fatos” / memória emocional / atemporalidade ....................................................................28 9. Atribuição de culpa .........................................................31 10. Medo de abandono / medo de intimidade .....................32 11. Atitude “oito ou oitenta” ...............................................34 12. Ruminação.....................................................................35 13. Depressão / Medicamentos............................................36 14. Insônia ...........................................................................37 15. Problemas de Interação Social ......................................37 16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas.........................39 IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA....................41 V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS ..................................46 VI. EMOÇÕES........................................................................49 VII. LIDANDO COM IMPULSIVIDADE E/OU DEPRESSÃO ..........................................................................53 1. Táticas para conter impulsos prejudiciais .......................54 2. Táticas para combater depressão.....................................55 3. Outras dicas para inserir uma pausa entre o impulso e o ato decorrente ......................................................................56 a) Fazer perguntas a si mesma.........................................56 b) Protelar........................................................................57 3
  • 4. c) Procurar distração........................................................57 d) Conversar consigo mesma ..........................................58 4. Táticas a médio e longo prazo.........................................59 a)Fazer papel de repórter.................................................59 b) Usar auto-afirmações ..................................................60 c) Buscar outras fontes de adrenalina..............................61 VIII. NOVAS PERSPECTIVAS.............................................63 1) Reconhecendo distorções cognitivas, como: ..................64 a) Pensamento preto ou branco, oito ou oitenta ..............64 b) Extrapolação/ generalização .......................................64 c) Prisma negativo...........................................................64 d) Conclusões precipitadas..............................................64 e) Tamanho dos problemas .............................................64 f) Raciocínio emocional ..................................................65 g) Projeções do “deveria”................................................65 h) Rótulos ........................................................................65 i) Personalização e culpa .................................................65 2. Modificando as distorções cognitivas .............................66 a) Identifique o tipo de percepção errônea ......................66 b) Examine as provas ......................................................66 c) Fale consigo mesma ....................................................66 d) Busque o meio termo ..................................................67 e) Faça uma pequena pesquisa de opinião ......................67 f) Descreva situações com outras palavras......................67 g) Não assuma toda a culpa.............................................67 h) Não atribua toda a culpa aos outros ............................67 i) Analise o custo-benefício.............................................68 3. Libertando-se de ressentimentos .....................................68 4. Sugestões de outras pessoas para lidar melhor com seus pensamentos negativos:.......................................................72 IX. APRENDENDO A CONVIVER MELHOR COM OS OUTROS.................................................................................75 X. CONSOLIDANDO SUA IDENTIDADE..........................85 1. Crenças problemáticas.....................................................85 2. Identificando suas crenças...............................................85 4
  • 5. 3. Reprogramando suas crenças ..........................................88 4. Identificando valores .......................................................89 5. Definindo metas ..............................................................92 XI. LIDANDO COM O ESTRESSE DA ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL..........................................96 1. Aprendendo a relaxar ......................................................96 a) Relaxamento muscular progressivo ............................97 b) Meditação....................................................................98 2. Cuidando melhor de si.....................................................99 a) Alimentação ................................................................99 b) Movimentação.............................................................99 c) Sono reparador ..........................................................100 3. Organizando seu tempo.................................................101 XII. DEPOIMENTOS DE ALGUMAS PESSOAS DIAGNOSTICADAS COM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE ...................................103 REFERÊNCIAS ....................................................................113 5
  • 6. I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL   Você se identifica com a maioria das afirmativas abaixo?    Tenho medo de ser abandonada pelos outros  Quando tenho um impulso muito forte, eu o sigo sem  pensar nas consequencias   Meus relacionamentos são instáveis e problemáticos  Quando penso sobre minha infância, vem a sensação  de falta de compreensão e carinho, lembranças de  abuso e trauma  Sinto um vazio interior a maior parte do tempo, uma  falta de rumo  Tenho problemas com vícios, dependências,  compulsões, transtornos alimentares, etc.  Meu humor varia de uma hora para outra e até muitas  vezes no mesmo dia  Frequentemente não consigo controlar minhas  reações, que são muito intensas  Sinto que o mundo à minha volta é cheio de ameaças  e pressões e cobranças   Às vezes me acho muito vulnerável e fraca, sinto que  não dou conta de lidar com a vida  Desconfio que frequentemente incomodo as pessoas,  que elas não me aceitam como sou  Sofro muito com as palavras e atitudes dos outros,  pois levo tudo de forma pessoal – e negativa   Tenho problemas de insônia, depressão, ataques de  pânico, de ansiedade.         6
  • 7. Veja como a renomada escritora Pearl Buck descreve uma pessoa  altamente  criativa  que  já  nasce  com  extrema  sensibilidade  emocional – para a qual:   “Um toque é uma pancada, um barulho é um estrondo, um revés é uma tragédia, uma alegria é um êxtase, um amigo é um amado, um amado é um deus, e o fracasso é a morte.” Se você chega a sofrer com sua extrema sensibilidade emocional,  é  possível  que  você  apresente  algumas  características  daquilo  que,  no  seu  conjunto,  é  chamado  (por  falta  ainda  de  um  nome  melhor)  de  “transtorno  de  personalidade  borderline”  (  “bórderláine”, ou simplesmente “bórder”).     O  objetivo  aqui  não  é  rotular  ninguém,  e  sim  identificar  e  entender da melhor forma possível os fatores que lhe afligem e,  7
  • 8. com  base  nisto,  partir  para  a  adoção  de  uma  nova  perspectiva,  adotando atitudes que podem melhorar consideravelmente a sua  qualidade de vida, atenuando suas angústias e incertezas.     Às vezes a simples constatação de que aquilo que nos atormenta  tem um nome específico,  possui características específicas, tem  potencial  de  recuperação,  e  é  compartilhado  por  milhares  e  milhares  de pessoas  ao  redor  do  mundo,  pode  proporcionar  um  certo  alívio.  E  essa  identificação  talvez  lhe  permita  partir  mais  rapidamente  para  o  próximo  passo  –  ok, se é esse o meu problema, o que posso fazer então para melhorar?     Entretanto,  mesmo  com  toda  a  sua  inteligência  e  percepção,  poderá haver diversos motivos pelos quais você talvez relute em  aceitar  de  imediato  essa  possibilidade,  por  considerá‐la  perturbadora,  depreciativa,  radical,  discriminatória,  pessimista,  constrangedora, etc.     Em vista da sua experiência de vida e sua alta sensibilidade inata,  talvez você nao queira aceitar ou admitir que tenha qualquer tipo  de  “transtorno”  de  personalidade,  ou  comportamental,  ou  emocional, ou o que seja. Essa reação é perfeitamente normal.     De modo geral, não queremos ser considerados “diferentes”  de  forma  negativa.  Além  disso,  todos  nós  no  fundo  tememos  que  algum  profissional  da  área  de  saúde  (seja  mental  ou  física)    nos  diga que realmente sofremos de algum problema que precisa ser  analisado,  tratado,  acompanhado,  medicado,  etc.,  ou  que  nos  diga que temos que fazer algumas mudanças em nosso estilo de  vida  (como  ter  que  fazer  atividade  física,  ou  parar  de  fumar,  de  beber,  de  comer  doces,  etc.).  Mudança  é  uma  palavra  chave:  a  ponte entre o conhecido e o desconhecido.    Se você quiser, pode optar por considerar o conteúdo deste livro  simplesmente como um conjunto de informações sobre questões  8
  • 9. emocionais  ou  de  relacionamento,  que  podem  vir  a  ser  úteis  de  alguma forma.     Mas,  se  você  reconhecer,  nem  que  seja  somente  no  seu  íntimo,  que  você  efetivamente  possui  algumas  das  características  acima  descritas,  comuns  ao  transtorno  borderline,  e  sabe  que  suas  reações  impulsivas  e/ou  negativas  atrapalham  a  sua  vida  e  seus  relacionamentos  –  então  você  pode  começar  a  trabalhar  suas  questões com a ajuda das ferramentas oferecidas aqui, como um  primeiro  passo,  enquanto  você  não  busca  e  encontra  o  apoio  profissional (e/ou familiar) necessário para progredir mais rápida  e seguramente na construção de uma vida melhor.     O  importante  é  justamente  dar  o  primeiro  passo,  e  colocar  intenção no seu progresso e recuperação. Não é um caminho fácil  –  você  vai  precisar  de  muita  coragem,  perseverança  e  fé.  Confiança  de  que  você  vai  chegar  a  um  ponto  de  poder  aproveitar  muito  melhor  sua  vida  como  recompensa  por  este  esforço.     Quanto  mais  você  protelar  em  analisar  objetivamente  a  relevância  das  características  e  consequências  da  alta  sensibilidade  emocional  no  seu  caso,  e  em  tomar  as  medidas  necessárias para se entender melhor e procurar a ajuda adequada  para  fazer  as  mudanças  indicadas,  mais  íngreme  e  lento  será  o  seu  caminho  de  recuperação.  Aproveite  esta  oportunidade  para  começar a mudar sua perspectiva desde já.   Observação: Adota-se o uso do feminino ao longo do livro para concordar com a palavra “pessoa” – embora naturalmente a alta sensibilidade emocional possa ser encontrada tanto em homens quanto mulheres. 9
  • 10. II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO BORDERLINE? Não  há  resposta  simples  para  essa  pergunta.  Existe  um  intenso  debate  em  andamento  sobre  os  fatores  que  podem  contribuir  para  a  manifestação  dos  sintomas  do  Transtorno  de  Personalidade Borderline (TPB), sem que se tenha chegado ainda  a  um  consenso.  Somente  para  ilustrar  como  que  esse  problema  tem  sido  relativamente  pouco  estudado  até  agora,  o  primeiríssimo  congresso  internacional  sobre  Borderline  foi  realizado apenas em 2010, em Berlim.     Um  dos  novos  nomes  propostos  para  o  distúrbio  é  “Transtorno  de  Regulação  Emocional”,  pois  é  justamente  a  “desregulação  emocional”  que  traduz  a  dificuldade  que  a  pessoa  tem  em  regular,  modular,  controlar,  e  até  reconhecer  e  classificar  suas  próprias emoções.    Muitas  pesquisas  estão  sendo  conduzidas  sob  diversas  óticas,  mas de modo geral a constatação é de que  algumas pessoas já nascem com um certo conjunto de vulnerabilidades neurobiológicas, as quais podem (ou não) levar a uma manifestação dos comportamentos associados ao transtorno, dependendo das experiências pessoais e influências do meio.     Estas  pesquisas  continuam  analisando  a  ação  de  neurotransmissores,  serotonina,  a  amídala  (parte  do  sistema  límbico),  as  diferentes  formas  de  perceber  e  processar  conhecimento  e  emoções,  a  hipersensibilidade  a  estímulos  e  mudanças,  a  atividade  do  córtex  pré‐frontal,  as  questões  relacionadas  à  insônia,  resposta  a  dor,  receptores  opióides,  o  cerebelo, o hipocampo, baixa ocitocina, entre outras.     Existe  uma  grande  diversidade  na  “programação”  individual  –  o  que, por sua vez – e isto é de suma importância ‐ aponta para o  potencial de “reprogramar” as reações e atitudes da pessoa com  10
  • 11. sintomas  Borderline,  principalmente  através  de  terapia,  para  permitir que tenha uma vida mais tranqüila e equilibrada.    Alguns  tipos  de  comportamento  “menos  comuns”  encontrados  em  nosso  meio  de  familiares  e  amigos  podem  dizer  respeito,  talvez,  a  um  tio  impulsivo  e  esbanjador,  uma  tia  que  sofre  de  depressão, um avô que bebia demais, um primo super tímido, um  outro  primo  brilhante  porém  imprevisível,  um  parente  muito  “sistemático”,  outro  extremamente  ciumento  e  possessivo,  um  colega  que  só  quer  saber  de  aventuras  radicais,  e  assim  por  diante.     Considerados individualmente, tais traços podem até ser aceitos  socialmente como hábitos “excêntricos” (embora o alcoolismo, o  homossexualismo  e  transtornos  de  comportamento,  por  exemplo,  ainda  carreguem  um  pesado  estigma,  contribuindo  para  que  as  próprias  pessoas  e  seus  parentes  não  queiram  comentá‐los abertamente nem buscar ajuda).     Mas,  no  caso  do  Borderline,  pode  ocorrer  a  concentração  de  diversas  destas  vulnerabilidades  e  características  em  uma  só  pessoa – o que representa uma carga individual excessivamente  pesada para se lidar de forma adequada sem alguma espécie de  ajuda.    Com  uma  boa  terapia  (uma  das  opções  mais  eficazes  sendo  a  Cognitiva  comportamental,  que  visa  justamente  essa  reprogramação,  ou  psico‐educação)  e  o  apoio  e  envolvimento  positivo de pessoas amadas e amigas, e também, muitas vezes, a  ajuda de medicação adequada, a pessoa com sintomas Borderline  pode  atingir  um  excelente  grau  de  recuperação.  Relatos  fascinantes  e  inspiradores  podem  ser  encontrados  em  grande  quantidade em blogs e vídeos e sites na internet, em livros (como  The Buddha and the Borderline, por Kiera Van Gelder, BPD Coaching and Advocacy,  por  A.  J.  Mahari,  Loud in the House of Myself,  por  Stacy  11
  • 12. Pershall,  por  enquanto  disponíveis  somente  em  inglês),  entre  outras fontes.     É  interessante  observar  que  muitas  pessoas  com  sintomas  Borderline  acabam  encontrando  equilíbrio,  satisfação  e  realização  ao  exercer  atividades  que  envolvem  a  prestação  de  ajuda aos outros, seja através de enfermagem, assistência social,  voluntariado, ensino de modo geral, terapia, etc.    Um dos exemplos mais marcantes na área internacional é da Dra.  Marsha  Linehan,  da  Universidade  de  Washington  nos  EUA,  pioneira  no  desenvolvimento  e  utilização  da  Terapia  Comportamental  Dialética,  que  já  ajudou  um  grande  número  de  pessoas  com  sintomas  borderline  ao  redor  do  mundo  –  sendo  que  ela  mesma  passou  por  uma  juventude  turbulenta,  atormentada  por  sintomas  borderline.  Maiores  detalhes  sobre  o  caso  dela  podem  ser  encontrados  no  site www.borderlinepersonalitydisorder.com.  Temos  também  o  caso  amplamente  divulgado  do  jogador  de  futebol  americano,  Brandon  Marshall,  que  declarou  que  vai  trabalhar para que o transtorno se torne mais conhecido, e assim  mais  rapidamente  diagnosticado  e  tratado.  Entre  pessoas  já  falecidas,  podemos  somente  especular,  mas  aparentemente  tanto o famoso pintor Van Gogh quanto à Lady Diana sofriam de  vários sintomas borderline.     No  final  deste  livro  você  encontrará  também  relatos  de  outras  pessoas  já  diagnosticadas  como  portadoras  do  transtorno  de  personalidade  Borderline  (ou  seja,  desregulação  emocional),  ilustrando sua trajetória, suas dúvidas e angústias, sua coragem e  seus avanços. E você poderá acompanhar também alguns grupos  excelentes  no  Facebook,  como  Transtorno  de  Personalidade  Borderline  e  Grupo  de  Portadores  do  Transtorno  Borderline  onde  as  pessoas  conversam  sobre  seus  problemas,  trocam  idéias    e  sugestões, encontrando apoio e compreensão, assim como blogs  12
  • 13. informativos  e  interativos,  tais  como  http://vidadeumaborderline.blogspot.com/,  e  http://cafepsicanalitico.blogspot.com/.     Não  devemos  nunca  esquecer  de  que  existem  muitos  níveis  e  tipos de sintomas Borderline, bem como variadas fases e ciclos e  combinações de comportamentos. Às vezes, se as circunstâncias  de  vida  não  desencadeiam  as  fortes  e  negativas  reações  emocionais  características  do  transtorno,  a  vulnerabilidade  biológica  pode  permanecer  dormente  por  muito  tempo,  ou  mesmo latente para sempre, e/ou poderá manifestar‐se de forma  relativamente branda, e/ou mais passageira.     Além disso, à medida que a pessoa chega aos quarenta, levando  uma  vida  com  menos  conflitos  emocionais,  registra‐se  uma  frequente tendência à diminuição dos sintomas de instabilidade e  impulsividade,  às  vezes  até  sem  tratamento  específico.  Entretanto,  sem  um  ambiente  estruturado  e  sem  terapia,  algumas pessoas podem até piorar – portanto, não é a idade em  si  o  fator  determinante.  Entre  outros  profissionais  a  confirmar  essa  tendência,  temos  o  Dr.  Erlei  Sassi  Junior,  formado  em  medicina  e  psicoterapia  pela  Universidade  de  São  Paulo  (USP),  que  estuda  pacientes  com  transtorno  borderline  há  15  anos  e  atualmente  coordena  o  Ambulatório  dos  Transtornos  de  Personalidade  e  do  Impulso  do  Instituto  de  Psiquiatria  do  Hospital das Clínicas, também na capital paulista.     O  mesmo,  ao  ser  indagado  sobre  as  principais  mudanças  esperadas  no  Manual  de  Diagnóstico  e  Estatística  de  Distúrbios  Mentais,  o  DSM‐V,  previsto  para  publicação  em  maio  de  2013,  respondeu  à  Veja  Online  de  31/07/2011  o  seguinte:  “no  DSM‐V,  a  principal evolução no diagnóstico do transtorno será a aplicação  de  questionários  destinados  a  medir  duas  características.  Primeira:  em  que  medida  o  paciente  se  vê  como  um  indivíduo  autônomo,  ou  seja,  que  não  depende  dos  outros.  Quanto  mais  considerar‐se  independente,  menos  graves  são  os  sintomas.  13
  • 14. Segunda:  a  capacidade  do  paciente  de  colocar‐se  no  lugar  do  outro. Quanto mais entender as aflições de outra pessoa, menos  graves  são  os  sintomas.  Desta  maneira,  será  possível  medir  o  nível  de  intensidade  do  transtorno.  Dependendo  do  grau  da  doença, o tratamento muda.”    Resumindo  –  não  há  uma  única  causa  específica  do  transtorno  Borderline,  pois  a  manifestação  dos  sintomas  depende  do  conjunto  individual  de  vulnerabilidades  e  a  sequencia/combinação  de  eventos  que  impactaram  aquela  pessoa.  Por  conseguinte,  é  importante  frisar  que  a  pessoa  que  apresenta  o  transtorno  não  “tem  culpa”  pelo  aparecimento  e  manifestação  dos  sintomas  de  Borderline,  e  nem  existe  uma  figura  exclusiva  a  quem  possa  ser  atribuída  a  “culpa”  pelo  desenvolvimento  do  transtorno,  entre  pais,  parentes,  parceiros,  cônjuges ou amigos.  É  essencial  lembrar  que  todos  nós  temos  momentos  de  desregulação  emocional.  Porém  alguns  aspectos  que  levam  certas  pessoas  a  serem  efetivamente  diagnosticadas  como  portadoras  do  Transtorno  de  Personalidade  Borderline  dizem  respeito  ao grau em que tais características afetam as suas vidas e a dos outros, a intensidade e velocidade com que essas emoções surgem e são expressas, e a demora em retornar para um estado emocional mais objetivo e tranqüilo.     A  possibilidade  de  que  a  causa  destes  comportamentos  perturbadores  seja  o  Transtorno  de  Personalidade  Borderline  deve  ser  contemplada,  avaliada  e/ou  confirmada  por  um  profissional  da  área  de  saúde  mental,  única  pessoa  com  competência  para  fazer  o  diagnóstico  preciso  e  oferecer  o  tratamento e acompanhamento terapêutico adequado.     Entretanto,  geralmente  são  os  familiares  ou  cônjuges  os  primeiros  a  testemunhar  os  comportamentos  imprevisíveis  e  impulsivos  apresentados  pela  pessoa  com  alta  sensibilidade  14
  • 15. emocional  (potencialmente  Borderline),  e,  por  não  terem  conhecimento suficiente sobre o assunto, ficam sem saber como  agir  ou  reagir,  onde  e  que  tipo  de  ajuda  devem  procurar,  e  nem  têm condições de avaliar devidamente se a ajuda encontrada é a  mais adequada para o caso em questão.     A própria pessoa com sintomas Borderline muitas vezes não sabe  onde  e  como  procurar  ajuda  para  seus  dilemas  e  angústias,  principalmente  se  nao  tem  conhecimento  do  conjunto  de  características  que  pode  indicar  a  presença  do  transtorno.  E  existem  também  fatores  pessoais,  econômicos,  familiares,  etc.  que criam obstáculos à sua busca e obtenção da ajuda necessária  e eficaz. Como resultado, normalmente há uma longa e lastimável  demora  no  reconhecimento  do  problema  e  na  definição  do  diagnóstico correto, assim como na posterior disponibilização de  suporte e tratamento adequado.     Foi justamente pensando neste aspecto – o da frequente demora em se encontrar ajuda terapêutica eficaz - e considerando que esse tempo perdido é traduzido em sofrimento para cada pessoa e sua família - que tomamos a iniciativa de oferecer uma compilação de “primeiros passos” para que a própria pessoa com sintomas Borderline possa ir adquirindo mais consciência e autoconfiança até que consiga ter acesso ao devido apoio profissional.   Pois  o  sofrimento  emocional  é  um  fator  constante  na  vida  da  pessoa  altamente  sensível,  decorrendo  basicamente  do  fato  de  carregar  suas  emoções  à  flor  da  pele,  como  se  lhe  faltasse  uma  importante  camada  protetora  que  a  maioria  dos  outros  possui.  Ela  vive  num  turbilhão  emocional,  e  por  conseguinte  procura  aliviar  sua  dor  de  qualquer  forma  disponível  no  momento  –  mesmo se isto faz com que ela se vire contra os outros ou contra  si  mesma.  É  como  se  estivesse  literalmente  pegando  fogo  e  corresse desesperadamente em direção ao rio mais próximo para  apagar  as  chamas,  nem  que  para  isso  tenha  de  derrubar  todos  que se encontram em seu caminho. 15
  • 16.   Esse  caos  interno  é  descrito  assim  em  primeira  mão  por  uma  pessoa com sintomas Borderline:  “Você queria saber o pior sobre mim, as coisas que não contei para ninguém e escondi debaixo da superfície. Como posso explicar? Como posso explicar quem eu sou, se nem eu mesma sei com certeza? Como colocar em palavras os piores aspectos de mim, dos quais tenho fugido há tanto tempo? Vou lhe contar meus segredos, vou contar tudo. Pode ser que isso me ajude. Talvez você me deteste por isso ou talvez você entenda. Não sei, mas estou cansada de fugir. Então aqui vai, vou lhe dar o que você pediu. Eu te odeio. Isso não é verdade, mas às vezes acho que é. Não atendo o telefone quando você liga, embora queira falar com você. Não te ligo, mesmo sendo isso a única coisa que quero fazer. Não vou te procurar, embora todas as partes de mim queiram fazer isso. Vou sentir raiva de você, vou querer te magoar, vou te afugentar porque tenho medo que você se aproxime demais. Preciso de sua atenção constante, seu apoio, mas os receberei com fria indiferença. Terei ciúme da atenção que você dá para outros, e terei raiva de você por me ignorar. Vou me sentir bem carinhosa e próxima de você um dia, somente para ficar com raiva de você e querer te expulsar da minha vida no dia seguinte. Sofro de amnésia emocional, talvez eu tenha sido sempre assim. Vejo cada evento, cada dia, cada conversa como um evento separado, sempre buscando sinais de que você possa vir a me magoar. Quando me sinto ignorada, fico com raiva e esqueço que no dia anterior você me falou quanto que gostava de mim. 16
  • 17. Sou um caos inconsistente. Existe uma parte de mim que está feliz e confiante, e uma outra parte que é insegura e carente. Esses dias, nunca sei que lado vai vir à tona. Cada vez que acho que as coisas estão sob controle, que eu sei que você gosta de mim e me sinto bem com nosso relacionamento, a dúvida e o medo voltam. Talvez com tempo possam sumir inteiramente, mas tenho minhas dúvidas. Basta aparecer um novo relacionamento, um novo amigo, um novo dia, e tudo volta outra vez. Você pergunta o que pode fazer por mim, e eu não sei o que lhe responder. A minha parte carente quer sua atenção constante, precisa de suas palavras e seus pensamentos, de sua presença. Mas sei que isto não é a resposta, preciso aceitar as limitações em nosso relacionamento. A minha parte assustada quer você fora da minha vida para facilitar as coisas. A minha parte detestável quer te magoar e machucar porque acredita que você me machucou. Tudo que posso pedir é que você entenda, que não desista. Vou lhe ignorar às vezes, posso ser grossa com você, posso tentar magoá-lo. Posso me esconder de você e esperar que você me procure, para que eu sinta que você realmente se importa comigo. Não é justo fazer essas coisas com você, mas eu as farei. Não posso lhe pedir para agüentar isso tudo, não é justo, e, não importa como eu aja, gosto demais de você para lhe sujeitar a isso tudo. Mas você perguntou, e é isso que tenho a lhe dizer. Não gosto disso. Não gosto de ser carente e pegajosa. Não gosto de magoar as pessoas. Não gosto de ser grossa e sarcástica com as pessoas que me cercam. Não gosto dessa parte de mim. Durante muitos anos ignorei isso e fiz de conta que isso era eu, mas entendi agora que eu estava errada. Isso não é eu – é uma falsa identidade criada para me proteger do mundo. Não foi fácil chegar a este entendimento, e talvez ainda não o tenha aceito inteiramente. Mas encontrei o meu caminho, sinto que posso mudar e que posso aceitar esse lado meu e impedi-lo de se tornar aquilo que sou. Não vai ser fácil e não vai ser rápido, mas tenho fé que vou conseguir. Talvez um dia eu me veja como a pessoa que você vê por trás de minhas defesas, e talvez um dia vou permitir que os outros também vejam aquela pessoa. 17
  • 18. Isso é dirigido a você, mas você representa muitas pessoas. As pessoas que estão próximas a mim agora. As pessoas das quais eu quero estar próxima mesmo as tendo afugentado. Os amigos que afastei no passado, os amigos que nunca perdoei e nunca permiti voltar para minha vida, os amigos aos quais nunca tive oportunidade de dizer essas coisas. As pessoas que vou conhecer no futuro, as pessoas das quais vou gostar até que novamente eu as empurre para fora de minha vida. A parte de mim que ainda está tentando entender quem eu sou. Você é estas pessoas todas e muitas mais”.   Os  conceitos  abordados  na  seção  a  seguir  estão  descritos  também  no  primeiro  livro  da  autora,  Sensibilidade à Flor da Pele,  dirigido  principalmente  a  familiares  de  pessoas  com  sintomas  Borderline,  porém  são  incluídos  aqui  devido  à  sua  importância  para o melhor entendimento dos aspectos mais problemáticas da  alta sensibilidade emocional.      18
  • 19. III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO BORDERLINE 1. Vergonha / Invalidação   A  vergonha  é  um  aspecto  que  não  só  permeia  como  provoca  muitas das ações e reações da pessoa com sintomas Borderline.     Existem  diversas  maneiras  de  definir o  sentimento  de  vergonha.  Mas,  basicamente,  podemos  dizer  que  a  vergonha  é  o  mal‐estar  emocional  vinculado  à  idéia  de  alguma  ação  que  imaginamos  censurada pelos outros e/ou por nós mesmos.     Mas, de onde vem essa vergonha?   Essa sensação enraizada de vergonha entre muitas pessoas com  sintomas  Borderline  é  geralmente  atribuída  a  um  ambiente  “invalidante” na infância e/ou juventude – um ambiente em que  as reações emocionais da criança, principalmente as negativas ou  mal  compreendidas  (tais  como  raiva,  medo  e  tristeza)  foram  tratadas com zombaria, ironia, impaciência, rejeição ou desprezo,  e/ou  consideradas  inadequadas,  incômodas,  erradas,  inválidas,  inaceitáveis  ou  indesejáveis;  um  ambiente  em  que  foram  repetidamente  praticados  atos  ou  proferidas  palavras  para  controlar, inibir, coibir ou moldar tais reações.     Essa invalidação pode ser percebida e assimilada pela pessoa com  alta  sensibilidade  emocional  em  uma  grande  variedade  de  situações, desde casos de abuso sexual real a uma mera falta de  sintonia  entre  sua  personalidade  e  a  dos  seus  pais.  Mesmo  pais  amorosos  e  bem‐intencionados  podem  ter  dificuldades  em  lidar  com  uma  criança  mais  sensível,  por  falta  de  conhecimento,  de  tempo, ou outros fatores.    Pessoas  com  predisposição  a  Borderline  podem  tornar‐se  incapazes  de  validar  a  si  mesmas,  de  sentir  empatia  por  si  mesmas,  de  se  consolar  e  acalentar,  de  gerar  e  manter  uma  19
  • 20. autoconfiança  saudável.  Quando  a  manifestação  de  suas  emoções  negativas  é  bloqueada  ou  punida,  isso  gera  uma  resposta ou reação de vergonha – primeiro, pelo próprio fato de  ter  sentido  essa  emoção  intensa,  e,  segundo,  por  ter  externado  essa emoção, expondo‐se a crítica e juízo.     A  vulnerabilidade  biológica  da  pessoa  com  sintomas  Borderline  impede  que  ela  consiga  distinguir  entre  o  que  ela  é  e  o  que  ela  sente,  e,  por  não  corresponder  às  expectativas  da  família  ou  da  sociedade,  sente‐se  punida  de  alguma  forma  pelas  suas  ações,  que  são,  por  sua  vez,  uma  manifestação  direta  de  seus  sentimentos  e  impulsos.  Portanto,  ela  age  conforme  seus  sentimentos  e,  caso  punida,  internaliza  que  está  sendo  punida  pelo que ela é.        Veja este comentário de uma pessoa com sintomas Borderline:  “Um terapeuta me contou que toda família tem sua ovelha negra – essa ovelha negra sendo a pessoa que se sobressai pelo seu poder, e que os outros, por se sentirem inseguros em seu convívio, buscam controlar e fazer com que se torne uma ovelha branca. Essa pessoa nunca conseguiu ser uma ovelha branca, mas ficou com a sensação de que não se encaixava em lugar nenhum. Infelizmente, ela tem Borderline.”   20
  • 21. A  reação  natural  a  um  sentimento  de  vergonha  é  acobertá‐lo,  pois  a  pessoa  se  sente  vulnerável,  e  a  vergonha  acaba  gerando  mais vergonha, num círculo vicioso.    E  é  justamente  essa  vergonha  que  impede  muitas  pessoas  com  sintomas Borderline de procurar ajuda na forma de terapia, pois  isto  também  acarreta  duas  reações  distintas  de  vergonha.  Uma,  resultante  do  medo  de  que  o  terapeuta  vai  conseguir  enxergar  seus  defeitos  e  enquadrá‐la  como  problemática  e  imperfeita,  como  uma  pessoa  que  precisa  ser  “consertada”.  E  outra,  pelo  medo de que, se a terapia não der resultado, sua vergonha e seu  fracasso serão confirmados oficial e publicamente.     Passada  a  crise  de  desregulação  emocional,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  sentir‐se  envergonhada  e  constrangida. Porém normalmente não expressa a sua vergonha,  nem procura justificar seu comportamento, nem pede desculpas  – mais uma vez porque, se admitisse sua culpa, poderia tornar‐se  alvo  de  mais  crítica.  Ou  então  simplesmente  porque  ela  mesma  não consegue se perdoar.    Sua  vergonha  pode  intensificar‐se  rapidamente,  externando‐se  em forma de tristeza, medo e raiva. A raiva, por ser uma emoção  extremamente  forte,  frequentemente  prevalecerá  sobre  as  outras.    2. Raiva Uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  ter  um  acesso  de  raiva a troco de aparentemente nada: uma coisa mínima fora do  lugar,  um  pequeno  atraso,  uma  palavra  descuidada,  uma  ligeira  mudança de planos ‐ esses eventos remetem não só à vergonha  mas  também  a  uma  hipersensibilidade  a  crítica, a  uma  insegurança básica. A raiva tem a função, entre outras coisas, de  criar uma barreira contra três sentimentos básicos que conduzem  à  baixa  de  auto‐estima  –  vulnerabilidade,  impotência,  e  21
  • 22. abandono. Porém, incontrolada e mal usada, acaba atrapalhando  a  nossa  vida,  e  nessa  ânsia  de  nos  defender  desses  perigos,  partimos para o ataque.    Veremos  mais  adiante  algumas  dicas  para  atenuar  acessos  de  raiva.    3. Impulsividade De  modo  geral,  nossas  emoções  podem  ser  desencadeadas  por  sinais, indícios, impressões ou “vibrações” vindos do ambiente ao  nosso  redor,  e  nosso  “sistema  imunológico  emocional”,  por  assim  dizer,  automaticamente  procura  interpretar  o  significado  desses sinais.     No  caso  das  pessoas  com  sintomas  Borderline,  o  significado  destes  sinais  pode  ser  interpretado  erroneamente,  levando  à  impulsividade e comportamentos aparentemente injustificados.     A  impulsividade  pode  ser  vista  como  uma  tendência  a  agir  com  pouco  ou  nenhum  planejamento  para  reduzir  o  impacto  de  estímulos  adversos.  Esta  reação  automática  pode  ser  essencial  para sua sobrevivência quando você tiver que fugir de um perigo  real,  como  desviar  de  um  outro  carro  ou  fugir  de  um  cachorro  bravo. Entretanto, dependendo do contexto e da intensidade da  resposta,  a  impulsividade  pode  ser  uma  característica  disfuncional que gera sérios problemas na vida do Borderline.     A impulsividade extrema pode levar a comportamentos de risco,  tais  como  imprudência  ao  volante,  jogatina,  libertinagem,  promiscuidade, associação com pessoas à margem da lei, excesso  de  consumismo,  viagens  repentinas,  obsessão  por  cirurgias  plásticas,  distúrbios  alimentares  como  anorexia  e  bulimia,  autolesão,  tudo  com  o  mesmo  objetivo  básico:  aliviar  a  dor  emocional através de uma alta dose de adrenalina ou através de  outras fontes de dor que suplantem a dor original.   22
  • 23.   Um  fator  que  talvez  contribua  para  esta  impulsividade  é  uma  possível diferença na organização dos circuitos neurais. Pesquisas  recentes  com  ressonância  magnética  funcional  mostram  que  o  cérebro  em  descanso  das  pessoas  com  sintomas  Borderline  mostra maior ativação do córtex pré‐frontal (a parte do cérebro  que  parece  ser  responsável  pela  análise  e  tomada  de  decisões,  servindo  também  como  freio  de  agressão)  do  que  em  pessoas  sem sintomas Borderline.     Isto  se  traduz  em  uma  percepção  mais  aguçada  de  ameaças,  geralmente na área emocional. Quando a ameaça é percebida ou  efetivamente  se  materializa,  o  córtex  pré‐frontal  “desliga”  e  o  sistema  límbico  “acende”.  Como  conseqüência,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  reage  de  forma  reativa  e  impulsiva,  tendo  seu  processo  decisório  inibido.  Isto  muitas  vezes  leva  a  uma  desregulação  emocional  e  extrema  personalização  –  em  outras  palavras,  ela  não  só  percebe  uma  ameaça,  mas  acredita  que  esteja especificamente direcionada a ela.    Um  dos  moderadores  da  atividade  no  córtex  pré‐frontal  é  a  serotonina, que é o neurotransmissor modulador das vias senso‐ perceptivas  responsáveis  pela  sensação  de  dor,  e  que  também  contribui  para  o  melhor  controle  do  impulso  sexual,  da  agressividade  e  da  ansiedade.  Cogita‐se  que  deficiências  no  metabolismo  da  serotonina  (e  na  quantidade  e  sensibilidade  de  seus receptores) possam exacerbar os sintomas Borderline.     O aspecto positivo desta visão neurobiológica é que este quadro  pode  ser  aos  poucos  modificado  através  do  pensamento  (durante  o  processo  da  terapia  Cognitiva  comportamental,  por  exemplo), à medida que o córtex pré‐frontal vai sendo reativado  e  re‐programado.  Isto  permite  que  as  emoções  se  transformem  de impulsivas para ponderadas. E essa é uma das principais metas  a ser buscada.    23
  • 24. 4. Variações de humor Uma das principais características da  pessoa  com  sintomas  Borderline  é  a  sua  imprevisível  e  drástica  variação  de  humor.  Sua  alta  sensibilidade  e  reatividade  emocionais  prejudicam  seu  processo  cognitivo,  seu  raciocínio,  sua  tomada  de  decisões,  sua auto‐confiança. Seu humor tende  a oscilar de forma mais rápida do que  ocorre  em  alguns  outros  distúrbios  comportamentais  (como  o  bipolar, por exemplo), podendo mudar diversas vezes no decurso  de  poucas  horas.  Isso  cria  um  clima  de  insegurança  geral  tanto  para a própria pessoa quanto para seus amigos e familiares.     A amídala, uma parte do sistema límbico, parece ter participação  nesta labilidade/instabilidade emocional. Sua função principal é o  processamento  de  emoções  e  o  armazenamento  de  lembranças  emocionais.  Serve  também  como  o  sistema  de  alarme  do  cérebro, acendendo as reações de fuga ou luta. A amídala recebe  informacoes  sensoriais  do  corpo  através  do  tálamo  e  envia  mensagens  para  muitas  outras  áreas,  inclusive  o  rosto,  ativando  expressões  faciais,  além  de  estar  associada  com  o  olfato.  As  pessoas com sintomas Borderline em alguns estudos mostraram  ter  amídalas  bem  mais  ativas  do  que  a  maioria  da  população,  levando  a  uma  intensificação  nas  reações  emocionais  a  quase  todas as situações de vida, colocando‐as em estado praticamente  constante de alerta e prontidão.   5. Sensibilidade sensorial / ansiedade   As  pessoas  com  sintomas  Borderline  frequentemente  apresentam  alta  sensibilidade,  não  só  a  cheiros,  mas  também  a  outros  estímulos  sensoriais,  tais  como  texturas  (tecidos,  etc.),  ruídos  (interpretando  como  ofensivos  alguns  sons  que  nao  24
  • 25. incomodam  os  outros),  sabores,  luminosidade,  e  assim  por  diante.     As  pesquisas  também  indicam  que  pode  haver  uma  conexão  entre  a  ansiedade,  a  impulsividade  e  variações  de  humor.  A  ansiedade  é  geralmente  uma  das  primeiras  características  observadas por terapeutas ao lidar com pessoas posteriormente  diagnosticadas com Borderline (assim como a depressão).     Se  fosse  promovida  uma  conscientização  maior  entre  pais  e  professores  quanto  à  importância  da  detecção  precoce  de  ansiedade  e  sensibilidade  exacerbadas  em  crianças,  talvez  elas  pudessem  ser  ensinadas  técnicas  de  “coping”  para  aprender  a  lidar  melhor  com  essas  características,  evitando  assim  o  desenvolvimento de problemas mais sérios no futuro.   6. Sensibilidade a crítica As  pessoas  com  sintomas  Borderline  têm  tendência  a  reagir  de  forma  inesperadamente  radical  a  críticas  e  rejeições  percebidas  ou imaginadas; a evitar tarefas, reuniões  ou  interações  sociais  em  que  possa  surgir  qualquer  rejeição  implícita;  a  monitorar  constantemente  as  reações  dos  outros  para  detectar  algum  indício,  por mais sutil que seja, de desaprovação  no  seu  radar  emocional;  e  a  vivenciar  antecipadamente  emoções  negativas  com base em supostas rejeições futuras.     Quando  tal  rejeição  ou  crítica  é  percebida  ou  efetivamente  ocorre, principalmente quando parte de uma pessoa com a qual  tenha  um  forte  vínculo  afetivo,  isto  gera  ondas  de  raiva,  hostilidade e às vezes até violência física. Mais uma vez, isso tem  a  ver  com  vergonha  e  medo  de  julgamento.  De  qualquer  forma,  uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  vai  se  julgar  severamente  25
  • 26. por  causa  da  vergonha  (sou uma má pessoa)  e  vai  se  rejeitar  (não mereço aceitação).     Além disso, por mais paradoxal que pareça, pode voltar‐se contra  as  pessoas  que  lhe  estendem  a  mão  e  oferecem  aceitação,  porque acha que no fundo não merece tal aceitação.     Esta é a lei de “efeito e causa”, assim explicada por uma pessoa  com sintomas Borderline:    “O mundo opera no sentido de “efeito e causa” (e não ao contrário). Se eu sinto coisas de uma certa forma, vou procurar retroativamente uma causa para as mesmas – uma causa que não possa ser atribuída a mim! Pois se for, eu seria julgada como estando errada. E eu não aguento ser julgada como errada.” 7. Interpretação equivocada de emoções O  processamento  de  informações,  ou  seja,  o  processamento  cognitivo  e  emocional,  é  intimamente  relacionado  ao  nosso  sistema  neurobiológico.  Alterações  nesse  processamento  são  frequentemente  o  primeiro  sinal  observado  pelos  parentes  e  próximos de que tem algo na pessoa amada que foge à regra.    Mesmo  afirmações  aparentemente  neutras  podem  ser  interpretadas  de  forma  emocional,  e  levadas  pessoalmente,  causando reações imprevistas. Pode  ser algo tão  inócuo como –  “você  está  bonita  hoje”  (reação  personalizada,  focando  na  palavra  “hoje”:  por que você diz isso, tou feia nos outros dias?),  e  assim  por diante.     O transtorno de personalidade Borderline geralmente apresenta  obstáculos  à  comunicação  habitual.  As  palavras  dos  outros  parecem sofrer uma distorção “no ar”, uma mutação inexplicável  entre o instante em que são proferidas e o momento em que são  ouvidas,  absorvidas  e  interpretadas  pela  pessoa  com  sintomas  26
  • 27. Borderline,  muitas  vezes  já  com  conotação  negativa,  acusatória,  crítica.     Pesquisas  recentes  realizadas por  Larry  Siever  e  Barbara  Stanley  indicam que alguns elementos químicos no cérebro, tais como a  ocitocina, bem como o nosso sistema opióide endógeno, afetam  nossa capacidade de confiar nos outros e firmar relacionamentos.  Cada  área  do  cérebro  possui  uma  função  específica  e  precisa  estar  corretamente  conectada  com  locais  neuroanatômicos  específicos  para  que  todos  os  sistemas  funcionem  adequadamente  em  harmonia.  Também  existem  muitos  neurotransmissores e neuropeptídios (hormônios) envolvidos na  regulação destes sistemas que afetam as formas de percepção de  atos e palavras.    Alguns  estudos  também  mostram  que  as  emoções  negativas  são  processadas  de  forma  distinta  das  positivas,  usando estruturas e viajando por  circuitos  neurais  diferentes.  Os  gatilhos  negativos  parecem  provocar  respostas  mais  intensas  do  que  os  positivos.  Por  aparentemente  possuírem  uma  propensão  inata  a  enxergar  as  coisas  pelo  lado  negativo,  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  podem  encontrar  mais  dificuldade  em  administrar  relações  interpessoais,  levando  tudo  para  o  campo  pessoal  e  assim  intensificando suas reações.    Um  aspecto  interessante  –  e  relevante  –  indicado  por  pesquisas  usando  ressonância  magnética  funcional  é  que  as  pessoas  com  sintomas  Borderline,  em  comparação  com  a  maioria  da  população,  parecem  ter  uma  reação  muito  mais  intensa  e  negativa  a  expressões  faciais  neutras,  interpretando‐as  como  ameaçadoras, suspeitas, enigmáticas, negativas.     27
  • 28. Isto  é  algo  a  ser  levado  em  conta  tanto  pelos  familiares  quanto  pelos terapeutas. Pois os parentes, confrontados com acessos de  raiva, geralmente procuram manter sua calma a qualquer custo –  e acabam exacerbando a explosão emocional, por ter sua reação  controlada interpretada como desinteresse, raiva contida, crítica,  desamor,  condescendência,  etc.  E  os  terapeutas,  que  normalmente  procuram  manter‐se  objetivos  e  impassíveis  durante  suas  sessões,  podem  estar  transmitindo,  em  vez  de  segurança  e  tranqüilidade,  algo  muito  diferente.  A  pessoa  com  sintomas Borderline de modo geral parece preferir uma forma de  comunicação  mais  emocional,  clara  e  vigorosa,  porém  sempre  sem crítica ou julgamento.    8. Distorção de “fatos” / memória emocional / atemporalidade   As  pessoas  com  sintomas  Borderline  podem  chegar  a  distorcer  fatos ocorridos, em situações nas quais:  é menos doloroso mentir do que confessar a verdade;  querem dar uma impressão melhor à outra pessoa do  que elas têm de si mesmas;   querem evitar crítica ou autocrítica;   não conseguem enxergar a “verdade” por causa de  seu “raciocínio” emocional.     Se  a  pessoa  a  quem  elas  contam  a  sua  versão  dos  fatos  tem  probabilidade  de  julgá‐la  como  “má”  ou  “imperfeita”,  a  expectativa  da  desaprovação  desencadeia,  primeiro,  a  sensibilidade  e  reação  à  rejeição,  e  depois  a  vergonha,  porque  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  realmente  acredita,  no  fundo,  que, se ela confessar a verdade, os outros vão descobrir que ela é  uma “má pessoa” e vão acabar por rejeitá‐la totalmente.     Algo que sempre precisa ser levado em conta é que:    A “verdade” da pessoa com sintomas Borderline é sua emoção. 28
  • 29. A  pessoa  com  sintomas  Borderline  não  necessariamente  se  baseia naquilo que vê, ouve, testemunha ‐ baseia‐se mais no que  ela sente, e interpreta as coisas através das “lentes emocionais”  de  suas  experiências,  mesmo  que  tal  interpretação  seja  divergente dos “fatos” externos presenciados pelos outros à sua  volta.     E uma pessoa tomada por fortes emoções não consegue aceitar,  assimilar,  arquivar  ou  reconhecer  informações  que  não  confirmem ou não justifiquem tal emoção, conforme evidencia o  seguinte depoimento:     “As lembranças são como pastas no meu arquivo mental. Já que estou sempre sendo julgada, eu uso esses arquivos seletivamente, assim como os advogados no seu trabalho. Desta forma, somente serão utilizadas as lembranças que se adéquam aos meus sentimentos do momento. Pois as lembranças que apresentam provas contrárias aos meus sentimentos não serão consideradas como provas admissíveis – ou então serão alteradas para preservar a minha inocência.”     Portanto,  ela  estará  mais  propensa  a  re‐interpretar  ou  gerar  “fatos” alternativos que possam corroborar o que está sentindo.  Na  sua  visão,  não  está  efetivamente  “mentindo”,  mas  sim  salientando  ou  selecionando  “fatos”  para  respaldar  sua  forte  reação emotiva à situação vivida.     É  muito  importante  entender  este  processo  que  leva  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  a  contar  inverdades,  pois  as  mesmas  podem  ser  altamente  prejudiciais  e  ofensivas  às  pessoas  à  sua  volta,  que,  por  desconhecerem  o  transtorno  e  suas  características, não sabem que não devem levar essas acusações  pessoalmente, e que não devem tentar se defender das mesmas,  pois  estas  são  um  reflexo  de  ataque  ou  contra‐ataque  sobre  o  qual  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  tem  pouco  ou  nenhum  controle.  29
  • 30. Às  vezes  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  relatam  eventos  para  amigos,  parentes  e  terapeutas  de  forma  bem  diferente  do  que  efetivamente  aconteceram.  Podem  até  acusar  seus  pais  de  abuso,  sem  fundamento  na  realidade  vivenciada  pelos  outros.  É  importante, portanto, ter uma visão mais clara de como funciona  o  processo  de  elaboração  de  lembranças  emocionais  (envolvendo  a  amídala,  o  hipocampo,  lobo  temporal,  entre  outros)  para  entender  melhor  eventuais  divergências  de  fatos  ocorridos.     Frequentemente, por ter uma forte desconfiança do mundo e das  pessoas  que  a  cercam,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  se  sente  vulnerável  e  impotente.  E  já  que  as  suas  emoções  podem  ser desencadeadas e desreguladas com tanta facilidade e rapidez,  de  forma  tão  dolorosa,  ela  quer  proteger‐se  contra  essa  dor,  e  pode  enxergar  sua  vulnerabilidade  como  uma  forma  de  abuso  emocional pelos outros, em vista da intensidade da dor que isso  acarreta. Em consequência, ela pode incorporar essa percepção à  sua memória e “história pessoal” como se de fato tivesse sofrido  abusos concretos.    Devemos  também  lembrar  do  aspecto  de  atemporalidade  ‐  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  tende  a  fazer  uma  conexão  direta  e  atemporal  entre  experiências  emocionais  do  passado  e  acontecimentos  atuais,  porque  a  sensação  para  ela  é  uma  só  ‐  não faz diferença se algo aconteceu há uma hora ou há vinte anos  atrás. Por conseguinte, pode acabar agindo com base na soma de  suas  lembranças  emocionais,  com  uma  intensidade  que  aos  outros parece desproporcional à situação presente:  “Todo tempo é presente. Se algo me incomoda agora, é diretamente relacionado à maior dor que já senti – e essa dor vem se juntar ao presente também. O tempo não cura feridas porque, na realidade, o tempo não passa. Tudo – passado, presente, e futuro – está sempre no aqui e no agora.” 30
  • 31. Portanto,  se  algo  no  ambiente  da  pessoa  com  sintomas  Borderline a remete a uma memória implícita ou emocional, e se  ela  interpreta  algo  equivocadamente  de  forma  personalizada,  suas  emoções  são  deflagradas  sem  que  ela  saiba  por  que,  reativando  seguidamente  a  experiência  emocional  do  passado.  Eventos  ou  palavras  que  magoaram  a  pessoa  no  passado  parecem ser revividos com o mesmo (ou até maior) grau de dor,  sofrimento  e  intensidade  emocional,  como  se  tivessem  acabado  de  acontecer,  independente  da  cronologia  real.  A  dificuldade  inerente que as pessoas com sintomas Borderline têm em deixar  para  trás  lembranças  desagradáveis  faz  com  que  vivam  em  constante  sofrimento,  o  qual  não  é  atenuado  nem  compensado  por lembranças de bons momentos.    9. Atribuição de culpa A  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  responsabilizar  os  outros  (seja  Deus,  o  destino,  o  mundo,  a  vida,  os  colegas  de  trabalho,  os  pais,  o  cônjuge,  etc.)  pelos  problemas  percebidos,   entre outras causas porque ela mesma não quer ser vista como a  “causa”  de  problemas  ou  sofrimento.  Isso  a  tornaria  uma  “má  pessoa”  e,  assim  sendo,  ela  mereceria  nada  menos  do  que  a  morte  (parece  dramático,  mas  a  vida  das  pessoas  com  sintomas  Borderline  é  permeada  de  drama,  de  hipérboles,  de  extremos).  Portanto, é mais fácil atribuir a culpa a outras pessoas ou fatores  externos.     Isto  não  representa  exatamente  uma  projeção,  e  sim  uma  tentativa de desvio de atenção, por medo de rejeição, de crítica e  julgamento,  de  sofrimento.  Se  ela  tivesse  culpa  “no  cartório”,  isso  reforçaria  a  sua  vergonha  e  a  sua  certeza  de  que  não  consegue fazer nada direito. Pelo seu prisma de preto ou branco,  oito  ou  oitenta,  basta  uma  ponta  de  culpa,  e  ela  já  se  sente  condenada.     31
  • 32. Como  disse  um  homem  com  Borderline  para  a  sua  esposa,  ao  tentar explicar porque a culpava por tantas coisas:    “Eu quero que todo mundo concorde comigo. Se não concordam comigo, começo a ficar ansioso. Quando você discute comigo, quando você não está jogando no meu time, fico achando que você me considera um fracassado. Fico extremamente irritado quando você não concorda comigo. Não sei bem por que – simplesmente fico frustrado, e depois fico com raiva de você porque me sinto frustrado.” É  por  isso  que,  passado  o  período  de  desregulação  emocional,  quando  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  retorna  a  um  humor  mais estável, raramente “assume responsabilidade” pelo que fez  ou  disse,  nos  moldes  do  que  os  outros  esperam  –  seja  com  um  reconhecimento  de  culpa,  com  um  pedido  de  desculpas  ou  com  explicativas e justificativas.  10. Medo de abandono / medo de intimidade Estes  dois  medos  –  tanto  de  abandono  quanto  de  intimidade    ‐  são  os  dois  lados  da  mesma  moeda  –  e,  no  mundo  “preto  ou  branco”  da  pessoa  com  sintomas  Borderline,  o  medo  de  intimidade  pode  alternar  para  medo  do  abandono  muito  rapidamente, e vice‐versa.     32
  • 33. Relacionamentos  intensos  e  íntimos  envolvem  emoções  muito  profundas. Infelizmente, para a pessoa com sintomas Borderline,  essas  emoções  podem  ser  apavorantes,  por  serem  fortes,  cansativas  e  desgastantes  demais.  Por  isso  ela  pode  afastar  a  pessoa  amada  com  medo  de  se  perder  neste  turbilhão  de  emoções.  Ela  sente  que  não  dá  conta  de  lidar  com  todos  os  aspectos  desse  envolvimento  e  fica  com  medo  de  perder  a  percepção de seu “eu”.     Por  outro  lado,  um  dos  seus  maiores  medos  é  o  medo  de  abandono  pelas  pessoas  que  ela  preza.  Assim  sendo,  muitas  vezes opta por terminar um relacionamento – de forma brusca e  irremediável ‐ para não ter que sofrer essa perda pressentida do  “eu”, sofrimento este alimentado tanto pelo medo de abandono  quanto pelo medo de intimidade.     Em  outras  palavras,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  optar por cortar relações com  outros  para impedir que  ocorra  o  abandono  previsto  ou  então  para  mostrar  que  não  precisa  do  outro, ou então para evitar possíveis críticas e rejeição. Assim ela  acredita  poder  controlar  melhor  a  situação  para  mitigar  seu  (potencial) sofrimento.     Mas  é  importante  falar  um  pouco  mais  sobre  a  questão  do  abandono, pois é necessário entender que, para uma pessoa com  sintomas  Borderline,  “abandono”  pode  significar  muito  mais  do  que  o  abandono  físico  mais  objetivamente  percebido.  Existem  outros  tipos  de  abandono  mais  sutis  que  são  impactantes.  Por  exemplo, o sentimento de abandono pode ser deflagrado por:    sensação de falta de compreensão por parte dos outros;  dificuldade em se entrosar ou participar de um grupo;  sensação de solidão, de nostalgia;  sensação de perda pelo rompimento de um relacionamento;  morte de um animal de estimação;  mudança de residência;   33
  • 34. perda de emprego;  medo de rejeição ao descobrir preferência por  relacionamentos com pessoas do mesmo sexo;  sensação de falta de rumo na vida;  falta de definição de identidade;  carência emocional;   percepção de rejeição, impaciência, invalidação;   morte de pessoa querida.    Uma sensação de abandono é uma ferida profunda, muitas vezes  pouco  compreendida,  que  pode  passar  despercebida  pelos  outros à sua volta.    11. Atitude “oito ou oitenta” A  pessoa  com  sintomas  Borderline  tem  a  tendência  de  ver  o  mundo  externo  ou  de  forma  muito  positiva  ou  então  muito  negativa,  e  frequentemente oscila de forma  inesperada  entre  esses  dois  extremos  de  opinião.  Essa  variabilidade  pode  ser  extremamente frustrante e confusa para quem a ama, porque ela  pode  achar  alguém  maravilhoso  um  dia,  e  detestável  no  dia  seguinte.     Por  exemplo,  quando  uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  se  sente  (para  isso  bastando  a  sua  interpretação,  visão,  percepção  do  caso)  criticada  por  um  amigo,  provavelmente  dirá  a  outros  que  ele  é  burro,  incompetente,  mentiroso,  traiçoeiro,  etc.  Ao  invés  de  esperar  passar  sua  onda  de  revolta  e  raiva  contra  o  amigo, a pessoa com sintomas Borderline poderá impulsivamente  romper com ele de forma radical, fazendo assim com que ele se  afaste definitivamente – mais uma vez, mantendo‐se fiel à diretriz  34
  • 35. pessoal  de  “abandonar  antes  de  ser  abandonada”,  baseada  na  seguinte crença:   “Pensamento é realidade. Se penso em algo, já é fato. Se alguém menciona algo, já é fato.” 12. Ruminação As  pessoas  com  sintomas  Borderline  são  propensas  a  ficar  remoendo  acontecimentos  e  conversas  para  tentar  detectar  a  possível existência de críticas veladas ou segundas intenções por  parte  de  outros.  Essa  tendência  a  ficar  remoendo  ou  ruminando  pode explicar algumas manifestações de desconfiança e medo.     Isto envolve a personalização, isto é, a atitude de levar tudo para  o campo pessoal, pois o medo de crítica e de julgamento faz com  que  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  acredite  que  tudo,  tudo  mesmo, tem a ver com ela.    A ruminação pode desencadear o “raciocínio emocional”, em que  os  sentimentos  se  equiparam  a  fatos.  Pois,  conforme  ilustrado  por  um  dos  depoimentos  acima,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pensa  em  ordem  inversa,  isto  é,  partindo  do  efeito  para  a  busca  de  uma  causa.  Assim  sendo,  basta  ela  achar  que  existe uma segunda intenção para que isto se torne um fato para  ela e uma base plausível para futuras ações e reações.     A pessoa com sintomas Borderline fica mais inclinada a entrar em  processo  de  ruminação  quando  está  ociosa,  entediada,  ou  quando  sofre  de  insônia  (o  que  é  bastante  comum,  como  veremos mais adiante).    Uma  forma  de  ajudar  a  combater  essa  tendência  de  remoer  as  coisas  é  buscar  se  envolver  em  atividades  prazerosas,  sejam  35
  • 36. físicas, mentais, sociais ou outras. Além disso, algumas formas de  meditação  que  visam  a  concentração  no  momento  presente  ‐  como,  por  exemplo,  o  estado  de  plena  atenção  (o  mindfulness) proposto  pelo  budismo, que  é  usado  também  no  mundo  corporativo  para  combater  o  estresse  ‐  ajudam  a  pessoa  a  aprender a se preocupar menos com o passado e o futuro.   13. Depressão / Medicamentos   A  pessoa  com  sintomas  Borderline  muitas  vezes  faz  uso  de  grandes  quantidades  de  bebida  alcoólica  e/ou drogas para amortecer sua dor  emocional.  O  perigo  é  exacerbado  pelo  fato  de  que  consegue  ingerir  quantidades  espantosas  de  medicamentos  (inclusive  remédios  receitados  pelos  seus  médicos,  tais  como  ansiolíticos,  analgésicos,  antidepressivos,  etc.)  e/ou  drogas  ilícitas,  ou  álcool,  sem  perder  a  consciência  e  sem  sofrer  efeitos  de  overdose  ou  ressaca.     Infelizmente,  esses  remédios  e  drogas  podem  ter  sérios  efeitos  colaterais  –  muitas  vezes  gerando  o  próprio  efeito  que  supostamente  deveriam  combater  (como  antidepressivos  que  geram pensamentos suicidas) – e podem aumentar o descontrole  emocional ou estimular a impulsividade. Por conseqüência, além  do  perigo  inerente,  os  resultados  de  seu  uso  podem  acabar  gerando mais vergonha e autopunição por parte da pessoa com  sintomas Borderline.     É  comum  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  sentir  intensa  dor  emocional  em  diversas  ocasiões  durante  o  dia,  todo  dia.  Já  que  essas  emoções  são  emoções  básicas,  como  tristeza,  raiva  e  medo,  as  reações  às  mesmas  são  tanto  físicas  quanto  mentais.  Esses  estados  emocionais  são  tão  poderosos  que  prevalecem  sobre o pensamento racional. Ao sentir dor, independente da sua  36
  • 37. fonte, a reação primordial do corpo e da mente é de buscar alívio  o mais rápido possível, por qualquer meio que seja.   14. Insônia Uma das manifestações físicas  comuns  de  Borderline  é  insônia. Isso se deve em parte  ao  fato  de  ficar  remoendo  acontecimentos  (reais  ou  imaginados,  passados  ou  futuros).    Além  disso,  existem  indícios  de  que  a  composição  química  do  cérebro  da  pessoa  com  sintomas  Borderline  não  permita  ao  organismo  um  eficiente  aproveitamento  da  serotonina,  um  neurotransmissor que atua como sedativo e calmante natural do  nosso  corpo.  Muitas  pessoas  com  sintomas  Borderline  precisam  de soníferos para conseguir adormecer e acabam tomando esses  remédios  em  altas  doses,  por  não  surtirem  efeito  facilmente.  A  falta  de  descanso  adequado  acaba  exacerbando  as  manifestações  de  sintomas  Borderline,  tais  como  ansiedade,  isolamento, variações de humor e sensibilidade a estresse. 15. Problemas de Interação Social As  pessoas  com  sintomas  Borderline  são  frequentemente  vistas  como pessoas egoístas/egocêntricas que pouco se importam com  os  problemas  e  o  sofrimento  dos  outros.  Precisamos  lembrar,  entretanto,  que,  já  que  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  age  sob  o  efeito  de  fortes  emoções  (principalmente  negativas),  ela  tem  dificuldade  em  enxergar  muito  além  de  seu  redemoinho  pessoal de preocupações.     Muitas  vezes  ela  fica  insegura  em  certos  contextos  sociais,  fazendo  com  que  fale  excessivamente,  entregando‐se  a  longos  37
  • 38. monólogos  (geralmente  sobre  si  mesma),  usando  linguagem  inapropriada ou abordando assuntos inadequados para a ocasião  e para sua platéia.     Embora  possa  parecer  que  isso  seja  fruto  de  alta  auto‐estima  e  uma  demonstração  de  falta  de  consideração  com  os  outros,  na  realidade o que ocorre é que ela passa muito tempo procurando  detectar  se  as  outras  pessoas  enxergam  a  sua  vergonha  e  a  rejeitam,  monitorando  constantemente  o  seu  ambiente  para  captar  sinais  de  desaprovação,  às  vezes  manifestando  comportamentos  de  extrema  desconfiança  e  até  tendências  paranóicas.     Neste  sentido,  Larry  Siever  pondera  que  talvez  níveis  baixos  de  opióides  endógenos  nas  pessoas  com  sintomas  Borderline  contribuam  para  intensificar  suas  emoções  negativas  e  sua  sensação  de  vazio  interior  e  disforia  (depressão,  tristeza,  melancolia,  pessimismo),  alimentando  também  sua  busca  impetuosa  por  laços  afetivos  e  sua  reação  exacerbada  a  uma  perda dos mesmos. Isto tem a ver com o fato de que a satisfação  geralmente  obtida  através  de  vínculos  emocionais,  desde  a  infância, parece fugir do alcance de muitas pessoas com sintomas  Borderline.     Hoje  em  dia,  com  a  facilidade  de  comunicação  via  internet  e  celular,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  facilmente  criar  uma rede de relacionamento “virtual”, o que lhe permite passar  rapidamente  de  mera  “conhecida”  para  “amiga  do  peito”,  contando detalhes de sua vida íntima, para que os outros fiquem  com dó dela e/ou sintam admiração por ela.     Assim, cria um contingente de pessoas que estão “do lado dela”,  compensando  a  sua  carência  afetiva,  alimentando  sua  fome  de  aceitação,  validação,  elogios,  carinho,  respeito.  Isso  também  lhe  permite  controlar  melhor  o  desenrolar  e  a  intensidade  de  38
  • 39. relacionamentos,  inclusive  seu  eventual  término  (novamente,  garantia de que possa abandonar antes de ser abandonada).    O  mesmo  ímpeto  de  busca  de  aprovação  muitas  vezes  leva  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  a  se  moldar,  como  um  camaleão, aos anseios, interesses e preferências dos que querem  impressionar  e  cativar,  tais  como  namorados,  surpreendendo‐os  e  encantando‐os  com  o  nível  de  empatia,  sensibilidade  e  compatibilidade demonstradas.    16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas Às  vezes  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  recorrem  à  autolesão,  cortando‐se  com  giletes  ou  facas,  queimando‐se  com  fósforos  ou  cigarros,  arrancando  mechas  de  cabelo,  cutucando  unhas ou o rosto até sangrar.     Mas  ‐  por  que  alguém  buscaria  infligir  dor  a  si  mesmo?  Aparentemente, segundo pesquisas recentes feitas pela Barbara  Stanley  da  Universidade  de  Colúmbia,  a  percepção  de  dor  entre  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  diminui  durante  os  momentos  de  autolesão,  ao  mesmo  tempo  que  aumentam  seus  níveis  de  opióides  endógenos  (produzidos  pelo  próprio  corpo).  Assim, quando se cortam, sentem mais um alívio psíquico do que  dor física.     É  importante  lembrar  que  o  objetivo  primordial  desses  atos  de  autolesão  não  é  chamar  atenção,  até  porque  muitos  episódios  ocorrem  longe  dos  olhares  das  pessoas  que  as  amam.  Às  vezes,  quando  não  conseguem  encobrir  ou  disfarçar  os  cortes  ou  cicatrizes resultantes, isso acaba gerando ainda mais vergonha e  constrangimento  quando  os  outros  reparam  e  comentam  sobre  os mesmos.     Como pode ser visto na literatura e também nos depoimentos de  pessoas  com  o  transtorno  e  nos  blogs  mencionados,  39
  • 40. pensamentos suicidas são bastante comuns e recorrentes, pois o  desânimo  diante  das  dificuldades  enfrentadas  nos  relacionamentos, principalmente, é muito grande, e a pessoa, ao  se sentir extremamente frustrada e magoada, pode cogitar uma  fuga definitiva.            40
  • 41. IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA   Se você se identificou com uma série de características descritas  acima, e viu como são comuns a tantas outras pessoas com alta  sensibilidade emocional, você poderá até constatar que, entre as  suas amizades e outros relacionamentos, você já está em contato  com pessoas com características semelhantes, com as quais você  poderá compartilhar e comentar suas novas descobertas.     Mas, e com relação aos outros à sua volta? O que você deve dizer  ou deixar de falar? Esse aspecto é bem delicado. Antes de tomar  qualquer  atitude,  o  ideal  seria  que  obtivesse  confirmação  do  diagnóstico  efetivo  de  transtorno  de  personalidade  Borderline,  elaborado  por  um  profissional  qualificado  da  área  de  saúde  mental.     Mas, como já comentamos, esse processo pode ser muito difícil e  demorado.  Portanto,  até  que  você  consiga  fazer  terapia  eficaz  com um profissional experiente nesta área, mesmo que seja para  tratar  de  alta  sensibilidade  emocional,  ou  ansiedade,  depressão  ou  síndrome  do  pânico,  ou  distúrbio  alimentar  ou  comportamental,  ou  algo  semelhante,  o  importante  é  que  você  não se sinta sozinha e desamparada. Use todas as ferramentas e  contatos  possíveis  para  buscar  apoio  e  compreensão,  tais  como  livros, blogs, amigos (sejam virtuais ou não).    Dentro de sua própria família, você corre o risco de não encontrar  muita  receptividade  ao  falar  sobre  suas  angústias  emocionais  como  possíveis  sinais  de  um  transtorno  comportamental,  por  uma  série  de  motivos.  Entre  outros:  seus  pais,  por  exemplo,  podem  achar  que  estão  sendo  acusados  de  ter  lhe  criado  de  forma  errada  e  vão  reagir  repelindo  essa  idéia  e  tudo  que  a  mesma  implica  (seja  por  sentimento  de  culpa  ou  outro);  seus  parentes  podem  não  se  sentir  em  condições  de  lidar  com  a  sua  dor e portanto vão negar que você tenha qualquer “problema”;  podem  hesitar  em  admitir  perante  outros  que  você  seja  um  41
  • 42. pouco  “diferente”,  uma  espécie  de  “ovelha  negra”  que  não  se  encaixa  nos  padrões  aceitos  pela  família  e  pela  sociedade  em  geral;  os  cônjuges  ou  namorados  podem  ficar  temerosos  em  dizer  ou  fazer  algo  “errado”  e  exacerbar  seus  sintomas  (por  estarem  “pisando  em  ovos”),  e/ou  podem  ter  medo  de  ter  que  mudar  algo  neles  mesmos  para  lidar  com  você  de  forma  mais  compreensiva e eficaz.     Basicamente,  entretanto,  na  maioria  dos  casos  podemos  procurar partir do pressuposto de que estas atitudes de aparente  falta de empatia e apoio podem ser atribuídas mais a uma falta de  conhecimento  e  de  flexibilidade,  do  que  a  uma  real  má  vontade  ou desinteresse.     Às  vezes  sonhamos  com  um  tipo  de  apoio  e  compreensão  que  simplesmente  não  vem  da  forma  e  na  hora  que  queremos  –  nestes casos, devemos procurar aceitar as limitações dos outros,  assim  como  queremos  que  os  outros  aceitem  as  nossas.  E  fica  sempre  aquela  dúvida  no  ar  –  será  que  o  problema  está  no  excesso  de  expectativas,  ou  na  insuficiência  do  retorno  esperado?     De  modo  geral,  as  pessoas  possuem  um  sistema  de  crenças  estabelecido, e têm medo de fazer mudanças. Além disso, muitas  fazem julgamentos e críticas de forma automática e praticamente  inconsciente.  Rebaixar  os  outros  não  deixa  de  ser  uma  ferramenta  que  algumas  pessoas  usam  para  se  sentir  mais  poderosas. Por isso, acham‐se no direito de julgar os outros pela  sua  situação  econômica,  pelas  suas  decisões,  pelo  seu  comportamento,  pela  sua  aparência,  até  pelo  seu  cansaço,  falta  de  ânimo,  estado  de  saúde,  e  assim  por  diante  –  chamando  os  outros de “fracos”, “frescos”, “incompetentes”, “lerdos”, etc.    Os  conceitos  rígidos,  às  vezes  expressos  de  forma  repetida  e  enfática,  com  relação  ao  que  é  “certo“  ou  “errado“  não  levam  em  conta  a  “possibilidade”  de  que  as  opiniões  tão  42
  • 43. orgulhosamente defendidas possam não ser a “verdade suprema  e única”... Opiniões são somente isso – opiniões. Elas podem ser  úteis  para  nortear  a  nossa  própria  vida  e  nossas ações,  mas  não  constituem uma verdade absoluta que deva ser obrigatoriamente  acatada por todos à nossa volta.     Com  relação  ao  conceito  de  “verdade”  versus  “mentira”,  devemos  lembrar  que  “verdade”  pode  significar  algo  diferente  do  que  “fatos  ocorridos”,  conforme  já  mencionado,  e  até  a  descrição  de  fatos  ocorridos  pode  variar  de  uma  pessoa  para  outra  –  dez  testemunhas  de  um  acidente  ou  crime  podem  oferecer dez relatos diferentes, e três irmãos podem recordar um  acontecimento na infância de modo inteiramente diverso.     Além  disso,  muitas  vezes  as  pessoas  confundem  aceitação  com  aprovação, e têm medo de abrir mão de sua postura habitual por  acreditar  que  elas  mesmas  serão  julgadas  como  fracas  ou  indecisas ou “sem caráter”. A tendência mais enraizada é sempre  buscar  impor  aos  outros  nossos  próprios  parâmetros,  julgando  que  nossa  linha  de  conduta  é  a  única  certa.  Muitas  pessoas  se  orgulham  de  seu  discernimento,  de  seus  preceitos  morais,  de  saber  distinguir  entre  o  certo  e  o  errado,  às  vezes  agarrando‐se  mais  à  sua  própria  necessidade  de  auto‐afirmação  do  que  pensando no bem estar e sentimentos dos outros.     É  importante,  entretanto,  aceitar  que  as  emoções  não  são  nem  certas nem erradas – simplesmente  são. E indispensável adquirir  uma  compreensão  mais  ampla  da  força  e  da  importância  das  emoções,  não  necessariamente  em  contraposição  à  razão,  mas  em  complementação  à  mesma.  É  através  do  casamento  equilibrado  do  emocional  com  o  racional  que  conseguimos  otimizar a nossa tomada de decisões na vida.  É interessante observar que os estudos da neurociência mostram  claramente que a parte emocional do cérebro aprende coisas de  um  modo  diferenciado  da  área  de  pensamento  lógico.  As  43
  • 44. habilidades  de  inteligência  emocional  são  desenvolvidas  numa  região  do  cérebro  chamada  sistema  límbico,  que  controla  os  instintos,  os  impulsos,  as  motivações.  Por  outro  lado,  as  habilidades  técnicas  e  analíticas  são  aprendidas  no  neocórtex,  que é a parte do cérebro que processa a lógica e os conceitos.    Mas,  voltando  a  uma  pergunta  comum  –  a quem você pode ou deve contar que você acha ou sabe que tem sintomas Borderline? A resposta é – depende.    Primeiro,  você  tem  que  avaliar  isso  caso  a  caso,  para  tentar  minimizar  o  risco  de  se  expor  a  críticas,  discriminação  (sim,  infelizmente  tem  essa  possibilidade),  perda  de  confiança.  Algumas  pessoas,  por  desconhecimento,  podem  achar  que  você  só  está  querendo  justificar  suas  próprias  ações  e  reações  ao  alegar  problemas  emocionais,  podem  começar  a  se  distanciar,  a  espalhar  boatos  sobre  você  –  coisas  que  você  certamente  quer  evitar.     Depende  também  do  relacionamento  que  você  tem  com  a  pessoa, depende da forma e do momento em que você aborda e  explica o assunto, depende das idades e parentescos envolvidos,  e  assim  por  diante.  Mais  uma  vez,  o  ideal  seria  ter  o  suporte  de  um  profissional  compassivo  e  experiente.  Na  falta  do  mesmo,  procure  antes  de  mais  nada  sempre  avaliar  a  fundo  exatamente  por  que  você  está  querendo  (ou  precisando)  contar  a  alguém  sobre  seu  problema,  e  quais  são  os  possíveis  e/ou  prováveis  benefícios/riscos/conseqüências.    O  caminho  mais  recomendável  talvez  seja  o  de  informar  os  outros,  na  medida  que  julgar  necessário  e  viável,  que  você  simplesmente  tem  dificuldade  em  administrar  suas  emoções  e  reações,  e  que  você  está  trabalhando  isto,    assim  como  muitas  pessoas ‐ inclusive executivos de grandes empresas – freqüentam  cursos para aprender a controlar estresse e raiva.     44
  • 45. Pode ocorrer que você realmente tenha magoado e prejudicado  outras pessoas no passado por comportamentos decorrentes de  sua  impulsividade,  intolerância  a  crítica,  medo  de  abandono,  e  outras características da alta sensibilidade emocional.     Por  exemplo,  você  pode  ter  se  afastado  de  sua  família  e  “adotado” a família de amigas ou namorados/cônjuges, por sentir  que nestes outros ambientes você estará menos sujeita a críticas  e  cobranças.  A  sua  dedicação  e  seus  atos  de  bondade  são  apreciados  de  uma  forma  que  alimenta  a  sua  auto‐estima,  e  lhe  faz  sentir‐se  mais  útil  e  acolhida.  Entretanto,  talvez  você  não  se  dê  conta  da  dor  causada  aos  seus  familiares  pelo  seu  afastamento e aparente rejeição dos mesmos.     Aos poucos, com terapia e uma reprogramação de suas reações,  talvez  você  consiga  “chegar”  nessas  pessoas  que  lhe  são  importantes  e  começar  a  reconstruir  seu  relacionamento.  Nada  como um dia após o outro, mesmo não havendo garantia de que  as coisas transcorram na forma exata que desejaríamos.   45
  • 46. V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS   Não é muito comum uma pessoa com sintomas Borderline buscar  ajuda psicoterápica por iniciativa própria para o transtorno em si  –  e,  também,  muitas  vezes,  mesmo  quando  inicia  terapia  e  a  mesma começa a focar o transtorno, ela a abandona.    Pois,  considerando  que  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  sofre  intensamente com crítica e medo de  rejeição,  vergonha  de  si  mesma,  e  confusão  quanto  aos  seus  próprios  sentimentos,  uma  abordagem  que  não  leva  esses  aspectos  em  conta  provavelmente  não  terá  muito  sucesso.  É  importante  o  terapeuta  dar  o  mesmo  tanto  de  importância  ao aspecto de aceitação quanto ao de necessidade de mudança,  o que otimiza as chances de continuação do tratamento.    Terapias  tradicionais  que  partem  do  pressuposto  de  que  os  comportamentos  de  hoje  são  causados  por  experiências  do  passado  muitas  vezes  não  levam  em  conta  os  componentes  neurobiológicos  do  Borderline,  limitando  assim  seu  potencial  de  êxito.     Mas,  uma  vez  oficialmente  diagnosticado  o  transtorno,  as  pessoas  com  Borderline  são  geralmente  tratadas  com  uma  combinação de:     a. estabilizadores  de  humor  e  antidepressivos.  Esses  medicamentos  psicofarmacológicos  devem  ser  receitados  e  ministrados  de  forma  extremamente  criteriosa,  pois  podem  causar  graves  efeitos  colaterais,  que  variam  de  pessoa  para  pessoa, existindo ainda o perigo de exagero no consumo de  medicamentos,  pelo  fato  de  as  pessoas  com  sintomas  46
  • 47. Borderline  não  sentirem  tão  rapidamente  os  efeitos  esperados dos mesmos; e     b. terapias  de  eficácia  comprovada,  como  a  Cognitiva  Comportamental  e  sua  derivada,  a  Terapia  Comportamental  Dialética,  que  ajudam  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  a  reconhecer e diferenciar e reprogramar os seus pensamentos  e sentimentos.  Cabe  aos  profissionais  da  área  de  saúde  mental  fornecer  uma  descrição mais detalhada das terapias que podem ser usadas no  tratamento  –  oferecemos  aqui  somente  um  pequeno  resumo  superficial sobre as duas acima mencionadas.     Segundo  a  Dra.  Judith  Beck,  que  continua  desenvolvendo  o  trabalho  pioneiro  de  psicoterapia  iniciado  pelo  seu  pai,  Aaron  “Tim”  Beck,  no  Beck  Institute  na  Filadélfia,  a  Terapia  Cognitiva  parte do princípio de que crenças e pensamentos de uma pessoa  influenciam  suas  emoções,  ações  e  sintomas  físicos,  e  que  as  técnicas específicas que o terapeuta escolhe para usar com cada  paciente  devem  ser  individualizadas  com  base  na  Conceituação  Cognitiva  deste  paciente  (a  compreensão  do  terapeuta,  confirmada pelo paciente, de quais são as crenças subjacentes do  paciente;  os  padrões  não  adaptativos  que  ele  desenvolveu  para  “lidar”  com  estas  crenças;  e  os  pensamentos,  emoções  e  comportamentos  diários  que  aparecem  como  resultado  destas  crenças).    Por  outro  lado,  a  Terapia  Comportamental  Dialética  –  TCD  foi  desenvolvida  especificamente  pela  Dra.  Marsha  Linehan,  professora  de  psicologia  na  Universidade  de  Washington,  EUA,  para tratar o transtorno de personalidade Borderline.   Essa  abordagem  –  TCD  ‐  visa  ajudar  a  pessoa  com  sintomas  Borderline a vislumbrar aos poucos as tonalidades de cinza entre  seus  extremos  usuais  de  “preto  ou  branco”  (isto  é,  os  dilemas  dialéticos) na sua forma de agir e pensar.   47
  • 48. A  terapia  individual  da  TCD  tende  a  ser  bastante  direta  e  confrontativa,  e  busca  abordar  em  uma  sessão  semanal  os  conteúdos  que  venham  a  se  apresentar.  A  prioridade  é  dada  à  atenção a comportamentos suicidas e auto‐destrutivos, e depois  a  comportamentos  que  interfiram  com  o  progresso  da  própria  terapia. A seguir vem assuntos ligados à qualidade de vida e à sua  melhora.    Durante  a  terapia  individual  frequentemente  se  discute  como  melhorar as  aptidões que compõem o modelo da  TCD, ou como  superar os obstáculos ao desenvolvimento das mesmas. A terapia  de grupo consiste geralmente em uma sessão semanal orientada  ao  desenvolvimento  de  habilidades  específicas,  divididas  da  seguinte forma:  a) Atenção Plena (“mindfulness”)  b) Regulação de emoções  c) Tolerância à pressão e frustração  d) Efetividade nas relações interpessoais.  Continue  sempre  pesquisando  (verifique  tratamento  disponível  em Itapira, São Paulo, por exemplo, no Instituto Bairral, liderados  pelo  Dr.  Sérgio  Monteiro,  tel.  (19)  3863‐9400 (veja http://www.doctoralia.com.br/medico/sergio+augusto+monteiro+dos +santos-11943276; ou  no  Rio  Grande  do  Sul,  pela  Dra.  Ângela  Leggerini de Figueiredo na PUCRS (cujo telefone de consultório é  51  32227322,  ou  o  tratamento  focado  em  Terapia  Cognitiva  Comportamental  realizado  pela  Dra.  Nilcéa  Coelho  na  região  do  Rio  de  Janeiro  (falecomnilceacoelho@hotmail.com),  Continue  também trocando idéias com outras pessoas e aprendendo cada  vez  mais  sobre  as  manifestações  e  características  da  alta  sensibilidade  emocional.  Novas  possibilidades  e  respostas  surgirão, e assim você poderá encontrar ajuda para se recuperar  mais  rapidamente  e  buscar  a  felicidade  que  você  procura.  Esse  movimento,  essa  busca,  esse  esforço  de  sua  parte  certamente  abrirão novos caminhos.  48
  • 49. VI. EMOÇÕES   Conforme explicado pela Judith Beck em seu livro  Terapia Cognitiva - Teoria e Prática- Judith Beck - Ed. Artmed,  as  emoções  "negativas"  são  normais  e  fazem  parte  de  nossas  vidas  tanto  como  as  emoções  "positivas".  É  importante  aprender  a  diferenciar  os  pensamentos automáticos das emoções, a rotular a emoções e a  classificar a intensidade das emoções.    Muitas  vezes  as  emoções  vêm  sem  identificação  específica.  Ninguém passa o dia inteiro analisando e rotulando suas próprias  emoções  –  agora estou feliz, agora fiquei frustrado, tou chateado, tou deprimido, tou tenso, e  assim  por  diante.  Muitas  emoções  passam  como nuvens no céu, e é somente quando essas se avolumam ou  escurecem  ou  então  se  afastam  para  deixar  o  sol  brilhar,  que  efetivamente reparamos e nos conscientizamos do nosso estado  de espírito.     A  pessoa  com  sintomas  borderline,  ao  ser  dominada  por  sentimentos  muito  fortes,  conflitantes  e  confusos,  pode  encontrar  dificuldade  em  reconhecê‐los  e  classificá‐los,  mesmo  que este discernimento seja essencial para o desenvolvimento de  seu controle emocional. Veja a seguir uma mera amostra de como  você pode se sentir de uma hora para outra:     Abandonada, anormal, abusada, aceita, realizada, ativa, insatisfeita, chateada, entediada, briguenta, envergonhada, alerta, audaciosa, temerosa, sonolenta, faminta, alegre, prestativa, saudosa, impaciente, criativa, animada, irrequieta, angustiada, exuberante, dramática, anti-social, pasma; ciumenta, confusa, amorosa, ignorante, iluminada, insegura, insignificante, insultada, intelectual, inteligente, constrangida, grata, desolada, desesperada, solitária, irritadiça, corajosa, linda, desengonçada, sortuda, discriminada, incompreendida, gorda, inchada, descabelada, esperta; 49