A poesia romântica brasileira teve duas gerações principais: a primeira foi nacionalista e exaltou temas indianistas, enquanto a segunda foi mais individualista e pessimista, refletindo um sentimento de "mal do século". Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias foram os principais expoentes da primeira geração, enquanto Álvares de Azevedo representou a segunda geração com sua obra marcada por amor, morte e escapismo.
3. GONÇALVES DE MAGALHÃES (1811-
1864)
Não denota nos poemas a liberdade
formal que anuncia no prólogo.
Ligado ao Arcadismo.
Importância do prólogo.
4. PREFÁCIO DE “SUSPIROS POÉTICOS E
SAUDADES” (1836)
É um livro de poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora sentado
entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no
cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço; ora
na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus e os prodígios do cristianismo;
ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora, enfim,
refletindo sobre a sorte da pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da
vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas da natureza, diversas
como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento e se
ligam como os anéis de uma cadeia; poesias d’alma e do coração, e que só pela
alma e o coração devem ser julgadas.
(...)
O fim deste livro, ao menos aquele a que nos propusemos, que ignoramos se o
atingimos, é o de elevar a poesia à sublime fonte donde ela emana, como o eflúvio
d’água, que da rocha se precipita, e ao seu cume remonta, ou como a reflexão da
luz ao corpo luminoso; vingar ao mesmo tempo a poesia das profanações do vulgo,
indicando apenas no Brasil uma nova estrada aos futuros engenhos.
(...)
Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou apunhalado pelas dores, ou ao
lado de sua bela, embalado pelos prazeres; no cárcere, como no palácio; na paz,
como sobre o campo da batalha; se ele é verdadeiro poeta, jamais deve esquecer-se
de sua missão, e acha sempre o segredo de encantar os sentidos, vibrar as cordas
do coração, e elevar o pensamento nas asas da harmonia até as idéias
arquetípicas.
(...)
5. DOMINGOS JOSÉ GONÇALVES DE MAGALHÃES (RIO DE
JANEIRO, 1811 – ROMA, 1882)
- Diploma-se em Medicina em 1832;
-Viaja a Europa onde assimila o Romantismo,
sobretudo dos autores franceses. Funda o
periódico Niterói e propõe uma reforma
nacionalista e espiritualista na literatura brasileira;
-- Retorna ao Brasil em 1837, voltando-se para a
produção teatral, cultivando, ainda o indianismo de
caráter nacionalista.
-Obras:
-Suspiros poéticos e saudades (1836)
-Antônio José ou o poeta e a Inquisição, teatro
(1838)
-A confederação de Tamoios, poema épico (1857)
-Etc.
6. ESTUDO DA POESIA DE GONÇALVES
DE MAGALHÃES
É romântico quanto aos textos que aborda, mas
não denota a liberdade formal de que fala no
prólogo do primeiro livro.
Em Invocação à saudade, emprega versos
decassílabos e hexassílabos, procedimento
comum aos poetas árcades, como se nota no
dístico: Em fugitiva sombra, em negro quadro / A
imagem do passado.
Utiliza versos brancos, herança árcade;
Não é um poeta de grande densidade lírica, mas
tem o mérito de ter sido o primeiro cultor do
nacionalismo nas letras brasileiras.
7. GONÇALVES DIAS (1823-1864)
Redimensiona a imagem do índio ao:
a) Imaginá-lo a partir do ideal cavalheiresco
Romântico europeu –
I. Honra
II. Honestidade
III.Franqueza
IV.Lealdade
V. Aliada à força física imbatível, resultado do
equilíbrio entre o homem e a natureza
VI.O “bom selvagem” (Jean-Jacques Rosseau)
8. CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais
flores,
Nossos bosques têm mais
vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu
morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
De Primeiros cantos (1847)
9. LEITO DE FOLHAS VERDES
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d'alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram.
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!
10. ANTÔNIO GONÇALVES DIAS (BOA VISTA/MA, 1823 – NAUFRÁGIO
DO “VILLE DE BOULOGNE”, NAS COSTAS DO MARANHÃO, 1864)
-- Inicia seus estudos em Portugal em 1824.
Em 1840, ingressa no Curso de Leis da
Universidade de Coimbra, tomando contato
com escritores europeus românticos e
participando ativamente dos periódicos
literários medievalistas da época.
-- No Brasil, leciona História e Latim.
-Obras:
-Primeiros cantos (1846)
-Segundos cantos e sextilhas de Frei Antão
(1848)
-Últimos cantos (1851)
-Os Timbiras (1857) etc.
11. ESTUDO DA POESIA DE GONÇALVES
DIAS
Maior poeta indianista da literatura brasileira;
Imagem do índio idealizada, assemelhando-se em seus
valores e práticas ao cavaleiro medieval (imagem
construída sem conflito entre índio e colonizador);
Louva o índio e a natureza, revelando progressiva
desculturação dos nativos;
Era leitor dos quinhentistas;
Usava a redondilha menor (versos de cinco sílabas) no
clássico Os Tibiras, para retratar os tambores;
Usou todos os metros possíveis, como os populares
(redondilha maior).
12. 2º GERAÇÃO: ULTRARROMÂNTICA
(“MAL DO SÉCULO”)
Excesso de subjetivismo e do emocionalismo
românticos
Irracionalismo
Escapismo: fantasia; culto da morte
Pessimismo
13. COLECIONANDO...
A partir dos últimos anos da década de 1840, assiste-se à
escalada de valores que poderíamos chamar de
adolescentes rebeldes.
Inicia-se uma literatura densamente carregada de
subjetivismo, onde amor e morte andam de mãos dadas,
um entusiasmo loquaz e um tédio que os levam a buscar
uma ordem transcendente (como o satanismo presente no
drama Macário, de Álvares de Azevedo e em Fausto, de
Goethe).
Conhecida como Ultrarromântica ou Mal do Século, sendo
influenciada por Alfred Musset e Lord Byron;
Descontentes com o rumo da sociedade, os escritores
dessa geração assumem em relação à vida uma atitude
pessimista, sentimentalista e egocêntrica;
Renegam o nacionalismo da primeira geração e qualquer
atitude de comprometimento com os problemas do mundo.
14. ÁLVARES DE AZEVEDO (1831-1852)
Obra reflete juventude e imaturidade do autor:
Obra principal: Lira dos vinte anos:
Primeira e terceira parte:
I. Temas de amor e morte;
II. Frustração amorosa sublimada pelo sonho e pela
fantasia;
III.Amor oscila entre idealização de uma virgem pura,
etérea, e uma ardente sensualidade.
Segunda parte:
I. Substitui o escapismo visionário pelo realismo irônico
II. Exprime o tédio e a melancolia (slpleen) tipicamente
byronianos.
15. SONETO
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era a mais bela! Seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
16. LEMBRANÇA DE MORRER
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade... é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai... de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.
Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!
Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!
17. SE EU MORRESSE AMANHÃ!
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
18. NAMORO A CAVALO
Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
Alugo (três mil-réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela...
Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado,
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito... mas furtado...
Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda a Comédia- em casamento...
Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafues encheu de lama...
Eu não desanimei! Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...
O cavalo ignorante de namoros
Entre dentes, tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada...
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair, de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...
19. MANUEL ANTÔNIO ÁLVARES DE AZEVEDO (SÃO PAULO, 1831 –
RIO DE JANEIRO, 1852)
-- Morreu de tuberculose, sem ter visto sua
obra publicada em vida. Aproximou-se do
byronismo e do satanismo. Teria feito parte
da Sociedade Epucireia.
-- Entre as várias lendas que ropousam sobre
ela, conta-se que, certa noite, alguns
estudantes embriagaram uma prostituta e a
levaram a um semitério local, onde a
consagraram “Rainha dos Mortos”.
-Obras:
-Obras, Volume I (1853; contém Lira dos
vinte anos)
-Obras, Volume II (1855; contém Pedro Ivo,
Macário, A Noite na Taverna etc.)
20. ESTUDO DA POESIA DE ÁLVARES DE
AZEVEDO
Sua poesia revela uma tendência para evasão, seja para o
sonho, seja para a morte, carregada, em alguns textos, de
erotismo reprimido;
Segundo a tendência e por gosto pessoal, desdobrou em seus
textos aspectos mórbidos e depressivos da existência: Em treva
densa / Dentro do peito a existência finda... ; Pressinto a morte
fatal na fatal doença!... (“Oh! págnas da vida que eu amava”).;
A angústia de existir, de não ser inteiramente, o desabar dos
sonhos e das ilusões, o querer muito além do poder, estão
totalmente perceptíveis em seus textos. Em suma, o poeta é
consciente das coisas essenciais não realizadas na vida: Morro,
morro por ti! na minha aurora / A dor do coração, a dor mais
forte, / A dor de um desengano me devora (Perdoa-me, visão
dos meus amores);
Nos poemas ele chora, discorre sobre seu sentir e sobre suas
dores, certo de que tudo se encaminha para a solução de tudo: a
morte, que ele não tem coragem de apressar.
21. CASIMIRO DE ABREU (1839-1860)
Obra: Primaveras (1859)
o Produziu poesia mais ingênua – às vezes quase
infantil
Temas frequentes:
I. Saudade
II. Infância
III.Família
IV.Amor platônico (e o medo do amor)
V. Muito sentimental – dominado pelo pessimismo
nos dois últimos anos de vida
22. CANÇÃO DO EXÍLIO
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!
O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!
(...)
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
23. AMOR E MEDO
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.
(...)
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...
Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...
24. MEUS OITO ANOS
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar! (...)
25. CASAMIRO JOSÉ MARQUES DE ABREU (BARRA DO SÃO JOÃO DA
VILA/RJ, 1839 – NOVA AMBURGO/RJ, 1860)
-- Nasceu no campo, mais propriamente na
fazenda Indaiaçu, onde passou sua infância;
-- Estudou Humanidades em Nova Friburgo,
indo posteriormente a contragosto para o Rio
para dedicar-se ao comércio, por
determinação do pai.
-- Entre 1853 e 1857, reside em Portugal, de
onde retorna, trazendo na bagagem poemas
escritos com franca inspiração em Gonçalves
Dias, mais precisamente “Canção do Exílio”.
-- Morre vitimado de tuberculoso, com pouco
mais de vinte anos, após a publicação do
livro de poemas Primavera (1859).
-Obras:
-Camões e o Jaú, teatro (1856)
-As Primaveras (1859)
26. ESTUDO DA POESIA DE CASEMIRO DE
ABREU
É, de certa medida, oposto a Álvares de Azevedo.
Muito embora pertençam à mesma geração, suas obras
não seguem o mesmo caminho;
A obra de Casemiro se caracteriza como sendo mais
próxima do gosto do público médio da época, valendo-
se de temas como saudade dos tempos da infância, a
natureza, o sentimento religioso, o medo das grandes
paixões, como em Minh’alma é triste;
Seus textos são de linguagem simples e ágil, fácil, bem
dentro dos padrões do ritmo cantante – como em Meus
oito anos;
Se há sensualidade direta em seus versos, ela se
encontra carregada de uma psicologia infantil, não
havendo o sarcasmo e a ironia de um Álvares de
Azevedo.
27. JUNQUEIRA FREIRE (1832-1855)
O autor mais angustiado do ultrarromantismo.
Aos 18 anos, na tentativa de solucionar crise
moral, torna-se monge beneditino, mas não
consegue se adaptar à vida religiosa,
abandonando o convento.
28. Morte
(hora do delírio)
Pensamento gential de paz eterna
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dous fantasmas que a existência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.
Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
do prazer que nos custa a dor passada.
Pensamento gentil de paz enterna
Amiga morte, vem. Tu és apena
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.
(...)
29. 3º GERAÇÃO: POESIA SOCIAL
(“CONDOEIRA”; PRÉ-REALISMO)
Temas sociais e políticos
Liberdade
Tom retórico e exaltado
30. CASTRO ALVES (1847-1871)
Principais obras: Espumas flutuantes (1870), Os
escravos (1883)
Três temas básicos:
I. A natureza
II. O amor
III.A problemática social
IV.Participação na campanha abolicionista (“poeta
dos escravos”)
31. O NAVIO NEGREIRO
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?
Ó mar, por que não apagas
De teu manto este borrão?..
.
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Combatem na solidão.
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...
(...)
32. FAGUNDES VARELA (1847-1871)
Em poemas como “Estandarte Auriverde”
adianta as tendências da terceira geração (muitos
o classificam como pertencente ao
ultrarromantismo e não à poesia social);
Explorou todos os temas da poesia romântica,
experimentou métricas.
33. [A cruz]
Estrelas
Singelas,
Luzeiros
Fagueiros,
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
Desertos e mares, - florestas vivazes!
Montanhas audazes que o céu topetais!
Abismos
Profundos!
Cavernas
E t e r nas!
Extensos,
Imensos
Espaços
A z u i s!
Altares e tronos,
Humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só ela nos fala das leis de - Jesus!
34. Cântico do Calvário
À memória de meu Filho morto a 11 de dezembro
de 1863
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste!- Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto! (...)
35. SOUSÂNDRADE (1833-1902)
Versos tem ecos das experiências de suas
viagens;
Conjugação do capitalismo norte-americano à
cultura indígena;
Questões sociais; uso de neologismo (aproximação
com o Modernismo)
36. Trecho de “O guesa errante”
(...)
"Nos áureos tempos, nos jardins da América
Infante adoração dobrando a crença
Ante o belo sinal, nuvem ibérica
Em sua noite a envolveu ruidosa e densa.
"Cândidos Incas! Quando já campeiam
Os heróis vencedores do inocente
Índio nu; quando os templos s'incendeiam,
Já sem virgens, sem ouro reluzente,
"Sem as sombras dos reis filhos de Manco,
Viu-se... (que tinham feito? e pouco havia
A fazer-se...) num leito puro e branco
A corrupção, que os braços estendia!
"E da existência meiga, afortunada,
O róseo fio nesse albor ameno
Foi destruído. Como ensanguentada
A terra fez sorrir ao céu sereno!
(...)
37. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, Emília et al. Novas palavras: ensino
médio. 2 ed. renov. Vol. 2. São Paulo: FTD, 2005
(Coleção novas palavras).
DIAS, Gonçalves; AZEVEDO, Álvares; ALVES,
Castro et al. Poesia romântica. Manaus: Valer:
2010.