4. Autopoiese
Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto "próprio", poiesis
"criação") é um termo cunhado na década de 70 pelos
biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto
Maturana para designar a capacidade dos seres vivos de
produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo
é um sistema autopoiético, caracterizado como uma rede
fechada de produções moleculares (processos), onde as
moléculas produzidas geram com suas interações a
mesma rede de moléculas que as produziu. A conservação
da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio
são condições sistêmicas para a vida.
5. Autopoiese
Por tanto um sistema vivo, como sistema autônomo está
constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e
sempre mantendo interações com o meio, onde este
apenas desencadeia no ser vivo mudanças
determinadas em sua própria estrutura, e não por um
agente externo.
De origem biológica, o termo passou a ser usado em
outras áreas por Steven Rose na neurobiologia, por
Niklas Luhmann na sociologia, e por Gilles Deleuze e
Antonio Negri na filosofia.
6. O que Maturana e Varela comprovaram foi que os seres vivos não são
agregados de partes, são padrões de interrelacionamentos entre
essas partes, padrões dinamicamente renováveis. E que a realidade
não “entra” em nós, de fora para dentro, pela visão e demais sentidos;
ela pode no máximo estimular uma reorganização desse padrão de
interrelacionamentos – um processo interno, autônomo.
Para todo e qualquer ser vivo, não existe o mundo em si, cada um cria
o seu próprio “mundo”. E esse mundo é criado e renovado a partir
daquilo que o ser... é – até aquele instante.
Autopoiese: A lógica da auto referência
7. Uma reunião dos Alcoólicos Anônimos, Estados Unidos. O monitor faz
um breve discurso: “palavras são só palavras, cada um interpreta de
um jeito. Mas hoje, nada de palavras. Vocês vão travar contato direto
com a realidade, nua e crua”. Ele pega então dois frascos de vidro,
enche um com água e outro com álcool. Pega um pequenino verme e
deixa-o cair no frasco com água. O verme afunda, alguns segundos
depois começa a movimentar-se, chega à superfície e nada até a
borda.
O monitor apanha novamente o verme, deixando-o cair desta vez no
frasco com álcool. Ele novamente afunda, só que dessa vez
permanecendo inerte. Instantes depois ele começa a se desintegrar.
Depois de algum tempo, dele só resta um borrão acinzentado turvando
a cristalinidade do líquido.
O monitor pergunta: “todos viram?”. Sim, todos. “E a que conclusão
podemos chegar?”. Uma mão se levanta: “Entendo que, se bebermos
álcool, não teremos vermes”.
8. O sentido da vida
“A vida não tem sentido fora de si mesma. O sentido da
vida de uma mosca é viver como mosca, mosquear, ser
mosca. O sentido da vida de um cachorro é viver como
cachorro, ou seja, ser cachorro ao cachorrear. O sentido da
vida de um ser humano é o viver humanamente ao ser
humano no humanizar.”
9. autopoiese
biologia do conhecer
“Um sistema vivo é uma rede de moléculas que
interagem entre si, de modo que, por meio de tais
interações, elas produzem o mesmo tipo de moléculas da
rede que as produziram – e fazendo isso constituem toda a
rede como uma unidade.”
10. biologia do conhecer
autopoiese
3 requisitos para que um sistema seja
considerado autopoiético (tenha o mínimo de
vida):
(1) Possua uma fronteira que
(2) contenha uma rede molecular reativa que
(3) produz a si mesma e regenera a própria
fronteira.
12. acoplamento estrutural e fechamento operacional
biologia do conhecer
Entrada (realismo metafísico) – Define, especifica,
determina a única forma pela qual uma transformação de
estado dada pode acontecer; uma entrada, ou um input.
Perturbação (Varela, Maturana) - Não especifica a
transformação. Apenas dispara (trigger) um efeito que será
definido pela estrutura do ser vivo. Ex.: botão do gravador.
13. fechamento operacional e autonomia
biologia do conhecer
"Nas interações entre os seres vivos e o meio
ambiente dentro da congruência estrutural, as
perturbações do ambiente não determinam o que
acontece com o ser vivo; ao contrário é a
estrutura do ser vivo que determinará o que
deverá ocorrer com ele.”
14. autopoiese e cognição
biologia do conhecer
PERCEPÇÃO = TATO
O modo como você se move depende do que você sente,
e o que você sente depende de como você se move.
(Evan Thompson)
15. enaction (atuação)
biologia do conhecer
COGNIÇÃO = AÇÃO = Fenômeno
biológico
“A percepção não é algo que acontece conosco, ou dentro
de nós. É algo que nós fazemos.”
—Alva Noë
17. experiência da visão do sapo
biologia do conhecer
“Na percepção do anfíbio, não há nenhum acesso a
um real exterior, pré-definido, mas “somente uma
correlação interna entre o lugar da retina que recebe
uma perturbação e uma contração muscular que move
a sua língua, pescoço, e, de fato, todo o corpo do
sapo.”
18. multiplicidade de mundos
biologia do conhecer
“Cada vez que um ser humano morre, um mundo
humano desaparece, muitas vezes de maneira
irrecuperável. Isto não é uma banalidade sentimental, é
uma realidade biológica. O mundo é o que vivemos, nosso
fazer em qualquer dimensão, desde o caminhar até a
palavra, é a concretização de nossa estrutura biológica.”
20. sistema nervoso e fechamento operacional
biologia do conhecer
Representacionismo:
O sistema nervoso recolhe, capta, recebe
informações/atributos provenientes do meio/objetos.
Mente como "espelho da natureza“ (Rorty).
"Consideramos geralmente que essas entradas são ou refletem certas
características ou qualidades do ambiente, que são absorvidas pelo
sistema nervoso como matéria bruta, que em seguida é trabalhada no
interior. Sucintamente o sistema nervoso funcionaria a partir de um
conteúdo informativo de instruções que provém do ambiente,
elaborando uma representação operacional desse ambiente..."
21. sistema nervoso e fechamento operacional
biologia do conhecer
Fechamento ou Clausura Operacional:
O sistema nervoso funciona como um sistema
operacionalmente fechado, determinado por sua estrutura,
sem entradas ou saídas, Sistema autônomo. Coêrencia
interna. Os resultados das operações do sistema são as suas
próprias operações. É este processo que "constitui" um
mundo.
22. sistema nervoso e fechamento operacional
biologia do conhecer
autopoiese
viver
conhecer
24. o observador
biologia do conhecer
Dois sentidos de INCORPORAÇÃO:
Temos um corpo, um organismo sensório-motor pelo qual
vivenciamos o mundo.
Estamos mergulhados,
imersos no mundo, sem saída.
25. linguagem
idéias paralelas
Exemplo do táxi...
Primeiro gesto: coordenação de ações (comunicação).
Segundo gesto: coordenações de coordenações de
ações (linguagem).
Exemplo de uma conversa olhada de longe...
Linguagem seria um modo bem mais sutil e complexo de
interação, que já ocorre em todos os níveis biológicos
(diferença de grau, não de qualidade)
26. linguagem
idéias paralelas
Senso comum
Biologia do Conhecer
Linguagem como sistema denotativo,
simbólico, abstrato, psicológico,
semântico.
Linguagem como sistema conotativo,
natural, orientador, biológico, concreto.
Metáfora do tubo.
Transmissão de informações.
Representacionismo.
Informação e símbolos são secundários
à linguagem.
Incorporação.
28. linguagem
idéias paralelas
"A mente não é alguma coisa que está dentro do cérebro.
Consciência e mente pertencem ao domínio da dependência
social. Este é o locus da sua dinâmica... A linguagem não foi nunca
inventada por ninguém somente para perceber um mundo
externo. Portanto, ela não pode ser usada como uma ferramenta
para revelar este mundo. O fato é que, é através do linguajar que
o ato do conhecimento, da coordenação comportamental que é a
linguagem, constitui um mundo.”
29. crítica à nova era
idéias paralelas
Eu crio minha própria realidade?
Eu crio meu mundo?
Nem Idealismo/Solipsismo nem Realismo
Realidade ≠ Experiência de realidade
30. deriva natural
idéias paralelas
Evolução neo-darwiniana:
Surgem seres mais "adaptados" ao meio e estes sobrevivem
devido a isso, devido à "seleção natural". Lógica prescritiva: tudo
que não é permitido é proibido.
Maturana e Varela:
Não há seres "mais" adaptados pois a autopoiese, conservação
da organização, congruência operacional, é um requisito para a
existência, para a vida. Lógica proscritiva: tudo o que não é
proibido é permitido.
Cada ser é produto e produtor da evolução.
31. emoção
idéias paralelas
Definição de emoção:
Disposição para a ação. Predisposições
corporais para a ação. Cada emoção restringe ou
amplia o leque de ações, posturas,
comportamentos - condiciona, mas não define ou
determina.
32. idéias paralelas
biologia do amor
Biologia do amor:
Legitimar o outro como um ser que
igualmente constrói um mundo.
O amor amplia a visão, a capacidade cognitiva.
A agressão reduz a visão, reduz nosso mundo.
33. realidade
desdobramentos filosóficos
Por que as pessoas parecem viver em
diferentes mundos mesmo quando estão
próximas entre si?
Por que o processo de expansão dos domínios
ontológicos e epistemológicos prossegue em uma
abertura infinita?
35. realismo
desdobramentos filosóficos
Exemplos: Filme Pi / Diálogo de Einstein e Tagore: o livro e a
traça
Teses do Realismo metafísico ou realismo ingênuo (Hilary
Putnam):
•O mundo consiste em objetos pré-definidos e radicalmente
independentes dos sujeitos;
•Há apenas uma descrição completa e verdadeira da natureza
da realidade;
•A verdade envolve algum tipo de correspondência entre o
mundo independente e a descrição que dele fazemos.
40. experiência do cubo
desdobramentos filosóficos
1) Realismo Ingênuo 2D: Hexágono, Triângulos.
2) Realismo Ingênuo 3D: Cubo.
3) Realismo Sofisticado (metáfora do elefante): 3D ou
2D.
4) Os mundos são sensorialmente completos: você não
vê que não vê, você não percebe que não percebe! Ilusão
de ótica?
5) Pós-realismo: Objeto inseparável de meus olhos.
41.
42. não dois, não um
desdobramentos filosóficos
Koan zen-budista:
“Bata palmas...
qual o som de uma só mão?”
43. não-dualidade
desdobramentos filosóficos
“É fascinante que o mundo seja assim plástico, nem subjetivo
nem objetivo, nem uno nem divisível, nem dual nem indissociável.
Isso aponta tanto para a natureza do processo, que podemos
perceber na globalidade de sua qualidade formal e material, como
para os limites fundamentais daquilo que podemos compreender
de nós mesmos e do mundo. Demonstra que a realidade não está
simplesmente constituída por nosso capricho, porque isso
implicaria supor a possibilidade de escolher um ponto de saída do
interior.”
44. não-dualidade
desdobramentos filosóficos
“Prova, além disso, que a realidade não pode ser entendida
como algo objetivamente dado, que se pode captar, porque isso
implicaria presumir um ponto de partida exterior. Demonstra, com
efeito, uma ausência de fundamento sólido de nossas
experiências, pelas quais nos são fornecidas determinadas
regularidades e interpretações, fruto de nossa história conjunta
como seres biossociais. No interior dessas áreas de história
comum que se apóiam sobre acordos tácitos, vivemos em uma
aparentemente interminável metamorfose de interpretações que
se sucedem.”
45. não-dualidade
desdobramentos filosóficos
"Em suma, avançarei uma concepção na qual a mente não
'copia' simplesmente um mundo que admite ser descrito pela
Teoria Verdadeira Única. Mas a minha concepção não é tão-pouco
uma concepção em que a mente constitui o mundo [...]. Se se tem
que usar linguagem metafórica então seja esta a metáfora: o
mundo e a mente constituem o mundo e a mente. Ou, para tornar
a metáfora mais hegeliana, o Universo constitui o Universo."
(Hilary Putnam)
Merleau-Ponty: as coisas não se apresentam a nós, mas somos
nós, antes, que nos apresentamos às coisas.
46. citações sobre não-dualidade
desdobramentos filosóficos
"Assim não podemos escapar ao fato de que o mundo que
conhecemos é construído a fim de ver a si mesmo. Para fazê-lo,
todavia, ele precisa primeiro dividir-se, pelo menos, em um estado
que vê e, pelo menos, em outro estado que é visto.”
—G. Spencer Brown, matemático, em "Laws of Form“
"Objetividade é a ilusão de que as observações podem ser feitas
sem um observador."
—Heinz von Foerster, precursor da Cibernética.
47. citações sobre não-dualidade
desdobramentos filosóficos
"Num só fenômeno, surgem objeto e observador."
—Gyatrul Rinpoche
"Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo
dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos,
de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas,
de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes
de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a
imagem de seu rosto."
—Jorge Luis Borges
48. anti-fundacionalismo
desdobramentos filosóficos
“A cabine do piloto está vazia."
—Zygmunt Bauman
Era pós-moderna: ausência de chão, falta de
fundamento último, dissolução do Grande Outro (religião,
nacionalidade, etnia, filosofia consensual, cultura
hegemônica, instituições) para nossa subjetivação.