SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  41
Télécharger pour lire hors ligne
Por que pesquisar e não
somente fazer design?
Frederick van Amstel @usabilidoido
Laboratório de Design contra Opressão (LADO)
DADIN / UTFPR
Por que se esforçar em fazer
design como se fosse uma ciência,
se design costuma ser reduzido a
uma forma ou técnica?
Na realidade brasileira,
"É para aquilo que se precisa fazer
que se devem voltar as atenções;
para o a fazer como afazer."
Vieira Pinto (1960[2020], vol 1)
Para Álvaro Vieira Pinto, o mundo em que vivemos é produzido
socialmente por nossas mãos. Não temos contato imediato com a
natureza, mas sim através de mediações.
Para produzir nossa existência e continuar existindo, precisamos
dominar as mediações entre nossa consciência e nosso mundo:
linguagem, técnica, ferramentas, design e muitas outras.
Tornar-se consciente das mediações que utilizamos para estar no
mundo e com o mundo é uma forma de nos tornarmos auto-
conscientes de quem somos e do que somos feito.
Vieira Pinto define a autoconsciência máxima possível como
ciência. Assim, ele reconhece que há uma forma de ciência em
todas as culturas, embora com outros nomes.
A ciência surge da reflexão sobre o trabalho acumulado ao longo
do tempo, assim como o trabalho surge da ciência das
possibilidades de transformar o mundo.
Todo trabalho é científico, mas algumas formas de trabalho são
legitimadas como mais científicas. A colonialidade do fazer
estabelece hierarquias entre corpos através do jeito que são feitos.
A colonialidade do conhecimento estabelece a diferença entre um
corpo que sabe se projetar no mundo e um corpo que não sabe. O
corpo que não sabe usa o projeto de quem sabe.
trabalho de projetar
trabalho intelectual
trabalho científico
ciência pura
ciência desenvolvida
teoria
trabalho de usar
trabalho manual
trabalho técnico
ciência aplicada
ciência subdesenvolvida
prática
Para superar essas dicotomias, Vieira Pinto recomenda incluir a
condição existencial do pesquisador não só como parte do
problema de pesquisa, mas também como parte do método.
Minha condição existencial: sou um trabalhador localizado num
país subdesenvolvido que não dá valor ao aspecto científico do
trabalho nem mesmo do trabalho dito científico.
Se reconhecermos que nossa condição é subdesenvolvida e que
não podemos fazer a mesma ciência que as metrópoles coloniais,
podemos então nos debruçar sobre os problemas de nossos povos.
A colonialidade do fazer nos leva a pensar que as soluções para
nossos problemas estão sempre em outro lugar, em outro tempo,
mas nunca aqui e agora.
A colonialidade do fazer nos faz ignorar aquilo que já fizemos ou
que nossos ancestrais fizeram no passado para resolver os mesmos
problemas.
Para descobrir o que é possível no aqui e agora, devemos entender
as origens históricas de nossos problemas. Eu utilizo o conceito
metodológico de contradição para capturar esta historicidade.
Fome
Obesidade
Trabalho
Capital
Minha tese de doutorado identificou uma prática expansiva de
design que inclui contradições como fonte de mudança nas
atividades e nos espaços que habitamos (Van Amstel, 2015).
Desde que defendi minha tese na Holanda e retornei ao Brasil,
tenho focado minha pesquisa na contradição da opressão. Eu me
pergunto: como o design oprime e como ele liberta?
OPRESSORES
Grupos sociais
historicamente
privilegiados
OPRIMIDOS
Grupos sociais
historicamente
desprivilegiados
desumanização
subestimação
prescrição
negação
re-humanização
reação
crítica
afirmação
A contradição da opressão de acordo com Paulo Freire,
Augusto Boal e Vieira Pinto
interações
estéticas
DESIGNERS
grupo social
historicamente
privilegiado que utiliza o
computador para
oprimir
USUÁRIOS
grupo social
historicamente
desprivilegiado que usa o
computador para
libertar-se
A opressão dos usuários (Gonzatto & Van Amstel, 2022)
COMPUTA
DOR
desumanização
subestimação
prescrição
negação
re-humanização
reação
crítica
afirmação
Como superar o usuarismo e se
fazer designer de maneira ética?
A seguir, serão apresentados
diversos experimentos que
venho realizando nas
minhas pesquisas.
1. Primeiro experimento:
ver-se como uma pessoa
oprimida.
Teatro-Fórum sobre a precariedade do trabalho do designer para
alunos da USP (2020).
Inteligência artificial
que atende clientes e
distribui vagas na
plataforma
Designer
precarizado
trabalhando em
plataforma digital
Designer
precarizado que se
vê como
empreendedor
2. Segundo experimento: ver-se
como uma pessoa opressora.
Oficina Arco-Íris do Desejo para examinar os opressores (os tiras)
que entraram em nossas cabeças durante a pandemia (2022).
3. Terceiro experimento:
subverter seus privilégios e
compartilhá-los com as lutas
de libertação.
Livros com histórias concretas de opressão escritas e projetadas
por estudantes da UTFPR (Editoração em Com. Org.).
3. Quarto experimento:
reconhecer que a nossa
liberdade depende da liberdade
dos grupos sociais a que
pertencemos.
Usando o baralho B.AKKA para questionar as condições existenciais
de nossos novos pesquisadores em design.
¿Qué te impide llegar allí?
¿Que estás impidiendo que personas como tú se vuelvan así?
¿Quién eres tú? ¿Quien quieres ser
después de tu tesis?
4. Quinto experimento: fazer-se
livre coletivamente como um
corpo coletivo autônomo.
Os alunos da UTFPR escreverão um manifesto vestível sobre a
responsabilidade política do design em 2019.
Na versão digital, quebraram todas as regras do design que
conheciam para se conscientizar da opressão do usuário.
Movimento iniciado pelo manifesto deu origem em 2021 ao
Laboratório de Design contra Opressões (LADO).
Os projetos de pesquisa do LADO são desenvolvidos em rede, a
partir de relações concretas entre muitas pessoas e grupos.
Segundo Vieira Pinto,
pesquisadores podem negar suas
origens e servir a outros corpos
coletivos, mas essa não é a
atitude moral mais consistente.
Na condição de subdesenvolvimento,
pesquisadores devem se identificar
com o povo e com o povo criar
projetos de pesquisa libertadores.
Como a minha pesquisa pode
modificar as nossas condições de
existência?
Obrigado!
Frederick van Amstel @usabilidoido
Laboratório de Design contra Opressão (LADO)
DADIN / UTFPR

Contenu connexe

Similaire à Por que pesquisar e não somente fazer design?

Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfDesign e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfMariaCristinaIbarra1
 
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfDesign e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfRuanLima41
 
Educar para a criatividade e autoconhecimento
Educar para a criatividade e autoconhecimentoEducar para a criatividade e autoconhecimento
Educar para a criatividade e autoconhecimentocatapera
 
OPEN DESIGN: Abertura + design = pratica projetual para a transformacão social
OPEN DESIGN: Abertura + design  = pratica projetual para a transformacão socialOPEN DESIGN: Abertura + design  = pratica projetual para a transformacão social
OPEN DESIGN: Abertura + design = pratica projetual para a transformacão socialSagui Lab
 
Solução - etapa 1 briefing.pdf
Solução - etapa 1 briefing.pdfSolução - etapa 1 briefing.pdf
Solução - etapa 1 briefing.pdfEdmilsonMirandaJr2
 
Descolonizando o Ateliê de Projetos
Descolonizando o Ateliê de ProjetosDescolonizando o Ateliê de Projetos
Descolonizando o Ateliê de ProjetosUTFPR
 
LP8 - Currículo em Ação.pdf
LP8 - Currículo em Ação.pdfLP8 - Currículo em Ação.pdf
LP8 - Currículo em Ação.pdfEuber Medrado
 
Estratégias de Promoção da criatividade
Estratégias de Promoção da criatividadeEstratégias de Promoção da criatividade
Estratégias de Promoção da criatividadeAndreiaTorresAlvesCa1
 
Tipologia evolutiva
Tipologia evolutivaTipologia evolutiva
Tipologia evolutivaEdu Rocha
 
Os princípios da cocriação
Os princípios da cocriaçãoOs princípios da cocriação
Os princípios da cocriaçãoaugustodefranco .
 
Jairo Siqueira - Artigos sobre Criatividade e inovação.pdf
Jairo Siqueira - Artigos sobre Criatividade e inovação.pdfJairo Siqueira - Artigos sobre Criatividade e inovação.pdf
Jairo Siqueira - Artigos sobre Criatividade e inovação.pdfssuser825a7a
 
Aula 2. Conhecimento e Poder
Aula 2. Conhecimento e PoderAula 2. Conhecimento e Poder
Aula 2. Conhecimento e PoderSimone Athayde
 
O segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designO segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designUTFPR
 
Construindo uma universidade sustentável, social e economicamente includente
Construindo uma universidade sustentável, social e economicamente includenteConstruindo uma universidade sustentável, social e economicamente includente
Construindo uma universidade sustentável, social e economicamente includenteRicardo de Sampaio Dagnino
 
Fundamentos epistemológicos da Pesquisa em Design
Fundamentos epistemológicos da Pesquisa em DesignFundamentos epistemológicos da Pesquisa em Design
Fundamentos epistemológicos da Pesquisa em DesignUTFPR
 

Similaire à Por que pesquisar e não somente fazer design? (20)

Fight Gravity Book
Fight Gravity BookFight Gravity Book
Fight Gravity Book
 
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfDesign e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
 
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfDesign e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
 
Educar para a criatividade e autoconhecimento
Educar para a criatividade e autoconhecimentoEducar para a criatividade e autoconhecimento
Educar para a criatividade e autoconhecimento
 
OPEN DESIGN: Abertura + design = pratica projetual para a transformacão social
OPEN DESIGN: Abertura + design  = pratica projetual para a transformacão socialOPEN DESIGN: Abertura + design  = pratica projetual para a transformacão social
OPEN DESIGN: Abertura + design = pratica projetual para a transformacão social
 
Solução - etapa 1 briefing.pdf
Solução - etapa 1 briefing.pdfSolução - etapa 1 briefing.pdf
Solução - etapa 1 briefing.pdf
 
6173 18856-1-sm
6173 18856-1-sm6173 18856-1-sm
6173 18856-1-sm
 
Descolonizando o Ateliê de Projetos
Descolonizando o Ateliê de ProjetosDescolonizando o Ateliê de Projetos
Descolonizando o Ateliê de Projetos
 
LP8 - Currículo em Ação.pdf
LP8 - Currículo em Ação.pdfLP8 - Currículo em Ação.pdf
LP8 - Currículo em Ação.pdf
 
Estratégias de Promoção da criatividade
Estratégias de Promoção da criatividadeEstratégias de Promoção da criatividade
Estratégias de Promoção da criatividade
 
Tipologia evolutiva
Tipologia evolutivaTipologia evolutiva
Tipologia evolutiva
 
Os princípios da cocriação
Os princípios da cocriaçãoOs princípios da cocriação
Os princípios da cocriação
 
Psicologia das redes sociais
Psicologia das redes sociais Psicologia das redes sociais
Psicologia das redes sociais
 
Jairo Siqueira - Artigos sobre Criatividade e inovação.pdf
Jairo Siqueira - Artigos sobre Criatividade e inovação.pdfJairo Siqueira - Artigos sobre Criatividade e inovação.pdf
Jairo Siqueira - Artigos sobre Criatividade e inovação.pdf
 
Aula 2. Conhecimento e Poder
Aula 2. Conhecimento e PoderAula 2. Conhecimento e Poder
Aula 2. Conhecimento e Poder
 
O segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designO segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no design
 
Cartilha de plágio
Cartilha de plágioCartilha de plágio
Cartilha de plágio
 
Construindo uma universidade sustentável, social e economicamente includente
Construindo uma universidade sustentável, social e economicamente includenteConstruindo uma universidade sustentável, social e economicamente includente
Construindo uma universidade sustentável, social e economicamente includente
 
Fundamentos epistemológicos da Pesquisa em Design
Fundamentos epistemológicos da Pesquisa em DesignFundamentos epistemológicos da Pesquisa em Design
Fundamentos epistemológicos da Pesquisa em Design
 
Ressignificação
RessignificaçãoRessignificação
Ressignificação
 

Plus de UTFPR

Cascading oppression in design
Cascading oppression in designCascading oppression in design
Cascading oppression in designUTFPR
 
Inteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designInteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designUTFPR
 
Expanding the design object
Expanding the design objectExpanding the design object
Expanding the design objectUTFPR
 
Creating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationCreating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationUTFPR
 
Contradiction-driven design
Contradiction-driven designContradiction-driven design
Contradiction-driven designUTFPR
 
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeMetacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeUTFPR
 
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasGestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasUTFPR
 
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialJogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialUTFPR
 
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreEl hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreUTFPR
 
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoExpressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoUTFPR
 
Pensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoPensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoUTFPR
 
Making work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designMaking work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designUTFPR
 
Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?UTFPR
 
Design contra opressão
Design contra opressãoDesign contra opressão
Design contra opressãoUTFPR
 
O papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasO papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasUTFPR
 
Diseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerDiseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerUTFPR
 
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)UTFPR
 
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)UTFPR
 
Ética Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosÉtica Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosUTFPR
 
Systemic oppression and systemic design
Systemic oppression and systemic designSystemic oppression and systemic design
Systemic oppression and systemic designUTFPR
 

Plus de UTFPR (20)

Cascading oppression in design
Cascading oppression in designCascading oppression in design
Cascading oppression in design
 
Inteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designInteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de design
 
Expanding the design object
Expanding the design objectExpanding the design object
Expanding the design object
 
Creating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationCreating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovation
 
Contradiction-driven design
Contradiction-driven designContradiction-driven design
Contradiction-driven design
 
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeMetacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
 
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasGestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
 
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialJogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
 
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreEl hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
 
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoExpressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
 
Pensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoPensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivo
 
Making work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designMaking work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service design
 
Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?
 
Design contra opressão
Design contra opressãoDesign contra opressão
Design contra opressão
 
O papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasO papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiências
 
Diseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerDiseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacer
 
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
 
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
 
Ética Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosÉtica Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de Serviços
 
Systemic oppression and systemic design
Systemic oppression and systemic designSystemic oppression and systemic design
Systemic oppression and systemic design
 

Dernier

Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAntonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAnnaCarolina242437
 
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024CarolTelles6
 
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAnnaCarolina242437
 
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...AnnaCarolina242437
 
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfSimulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfAnnaCarolina242437
 
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfSimulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfAnnaCarolina242437
 
Estudo de caso para o aplicativo SÓ FLÔ.
Estudo de caso para o aplicativo SÓ FLÔ.Estudo de caso para o aplicativo SÓ FLÔ.
Estudo de caso para o aplicativo SÓ FLÔ.Érica Pizzino
 
Design para o futuro 2024 - Leiautar.pdf
Design para o futuro 2024 - Leiautar.pdfDesign para o futuro 2024 - Leiautar.pdf
Design para o futuro 2024 - Leiautar.pdfCharlesFranklin13
 

Dernier (8)

Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdfAntonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
Antonio Pereira_Vale+comunidade_set a dez_2023.pdf
 
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
MARANATA - 19_04_2024.pptx | Maranata 2024
 
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdfAVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
AVALIA_CHUM_EFI_5 ANO_AV_2SEMESTRE_2023.pdf
 
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
Exame De Suficiencia Para Obtencao Do Titulo De Especialista Em Medicina De F...
 
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdfSimulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
Simulado Enem Bernoulli-Primeiro dia.pdf
 
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdfSimulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
Simulado Bernoulli Enem_2-Primeiro dia.pdf
 
Estudo de caso para o aplicativo SÓ FLÔ.
Estudo de caso para o aplicativo SÓ FLÔ.Estudo de caso para o aplicativo SÓ FLÔ.
Estudo de caso para o aplicativo SÓ FLÔ.
 
Design para o futuro 2024 - Leiautar.pdf
Design para o futuro 2024 - Leiautar.pdfDesign para o futuro 2024 - Leiautar.pdf
Design para o futuro 2024 - Leiautar.pdf
 

Por que pesquisar e não somente fazer design?

  • 1. Por que pesquisar e não somente fazer design? Frederick van Amstel @usabilidoido Laboratório de Design contra Opressão (LADO) DADIN / UTFPR
  • 2. Por que se esforçar em fazer design como se fosse uma ciência, se design costuma ser reduzido a uma forma ou técnica?
  • 3. Na realidade brasileira, "É para aquilo que se precisa fazer que se devem voltar as atenções; para o a fazer como afazer." Vieira Pinto (1960[2020], vol 1)
  • 4. Para Álvaro Vieira Pinto, o mundo em que vivemos é produzido socialmente por nossas mãos. Não temos contato imediato com a natureza, mas sim através de mediações.
  • 5. Para produzir nossa existência e continuar existindo, precisamos dominar as mediações entre nossa consciência e nosso mundo: linguagem, técnica, ferramentas, design e muitas outras.
  • 6. Tornar-se consciente das mediações que utilizamos para estar no mundo e com o mundo é uma forma de nos tornarmos auto- conscientes de quem somos e do que somos feito.
  • 7. Vieira Pinto define a autoconsciência máxima possível como ciência. Assim, ele reconhece que há uma forma de ciência em todas as culturas, embora com outros nomes.
  • 8. A ciência surge da reflexão sobre o trabalho acumulado ao longo do tempo, assim como o trabalho surge da ciência das possibilidades de transformar o mundo.
  • 9. Todo trabalho é científico, mas algumas formas de trabalho são legitimadas como mais científicas. A colonialidade do fazer estabelece hierarquias entre corpos através do jeito que são feitos.
  • 10. A colonialidade do conhecimento estabelece a diferença entre um corpo que sabe se projetar no mundo e um corpo que não sabe. O corpo que não sabe usa o projeto de quem sabe.
  • 11. trabalho de projetar trabalho intelectual trabalho científico ciência pura ciência desenvolvida teoria trabalho de usar trabalho manual trabalho técnico ciência aplicada ciência subdesenvolvida prática
  • 12. Para superar essas dicotomias, Vieira Pinto recomenda incluir a condição existencial do pesquisador não só como parte do problema de pesquisa, mas também como parte do método.
  • 13. Minha condição existencial: sou um trabalhador localizado num país subdesenvolvido que não dá valor ao aspecto científico do trabalho nem mesmo do trabalho dito científico.
  • 14. Se reconhecermos que nossa condição é subdesenvolvida e que não podemos fazer a mesma ciência que as metrópoles coloniais, podemos então nos debruçar sobre os problemas de nossos povos.
  • 15. A colonialidade do fazer nos leva a pensar que as soluções para nossos problemas estão sempre em outro lugar, em outro tempo, mas nunca aqui e agora.
  • 16. A colonialidade do fazer nos faz ignorar aquilo que já fizemos ou que nossos ancestrais fizeram no passado para resolver os mesmos problemas.
  • 17. Para descobrir o que é possível no aqui e agora, devemos entender as origens históricas de nossos problemas. Eu utilizo o conceito metodológico de contradição para capturar esta historicidade. Fome Obesidade Trabalho Capital
  • 18. Minha tese de doutorado identificou uma prática expansiva de design que inclui contradições como fonte de mudança nas atividades e nos espaços que habitamos (Van Amstel, 2015).
  • 19. Desde que defendi minha tese na Holanda e retornei ao Brasil, tenho focado minha pesquisa na contradição da opressão. Eu me pergunto: como o design oprime e como ele liberta?
  • 21. DESIGNERS grupo social historicamente privilegiado que utiliza o computador para oprimir USUÁRIOS grupo social historicamente desprivilegiado que usa o computador para libertar-se A opressão dos usuários (Gonzatto & Van Amstel, 2022) COMPUTA DOR desumanização subestimação prescrição negação re-humanização reação crítica afirmação
  • 22.
  • 23. Como superar o usuarismo e se fazer designer de maneira ética?
  • 24. A seguir, serão apresentados diversos experimentos que venho realizando nas minhas pesquisas.
  • 25. 1. Primeiro experimento: ver-se como uma pessoa oprimida.
  • 26. Teatro-Fórum sobre a precariedade do trabalho do designer para alunos da USP (2020). Inteligência artificial que atende clientes e distribui vagas na plataforma Designer precarizado trabalhando em plataforma digital Designer precarizado que se vê como empreendedor
  • 27. 2. Segundo experimento: ver-se como uma pessoa opressora.
  • 28. Oficina Arco-Íris do Desejo para examinar os opressores (os tiras) que entraram em nossas cabeças durante a pandemia (2022).
  • 29. 3. Terceiro experimento: subverter seus privilégios e compartilhá-los com as lutas de libertação.
  • 30. Livros com histórias concretas de opressão escritas e projetadas por estudantes da UTFPR (Editoração em Com. Org.).
  • 31. 3. Quarto experimento: reconhecer que a nossa liberdade depende da liberdade dos grupos sociais a que pertencemos.
  • 32. Usando o baralho B.AKKA para questionar as condições existenciais de nossos novos pesquisadores em design. ¿Qué te impide llegar allí? ¿Que estás impidiendo que personas como tú se vuelvan así? ¿Quién eres tú? ¿Quien quieres ser después de tu tesis?
  • 33. 4. Quinto experimento: fazer-se livre coletivamente como um corpo coletivo autônomo.
  • 34. Os alunos da UTFPR escreverão um manifesto vestível sobre a responsabilidade política do design em 2019.
  • 35. Na versão digital, quebraram todas as regras do design que conheciam para se conscientizar da opressão do usuário.
  • 36. Movimento iniciado pelo manifesto deu origem em 2021 ao Laboratório de Design contra Opressões (LADO).
  • 37. Os projetos de pesquisa do LADO são desenvolvidos em rede, a partir de relações concretas entre muitas pessoas e grupos.
  • 38. Segundo Vieira Pinto, pesquisadores podem negar suas origens e servir a outros corpos coletivos, mas essa não é a atitude moral mais consistente.
  • 39. Na condição de subdesenvolvimento, pesquisadores devem se identificar com o povo e com o povo criar projetos de pesquisa libertadores.
  • 40. Como a minha pesquisa pode modificar as nossas condições de existência?
  • 41. Obrigado! Frederick van Amstel @usabilidoido Laboratório de Design contra Opressão (LADO) DADIN / UTFPR